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Contos da Velha Terra
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Contos da Velha Terra

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Ambientado num planeta Terra de um período muito antigo, quando a magia e os seres fantásticos eram possíveis, Contos da Velha Terra é uma série de 9 contos que narram aventuras nesse mundo envolvendo os Daemonais, seres poderosos e semidivinos que são personagens centrais desse livro. 3 dessas 9 histórias irão contextualizar o leitor sobre o universo, o planeta e suas criaturas. Que tenham uma ótima leitura.

LanguagePortuguês
Release dateMar 12, 2021
ISBN9781005564803
Contos da Velha Terra

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    Contos da Velha Terra - Ícaro Fernandes

    Texto retirado de A Criação

    Eis que, no início, todos os elementos se encontravam dispersos. Não existia luz, vida nem matéria. Dentre essas partículas solitárias, duas começaram a sugar as outras ao seu redor e se tornaram as primeiras moléculas. Elas se chamavam Daevanad[1] e Kaotan.

    Kaotan[2] absorvia todos os átomos físicos, brutos, e com eles seu corpo começou a se expandir infinitamente, preenchendo o vazio com uma matéria enevoada, porém densa, escura e esférica, absorvendo os pequenos átomos e expulsando corpos estranhos que podiam prejudicá-lo. Kaotan não era consciente, mas possuía vida e dele surgiu a matéria escura ou toda a extensão do universo conhecido.

    Daevanad era o contrário. Ela absorvia todos os elementos etéreos, e com eles seu corpo se organizou e condensou em uma esfera leve e luminosa como um ovo, em meio à névoa da escuridão de Kaotan. Daevanad, então, começou a absorver parte da matéria escura de Kaotan gerando uma pequena mancha negra em seu corpo, transformando-o em um embrião. Desse embrião nasceu uma nova forma imbuída de consciência. O universo conhecido passou a ser gerado por Daevanad.

    Quando ela se tornou um ser, sentiu, pela primeira vez, curiosidade. Isso a instigou a conhecer tudo o que a rodeava, afinal, antes era apenas uma esfera de luz inconsciente no profundo breu. Daevanad, logo, percebera que ela era também Kaotan, pois dentro de si sentia algo pesado, material, uma pequena amostra da imensidão que crescia ao longo do Arat[3], o vazio no qual surgiram.

    Perceber o que acontecia no espaço exterior, fazia Daevanad sentir dúvida, o segundo sentimento, e por isso, viajou pela imensidão escura em busca de esclarecimento, em busca de entender aquilo que a revirava por dentro, em busca de entender a si.

    Foi quando ela sentiu medo. Durante sua viagem, um mal-estar constante a preenchia, ela sabia que Kaotan havia parado de crescer, mas por quê? Viajando até os seus limites, descobriu, então, que novos seres também surgiram naquele espaço e que esses seres impediam seu corpo de expandir. O medo que Daevanad sentia era o de não mais existir, e por causa disso, sua primeira reação foi a de repelir os outros seres. Foi assim que ela sentiu raiva.

    O conflito foi violento. Os seres, do tamanho de galáxias, eram dizimados pelo poder de Daevanad e se tornavam partículas solitárias novamente. Até que em algum momento, algo estranho aconteceu. Um dos seres, em seu último suspiro, conseguiu tocar em Daevanad, e isso a fez parar com tudo.

    O toque lhe ascendeu uma memória adormecida desde que ela ganhara consciência. Tal memória a fez lembrar que os seres que ela combatia nasceram dela assim que seu corpo tomou forma. Eram todos os seus filhos. Daevanad então sentiu tristeza.

    Aqueles seres não sabiam que tinham nascido daquele corpo, e Kaotan, ao sentir outras existências que não a de Daevanad, os expulsou para o Arat antes que se tornassem conscientes. Ao se depararem naquele espaço, logo, entenderam que nasceram dali e impediram, portanto, que Kaotan crescesse e ameaçasse sua realidade. Daevanad compreendera que tudo não passava de um equívoco fruto da ignorância. Foi a partir daí, que ela gerou os sentimentos do amor e da compaixão.

    Sendo esses dois sentimentos os mais importantes, Daevanad aprendeu com os demais e se sentiu completa. Agora sabendo que poderia criar vida, levou seus primeiros filhos para dentro de si e resolveu que deveria povoar seu corpo que se expandia, com mais daquelas existências. Dominou as defesas de Kaotan, e então, passou a reproduzir.

    Daevanad queria que sua criação não fosse algo perfeito e completo. Queria seres imperfeitos que crescessem e evoluíssem como ela cresceu e evoluiu. Para isso ser feito, ela deveria gastar quantidades infinitas de energia e, por isso, não poderia fazer tudo sozinha. Foi então que passou a gerar os seus novos filhos.

    Os primeiros filhos foram separados em dois grupos. Ao primeiro grupo, cabia dividir Kaotan em camadas, mas que essas camadas deveriam ao mesmo tempo se misturar, dando origem, portanto, às inúmeras dimensões da existência; a esses seres, ela os denominou Lugares[4], os senhores do espaço. Ao segundo, deu-lhes a incumbência de separar o passado e o presente que se misturavam e repetiam. Eles, portanto, dariam origem ao tempo como o conhecemos; a esses seres, ela os denominou Horas[5], os senhores do tempo.

    Em seguida, deu à luz aos segundos filhos e a esses, deu-lhes a capacidade de reunir os átomos dispersos em diferentes moléculas e com essas moléculas poder criar matéria. Esses seres criariam todas as ferramentas que os próximos filhos utilizariam, por isso, eram chamados de Ferreiros[6].

    Os terceiros filhos de Daevanad personificavam sua mente e eram divididos em dois grupos: os Ark’ry, ou Mestres, e os Daen’ry[7], as Musas. Os Mestres eram responsáveis por reunir e produzir o conhecimento de Daevand, sendo sua parte racional. Esse conhecimento serviria para guiar os mortais na sua evolução cognitiva, sendo transmitida ao longo das eras, até que eles pudessem desenvolver o seu próprio conhecimento. As Musas eram o lado emocional e tinham como função desenvolver essa capacidade nos seres inteligentes, também auxiliando seu lado cognitivo. Elas também construíam a beleza do universo. Os terceiros filhos trabalhavam em conjunto com os Ferreiros quando lhe auxiliavam no molde e na técnica da forja.

    Os Ark’ry guardavam seu conhecimento nos chamados Tomos Universais, um grande compilado composto por quatro livros que são eles: A Criação, o Livro dos Mundos, o Livro dos Seres e o Livro dos Povos. Porém, ainda no alvorecer do universo, os Ark’ry não possuíam uma linguagem e uma escrita que pudesse ser entendida pelos mortais, pois se comunicavam através de pensamentos e intuições. Por isso, em alguns mundos surgiram diferentes culturas e línguas que, apesar de diversas, possuíam semelhanças.

    Lad’jarram, um Ark’ry, acabou por desenvolver uma linguagem e um sistema de escrita mais fácil de compreender, foi quando surgiu a língua Ark’ry. Os Tomos foram copiados nesse novo sistema e distribuídos aos novos mundos emergentes, desenvolvendo, assim, culturas baseadas nesses escritos e nessa linguagem.

    Depois dos terceiros filhos, os quartos filhos fariam com que a vida mortal e completamente imperfeita fosse gerada. A esses filhos ela denominou de Krio’kristus[8], os criadores de vida. Ela os dividiu em grupos de cinco e a cada membro desse grupo lhes deu uma função: os Primogênitos, os Alquimistas, os Alfaiates e os Gêmeos. Para que a vida fosse possível, os terceiros filhos criariam imensos laboratórios: os planetas.

    O Primogênito[9] era o responsável por coordenar os outros e por organizar toda a criação de forma harmônica, para que se instaurasse um equilíbrio entre os seres e os corpos celestes.

    O Alquimista[10] carregava todos os elementos que iriam compor a matéria dessa vida. Tudo deveria ser colocado nas medidas exatas que eram recomendadas pelo Tos, nem mais nem menos. Todos os elementos que os Alks necessitavam eram encontrados no primeiro planeta do universo: Vauk-mun, o mundo primordial. Nele existe todo tipo de matéria bruta e todas as medidas que eram necessárias de serem seguidas.

    O Alfaiate[11] garantia que toda a matéria misturada pelo Alk continuaria unida, costurando as moléculas e os átomos com a agulha da gravidade e a linha do magnetismo; pois, no começo, tudo era instável e disperso. Pode-se entender também o Alfaiate como uma entidade que unia e separava.

    Por último, os Gêmeos[12] plantariam nos mundos as sementes de Daevanad que passariam a gerar a vida. Na, a vida, faria as sementes crescerem; Ob, o pós-vida, recolheria as sementes que não vingaram ou que tiveram sua existência interrompida por diversos fatores, ou, ainda mais, que alcançaram o seu tempo necessário de existência naquela dimensão. Essas sementes eram levadas para uma microdimensão onde seriam melhoradas e absorveriam todo o conhecimento que obtiveram em vida, para que pudessem ser replantadas novamente naquele planeta, formando um ciclo de degeneração e regeneração.

    Depois de eras, uma nova raça de entidades cósmicas passou a surgir, eram conhecidas como os Netos de Daevand, pois nada mais eram do que os seres que evoluíram a tal ponto que desenvolveram capacidades semelhantes às dos Filhos. Eram denominados também como os Protetores e agiam em menor escala, mantendo a harmonia e o equilíbrio da vida. Os Protetores se dividem em inúmeras categorias, pois dependem da demanda daquele mundo ou sistema. Os mais conhecidos são os Revf’sy[13], entidades que governam e protegem os planetas[14].

    Com todos os seus filhos trabalhando e construindo o sonho de Daevanad, ela pôde então descansar e continuar gerando mais e mais de sua prole. Passaria a hibernar infinitamente, sendo o centro e a força motriz de tudo. A causa primeira de todas as coisas. Assim se fez o universo. Assim foi dito.

    Kaen’zotesh Ark’ry.

    Fazia meses que não chovia. Nunca havia presenciado tamanha seca em suas terras. No horizonte, por mais longe que se olhava, imperava apenas uma cor mórbida e marrom. Marrom seco e sem vida salpicado do branco amarelado dos ossos de animais e da gente que morriam de fome ou sob as garras dos predadores. Sua aldeia

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