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O Anjo de Domingo
O Anjo de Domingo
O Anjo de Domingo
Ebook270 pages3 hours

O Anjo de Domingo

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About this ebook

Ao chegar em Amendillas, um pequeno vilarejo no sul da Espanha, Angela é recebida com desconfiança pelos moradores locais que, não estando acostumados com estrangeiros, a veem como algo sobrenatural. Domingo, porém, a vê como um anjo. O romance entre os dois é o epicentro de uma narrativa leve e bem humorada, cheia de personagens marcantes que através de suas histórias trazem a tona a difícil época da Guerra Civil Espanhola.

Os acontecimentos neste livro são baseados em experiências reais de pessoas das Aldeias Brancas da Espanha e em sua dificuldade em manter as comunidades vivas ao longo dos anos de guerra e da opressão da ditadura de Franco.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateMar 8, 2021
ISBN9781393507550
O Anjo de Domingo

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    O Anjo de Domingo - Jenny Twist

    O Anjo de Domingo

    De Jenny Twist

    ––––––––

    Traduzido por Mariana D'Angelo

    Jenny Twist, Copyright © 2014

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    ––––––––

    A autora fica estabelecida como única detentora dos direitos autorais. A autora pode exigir o cumprimento dos direitos autorais em toda a sua extensão.

    Este e-book é licenciado somente para o seu uso pessoal. Este e-book não pode ser revendido, reproduzido ou transmitido por qualquer meio ou forma, nem cedido a outras pessoas sem a expressa autorização da autora. Se deseja compartilhar este livro com outra pessoa, por favor adquira um exemplar adicional para cada pessoa com a qual pretende compartilhá-lo. Se estiver lendo este e-book e não o adquiriu, ou se não foi adquirido somente para o seu uso, por favor devolva ao seu revendedor e adquira o seu próprio exemplar. Obrigada por respeitar o trabalho árduo desta autora.

    Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas é mera coincidência.

    ––––––––

    Créditos

    Editora: Emily Eva Editing

    http://emilyevaediting.weebly.com/

    Capa: Novel Prevue

    http://www.novelprevue.com/cover-art.html

    Esta história foi originalmente publicada por

    Mélange Books, LLC

    White Bear Lake, MN 55110

    www.melange-books.com

    Todos os direitos foram revertidos à autora.

    Dedicatória:

    Em memória de Mike Friend.

    "Havia aqui uma família tão pobre, tão pobre, que não tinha terras, nem comida, nada. Alguém acusou-os de roubar comida da lavoura, então os soldados voltaram com dois caminhões, um vazio e um com um pelotão de fuzilamento a bordo. Eles levaram a família inteira, homens, mulheres e crianças; a esposa estava grávida. Eles foram fuzilados e enterrados em algum lugar perto daqui, e pouco depois o caminhão retornava vazio."

    Manuel Muñoz Benavides ~ Abril de 2014, relatando suas experiências de infância quando as tropas nacionalistas estiveram em seu vilarejo durante a Guerra Civil.

    O Anjo de Domingo

    Capítulo Um

    Quando Domingo chegou na praça, estava todo mundo lá. Todas as mesas e cadeiras do Plaza Bar estavam ocupadas e as pessoas que moravam nos arredores haviam trazido as suas próprias mesas e cadeiras. Ainda assim, havia gente sentada nos degraus da igreja e nos beirais dos coches.

    O que está acontecendo?, perguntou Domingo, mas ninguém o deu atenção. 

    Ele entrou no bar.

    O que está acontecendo?, perguntou.

    Pepe Manco olhou para Domingo e sorriu com deleite. Abandonando os clientes do outro lado do bar, ele se aproximou e disse: "A mulher misteriosa veio ao vilarejo hoje. A forasteira que comprou a casita menor de Guillermo, o prefeito, por duzentas mil pesetas. Ela é alta como uma casa e sua pele é tão branca que a faz parecer uma pessoa morta, e seu cabelo é da cor das laranjas, e.... Ele fez uma pausa dramática, ignorando com prazer os clientes no outro extremo do bar, que começavam a ficar impacientes, e continuou: Ela não fala como um ser humano normal, ela late como um cão!". 

    Domingo ficou surpreso, mas não disse nada.

    Ela foi à loja de Rosalba e começou a latir para ela. A Rosalba não sabia o que fazer.

    Domingo esforçou-se por um momento para entender como Rosalba pôde não saber o que fazer, mas guardou o comentário para depois.

    E então, você não acredita no que ela fez em seguida. Sem dar a Domingo oportunidade para adivinhar, ele continuou: Ela pegou um livro de feitiços e começou a enfeitiçar a Rosalba. A Rosalba jogou seu avental sobre a cabeça dela e correu para a rua!.

    Ele afastou-se e cruzou os braços, com um sorriso de satisfação. O que você acha disso?

    Domingo não sabia o que pensar. "Eu quero um vino del terreno", ele disse.

    Lá fora, na praça, Rosalba estava claramente contando sua história pela milésima vez, imitando o modo como jogou seu avental sobre a cabeça da outra e assumindo uma expressão de absoluto terror. Ela estava cercada de aldeões estarrecidos, satisfeita em ver as expressões horrorizadas que faziam. Na mesa ao lado estavam Pepe, o aguadeiro, Salva, o padeiro e Rafa, o peixeiro.

    Estou dizendo a vocês que ela é uma pessoa morta, disse Rafa. "Nenhum vivo poderia ter uma pele tão alva. Ou ela é um fantasma, ou um cadáver ou um mantequero, que virá durante a noite sugar toda a gordura de nossos corpos."

    Talvez ela seja uma fada, comentou Salva. Elas não falam a língua dos homens mortais. Se ela é uma pessoa morta, por que não é capaz de falar como uma cristã?

    Rafa lançou-lhe um olhar de desaprovação. Eu não sei de onde você tira tanta besteira. Quem foi que disse que fadas não sabem falar?

    Salva aquietou-se por um momento, enquanto tentava desesperadamente lembrar onde tinha ouvido aquilo.

    É mais provável que ela seja uma bruxa, disse Pepe aguadeiro. Senão, como vocês explicam o livro de feitiços?

    Domingo sentou-se na beirada do cocho dos cavalos, ouvindo sem prestar muita atenção. Seu pensamento estava nas duzentas mil pesetas. Ele mesmo possuía três ótimas casitas, todas elas maiores e mais bonitas do que a casita menor do prefeito Guillermo. Ele pensava no que poderia comprar com duzentas mil pesetas.

    ~ * ~

    No dia seguinte, ele levou suas cabras até o topo da colina, próximo ao desfiladeiro, e olhou lá em baixo a casita menor de Guillermo. Uma mula estava amarrada do lado de fora e um varal tinha sido pendurado entre duas amendoeiras. Fora isso, não havia nenhum sinal de vida. Na metade da encosta havia uma grande alfarrobeira. Ele decidiu que seria o lugar ideal para o almoço.

    Mas, apesar de ter passado todo o tempo em que se sentou para comer o pão, o queijo e as azeitonas, e beber seu vinho, observado a casinha, ninguém apareceu e nada aconteceu. Somente a mula se movera ao redor da casa para manter-se na sombra conforme o sol se movimentava. Então ele adormeceu.

    Quando acordou, alguém o chamava. "Hola, pastor!"

    Ele semicerrou os olhos em direção ao sol e viu, diante de si, um anjo. Era muito alto e magro, e tinha uma auréola iluminada ao redor da cabeça. Olá, disse. "Soy Angela — Eu sou um anjo. É um prazer conhecê-lo! Quem é você?"

    Em estado de pânico, Domingo sentou-se abruptamente e arrastou-se para trás. Sua cabeça atingiu o tronco da árvore de forma ruidosa e ele caiu deslizando, sentindo-se um pouco atordoado.

    O anjo aproximou-se na sombra da alfarrobeira e ele percebeu que a auréola era na verdade seu cabelo — um longuíssimo cabelo — caindo em ondas sobre seus ombros e quase chegando à cintura. Era exatamente da cor das laranjas secas da árvore. Sua pele, de tão branca era quase azul, e os olhos eram tão pálidos que não tinham cor alguma. Como puderam achar que era uma pessoa morta? Pensou ele, confuso. Ela é claramente um anjo!

    ~ * ~

    Naquela mesma tarde ele foi até a loja de Rosalba.

    Eu conheci a forasteira, ele anunciou. Ela não é uma pessoa morta nem uma bruxa. Ela não late como um cão, mas está tentando falar como um ser humano. Ela é, na verdade, um anjo.

    Rosalba encarou-o enfurecidamente detrás do balcão. Você é um rapaz muito tolo, ela disse. E não sabe do que está falando.

    Entretanto, naquele domingo após a missa, Rosalba foi vista analisando detalhadamente a estátua do anjo à direita do altar. Era muito alto e magro, tinha o cabelo longo e ondulado escorrendo pelas costas e carregava um livro aberto.

    Hunf!, disse Rosalba, fingindo não estar impressionada, e saiu da igreja emburrada. Ao passar por Domingo, ela perguntou, alto o bastante para que todos pudessem ouvir: Se ela é um anjo, por que não vai à missa como uma boa cristã?.

    Domingo baixou a cabeça confuso e envergonhado. Ele vinha se perguntado a mesma coisa.

    ~ * ~

    Durante toda a semana ele pensou no anjo. Ele questionava-se se ela era um daqueles anjos que se voltaram contra Deus e foram expulsos do céu. Ele não queria que fosse esse o caso. Sentia que ela era seu anjo especial e não queria que ela fosse inferior em nenhum sentido. Ele não conseguia parar de pensar em seus cabelos alaranjados, em sua pele branca e em seus estranhos olhos incolores. Na verdade, ele não conseguia pensar em nada mais além disso.

    Quando, no domingo seguinte, ela novamente não foi à missa, ele enfrentou o olhar triunfante de Rosalba e jurou que iria procurar seu anjo e perguntar-lhe o motivo.

    ~ * ~

    Ao descer a colina, ele a viu atrás da casinha, cavando com uma enxada. Ela não parecia estar se saindo muito bem. Era mês de julho e o solo, de tão duro, parecia ferro.

    Apreensivamente, ele limpou a garganta e gritou: "Hola, Anjo!".

    O anjo olhou para cima e acenou. Ele continuou descendo a encosta até a casita.

    Eu trouxe vinho, ele disse, e tirou da sua sacola um odre cheio de vinho.

    Que simpático, disse o anjo. Eu gostaria de te agradecer mas, embora você saiba meu nome, eu não sei o seu. A última vez que nos encontramos você foi embora sem se apresentar.

    Domingo baixou o olhar e enrubesceu. Desculpe-me, ele disse. Mas agora eu trouxe-lhe vinho e vamos beber juntos, não? Ele passou o odre para o anjo que riu e disse: Eu adoraria, mas venha para a frente e beberemos em taças.

    Ele a seguiu gentilmente ao redor da casa, carregando o odre de vinho. Quando ela riu, não soou como um cão latindo, mas como um pequeno sino de prata. Seus dentes eram pequeninos e muito brancos, como pérolas, e seus olhos, ele observou, definitivamente não eram incolores, eram da cor do mar se movendo sob o sol; azul, verde e cinza, com feixes de luz cintilando na superfície.

    Eles se sentaram e ela trouxe as taças. Quando o vinho havia sido servido, ela riu novamente e fez um brinde, dizendo: À sua saúde, estranho.

    Ele olhou ao redor, imaginando com quem ela estaria falando, e então percebeu que se referia a ele.

    Mas você é a estranha, ele ia dizendo, até que percebeu o que ela quis dizer e começou a rir também.

    Meu nome é Domingo García Guerrero, ele disse, mas sou conhecido como Domingo, o pastor de cabras, porque há outros três Domingos no vilarejo.

    Sério? Ela estava fascinada. E como são chamados os outros três?

    Domingo muleiro, Domingo dois dedos e Domingo do vale, ele disse.

    Ela riu outra vez. Isso é maravilhoso, Domingo pastor de cabras, ela disse. Estou muito feliz em conhecê-lo. Gostaria de ficar para o almoço?

    ~ * ~

    Eles comeram pão, queijo e azeitonas, e o anjo trouxe da casa salsicha, tomates e cebolas, e durante toda a refeição eles conversaram. Domingo contou a ela sobre as pessoas da aldeia, sobre Rosalba, que administra a loja e é quem realmente comanda todo o resto, independente do que possa pensar o prefeito. Falou sobre Pepe Manco, que tem a perna esquerda coxa porque, um dia, sua esposa o pegou na cama com a mulher do ferreiro e os golpeou com um rastelo. A mulher do ferreiro fugiu da aldeia aos gritos e nunca mais foi vista.

    Em dado momento, o anjo entrou na casa e buscou um livro. Domingo encolheu-se aterrorizado e ela estendeu a mão para acalmá-lo.

    Qual é o problema, Domingo? Por que você está com medo?

    Ele cobriu os olhos com as duas mãos e suplicou: Por favor, Anjo, não lance um feitiço em mim!.

    Ela olhou-o desconfiada e então repetiu lenta e atentamente o que ele havia dito — "Hechizo?".

    Ela abriu o livro e murmurou a si mesma: Não começa com E, deve ser com H. Ah, sim, aqui está. Feitiço! Um feitiço! Domingo, você acha que isso é um livro de feitiços?.

    Ele acenou silenciosamente.

    O anjo explicou: "Este livro tem todas as palavras em angelês e em espanhol. Quando eu não sei a palavra em espanhol, eu olho no livro e ele me diz. Entende? Olha!".

    Ela mostrou-lhe o livro e ele espiou, tenso. Dentro haviam folhas brancas com minúsculas formas pretas, como insetos. E não parecia de modo algum falar.

    Sim, ele disse, eu vejo.

    ~ * ~

    Em certo momento, quando estavam ambos um pouco sonolentos por causa do vinho e da comida, ele perguntou-lhe.

    Anjo, ele disse, você é aquele tipo de anjo que caiu do céu e veio viver entre os mortais?.

    Ela virou-se para ele e um rubor suave vindo do pescoço espalhou-se em suas bochechas. Oh, Domingo, que coisa adorável de se dizer!

    Ele ficou tão confuso com essa resposta invulgar que voltou a ficar em silêncio. E percebeu que estava olhando em seus olhos, aqueles enigmáticos olhos aguados onde os verdes, azuis e cinzas rodopiavam, e sentiu que estava mergulhando neles. Ela aproximou-se e ele pôde sentir o cheiro de seu cabelo. Cheirava flores cítricas. Laranjas, ele pensou. Têm cheiro de laranjas, mas não disse nada. E afinal já não se lembrava qual dos dois tinha tomado a inciativa, no entanto compreendera que ela poderia ser uma bruxa ou uma fada, mas que certamente não estava morta. E suspeitou que ele também estivesse errado sobre ela ser um anjo.

    Capítulo Dois

    Pepe Manco foi até a loja de Rosalba. "Você sabia que Domingo, o pastor de cabras, mudou-se para a casita menor do prefeito Guillermo?", ele perguntou.

    É claro que eu sabia, precipitou-se Rosalba. Ela estava furiosa, já que era a primeira vez que ouvira a notícia. Eu sei de tudo que acontece aqui.

    Pepe continuou como se ela não houvesse dito nada. Ele está construindo um enorme curral para suas cabras na colina atrás da casa. Ele segue-a por todos os lugares, como um cão. Está totalmente enfeitiçado por ela.

    Não diga besteiras, José Fernández Negrete. Você não sabe nada sobre essas coisas. É um escândalo! Graças à Virgem Maria a mãe dele não está viva para ver tal vergonha! E fez o sinal da cruz com devoção.

    Eu imagino, disse Pepe Manco, que a mãe dele teria ficado bastante satisfeita em ter alguma ajuda em casa.

    Rosalba virou-se irritada. José Fernández Negrete, você acredita, por um minuto sequer, que uma mulher respeitável como Dolores García Guerrero teria permitido que uma mulher como aquela, uma estrangeira, vivesse em sua casa? Além do mais, todo mundo sabe que as mulheres de fora não sabem limpar e cozinhar direito. Veja o que aconteceu com o Salva Domínguez García. Ele casou-se com uma mulher de Sanisido del Monte. Nenhum de seus filhos foi alimentado direito e agora estão todos fracos e andam por aí em farrapos!

    Eu não sei, disse Pepe Manco. Minha mãe mesmo, veio de Canillas de Daimonos.

    Exatamente, disse Rosalba com enorme satisfação, e Pepe, que sabia quando tinha sido vencido, deixou a loja.

    Rosalba começou a esfregar o chão com uma força desnecessária. Ela tinha a desconfortável sensação de que estava perdendo o controle.

    ~ * ~

    Naquela noite ela anunciou à família: "É hora de visitarmos nossa casita no topo do desfiladeiro. Já há algum tempo não cuidamos de nossas vinhas".

    Mas vovó... A mãe de Antonito deu-lhe um chute por baixo da mesa e ele calou-se. Ele estava sempre levando chutes por baixo da mesa quando dizia coisas à avó. Era impossível saber o que é que ele estava fazendo de errado. Ele só ia dizer que não havia nada mais para ser feito nas vinhas. Elas haviam sido podadas e tratadas com enxofre há muito tempo, e a colheita não precisaria ser feita por pelo menos um mês. Ele tinha agora oito anos, era quase um homem, e sabia dessas coisas. Ele olhou de relance para a mãe, que o encarava muito séria. Ela franziu a testa unindo as sobrancelhas e ele soube o que aquilo significava. Era melhor não dizer nada.

    ~ * ~

    Domingo e Angela estavam no terraço observando um grande gato laranja, cor de marmelada. Ele acabou de aparecer, disse Angela, enquanto você esteve fora com as cabras. Ele saltou para o terraço e fez ‘Prrrrr!!!’ Ela fez um barulho esquisito, entre um miado de gato e o cantar de um pássaro, e concluiu: E sorriu para mim.

    Domingo levantou as sobrancelhas. Sorriu?

    Assim, disse Angela, e fechou ligeiramente os olhos, sorrindo apenas com o canto da boca. No mesmo momento, o gato fez exatamente a mesma expressão, como se quisesse provar que era verdade. A cor de seu pêlo era idêntica à do cabelo dela. Eles abriram os olhos ao mesmo tempo e Domingo notou que os olhos dele também tinham exatamente a mesma cor dos de Angela. Era ligeiramente perturbador. O gato então inclinou levemente a cabeça e miou delicadamente. Soava suspeitosamente como o barulho que as pessoas fazem quando concordam com o que você diz.

    Ele praticamente fala, não é?, disse Angela. Podemos ficar com ele? Eu sempre quis um gato mas minha mãe nunca me deixou ter um.

    Mas é claro, disse Domingo. É preciso ter um gato em casa para manter os ratos afastados.

    O gato miou concordando outra vez e saiu.

    Será que ele volta?, disse Angela.

    Na manhã seguinte havia uma pequena fileira de roedores sem cabeça dispostos organizadamente no terraço.

    ~ * ~

    Mais tarde, naquele sábado, Angela olhou para o alto e viu Rosalba descendo a colina. Domingo!, ela gritou quase em pânico. Do lugar onde trabalhava, no muro do curral, ele olhou para cima, limpou as mãos atrás das calças e sorriu com ironia. Rosalba aproximava-se, acompanhada pelo filho, Antonio e os netos, o pequeno Antonio e a pequena Dolores. A mãe deles, Dolores, ficou responsável pela loja. Antonio carregava uma grande garrafa de vinho e Antonito uma cesta. Rosalba ia à frente, sem carregar nada, liderando a procissão.

    Domingo desceu a colina apressadamente para estar ao lado de Angela quando eles chegassem.

    Boa tarde, Domingo García Guerrero, disse Rosalba. "É uma surpresa encontrá-lo na casita de Guillermo García Fernández. Nós viemos para cumprimentar os nossos novos vizinhos." Ela fitou Domingo com um olhar expressivo e afastou-se depressa.

    Angela aproximou-se sorrindo. Boa tarde, Rosalba, disse. Eu ouvi falar muito você.

    Rosalba acenou com satisfação, mas não sorriu. Todos educadamente abstiveram-se de mencionar o desagradável encontro anterior na loja. 

    Antonio!, Rosalba acenou para o

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