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Leituras Cruzadas sobre Angola: Saberes, Culturas e Políticas – volume 2
Leituras Cruzadas sobre Angola: Saberes, Culturas e Políticas – volume 2
Leituras Cruzadas sobre Angola: Saberes, Culturas e Políticas – volume 2
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Leituras Cruzadas sobre Angola: Saberes, Culturas e Políticas – volume 2

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Esta coletânea de textos exemplifica o potencial das relações Angola Brasil contribuindo de modo mais geral para a construção de fortes laços entre países do Sul. A obra discute as questões pertinentes aos dois países engajados na cooperação, como as polêmicas em torno do conceito de desenvolvimento/cooperação, assim como o debate teórico de caráter crítico do pensamento contemporâneo, como situar o papel do Estado-Nação, das Ações Públicas na área da Saúde, Educação e Política.
Aborda, ainda, propostas de inovadoras categorias que possam auxiliar na reinvenção de uma escrita que nos coloque como sujeitos autônomos perante as grandes frentes hegemônicas globais e nos confronte com temas que até hoje vivemos em nossos respectivos países, como, por exemplo, o estado de pobreza de grande parte da população; desigualdades de gênero e as muitas hostilidades sobre as diversidades sociais geradas pela violência e pelo preconceito cultural. Os autores analisam temas como a crítica as categorias coloniais, reflexões interdisciplinares sobre o sistema de saúde, gênero, informalidade e trabalho feminino, espaço urbano e a formação universitária em Angola.
LanguagePortuguês
Release dateJan 4, 2018
ISBN9788546214730
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    Leituras Cruzadas sobre Angola - Selma Pantoja

    final

    Leituras Cruzadas Sobre Angola: Saberes, Culturas e Políticas

    Introdução

    Como resultado do Projeto de Cooperação Internacional financiado pela Comissão de Aperfeiçoamento do Ensino Superior, (Capes), com o título de Leituras Cruzadas: África e Interdisciplinaridade, entre os Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidades Agostinho Neto (UAN) e o Programa de Pós-Graduação Sociedade, Desenvolvimento e Cooperação Internacional (PPGSDCI), da Universidade de Brasília (UnB), apresentamos esta segunda coletânea de capítulos de diversos autores, no formato de e-book. Este Projeto que durou quatro anos, incluiu uma série de atividades, como intercâmbios, cursos, co-orientações, estágios de doutorando, vários eventos e muitas interlocuções. O Projeto foi parte do edital Programa Geral de Cooperação Internacional da Capes (PGCI/Capes), de 2014.

    Com o título Leituras Cruzadas sobre Angola: Saberes, Estado e Políticas, mantivemos o mesmo sentido do Seminário Internacional organizado no âmbito do Projeto, em junho de 2016, no PPGSDCI/UnB, Brasília. A intenção original foi de que essa obra discutisse as questões pertinentes aos dois países engajados na cooperação, como as polêmicas em torno do conceito de desenvolvimento/cooperação, assim como introduzir o debate teórico de caráter crítico do pensamento contemporâneo, como situar o papel do Estado-Nação, das ações públicas e das políticas sociais na área da educação, ensino e política. Pretendeu-se, ainda, considerar propostas de inovadoras categorias que possam auxiliar na reinvenção de uma escrita que nos coloque como sujeitos autônomos perante as grandes frentes hegemônicas globais e nos confronte com temas que até hoje vivemos em nossos respectivos países, como, por exemplo, o estado de pobreza de grande parte da população; desigualdades de gênero e as muitas hostilidades sobre as diversidades sociais geradas pela violência e pelo preconceito cultural.

    O Projeto foi organizado pensando-se em missões de trabalho e de estudo (seguindo a nomenclatura da Capes), com o objetivo de fazer o intercâmbio entre os dois Programas para estudos e pesquisas. Ao longo desse tempo, as atividades contemplaram o objetivo do Projeto ao promover a integração e a cooperação entre os membros das equipes UnB/UAN, para isso, nossas iniciativas favoreceram a construção de redes de cooperação científica nos setores do ensino e pesquisa, para além das duas universidades do Projeto, tanto no Brasil como em Angola. Na intenção de apresentar maior visibilidade das equipes do Projeto, entre universidades e programas de pós-graduação, convidamos docentes e discentes a participarem da produção de duas coletâneas com a escrita de um capítulo. Neste segundo livro, além de uma professora da UAN, convidamos mais dois colegas angolanos, professores de duas diferentes universidades, a contribuírem com dois capítulos, então, eles participaram das nossas atividades, como nos eventos, ao longo da execução do Projeto de cooperação. Portanto, temos um texto que veio do ISCED-Huíla-Lubango e outro da Universidade Lueji À Nkonde, no Malange. São contatos resultantes da cooperação que vão muito além do imaginado quando construímos as nossas propostas de projetos, em nossas salas de trabalho, e enviamos para as agências, se quer fazemos ideia da realidade e de como os acasos vão levar as parcerias acadêmicas.

    Esta segunda coletânea resultante do Projeto é formada de 8 capítulos, com a contribuição de 6 autores brasileiros e 5 angolanos. O conjunto desses capítulos nos mostram, apesar das dificuldades, o quanto parcerias como estas, entre universidades do Sul, nos levam para além da perspectiva das universidades envolvidas e desdobram-se por outras regiões, e abrem horizontes de pesquisa bem mais amplo do que imaginamos no início dessa cooperação internacional. Além dos professores, como autores dos capítulos, ou em coautorias, participaram mestrandos, doutorandos e graduandos, quer com seus projetos ou engajados em pesquisas de seus professores, eles estiveram presentes ao longo dos encontros, em cursos, seminários, conferências promovidas pelo Projeto de Cooperação entre aquelas duas universidades. Mantivemos as diferenças, por vezes contraditórias na escrita dos capítulos, que em si explicitam diferentes origens institucionais (UAN e UnB) e diferentes abordagens teóricas e epistemológicas dos dois lados do Atlântico; por outro lado, demarcam o que pensávamos encontrar e o que foi obtido como resultado. Com isso, consideramos que as diferentes produções acadêmicas apontam para a suplantação de diferenças e vão de encontro às expectativas de convergências, acabando por ensinar muito, de lado a lado.

    A coletânea está dividida em duas partes, os capítulos foram conectados em função de temáticas que pensamos predominantes na escrita, tomados em conjunto eles geraram uma visão de destacadas questões e reconhecidos objetos de estudos.

    A Parte 1 inicia-se com o debate por revisões conceituais, plenas de propostas inovadoras e criativas a nos conduzir com toda a atenção, como a lembrar sempre como estamos a repetir as nomenclaturas e as classificações herdadas. A nossa Biblioteca Colonial age de forma difusa e escorrendo de maneira a impregnar nossa escrita. Por outro lado, a própria vertente do tempo presente, a nos remeter ao colonial, torna o antes e o depois mais cheios de complexidades, com devidas apropriações, de modo que essas categorias retornam, são revisitadas, ressignificadas. Por esse percurso, o primeiro capítulo é aberto por um texto que nos fala das nossas próprias atividades em cooperação internacional, é um exercício de autorreflexão realizado por Rodrigo Campos e Carolina Amorim. Trata-se de repensar nossas próprias práticas nessa cooperação. Os autores se debruçam com lentes poderosamente críticas nas práticas e teorias de cooperação internacional, chamadas Sul-Sul. Os autores fazem uma reflexão analítica ao examinarem a fundo as relações entre Brasil e África, nos Programas da Capes no sentido das últimas décadas e as especificadas relações estabelecidas com as instituições africanas, inclusive com as angolanas, a partir dos próprios dados obtidos da documentação da Capes. Infelizmente, esta autorreflexão só alcançou um ângulo da cooperação.

    Na sequência, o capítulo de Selma Pantoja introduz o debate das novas abordagens no entendimento do espaço urbano africano, perpassando, para isso, algumas obras dos muitos autores, principalmente africanos, que têm elevado o tom das discussões, por novas categorias que expliquem as cidades africanas e sulistas de um modo mais satisfatório. No especifico caso luandense se apraz a autora no buscar lentes variadas, fragmentando o olhar, para dar conta das inúmeras diversidades, multiplicidades de pensar a cidade capital, Luanda.

    O Capítulo Três, num tom crítico sobre os conceitos hoje atuais de família e de família extensa usados para as sociedades angolanas, Helder Buhu nos chama a atenção de como tais vocábulos são naturalizados em nossas escritas e mais parecem cristalizados se confrontados com as dinâmicas realidades do país. São várias as abordagens, diálogos com autores, entrevistas realizadas e trânsitos em distintos contextos angolanos para analisar as transformações nos sentidos de comunidade, linhagem e parentesco. Helder Bahu entrecruza vários fenômenos na qualificação das problematizações por ele pontuadas. No Capítulo Quatro, Leandro Bulhões analisa uma coleção de doze contos publicada em 1949, escrito por Júlio D’Almeida. Descreve de como foram imobilizados os argumentos dos determinismos biológicos e culturais – na época em voga – que afirmavam que viver nas Áfricas impactavam os corpos e os intelectos dos indivíduos. Buscando Césaire, Fanon, Cabral e Mbembe, Leandro entra na obra flagrando, nos discursos do colonizador Júlio D’Almeida, os manejos estratégicos de imagens, símbolos, referências, estereótipos na construção de si mesmo e do outro que a empresa colonial pretendia colonizado.

    A Parte 2 da coletânea reúne quatro textos que tratam explicitamente de sujeitos fundamentais em todas a sociedades contemporâneas, como, educação e saúde com inclusão social e o trabalho feminino chamado de informal.

    No quinto capítulo, Edson e Clarissa escolheram como tema a vulnerabilidade social feminina diante da falta de acesso aos serviços de saúde. Nessa direção, explicam que são vários os fatores, interligados geográficos, socioeconômicos e culturais impeditivos do acesso aos tratamentos. Ainda acentuam que a vulnerabilidade feminina na questão da saúde é muito mais precária no meio rural angolano. Nesse estudo, os autores articularam os conceitos de espaço e território de Milton Santos, para o entendimento do mapa das assimetrias sociais e políticas no território de Angola. Uma abordagem possível, que demonstra, por um lado, como a cultura local é muitas das vezes limitadora, com vários níveis de poderes hierárquicos masculinos interpondo acesso direto a elas (alguns estudos de casos são apresentados); por outro lado, essa mesma cultura tradicional, torna-se o único recurso à saúde pela população, já que eles não são alcançados pelos tratamentos do sistema de saúde angolano. Os autores advogam a aproximação do sistema nacional de saúde ao que eles chamam medicina alternativa. Daniela Lobo, Selma Pantoja e Paulo de Carvalho, no sexto capítulo, apresentam a trajetória da construção das políticas educacionais voltadas à educação especial no sistema educacional de ensino angolano do período da independência aos dias atuais. Pontuam os diversos contextos do Estado-Nação angolana: nos primórdios, naquilo que os autores chamam de marco oficial, no estimulo da visibilidade da temática; os tempos de guerra civil e de contexto de instabilidade política, que fragilizaram a implementação da educação especial e em época de paz, maior expansão do ensino especial no país, que experimenta uma mudança que vai além da ordem burocrática.

    No capítulo sétimo, num outro movimento de autorreflexão, Ermelinda Liberato e Martin Bota apresentam um estudo que tomam por objeto a própria Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto (FCS-UAN). A partir do marco dos sete anos de criação desta unidade acadêmica e já com as e os primeiros diplomados no mercado de trabalho, a autora faz uso de dados da instituição, documentos oficiais do país e da sua própria experiência enquanto professora, para analisar as dificuldades e desafios hoje para a formação de quadros qualificados em ciências sociais e humanas na FCS-UAN.

    Mais preocupada em acentuar as agências feminina, fechando a coletânea, com o oitavo capítulo, Lais Queiroz buscou rastrear a produção social urbana das vendedoras de ruas em Luanda, as zungueiras, por meio da vivência cotidiana e como compõem formas de coesões horizontais para o desenvolvimento da urbe. Foram levantadas como principais contribuições a produção de cooperação por meio de laços de solidariedade e a valorização do papel feminino no cotidiano da cidade. Em síntese, o trabalho teve como objetivo refletir sobre a agência das zungueiras na construção do espaço de Luanda, inseridas em um contexto urbano que tem sido cada vez mais estruturado em prol dos interesses econômicos globais.

    Por fim, gostaria de agradecer aos colegas Rodrigo Campos e Leandro Bulhões pela leitura minuciosa dos originais, foram importantíssimas essas colaborações para maior qualidade do trabalho de edição e organização desse livro, muito obrigada.

    Brasília, 12 julho de 2018

    Selma Pantoja (org.)

    PARTE 1

    Para Além das Categorias Coloniais

    CAPÍTULO 1:

    Entre geografias e epistemologias: as cooperações entre Brasil e Angola

    Rodrigo Pires de Campos

    Caroline Oliveira de Amorim

    Introdução

    "Ah, sim, agora eu entendi, vocês estão interessados também em nossa cooperação franciscana!". Em 2010, foi assim que o Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do Brasil se referiu à cooperação científica e educacional internacional do governo federal brasileiro com países do eixo Sul das relações internacionais¹. Por cooperação franciscana, em alusão a São Francisco de Assis, o Chefe da Assessoria Especial expressava, de forma relativamente estereotipada, talvez até preconceituosa, sua opinião pessoal acerca da situação da educação, da ciência e da tecnologia naqueles países frente a uma pretensa superioridade do Brasil.

    Espaços geográficos e epistemológicos de África, e em especial de Angola, no âmbito dos programas e acordos promovidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)², uma fundação do Ministério da Educação do Brasil, para a chamada cooperação educacional internacional, em especial com Angola, são o objeto de interesse deste capítulo. A escolha desse objeto justifica-se por dois motivos. Primeiramente, uma questão histórica e conjuntural: a guinada ocorrida durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010, rumo à expansão e ao fortalecimento das relações do governo brasileiro com o continente africano. No período, houve considerável aumento de gastos do governo federal brasileiro na cooperação com países de África (Ipea, 2010; 2013; 2016) e a Capes, a partir de 2004, passou a dar ênfase à cooperação com países do eixo sul, especialmente países da América Latina e da África, e com os países de língua portuguesa (Ipea, 2013, p. 49).

    Apesar dessa guinada geográfica em direção à África, a cooperação educacional, científica e tecnológica com o continente africano permanece marginal frente ao eixo Norte das relações internacionais. Conforme dados internos da Capes, do total de 154 (100%) programas e acordos internacionais vigentes registrados em março de 2017, apenas 14 envolviam África (Gráfico 1).³

    Gráfico 1. Distribuição geográfica dos programas e acordos de natureza internacional no âmbito da Capes (2017)

    Fonte: Capes (2017).

    A segunda justificativa para o presente capítulo diz respeito ao espaço epistemológico de África e de sua ciência contemporânea, em especial suas ciências humanas e sociais, nos programas e acordos de cooperação internacional promovida pela Capes⁴. As menções à cooperação da Capes com países de África presentes nos relatórios oficiais da cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional publicados pelo Ipea entre 2010 e 2016, por exemplo, remetem a noções de deficiência, estagnação e atraso do continente em relação ao Brasil, reforçando aquele estereótipo.⁵ Entretanto, a experiência de quatro anos do autor deste capítulo no projeto Leituras cruzadas: África e Interdisciplinaridade, entre a Universidade de Brasília e a Universidade Agostinho Neto (UAN), em especial pelo seu contato com a ampla e rica literatura de pensadores africanos contemporâneos, traduzidos e publicados em português pela Editora Mulemba da UAN, revelou um quadro epistemológico muito distinto dos preconceitos vigentes. O contato revelou que África, hoje, tem, sim, um conjunto de autores de pensamentos muito inovadores, autônomos, e com forte reconhecimento e projeção nos mais diversos centros de excelência científica mundial em ciências humanas e sociais.

    No contexto desses olhares e estranhamentos preliminares, o objetivo deste capítulo é pensar, a partir das lentes da epistemologia africana contemporânea, os espaços geográficos e epistemológicos de África e de Angola nos programas e acordos de cooperação internacional vigentes no âmbito da Capes na atualidade.

    As perguntas norteadoras do trabalho são: como pensar a produção do conhecimento científico, em especial nas ciências humanas e sociais, por e para África na contemporaneidade? Que espaços geográficos e epistemológicos África e Angola ocupam nos programas e acordos de cooperação internacional e nas propostas de internacionalização promovidas pela Capes na atualidade? Além do Sul geográfico, que possibilidades e limites epistemológicos trazem essas iniciativas de cooperação Sul? Quais são as possíveis implicações desses espaços para as políticas de cooperação promovidas atualmente e no futuro pela Capes?

    Conceitualmente, o capítulo fundamenta-se sobre três obras do professor, padre e filósofo camaronês Jean-Marc Ela, que tratam da emergência de novas epistemologias africanas associadas às lutas pela descolonização.⁶ O argumento central aqui defendido é que, apesar da guinada geográfica para a África e seus inegáveis avanços, há muito em que avançar no tocante à reflexão epistemológica da cooperação internacional científica e educacional entre o Brasil e o continente africano. Nas palavras de Ela (2016b, p. 27) [a] África não pode se orgulhar de uma ciência inferior. Para tanto, deve negar o mimetismo de conhecimentos produzidos alhures, dessacralizar velhas estátuas e derrubar monumentos à universalidade do conhecimento ocidental do seu próprio universo científico e mental.

    Para alcançar o objetivo proposto, este texto está organizado em três sessões. A primeira delas dedica-se às três obras de Jean-Marc Ela, contextualizando-as no quadro histórico mundial das independências de países africanos a partir de meados do século XX, caracterizada pela emergência dos movimentos Sul no sistema internacional e pela descolonização do pensamento científico nos planos domésticos dos países africanos. Jean-Marc Ela não é o único pensador africano sobre o tema, mas é um dos precursores dos novos sentidos e do alcance das novas epistemologias de Sul por e para o continente africano. A segunda e a terceira sessões apresentam a Capes e exploram o espaço de África e de Angola em seus programas e acordos internacionais⁷. A última parte traz notas preliminares de reflexão sobre as questões de interesse deste capítulo.

    A cooperação e as epistemologias desde o Sul e primeiros recortes de uma epistemologia africana da contemporaneidade

    A independência maciça de ex-colônias após a II Guerra Mundial inaugura uma articulação sem precedentes entre países do Sul a partir da qual emergem críticas aos desequilíbrios econômicos estruturais do sistema mundial acompanhadas de propostas de reordenamento, características do chamado debate Norte-Sul. O Sul prezava ainda pelo reconhecimento da igualdade entre todas as raças e nações, pela solidariedade e a articulação entre países do terceiro mundo em nome de sua autonomia, pelo fortalecimento de sua capacidade de negociação conjunta, e pela promoção da chamada cooperação Sul-Sul (G77, 2018; NAM, 2018).

    Nos âmbitos domésticos, os

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