O cavalo cantor e outros contos
By Denise Emmer
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Book preview
O cavalo cantor e outros contos - Denise Emmer
DENISE EMMER
O cavalo cantor
e outros contos
Ilustrações
Álvaro Alves de Faria
Prefácio
António Carlos Cortez
© Editora Gato-Bravo, 2020
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro nem o seu registo em sistema informático, transmissão mediante qualquer forma, meio ou suporte, sem autorização prévia e por escrito dos proprietários do registo do copyright.
editor Paula Cajaty
coordenação editorial Marcel Lopes
revisão e adaptação Inês Carreira
prefácio António Carlos Cortez
capa e projecto gráfico 54 Design
ilustrações Álvaro Alves de Faria
Título
O cavalo cantor e outros contos
Autor
Denise Emmer
isbn 978-989-8938-77-0
e-isbn 978-989-8938-78-7
1ª edição: Outubro, 2020
Depósito legal 475208/20
GATO•BRAVO
rua Veloso Salgado 15, loja A
1600-216 Lisboa, Portugal
tel. [+351] 308 803 682
editoragatobravo@gmail.com
editoragatobravo.pt
Aos meus pais.
Inventores.
Sumário
Notas para uma música
O primeiro rei
Escadaria de pedra
Sem começo, sem meio, sem fim
Menino e suas árvores
Metamorfose
Três minutos
Cibernética e Azul
Ensaio geral
Três netos de Alice
Linguagem mineral
O cavalo cantor
Prosa e poesia
Sobre a autora
Notas para uma música
Denise Emmer publica O Cavalo Cantor e Outros Contos e logo numa espécie de nota ao leitor diz escrever estes textos «como a poesia que permiti em minha vida». São «histórias de naufrágios, não diários», avisa, o que vamos ler. E assina: «A autora». Por aqui se vê, ao assinar como se houvesse certo distanciamento entre a figura empírica daquele que escreve – Denise – e a figura do autor que se constrói, a forte consciência do que pode a literatura. Dois romances seus, afirma, tem «nuances poéticas» e neste livro que Paula Cajaty publica, mais uma vez a poesia está presente no modo como, fruto da «memória romanceada», os enredos podem ser lidos como um poema longo, único, que todos os contos unisse e contivesse.
Se a poesia pode ser universo de linguagem muito diferente do que o resto da literatura, Denise recorre a uma das mais felizes formas de o narrativo poder ser lido como poema: o texto curto, conciso, concentrado em torno de imagens-símbolo, ou de motivos centrais, ilustrações do artista Álvaro Alves de Faria. Adequar a linguagem poética aos procedimentos narrativos (longa linhagem na literatura Ocidental, mas destacaria Borges, um sul-americano), congregam-se no seu registo a poesia como «doença da linguagem» (para lembrar Ruy Belo, poeta português que Denise decerto segue) e a narração (o modo de contar) que Horácio, na velhinha e sempre actual Arte Poética, como acto de tecer as intrigas de forma a que elas prendam o leitor a um possível efeito de verossimilhança. Uma verossimilhança que surpreenda.
Neste livro belo, sensível, pensado, Denise Emmer está interessada, sobretudo, em narrar o inominável, o imponderável, o imensurável. São as palavras a matéria mesmo, o assunto próprio, da narrativa. Por isso a ambiência destes textos é evanescente, há um impalpável que a todo o tempo perseguimos: a linguagem, essa imaterialidade com que a literatura trabalha e se refaz. É sobre sujeitos ausentes que Denise, ou o sujeito que nos contos-poema fala, se debruça. No meio disto as relações humanas, feitas da linguagem que as diz: uma mulher casada com outro homem, seu amante, seu carcereiro, mas que ela julga encarnar o amor verdadeiro. «Três Minutos», eis o poema dramático, o conto-poema em que as categorias da narrativa – tempo, espaço, acção, personagens, narrador – se liquefazem, posto que esses três minutos sejam a metonímia da existência: são a eternidade que pode durar o nosso confronto com uma verdade terrível. Dois universos contrastantes: o idealizado que logo se transforma em mundo demoníaco (esse homem é o símbolo da crueldade, do mal), e o real, a família da mulher agora desencantada. Denise Emmer, talvez como só uma mulher poderá compreender, explora aí a distância entre o que a vida é e o que a vida poderia ter sido, num «teatro de tantos ferimentos», na bela expressão de Alves de Faria.
Denise Emmer, que terá lido Menina & Moça de Bernardim Ribeiro, poeta quinhentista português e autor da novela de cavalaria, de matriz passional, onde tudo acontece num tempo e num lugar inapreensíveis, entre uma Moça que vagueia por montes e vales e ouve as histórias que lhe conta uma «Dona do Tempo Antigo», a qual partilha com a Moça as desventuras que ocorreram a cavaleiros e princesas naqueles mesmos montes e vales de saudade aguda; Denise lembra, em alguns instantes, esse mundo fantasmático do autor da novela de 1554. Logo no primeiro conto-poema, uma frase: «Viajávamos para os longínquos arredores do nunca», numa alusão à viagem que o