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Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil: considerações acerca de seu indeferimento
Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil: considerações acerca de seu indeferimento
Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil: considerações acerca de seu indeferimento
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Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil: considerações acerca de seu indeferimento

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Este livro analisa o processo de homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, focando nas decisões do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiram o pleito homologatório. Nele, você encontrará uma descrição do processo de homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, demonstrando as leis aplicáveis, critério para determinar o que é uma sentença estrangeira, o órgão competente e seus limites de atuação, a homologação parcial e a anulação de sentença já homologada. São abordados os motivos que levam ao indeferimento do pedido de homologação, constantes na Lei Brasileira de Arbitragem e na Convenção de Nova York. Por fim, são apresentadas considerações acerca da aplicação do instituto de homologação de sentenças arbitrais no Brasil.
LanguagePortuguês
Release dateJan 5, 2021
ISBN9786558775447
Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil: considerações acerca de seu indeferimento

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    Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras no Brasil - Bárbara Carneiro Paolinelli de Castro

    1. INTRODUÇÃO

    A internacionalização do direito e da sociedade fez com que os conflitos comerciais deixassem de ser limitados ao direito interno. Assim, a arbitragem, que é um mecanismo de solução extrajudicial de controvérsias em que um árbitro ou tribunal arbitral imparcial irá decidir o litígio com base na convenção de arbitragem, passou a ser cada vez mais utilizada.

    Ocorre que, mesmo com o avanço da arbitragem, o judiciário ainda exerce um papel relevante, vez que as sentenças proferidas pelos árbitros fora do território nacional precisam ser homologadas para que depois possam ser executadas no Brasil. Considerando-se que nem todas as sentenças arbitrais levadas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) são homologadas, o presente livro visa examinar os principais motivos que ensejam a não homologação, analisando diversas decisões relevantes sobre o tema. Para tanto, indaga-se: por que algumas sentenças arbitrais estrangeiras não são homologadas pelo STJ?

    O objetivo geral deste livro é, portanto, analisar o instituto de homologação de sentença arbitral estrangeira pelo STJ. Os objetivos específicos consistem em: (i) descrever o instituto da homologação de sentença arbitral estrangeira, (ii) catalogar as decisões do STJ que indeferiram os pedidos de homologação das sentenças arbitrais estrangeiras, e (iii) investigar os fundamentos fáticos e de direito das decisões dos STJ que não homologaram a sentença arbitral estrangeira.

    Visando alcançar esses objetivos, foram utilizados o método indutivo e a linha metodológica jurisprudencial, pois a partir da observação e análise de decisões judiciais pode-se chegar à resposta satisfatória para a problematização trazida. Dessa forma, foi possível tecer considerações acerca do tema proposto, possibilitando a análise de determinadas decisões do Superior Tribunal de Justiça. As decisões analisadas foram selecionadas após busca no site do STJ, com as palavras sentença arbitral estrangeira, sendo analisadas as Sentenças Estrangeiras Contestadas que tiveram o pedido indeferido.

    Ao longo do livro foi feita uma investigação jurídico-descritiva, também conhecida como jurídico-diagnóstica, que buscou pormenorizar as decisões do STJ que indeferiram o pedido de homologação de sentença arbitral estrangeira. Foi realizada também uma investigação jurídico-prospectiva, pois por meio de uma análise das decisões proferidas pelo STJ, foi possível detectar tendências na aplicação do instituto da homologação de sentença arbitral estrangeira no Brasil.

    Desse modo, foi apresentada uma introdução à arbitragem, para facilitar a compreensão dos capítulos seguintes, que abordam de forma específica o processo de homologação de sentenças arbitrais estrangeiras. O capítulo apresenta um breve histórico da arbitragem, mostrando as origens desse meio de solução, a conceituação de arbitragem, diferenciando a cláusula compromissória do compromisso arbitral, aborda a discussão que envolve a natureza jurídica da arbitragem, bem como sua constitucionalidade e os seus pressupostos essenciais, conhecidos como arbitrabilidade objetiva e subjetiva, culminando com um apanhado de vários princípios relevantes.

    O capítulo seguinte apresenta a descrição do processo de homologação de sentença arbitral estrangeira, abordando a lei aplicável ao processo, o critério utilizado para determinar que uma sentença é estrangeira, o órgão competente para o processo e os seus limites de atuação, como é o trâmite do procedimento, a possibilidade de homologação parcial e questões envolvendo a anulação de sentenças já homologadas.

    No outro capítulo são expostos os motivos de indeferimento do pedido de homologação, sendo analisadas as hipóteses constantes na Lei Brasileira de Arbitragem e na Convenção de Nova York, quais sejam: (i) a incapacidade das partes na convenção de arbitragem, (ii) invalidade da convenção de arbitragem, (iii) ausência de notificação acerca do procedimento ou designação do árbitro, ou tenha sido violado contraditório, (iv) sentença arbitral ultra ou extra petita, (v) a instituição da arbitragem está em desacordo com a convenção, (vi) a sentença ainda não se tornou obrigatória para as partes, ou foi anulada ou suspensa no país de origem, (vii) o litígio não é arbitrável e (viii) a ordem pública foi violada.

    Ao final, com base nas informações obtidas nos capítulos antecedentes busca-se, nas considerações finais, categorizar as decisões do STJ referentes à aplicação do instituto da homologação de sentenças arbitrais no Brasil, para identificar por que algumas sentenças arbitrais estrangeiras não são homologadas.

    2. INTRODUÇÃO À ARBITRAGEM

    2.1 - BREVE HISTÓRICO DA ARBITRAGEM

    A existência de conflitos é algo intrínseco a qualquer civilização, pois com as relações sociais é normal que surjam controvérsias entre os seres humanos pelos mais diversos motivos. Inicialmente esses impasses eram solucionados por meio da autotutela, também conhecida como vingança privada, em que a vontade do mais forte prevalecia sobre a do mais fraco (LIMA, 2003).

    Todavia, em um segundo estágio, as controvérsias passaram a ser resolvidas de outras formas, pela autocomposição e pela heterocomposição. Na primeira, as partes resolviam seus conflitos de forma amigável, chegando a um acordo. Na segunda, um terceiro imparcial era responsável por resolver a lide. A arbitragem surge, assim, como um meio heterocompositivo para solução de conflitos, sendo uma alternativa à justiça estatal (LIMA, 2003).

    A arbitragem, embora seja um instituto que vem sendo mais difundido no Brasil nos últimos 20 anos, tem suas raízes na Idade Antiga, antes mesmo da existência de Estados organizados e da justiça estatal (MUNIZ, 2015). Nessa época, as partes solucionavam seus conflitos através da força ou, como alternativa, delegavam a solução da controvérsia a um terceiro de confiança dos envolvidos, seja ele uma autoridade religiosa, um sábio da comunidade ou até mesmo um familiar com reputação idônea (CAHALI, 2017).

    Nesses primórdios da arbitragem, quando ainda não havia legislação positivada, o indivíduo escolhido como árbitro decidia a controvérsia com base nos costumes e nos princípios morais e éticos que imperavam na época (MARTINS, [200-?b]).

    Segundo Francisco José Cahali (2017, p. 35), esse método de solução de conflitos remonta à Grécia antiga, e era utilizado [...] entre os Deuses do Olimpo, na antiguidade, cerca de 3.000 anos antes de Cristo, a arbitragem é citada no direito grego tanto para a solução de controvérsias entre cidades-Estado (ligas enfitônicas), como para conflitos privados.

    Também há referências de utilização da arbitragem em Roma. No direito romano, as partes envolvidas na controvérsia podiam assinar compromissos e cláusulas compromissórias. Havia uma lista de cidadãos idôneos, o iudicium privatum, entre os quais, as partes podiam escolher para resolver o conflito, não podendo esse terceiro recusar tal atribuição (CAHALI, 2017; MARTINS, [200-?b]).

    Com a expansão do Império Romano, a arbitragem passa a ser cada vez mais divulgada. Assim, os litígios passaram a ser dirimidos por esses cidadãos idôneos que figuravam como árbitros, e [...] o cumprimento da decisão era garantido pelo Estado, que a executava, caso o vencido não a acatasse (MARTINS, [200-?b], p. 1-2).

    Com o avanço das invasões bárbaras, os romanos, visando se esquivar da aplicação do direito bárbaro, acabavam por utilizar a arbitragem para decidir os seus litígios, já que os envolvidos podiam escolher livremente as regras aplicáveis na solução da controvérsia.

    O desenvolvimento da arbitragem ficou ainda mais acelerado com o fomento do comércio durante o final da Idade Média. Os comerciantes utilizavam esse meio para solucionar seus litígios, com base nos usos, costumes e práticas comerciais vigentes (MARTINS, [200-?b]). Com esse aumento significativo das relações comerciais e a crescente facilidade de comunicação e relacionamento entre os Estado modernos, a arbitragem passa a ser cada vez mais utilizada, em razão de sua rapidez e eficiência, se comparada aos tribunais oficiais (MAIA NETO, 2008).

    Todavia, conforme observado por Pedro Batista Martins ([200-?b], p. 2), no século XIX, a arbitragem sofre um declínio [...] em razão de sua processualização exagerada, resultante das reformas legais instituídas por Napoleão e que irradiaram-se pelo continente europeu, bem como, pela melhoria do sistema estatal de administração da justiça.

    Nesse período da era moderna, em que houve a consolidação dos Estados e consequente reestruturação dos sistemas jurídicos estatais, [...] o Poder Judiciário avocou respeito e autoridade para a solução das controvérsias (CAHALI, 2017, p. 36). Porém, tal fato mudou a partir do final do século XIX e início do século XX, quando a arbitragem passa a ser objeto de vários tratados internacionais e sistemas jurídicos nacionais (MARTINS, [200-?b]).

    A arbitragem teve um grande impacto também na história brasileira, tendo sido utilizada antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao país, em 1500. Segundo historiadores, a linha que dividiu as terras portuguesas das espanholas, no Tratado de Tordesilhas, foi traçada por arbitragem. Além disso, a arbitragem também foi utilizada para fins de definição de fronteira entre Brasil, Argentina, Bolívia e Peru (CAHALI, 2017).

    O direito português previa a utilização da arbitragem durante a Idade Média. Durante o período em que o Brasil era colônia de Portugal, as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas também traziam o instituto da arbitragem (MUNIZ, 2015).

    A Constituição Política do Império do Brazil, primeira constituição brasileira, outorgada por D. Pedro I, em 25 de março de 1824, em seu art. 160, previa expressamente a utilização da arbitragem para conflitos civis (MUNIZ, 2015), veja-se: Nas civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juizes Arbitros. Suas Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as mesmas Partes (BRASIL, 1824).

    O Código Comercial de 1850 (Lei nº 556) foi arrojado ao estabelecer que a arbitragem, em determinados casos, como conflitos societários, seria compulsória, in verbis: Art. 294 - Todas as questões sociais que se suscitarem entre sócios durante a existência da sociedade ou companhia, sua liquidação ou partilha, serão decididas em juízo arbitral (BRASIL, 1850).

    Importante explicitar que a atual legislação sobre arbitragem não prevê sua obrigatoriedade, até porque traz como um dos princípios basilares do instituto a autonomia de vontade das partes. Tal disposição foi revogada em 1886, pela Lei nº 1.350, determinando que a arbitragem, a partir desse momento, seria apenas voluntária.

    Art. 1º Fica derogado o Juizo Arbitral necessario, estabelecido pelo artigo vinte titulo unico do Codigo Commercial.

    § 1º O Juizo Arbitral será sempre voluntario mediante o compromisso das partes.

    § 2º Podem as partes autorizar os seus arbitros para julgarem por equidade independentemente das regras e fórmas de direito (BRASIL, 1866).

    No ano seguinte, 1867, foi publicado o Decreto nº 3.900, que regulava o juízo arbitral comercial. Todavia, esse decreto, nas palavras de Joaquim Muniz (2015, p. 26), [...] mostrou-se especialmente danoso ao desenvolvimento da arbitragem no Brasil, pois introduziu a obrigatoriedade do ‘compromisso arbitral’ para que a arbitragem pudesse ser instituída, conforme previsão do art. 3º, conforme segue: O Juizo Arbitral só póde ser instituido mediante o compromisso das partes (BRASIL, 1867).

    Conforme previsão do art. 3º do referido Decreto, mesmo que as partes tenham acordado a inclusão de uma cláusula arbitral em um determinado contrato, já manifestando sua vontade no sentido de utilizar a arbitragem, ainda assim, seria necessária a celebração de um compromisso após a ocorrência do litígio.

    Dois anos antes da promulgação da Constituição de 1891, a primeira constituição republicana, o diploma que regulamentava o processo arbitral era o Decreto nº 3.884/1898, que conferia poder aos Estados federativos para editar normas processuais relativas à arbitragem (MUNIZ, 2015). E, com o advento da Constituição de 1937, a competência para legislar sobre direito processual passou a ser privativa da União, conforme disposto no art. 16:

    Art. 16 - Compete privativamente à União o poder de legislar sobre as seguintes matérias:

    [...]

    XVI - o direito civil, o direito comercial, o direito aéreo, o direito operário, o direito penal e o direito processual (BRASIL, 1937).

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