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Reminiscências biográficas
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Reminiscências biográficas

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"Reminiscências Biográficas." O título me agrada.
"Reminiscências." Sempre gostei desta palavra. Especialmente à medida que vamos ficando velhos e afloram em nossa mente recordações. Perpetuamos coisas do passado. Coisas que na nossa juventude passaram despercebidas. Momentos inesquecíveis. Coisas que deixamos de fazer. Coisas que fizemos e nos enchem de orgulho. Coisas que fizemos e não deveríamos ter feito.

"Biográficas." Afinal, este livro, ou escrito, é, também, uma modesta biografia. Não é justo que nossos netos, bisnetos, desconheçam nossas origens.

Entendo que a nossa história deve ser resgatada a cada geração de forma a nunca se deixar perder com o tempo. Perder a nossa memória biográfica significa perder a nossa identidade.

Ser lembrado pela atual e as futuras gerações é contribuir culturalmente para a perpetuação de nossa memória biográfica. Nosso conhecimento do passado orienta nossas gerações futuras.
LanguagePortuguês
PublisherEditora Buqui
Release dateJan 21, 2021
ISBN9786586118834
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    Reminiscências biográficas - Valdemar Spanholi

    Thomas.

    APRESENTAÇÃO

    Reminiscências Biográficas. O título me agrada.

    Reminiscências. Sempre gostei desta palavra. Especialmente à medida que vamos ficando velhos e afloram em nossa mente recordações. Perpetuamos coisas do passado. Coisas que na nossa juventude passaram despercebidas. Momentos inesquecíveis. Coisas que deixamos de fazer. Coisas que fizemos e nos enchem de orgulho. Coisas que fizemos e não deveríamos ter feito.

    Biográficas. Afinal, este livro, ou escrito, é, também, uma modesta biografia. Não é justo que nossos netos, bisnetos, desconheçam nossas origens.

    Entendo que a nossa história deve ser resgatada a cada geração de forma a nunca se deixar perder com o tempo. Perder a nossa memória biográfica significa perder a nossa identidade.

    Ser lembrado pela atual e as futuras gerações é contribuir culturalmente para a perpetuação de nossa memória biográfica. Nosso conhecimento do passado orienta nossas gerações futuras.

    1

    OS PRIMÓRDIOS

    As origens da Família Spagnoli

    Em 1874, foi fundada a colônia Conde D’Eu e, um ano após, as colônias Dona Isabel, que se situavam nas terras do Rio Grande do Sul onde hoje estão os municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi.

    Em 1876, chegaram os primeiros 200 italianos e 12 franceses, e dentre eles nossos descendentes.

    Da província de Cremona, vilarejo de Castelleone, vieram nossos descendentes Spagnoli, que se instalaram na Vila Jansen da Colônia Dona Isabel, lote 34, conforme registros. Carlo Spagnoli, meu tataravô, e, entre seus filhos, Luigi, avô do nosso pai, que deu origem à nossa família.

    Registro completo em nosso livro SPANHOLI — Uma História Quelo & Mínica.

    I pensieri: a melancolia — os costumes

    Nossos descendentes vindos da Itália trouxeram consigo a melancolia. Quando cabisbaixos, dizia-se que estavam sob i pensieri. A manifestação da melancolia é vista de várias formas, segundo seus estudiosos. Ela não é o mesmo que depressão, tédio ou tristeza. O livro A Treatise of Melancholie, de Timothy Braight, atribui à melancolia a manifestação religiosa, da culpa do pecado e do medo da morte, do castigo divino da mão de Deus pesando sobre a consciência. A religião tinha forte influência na família, E os padres sempre estavam próximos, também como conselheiros.

    Democritus associa a melancolia à memória e às lembranças, à miséria humana. Ela se manifestava também nos sentimentos de saudade da pátria distante. Essa melancolia contagiou os descendentes mais próximos, que a expressavam, também, na ausência dos filhos à medida que as famílias foram crescendo e se dissipando.

    Na antiguidade, recomendava-se o uso do vinho como um antídoto para a melancolia. Ela pode estar associada, às vezes, à sabedoria. Para a época, nossos antepassados traziam uma cultura, uma sabedoria, que estava acima do povo primitivo da região. Alguns tinham a assinatura do Correio Riograndense e estavam a par dos grandes movimentos políticos e dos grandes líderes daquela época. De outra parte, sob os conceitos de Democritus, as lembranças de seus parentes e de sua pátria que ficou distante tinham forte influência nesse estado de melancolia que frequentemente se manifestava.

    Esses imigrantes trouxeram, também, o reflexo do estado de miséria em que viviam na Itália. Para Paulo Prado, a melancolia não é o reflexo, simplesmente, da saudade do país natal, mas a ideia fixa de superar a miséria, da busca do enriquecimento, aquilo que os imigrantes denominavam La Cucagna.

    De outra parte, nossos descendentes procuravam superar essa melancolia através das festas, dos filós, das cantorias e do vinho. Legado dos deuses (Dionísio para os gregos, Baco para os romanos) das festas, dos vinhos e excentricidades. (Texto extraído do Livro SPANHOLI — Uma história Quelo & Mínica.)

    A infância, a família e a convivência no Lajeadinho

    O que motivou a Famiglia Spagnoli a se transferir de Bento Gonçalves, Vila Jansen, para aquele distante local chamado Lajeado Bonito, distrito de Machadinho, e posteriormente Cacique Doble foi a necessidade de uma extensão de terra maior. Ali se formou a comunidade dos Spanholi, local onde nasci e convivi até os 11 anos de idade junto com meus outros quatro irmãos e uma irmã.

    Parece que a escolha daquele local, e a formação daquela comunidade no Lajeadinho, foi planejada de modo que tudo ali fosse possível para manter viva a lembrança das origens italianas de tão saudosa memória. O parreiral, a colheita da uva, o vinho e até o cultivo da alfafa (Espanha), das tradições italianas de determinada região.

    Ampélio e Domingas formavam um casal muito equilibrado, cada um com seu jeito, sua maneira de agir. Não há histórico na família de que tanto o pai quanto a mãe tenham batido nos filhos, mesmo que fosse aquele tabefe na bunda. Aliás, fato constatado também na criação da família Spanholi desde seus patriarcas.

    Ampélio era mais sensível, sentimental, característica dos seus pais, especialmente de sua mãe Ângela. Nossos descendentes vindos da Itália trouxeram consigo a melancolia. Quando o pai Ampélio estava soturno, cabisbaixo, os filhos diziam que estava sob "i pensieri". Quelo se emocionava fácil. Quando tinha a notícia de que os filhos, que estavam distantes, estavam para chegar, ficava ansioso, inquieto, olhava para a estrada no alto. Ele chorava quando os filhos chegavam e quando iam embora. Já Domingas tinha uma personalidade mais forte, era determinada. Até mesmo nos negócios tinha uma posição mais firme, característica que herdou de sua família, os Pasinatos, que fazia mais aquele tipo de italiano ideologicamente anarquista. Protestavam facilmente de tudo aquilo que não lhes agradava, desde as coisas rotineiras em família e, especialmente, contra os governos. Eram mais hábeis comerciantes.

    Para os mais velhos, o sotaque italiano, além da perseguição dos governos em uma determinada época, para filhos e até netos, gerava humilhação, vergonha, tristeza, inibição e silêncio. O dialeto italiano por vezes gerava preconceito e situações de constrangimento, que levavam ao sentimento de inferioridade.

    Lajeadinho, ou Lajeado Bonito, vilarejo próximo de Cacique Doble, foi o local onde nossa família se constituiu e viveu durante nossa infância. Eu, quatro irmãos e uma irmã.

    Nasci em 1943 e vivi a minha infância, até meus 12 anos, nesse local. Lajeadinho era um vale onde viviam meus avós, tios, primos e outros parentes descendentes da família Spanholi. Praticamente toda a família vivia próxima naquele vale. Formávamos uma verdadeira comunidade. Lembro-me, ainda hoje, de cada recanto e das paisagens daquele local. De cada nuance do rio que se estendia naquele vale, das árvores frutíferas, da floração, da mata verde que se estendia até o alto da montanha. Passadas tantas décadas, tenho memórias vivas de toda a minha infância feliz junto com meus pais, tios e avós.

    Lembro-me, a cada instante, das incursões clandestinas, juntos com nossos primos, até o alto do morro, nas terras do tio Carlos, local povoado de árvores frutíferas, uvas, melancias, etc. Muitas vezes éramos pegos de surpresa, pulávamos a cerca e descíamos o morro correndo. Aquela aventura era motivo de muita alegria e diversão. Subíamos o morro cantando. Lembro-me da maldade das nossas caçadas com nossos bodoques. Éramos felizes!

    Próximo da nossa casa, o rio formava uma pequena ilha, e naquele espaço havia uma espécie de árvore que, em sua cobertura, formava uma floração chamada pente-de-macaco. Encantados com aquela paisagem, certa manhã de domingo, céu azul, a Terezinha, minha irmã mais velha, e eu fomos até o local e subimos nas árvores para colher flores.

    Saudade daquela infância! Subindo nas árvores para colher frutas: guabiroba, araticum, pitanga, goiaba, colher mel das lixiguanas… a pesca com nossos anzóis e pequenas redes de pescar… a armação dos espinhéis no fim das tardes para atrair os peixes… A emoção no dia seguinte ao recolher a linha na expectativa de encontrá-los.

    Naquele vale, vivíamos em uma comunidade, uma grande família. La nona Angelina, alma piedosa, era nosso consolo quando fazíamos alguma travessura e éramos repreendidos por nossos pais. Certa vez, me senti enciumado porque o Neuro, irmão mais velho, ganhou um belo casaco marrom. Fui fazer queixa junto com a nona, eu estava muito nervoso. Lembro que ela ficou emocionada e me deu para beber um copo de chá doce, dizendo que isso me acalmava. A nona era um verdadeiro anjo, às vezes ela chorava junto conosco.

    Aquele local cheio de vida não existe mais. Só a lembrança. Hoje a mata ocultou os espaços da nossa infância. Nada ficou! As casas foram destruídas, o rio secou, as trilhas na mata desapareceram.

    No Lajeadinho, vivíamos da agricultura. Tínhamos uma extensão de terra da partilha do avô. Plantávamos milho, feijão, trigo, mandioca, além da criação de porcos e galinhas. Era uma agricultura de sobrevivência, praticamente toda a produção era para o sustento da família.

    Os negócios da família — andanças

    Vila do Marmeleiro

    No início dos anos 50, meu pai recebeu o convite do tio Luiz para se associar à loja de secos e molhados que ele já tinha em um local chamado Marmeleiro, uma vila perto de São José do Ouro. Mesmo em se tratando de uma loja na área rural, havia uma demanda muito boa. Assim, nos associamos ao comércio e nos transferimos para o Marmeleiro.

    Foi um período curto. A vila onde passamos a morar no Marmeleiro era constituída de uma igreja, uma escola, quatro ou cinco casas de vizinhanças e uma estrada com um movimento razoável para a época, que contornava a nossa casa, fazendo uma curva e seguindo na direção do comércio, das grandes cidades, como Vacaria, Passo Fundo, Caxias do Sul e Porto Alegre.

    Já adolescente, poucas lembranças ficaram do período em que vivi no Marmeleiro. Poucos amigos. Não havia uma comunidade de jovens. Eram as primas Ilse e Loreni e as filhas do nosso vizinho Genes Vargas, muito bonitas!

    O comércio no Barracão

    Desfeita a sociedade com o tio Luiz, nos mudamos para o Barracão, município que fica ao norte do Rio Grande do Sul, divisa com Santa Catarina, na metade dos anos 50. Dando continuidade aos nossos empreendimentos comerciais, montamos uma loja à semelhança daquela que tínhamos no Marmeleiro.

    Os negócios iam muito bem. Mas o pai não era um bom comerciante no que se refere à administração dos negócios. Era uma pessoa muito boa e imaginava que todos fossem assim também, e logo foi passado para trás por um sócio que tínhamos na loja. Começamos a entrar em um processo de falência.

    Porém, o golpe fatal em nossas economias aconteceu de forma inusitada, constrangedora e até hoje misteriosa. Meu pai, junto com velhos amigos, costumava se reunir para um carteado à noite. Por desatenção, ou imprudência, naquele dia meu pai levava consigo uma importância muito elevada de dinheiro que seria destinado para o pagamento do abastecimento da nossa loja de secos e molhados.

    Misteriosamente, esse dinheiro desapareceu. Nunca soubemos, tampouco conseguimos identificar quem o roubou. Sabíamos, com boa margem de certeza, apenas que foi furtado na casa, onde velhos amigos, naquela noite, jogavam baralho. Possivelmente alguém

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