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Não espere pelo amanhã
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Não espere pelo amanhã

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About this ebook

Era apenas para ser a primeira missão de Evelyn Lacerda pela Agência Brasileira de Inteligência e mais um dia burocrático de Samuel Black no Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Suspeito de ser um agente infiltrado da CIA no país, o diplomata se torna alvo da agente novata e ambos se veem atraídos na mesma medida do repúdio que sentem como inimigos declarados. Eles farão qualquer coisa para cumprirem suas missões e também se livrarem do desejo e da aversão que surgem entre os dois ao primeiro olhar e ao último soco. Para seu azar, ou sorte, uma tentativa de assassinato os colocará do mesmo lado e os rivais terão que lutar, juntos, para sobreviver.
LanguagePortuguês
PublisherBookerang
Release dateJun 1, 2015
ISBNB00YI6W4X8
Não espere pelo amanhã
Author

Josy Stoque

Josy Stoque is a publicist by profession and author by vocation. She has been writing since discovering poetry as a child. Her debut novel, Marked by Fire, the first book in the Four Elements saga, was nominated for the 2013 Codex de Ouro Annual Literary Prize when published in Brazil in the original Portuguese. The second title in the series has also been published in Portuguese, and the author will release the remaining two books through Amazon’s Kindle Direct Publishing platform in 2014. Marked by Fire is her English-language debut.

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    Não espere pelo amanhã - Josy Stoque

    Capítulo 1

    A primeira missão a gente nunca esquece

    EVE

    Estou tão excitada! Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. Eu sei, isso foi clichê demais, mas não me importo. Estou a fim de dirigir meu cupê a duzentos por hora, saltar de paraquedas e ganhar de novo o campeonato de veleiros. Em vez de fazer qualquer uma dessas coisas, mantenho minha postura profissional tão severa quanto fui treinada pelo serviço militar e me concentro no arquivo em minhas mãos.

    O alvo me encara de volta e juro por Deus que ele está sorrindo para mim. Devo estar maluca! Seus olhos são verdes-claros e confiantes, a pele é bem branca, com algumas sardas ao redor do nariz, e o cabelo loiro médio. Nunca imaginei que minha primeira missão em campo, como espiã, seria seguir e vigiar um homem de trinta anos no auge da força, virilidade e beleza. Uau! Samuel Black é diplomata no Consulado Geral dos Estados Unidos do Rio de Janeiro. Pena que ele é suspeito de ser um agente da CIA — Central Intelligence Agency — infiltrado no Brasil.

    Tenho inúmeros motivos para não gostar de estadunidenses. Palavra feia, não é? Estadunidenses. Eca! Acho que deve ser por isso que eles se intitulam americanos, mesmo não sendo os únicos do continente. Eles são uns metidos, se acham os poderosos, os maiorais, os donos do pedaço. Tanto que não têm vergonha de se meterem na política do mundo inteiro! Preciso dar a você mais motivos para odiá-los? Acho que não.

    Você acha exagero meu, talvez paranoia? Saiba que pensaria como eu se tivesse sido criado no meio em que fui. Meu avô é tenente-coronel reformado da FAB — Força Aérea Brasileira. Meu pai é tenente e ainda está na ativa lá na minha terra natal, em São Paulo. Meu irmão mais velho é louco pelo ar e já se tornou sargento. E eu? Bem, sou apaixonada pelo mar, por isso moro na capital do Rio há quase dez anos, onde me graduei em psicologia por uma escola militar. Sou boa em ler pessoas.

    Ah! Mas você quer saber o que exatamente vim fazer aqui, certo? Bem, não disse que tive uma educação militar? Pois bem, entrei para a Marinha, mas fiquei tão frustrada por não poder me tornar fuzileira naval que não graduei mais do que o nível de oficial, quando me formei na Escola Naval. E sabe por quê? Porque tenho uma vagina no lugar de um pênis. Esse machismo na carreira militar é ultrajante! Consigo desmontar e montar um fuzil tão rápido — ou até mais — do que qualquer homem! Também posso dar um tiro preciso à distância, mas não me permitem ser fuzileira porque este cargo nem existe. Apenas fuzileiro naval, com O.

    É igual presidente, sabe? Bastou uma mulher ser eleita para que a palavra presidenta fosse adotada na nossa língua. Eu queria ser a primeira fuzileira naval do Brasil, mas em vez de quebrar a cabeça com isso, prestei um concurso para agente secreto da Abin — Agência Brasileira de Inteligência — e passei. Para todos os efeitos — leia-se amigos, familiares, colegas, vizinhos, etc. —, ainda estou no serviço militar, este é meu disfarce.

    O único que conhece meu segredinho é o Carlo, ele é agente da PF — Polícia Federal — em São Paulo, nos conhecemos há muito tempo e foi ele quem sugeriu o concurso quando o edital foi divulgado e eu estava desanimada com a carreira que havia escolhido. Isso significa que tive alguém para comemorar comigo quando fui convocada — após passar em todas as etapas de seleção — e fui treinada para a função que a partir de hoje comecei a exercer.

    Minha primeira missão é descobrir se o diplomata gato da foto é mesmo um agente infiltrado. Após denúncias de um ex-agente da NSA — National Security Agency — de que a CIA estaria atuando livremente em meu país, espionando nossa política, a Abin está mais atenta aos diplomatas estrangeiros espalhados pelas capitais do Brasil. Acredito que minha habilidade de enxergar bem as pessoas tenha influenciado o diretor a me escolher para a tarefa.

    É muito simples, na verdade: vigiar e reportar. Estou com todo o equipamento de que preciso instalado. Fecho a pasta, deixando-a sobre a mesa do escritório, sento-me com minha xícara de café fumegante e confiro o rastreador GPS. Ele ainda está em casa. Como não posso grampear nem invadir a Consulado dos Estados Unidos, a equipe técnica instalou câmeras e microfones em seu apartamento e seus telefones ontem, enquanto o diretor me recebia e me passava as coordenadas. Ele ficou impressionado com meu currículo, só para constar.

    Quando confiro a data e a hora no canto inferior da tela do computador, minha ficha cai: hoje é o dia da abertura da Copa do Mundo no Itaquerão em São Paulo. Carlo deve estar lá, enlouquecendo com o novo sistema de segurança antiterrorismo implantado para os jogos. Penso em ligar para ele só para desejar um bom dia cheio de ironia, mas deixo para lá. Com certeza ele vai dar um jeito de se vingar e minha quinta-feira está muito boa, não quero me irritar tão cedo.

    Adoro qualquer tipo de esporte, sou competitiva por natureza, mas desta vez a Copa não me atrai tanto quanto o desafio nos olhos de Samuel Black. Quero arrancar aquele sorriso arrogante da cara linda dele e dar um chute em sua bunda pessoalmente. Que volte de onde veio! Vou mostrar para ele porque nunca deveria ter pisado no Brasil. Ah, se vou!

    Confiro as câmeras. Primeiro do escritório, que está vazio e quieto. Depois da sala e nada. Onde esse homem se meteu? Ainda está dormindo? Relutante, mudo para a do quarto e o vejo saindo do banheiro da suíte, nu e úmido, enxugando os cabelos com uma toalha. Puta merda! Que gostoso! Se o pau dele é assim mole, imagina duro! O pano some de sua cabeça e seus olhos encontram os meus. Eu me sinto flagrada e, instintivamente, desligo a tela. Que calor!

    Ignoro a sudorese, e o coração martelando no peito, e me foco no trabalho: espionar o inimigo. Ele parecia bastante relaxado... Evidente, gênio, ele está em casa! Tá, é verdade, mas isso também quer dizer que ele não descobriu o equipamento escondido. Menos mal. Sabe, vou ficar bem entediada se esse delicinha for só um diplomata inofensivo. Ou poderei me divertir assistindo-o pelado. Wow! Não é uma visão ruim.

    Troco a câmera com mais confiança e o vejo vestido de terno e camisa bem passados, sentado ao balcão da cozinha, lendo um jornal e tomando café. Nada como a rotina sem emoção de uma pessoa para começar a bocejar. Devia ter corrido na praia mais cedo, assim teria gastado parte da adrenalina que pulsa em minhas veias, me deixando louca por um pouco de ação. Bem, aproveito para dar uma boa olhada ao redor e vejo que é organizado. Apartamento impecável! Sobre a bancada está um prato generoso de ovos mexidos com bacon e um suco de laranja de caixinha. A pia está quase limpa, a não ser pela frigideira e espátula abandonadas ali. Organizado e asseado. Para um homem que mora sozinho, ponto positivo para ele. Mais um.

    O telefone dele toca e aumento o som dos fones de ouvido. Eles conversam em inglês e para não aborrecer você, vou traduzir o que disseram. Ah! Antes você precisa saber que a voz deste homem é de arrepiar os pelos do corpo, isso, do corpo todo! Puta merda! Acho que molhei a calcinha!

    — Fala, Tom! Não está muito cedo aí para você me ligar? — diz a voz mais sexy que já ouvi. Ele está se referindo ao fuso horário. Na Virgínia, onde fica a CIA, se ele trabalhar mesmo para a agência, são três horas a menos do que aqui. Posso rastrear o número e por isso tenho certeza de que a ligação é mesmo deste estado. Mais alguns minutos rastreando e descubro a localização exata.

    — Sabe como é, Sam, trabalho na hora que for necessário. — A voz de Tom é brochante, anasalada.

    — Algum problema? — Sam, quero dizer, Samuel fica apreensivo.

    — Só para te avisar, a agência interceptou mensagens codificadas de uma célula terrorista ativa no Brasil, que pretende atacar durante a Copa.

    — O quê? — O diplomata e eu perguntamos juntos.

    Ainda bem que ele não pode me ouvir, porque eu praticamente gritei, erguendo-me da cadeira e ela rolou para longe da mesa. Começo a andar de um lado para o outro do escritório, prestando atenção ao diálogo que se segue.

    — Impossível! — rebate Samuel.

    Será? Não estávamos nos preparando para algo assim? Autoridades do mundo inteiro estarão presentes hoje à tarde na abertura oficial. Não seria burrice um atentado terrorista no Brasil. Não durante um dos eventos mais populares do planeta. Também seria um grande recado, como o atentado ao World Trade Center, e muitas vidas nos seriam tiradas. Engulo essas ideias a seco, quase fico entalada.

    — Bem, essa não é minha obrigação — retruca Tom, com firmeza. — Só estou ligando para avisá-lo: não vá a nenhum jogo. — Seu tom é de ordem. Seria chefe dele?

    — Tom, a inteligência brasileira foi informada?

    Ah! Meu coração se aperta diante de sua preocupação. Lindo, gostoso e interessado. Ele tem que ser estadunidense? Nem reclame, me recuso a chamá-lo de outra forma, tá legal?

    — Provavelmente. — Tom não parece se importar. Filho da puta prepotente! — Se cuida, Sam.

    Eles se despedem e os lábios de Samuel se apertam tanto, que formam um biquinho, muito sensual, diga-se de passagem. Puta merda! Tudo nele me remete a sexo! Para já com isso, Evelyn! Preciso decidir o que farei para impedir meus amigos e familiares a irem ao estádio. Melhor ligar logo para o Carlo, mas não tenho tempo. O diplomata sai desembestado pela porta de seu apartamento e sou obrigada a segui-lo. Estou com a arma e a faca presas nas coxas, sob um vestido pink para lá de sexy. Meu cabelo comprido está preso em um coque bagunçado. Calço os sapatos caros de solados vermelhos, passo pela sala pegando rastreador, celular e chaves, e parto.

    Você deve estar se perguntando: por que não um terno sóbrio, com uma camisa e sapatos baixos simples? Você acha que estou chamando muita atenção, não acha? Mas pensa comigo, espertinho, se o cara for mesmo um agente da CIA, com roupa como essas, em uma terra quente e informal como o Brasil, num dia que foi determinado como feriado nacional pela presidenta, cheia de turistas para todo lado, não levantaria mais suspeitas? O cara é treinado pelo que há de melhor em espionagem! Santo Deus, me deixa! Eu sei o que estou fazendo, está bem?

    Vou ao encontro do meu Civic Si Coupe esporte vermelho metálico e aciono o teto solar quando dou partida. Já falei que velocidade é uma das minhas paixões? Amo esse carro! Ligo o som e, cantando junto com a banda de rock, fico com um olho nas ruas do centro do Rio e outro no GPS. O diplomata mora muito perto do meu apartamento, por isso, logo o alcanço.

    Eu sei que ele tem um Cadilac DeVille Sedan, um clássico da década de 1970, mas avistar a carroça no meio do tráfego me dá um ataque de riso. Que ridículo! Não entendo o amor de certas pessoas por antiguidades. São chatas, ultrapassadas e obsoletas. Reduzo a marcha antes que acerte a traseira dele. Nem teria graça disputar um racha com o cara. Sem graça, estraga prazeres, tartaruga!

    Resolvo ultrapassá-lo só porque eu posso. Tenho um rastreador ativado, vou encontrá-lo onde quer que ele vá. Vejo as lojas fechadas, o trânsito travado. Cara! A Copa, as obras, os protestos e a quantidade absurda de turistas deixaram as ruas, que já não eram aquelas coisas, ainda piores. Dou uma olhada no GPS depois de aumentar a velocidade. Onde você está indo, queridinho? Meu alvo passou direto pelo Consulado.

    Fico mais atenta quando vai em direção à favela pacificada mais próxima. O que um diplomata faria lá? Caridade? Não dá para subir de carro, então estaciono assim que o rastreador me diz que ele parou. Muito estranho, você também não acha? Largo tudo no cupê e tento localizá-lo a pé. Subir um morro com saltos altos não era meu plano para o dia, mas vamos lá! Ando cautelosamente por cinco minutos, sem avistá-lo, e chamo a atenção de três moleques, que estão vadiando nas vielas tortas e íngremes.

    — A madame tá perdida no morro? — me pergunta um deles. Ignoro, fazendo a volta, e tenho meu caminho bloqueado pelos outros dois, que tentam parecer assustadores. — Onde cê pensa que vai com tanta pressa? Tem que pagá pedágio pra passá.

    Sério que vou ser barrada por crianças? Bufo, impaciente. Já falei que paciência não é meu forte?

    — É melhor vocês saírem da minha frente agora — ameaço.

    — Ou o que? — O cara se intitulou o líder do bando!

    — Não digam que não avisei.

    Dou um soco no nariz dele e ouço o som da cartilagem se partindo. Ele grita e o carinha da esquerda tenta me socar, mas dou um chute nas bolas dele. Ele cai de joelhos e o da direita avança em mim como um bicho. Esquivo o corpo, deixando o pé no caminho. Ele se estatela de cara no chão. Desvio dos corpos caídos, que gemem sem parar, e sigo até um beco antes que mais algum engraçadinho apareça. Perdi o alvo há algum tempo, não foram os pivetes que me atrasaram.

    Encosto no muro para esperar a poeira assentar antes de descer até meu carro. Penso de novo em ligar para Carlo, mas o celular não está comigo. De repente, o cano frio de um revólver toca minha têmpora e prendo a respiração. A adrenalina pulsa, me lembrando das armas que carrego sob o vestido, mas então a voz dele me tira toda a ação. Em português é ainda mais sexy.

    — Para quem você trabalha e por que está me seguindo?

    Capítulo 2

    O tédio é uma armadilha que te leva à imprudência

    SAM

    Que calor infernal faz nessa terra! Nem um banho frio ameniza. Saio do banheiro gotejando. Se pudesse, andaria pelado pela rua. O Rio de Janeiro é uma cidade litorânea brasileira na qual as pessoas usam pouca roupa, mas eu trabalho no Consulado dos Estados Unidos e preciso vestir terno. É, terno! Ainda bem que troquei meus modelos pesados pelos de microfibra fabricados no Brasil. E para piorar minha situação crítica, meu carro não tem ar-condicionado. Eu amo meu bebê, mas bem que ele podia me ajudar. Nem parece que estamos no inverno! Se estivesse em casa, estaria nevando. Que saudades da neve!

    Estou muito entediado neste país. As corridas matinais no calçadão, a paquera descarada com cada mulher que cruza o meu caminho, o trabalho burocrático no escritório, meses definhando na ausência de aventura. Sinto-me vigiado e ergo o olhar para a janela. A vizinha do prédio da frente me dá um tchauzinho e apenas aceno sem paciência para ela hoje. Suspiro forte e começo a me vestir, enquanto me recordo que escolhi a América do Sul exatamente pela tranquilidade. Seria como as férias que nunca tive desde que comecei a trabalhar para o governo dos Estados Unidos.

    Afasto as lembranças. Não cruzei a América para ficar rememorando o maior motivo da minha decisão de me isolar. Vim para cá para esquecer o Iraque e me afastar da cúpula nojenta que governa meu país. Calma lá, não sou um traidor! Só não concordo com algumas decisões dos governantes. Isso se chama liberdade de expressão e é meu direito constitucional, se você não sabe. Mas também não precisa reproduzir e gritar minhas palavras por aí, combinado?

    A quebra da minha rotina começa com o telefonema de Tomas. Ele nunca me liga tão cedo porque é madrugada lá na Virgínia. Antes mesmo de atender, já sei que há algo errado, mas um atentado terrorista no Brasil? Fala sério! Essa informação ainda não está digerida quando abandono meu café da manhã quase intacto — outra mudança no meu cotidiano porque faço questão de me alimentar bem —, e saio de casa ansioso para chegar ao Consulado e averiguar a informação pessoalmente.

    Estou dirigindo meu bebê sem muita pressa. Daria para ir andando até o escritório, mas com o Cadilac é mais rápido e este conforto me basta. Começo a enumerar mentalmente as possibilidades: contatar o serviço secreto, a polícia federal e as autoridades brasileiras para emitir um alerta. Eles estão preparados. Antes mesmo de os jogos começarem foi construído um Centro de Comando — que o país ainda não tinha — para centralizar informações e agilizar o tempo de resposta para o caso de que alguma ação policial seja necessária a fim de neutralizar a violência.

    Espio o retrovisor central por hábito, mas faço meus olhos retornarem ao espelho imediatamente, vidrados. Sabe aqueles comerciais de TV com gostosas em vestidos sexies, dirigindo conversíveis, seus cabelos voando ao redor do rosto? Acabo de ver essa cena ao vivo! Bem, o cupê vermelho não é conversível, mas o teto solar está aberto e bagunça a cabeleira da morena que está bem atrás de mim. Meu Deus, que boca essa mulher tem! Ela se move enquanto cantarola e imagino como seria a sensação daqueles lábios incríveis em volta do meu pau. O pensamento me leva a uma ereção e aperto com força a direção do carro.

    Fazia tempo que eu não ficava duro espontaneamente, sem contar quando acordo. Acho que isso quer dizer alguma coisa sobre mim. Estou perdendo o controle. Há anos tenho mantido qualquer tipo de emoção controlada. Quando se escolhe a minha profissão, é preciso cabeça fresca, reflexo ágil e capacidade de tomar a melhor decisão, sem influências externas ou internas. Sou responsável por vidas, além da minha, e principalmente de cidadãos americanos, e qualquer erro que eu cometer pode custar muito. Só quem já se deparou com a morte inúmeras vezes conhece o horror de sua face.

    A gostosa me ultrapassa e consigo dar uma conferida na comissão de frente dela. Que peitos! Minha mente imagina a garota nua, meu pênis deslizando entre seus grandes seios e sua boca chupando a cabeça toda vez que se aproxima dela. Merda! Minha cueca comprime minha ereção e passo direto do Consulado sem perceber. Estou fora de mim. Perco o Civic da mulher de vista e tento relaxar e me concentrar enquanto o fluxo me leva. Meus olhos, traiçoeiros, a procuram e, como se atendesse a meu desejo, ela ressurge atrás de mim novamente. Meu corpo agradece a visão, mas meu cérebro emite um alerta e questiona: ela está andando em círculos? Por quê?

    Filha da mãe! Está me seguindo! Uma distração e quase fui pego. Entendeu agora o que estou querendo dizer? Fico puto comigo mesmo pelo deslize e com ela por ser tão gata. Dane-se! Quer brincar, meu bem? Vem para o papai. Aumento a velocidade acima da permitida e sigo até a entrada da favela mais próxima. Desço do carro e me escondo atrás de uma árvore grande, esperando para ver se ela morde a isca. Lá está o cupê chamativo. Ela passa direto, olha meu carro e estaciona mais à frente. Depois de um suspiro, começa a subir a viela íngreme usando incríveis sapatos de saltos altos.

    Desgraçada! Seu quadril, marcado no vestido rosa-shocking, balança ao ritmo de suas passadas. Ela não é pequena, mas também não é alta. Tem um corpo realmente sensacional. Mas agora sou eu que peguei você, baby. Quando ela se afasta morro acima, vou até o carro dela e o abro com facilidade, desativando o alarme com um único corte no fio. Sento no banco do passageiro e vasculho o porta-luvas. Encontro o documento do carro, batom, CDs, GPS e cabo de carregador. Abro a bolsa e procuro pelos documentos e então descubro tudo.

    Seu nome é Evelyn Lacerda, é oficial da Marinha do Brasil e psicóloga. Solteira, tem vinte e oito anos e um holerite do mês passado me diz que ela ganha muito mal. Seu empregador é a própria força armada, não parece que ela tem uma clínica particular. Tudo bem, Samuel, o que isso diz sobre ela? Que é uma pessoa muito acomodada ou essa identidade é apenas um disfarce para esconder sua verdadeira atividade de espiã.

    Subo a favela atrás dela e me deparo com a prova que eu precisava de que ela é muito mais do que aparenta. Três moleques a cercam e seu olhar não demonstra medo em nenhum segundo. Qualquer mulher comum teria, ainda que soubesse se defender. Em um minuto, os vadios estão no chão, gemendo de dor, e ela se esconde, provavelmente esperando o momento certo para voltar. Como eu sei de tudo isso? Sou treinado e ela também, sem sombra de dúvidas.

    Saco uma das armas que sempre carrego comigo, escondidas sob o terno, e me esgueiro no beco pela laje dos barracos. Penso em atirar primeiro e perguntar depois, como de praxe, mas decido fazer o contrário. Quando ela sente a minha presença, é tarde demais e a vantagem é totalmente minha. Fico aliviado ao consertar as coisas. Agora sou eu que estou mirando você, baby, viu como sou um bom jogador?

    — Para quem você trabalha e por que está me seguindo? — pergunto, friamente.

    Ela não responde, mas estremece sob o meu revólver. Penso em soar mais ameaçador e perco o timing. Com agilidade, uma de suas mãos agarra o cano da arma, e a outra segura meu pulso, batendo-o inúmeras vezes contra o muro até eu soltar. Filha da puta! Dou um tapa com as costas da mão livre na cara linda dela, sem dó, e ela cambaleia, abrindo espaço entre a gente. O que você está olhando? Pensou que eu não ia revidar por ser mulher? Pensou errado! Você não me conhece e essa maldita me deve uma explicação, apesar de ser gostosa pra caralho! E tudo isso só me faz odiá-la mais.

    — Me diga você! — manda de volta, com um sorrisinho sutil.

    Ela não se intimida. Joga o peso de seu corpo de cabeça contra meu estômago e bato as costas e a cabeça na parede. Meus olhos escurecerem por um segundo, mas agarro o pescoço dela com uma chave de braço e dou uma joelhada em sua barriga. Seu corpo ergue do chão alguns centímetros com o impacto. Evelyn agarra uma perna minha com as duas mãos e impulsiona o corpo para trás. O puxão é forte e leva minha estabilidade com ela. Caio de bunda no chão, batendo as costas no muro, assim como a cabeça, de novo. Outro golpe de sorte, será?

    Perco a força da chave e ela escapa dos meus braços. Com seu sapato ultrassexy, ela pisa nas minhas bolas e grito, agarrando seu tornozelo. Sorrio maliciosamente e o torço com as duas mãos, fazendo-a tombar, berrando de dor. Seus joelhos batem com força no chão e seus gemidos são como a mais bela canção para mim.

    — Você não é capaz de me vencer, mulher idiota! Não sabe com quem está lidando?

    Caída aos meus pés, é presa fácil e dou o bote em sua direção para acabar logo com a luta, mas ela esmurra meu rosto quando estou perto o bastante. Tenho que confessar, ela é durona e está me fazendo admirá-la um pouquinho. Não deixo por menos e cubro o corpo dela com o meu, segurando seus braços contra o chão. Ela se debate e tento concluir isso de outra forma.

    — Você pode me dizer para quem trabalha antes de eu acabar com você, porque é isso que vou fazer.

    Ela dá uma cabeçada no meu nariz e sinto o calor do sangue escorrer no meu rosto.

    Bitch! — grito em inglês, xingando-a de vadia. Quando fico nervoso, meu instinto mais primitivo me leva à minha língua natal.

    Enquanto cubro o ferimento com as mãos, ela me dá uma joelhada nas costelas e perco o ar. Rolo no chão e ela se levanta. Vejo o bico de seu sapato perto do meu rosto, mas seguro a tempo, agarrando a perna erguida e a puxo. Ela vem caindo sobre mim e uso o movimento para aumentar o impacto do meu soco na cara dela. Evelyn sai rolando e grunhindo pela viela. É lindo de ver. O sangue que escorre do supercílio dela me agrada. Estamos quites, mas agora chega.

    Eu me ergo rapidamente, ao mesmo tempo que tiro minha outra arma do esconderijo. Giro o corpo junto com o braço levantado em sua direção, mas entre mim e ela há dois revólveres, e não apenas um. Ela também encontrou sua arma e a aponta para mim. Nós nos encaramos, como no velho oeste, a ameaça nos olhos. Quem será o primeiro a apertar o gatilho? Evelyn lambe os lábios e o movimento é tão lento e sensual que me atrai. Seus dentes surgem sob eles, em um sorriso cheio de segundas intenções.

    Meu pênis pulsa, despertando novamente. Estreito os olhos e balanço a cabeça, tentando dizer com o gesto que, o que quer que ela tenha em mente, não vai funcionar. Repuxo meus lábios em um sorriso de canto e seus olhos se perdem ali. Eu me sinto aquecer, a respiração falha e minha mente perde o foco por um segundo e, no seguinte, as armas entre nós desaparecem. Um passo de cada um faz nossos corpos se tocarem e nossos braços envolvem um ao outro.

    E é isso. Não sei como nem por que, mas estamos nos beijando. Eu estava louco para sentir os lábios dela em mim. Passo a língua lentamente do superior ao inferior e o sugo, mordendo por fim. Eles têm a mesma maciez e espessura. Gostosos demais! Ela geme e me empurra contra o muro, com força. Sua língua faminta invade minha boca e me puxa direto para um lugar perigoso e vulnerável, mas de onde não quero mais sair.

    Acaricio suas costas, descendo pela curva da cintura e morrendo na carne redonda e macia de sua bunda. Ela geme de novo e piro de vez, agarrando suas coxas e puxando seus joelhos para envolverem meus quadris. Giro nossos corpos e espremo meu pau entre suas pernas abertas, jogando suas costas contra a parede.

    — Não — seu pedido sai na forma de um gemido e ignoro, saboreando a textura doce de seu pescoço. — Pare — suplica, quando esfrego meu pau em seu calor úmido e irresistível.

    — Não posso — respondo, grunhindo e calando-a com um beijo que queima minha boca. Sério, não sei o que deu em mim. Essa mulher me pegou de jeito.

    Ela dá um tapa na minha cara, que ferve mais meu sangue, mas me faz parar de beijá-la por tempo suficiente para despertar. Puta que pariu! O que estou fazendo? Eu a solto e ela se esparrama pelo chão, pega de surpresa. Limpamos as bocas nos braços, com nojo, nos encarando com raiva, muita raiva. Nunca me senti assim antes por alguém que acabei de conhecer.

    — Não cruze meu caminho de novo, Evelyn Lacerda, não te pouparei da próxima vez.

    Capítulo 3

    Sou brasileira e não desisto nunca

    EVE

    Samuel Black sabe quem sou! Sua ameaça tem sabor de promessa. Ele vai me matar ou me comer? Estou excitada como nunca antes. A luta, a voz dele, sua cara de mau, puta merda! Esse homem numa cama deve ser O cara! Sua boca na minha foi uma amostra de enlouquecer. E as mãos? Firmes e ousadas, sabem o que querem e não aceitam não como resposta, simplesmente tomam para si. Aquela voz grave com sotaque quando fala português? Você precisa ouvir para entender do que estou falando.

    Ele me deixa estatelada no chão do beco e sai pisando forte, sem nem olhar para trás. Reparo no desenho perfeito de sua bunda e

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