O Que faz um "Bom" Professor de Português?
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Considerando o papel central que o profissional do ensino exerce nos processos de educação formal em sociedade, as expectativas construídas em torno do seu desempenho são múltiplas e variadas, constituindo representações sociais que se tornam objetos de grande relevância para as pessoas em geral. Em especial no caso dos licenciandos e licenciados em Letras, é válido se perguntar como constroem as representações sociais sobre o "bom" professor de sua área e como isso afeta seu processo de formação e construção identitária profissional. O livro O que faz um "bom" professor de Português? lança um olhar sobre o tema, pela ótica de alunos e egressos do curso de Letras Língua Portuguesa da maior universidade pública da Amazônia, inseridos no contexto específico de sua interiorização.
Ao direcionar seu olhar para o ensino superior, a obra contribui para desvelar um campo ainda pouco explorado na vasta literatura que se debruça sobre o professor, voltada em grande medida para a educação básica. Além disso, o livro dá voz a estudantes e egressos, destacando, assim, a centralidade de seu papel no processo de ensino e aprendizagem, especialmente quando enfocamos a formação docente inicial, momento em que são preparados, formal e institucionalmente, para se tornarem professores e professoras, sob a tutela de uma instituição formadora.
É uma obra para professores e professoras, da educação básica até o ensino superior, sejam docentes experimentados ou iniciantes, sejam formandos ou formadores, não porque forneça uma lista com as características intrínsecas ao "bom" professor de Português, que, se aprendidas e seguidas, ajudariam a resolver os muitos desafios com que se deparam cotidianamente os homens e mulheres que assumiram o complexo ofício de ensinar como profissão, mas porque auxilia a (re)pensar práticas e saberes, a (re)construir identidades.
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O Que faz um "Bom" Professor de Português? - Maria da Conceição Azevêdo
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
A nossos familiares e amigos: nossos esteios ao longo da vida.
Aos colegas de formação e de trabalho, aos alunos: companheiros na construção da profissão docente e da educação.
Aos nossos bons
professores: nossas inspirações.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos estudantes que se dispuseram a contribuir para a realização da pesquisa que deu origem a este livro, disponibilizando seu tempo e suas vozes e, assim, tornando possíveis as reflexões aqui suscitadas.
Agradecemos, também, aos membros do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Línguas, Trabalho e Formação Docente (Gepelf), em especial à Jaqueline Sousa Araújo, e aos professores Lilliane Miranda Freitas, Jair Francisco Cecim da Silva e Maria Helena Rodrigues Chaves, cujas interlocuções, em diferentes momentos da realização do trabalho, contribuíram sobremaneira para esta publicação.
PREFÁCIO
A formação de professores tem se tornado um objeto de investigação muito profícuo quando o escopo de análise é a educação. Especialmente a educação que se realiza como processo de escolarização. Importante frisar que a educação é processo amplo de humanização e hominização, englobando a escolarização.
No entanto, nas sociedades modernas, especialmente no contexto do capitalismo, o processo de educação escolar tornou-se fundamental para a condição humana. Nessa lógica, a qualidade do desenvolvimento passou a ser representada pela inserção massiva dos sujeitos nos processos de escolarização. Esses processos passam a ocupar um lugar central como mecanismo de superação das desigualdades sociais e como espaço de luta entre classes para a promoção da igualdade de condições, especialmente para as classes subalternas.
Em uma perspectiva histórica, emergiram três teorias gerais da educação escolar: como (1) reprodutora, (2) redentora e (3) transformadora da sociedade. Assim concebidas, tais teorias interpretam o fenômeno educativo geral das sociedades humanas, especialmente no Ocidente. A objetivação da educação como questão específica do conhecimento humano remonta à tradição filosófica grega clássica, mais especificamente a Sócrates. É com o advento do capitalismo burguês que a educação se torna objeto de ação científica, diga-se objeto de análise, não com a preocupação de melhorar seus fins ou de proporcionar melhores meios, mas simplesmente como estratégia para formar mão de obra para que os trabalhadores melhor se adaptem à condição do trabalho fabril, condição análoga à escravidão.
É, portanto, nesse contexto, que a educação escolar é particularizada como objeto de conhecimento científico. Assim, a separação da educação dos processos socioculturais mais gerais para o campo da escolarização é operado para poder objetivar a técnica
específica de seu processo formal. A escola não surge nesse contexto. Ela é uma invenção de Carlos Magno no Ocidente. Mas vai ser com o advento da Segunda Revolução Industrial que virá a adquirir o significado que lhe damos hoje. Especialmente com o objetivo de formar as massas de trabalhadores.
Hoje, mais do que no século XIX, a educação escolar ocupa um espaço diferente. Para as classes subalternas, ela representa uma forma de superar os mecanismos econômicos de dominação. Portanto, constitui forma de ascensão social e libertação política. É a teoria da educação como redentora da sociedade. Mas, se para os excluídos ela é condição de transformação social, libertação econômica e política, para as classes hegemônicas, é uma forma de conservação dos valores capitalistas. Mais recentemente, ocupa-se de operar, no interior da lógica do capital, a formação de consumidores dóceis ao mercado.
O interesse do capital na educação não está, pois, na sua condição de redenção de determinadas classes sociais que ficaram fora da equação econômica, mas sim na manutenção da hegemonia do capital sobre o trabalho. Preocupa-se ainda em ensinar comportamentos que possam ser reproduzidos em diferentes contextos de consumo. Não se trata de formar para a cidadania, para a democracia, para a ética. Trata-se de formar para o consumo.
Nesse cenário sociopolítico, quem é o professor? Para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e para as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação), o professor é um técnico que opera, no interior de uma maquinaria, um conjunto de competências operacionais, orientadas por comportamentos reproduzidos mecanicamente no interior do processo educativo escolar. O Parecer nº 22/2019 e a Resolução nº 2/2019, do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno (CNE/CP), concebem a formação do professor como processo meramente técnico, reprodutor de comportamentos dados por determinado conjunto de procedimentos operados como realização de modelos previamente desenhados pelo mercado.
Uma formação que não visa à cidadania, mas exclusivamente ao domínio técnico, realizado como competências para exercer determinada função no interior do processo educativo reduz o trabalho do professor, limitando a formação dos sujeitos em seu processo de humanização e hominização, objetivando-o à docilização de sua condição: consumidor e não cidadão.
Do lugar de onde falamos, porém, o professor é um intelectual crítico transformador da cultura a favor das classes subalternas. Portanto, seu trabalho não se constitui exclusivamente no domínio das técnicas, mas na compreensão da condição humana, resultante de um conjunto de saberes que operam de modo complexo no contexto da educação escolar.
O trabalho docente, seu desenvolvimento profissional, que começa com a formação inicial, é de alta complexidade, pois implica, independentemente de sua área, acesso, domínio, apropriação e mobilização de um conjunto de conhecimentos que tem origem na prática social, na ação política e em diversas ciências.
Do professor, exige-se processo constante de investigação e reflexão sistemática sobre seu fazer-saber. Isso requer domínio científico para poder constituir-se como investigador, do qual resulta seu permanente processo de construção de si e de sua profissionalidade. Como sujeito investigador, o professor é um sujeito da ação que se realiza na forma da escrita sobre a própria ação. Tal processo constitui práxis de representação dos objetos e sujeitos com os quais ele lida em seu cotidiano. Disso depende seu permanente processo de desenvolvimento profissional. Portanto, como já dissemos, o professor é um intelectual crítico e essa sua condição não existe sem o processo da escrita de si, do mundo e dos outros. Para tal, a cognição e sua reflexividade são fundamentais.
Então,