Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI
Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI
Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI
Ebook653 pages7 hours

Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

Esta obra contribui para refletir sobre as intempéries naturais e os impactos ambientais ocasionados pela ação humana sobre duas grandes cidades mundiais, São Paulo e Cidade do México. Apresenta análises sobre diferentes aspectos que se tornaram grandes dilemas ambientais-urbanos em cidades que cresceram, mas que não foram estruturadas para receber a quantidade de pessoas que ali habitam ou que por ali passam todos os dias e todo o fluxo decorrente delas. Por meio dos estudos é possível perceber que a trajetória de ambas as cidades a partir da segunda metade do século XX, se aproximam quanto aos problemas e a complexidade, bem como à emergência da questão ambiental como uma dimensão transversal e urgente.
LanguagePortuguês
Release dateApr 16, 2021
ISBN9786558401940
Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI

Related to Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas

Related ebooks

Public Policy For You

View More

Related articles

Reviews for Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas - Pedro Roberto Jacobi

    (BMBF).

    Prefácio

    Raro e oportuno, o livro Dilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino-americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI oferece uma leitura rica – diretamente comparativa ou permitindo um olhar cruzado – das duas maiores megalópoles da região. Malgrado as múltiplas semelhanças entre elas, seu estudo comparado ainda é incomum. A raridade dos estudos comparativos surpreende, pois, quando considerada a trajetória de ambas a partir da segunda metade do século XX, se aproximam quanto aos problemas e sua complexidade, bem como à emergência da questão ambiental como uma dimensão a eles transversal.

    Compartilham a duvidosa honraria de comparecer no rol das maiores cidades do mundo, variando de posição conforme o recorte territorial adotado e o período comparado. Se delimitadas como regiões metropolitanas, ambas as cidades mantiveram presença constante no conjunto dos maiores assentamentos urbanos do mundo pelo menos desde os anos 1950. A Cidade do México ocupava posições próximas às do Rio de Janeiro nessa década – ao redor da décima quinta posição com aproximadamente ao redor de 2,9 milhões de pessoas –, mas saltou na segunda metade dos anos 1960 aos lugares das primeiras dez aglomerações urbanas e, desde 1965, instalou-se entre as primeiras cinco regiões metropolitanas mais povoadas do planeta (ONU, 2010)¹. A evolução de São Paulo foi mais dramática: no começo dos anos 1950 era a vigésima terceira região metropolitana do mundo, mas ao longo do seguinte decênio superou o Rio de Janeiro e vinte anos depois, em meados dos anos 1970, já se encontrava ao lado da Cidade do México entre as primeiras cinco regiões metropolitanas do mundo com ao redor de 10 milhões de habitantes. No final dos anos 2000, a metrópole brasileira já tinha superado a capital mexicana atingindo mais de 20 milhões de pessoas.

    A elevada concentração demográfica das duas cidades está historicamente associada a sua relevância econômica e ao histórico de fluxos imigratórios internos em busca de oportunidades no mercado de trabalho, em especial durante os trinta anos compreendidos entre 1950 e o final dos anos 1970². Embora cidades como Monterrey e Guadalajara, no México, ou Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, no Brasil, constituam centros de peso nas economias de ambos os países, as cidades em questão são de longe os principais polos econômicos, mais do que duplicando os produtos internos brutos (PIBs) das suas concorrentes mais próximas: em 2007, o município de São Paulo contribuía 12,02% do PIB nacional, enquanto o DF, em 2006, participava com 18,20 (IBGE, 2010; Inegi, 2012a).³ As duas cidades e suas regiões metropolitanas foram o principal cenário da industrialização nacional e se desempenham como coração financeiro e de serviços altamente especializados nas economias dos seus países.

    Assim, o livro organizado por Pedro Roberto Jacobi, Mario Federico Bassols, Pedro Henrique Campello Torres, Silvana Zioni e Arturo Venancio-Flores oferece uma comparação não apenas pouco comum, mas especialmente pertinente. As semelhanças significativas, todavia, são apenas o ponto de partida. O livro é também oportuno porque ao articular dilemas ambientais com a questão urbana coloca problemas que demandam conhecimento, reflexão e medidas urgentes. A relação entre cidades e meio ambiente tornou-se incontornável. Hoje, a maioria da população mundial mora em cidades, pressionando demograficamente a expansão da infraestrutura urbana e a provisão de serviços públicos básicos, gerando a um só tempo numerosas externalidades negativas sobre o meio ambiente. América Latina é expressão exacerbada dessa tendência, não apenas é a região do mundo mais urbanizada, com uma taxa de urbanização próxima a 90%, mas é também a região mais desigual. Essa combinação concentra diversos riscos ambientais em segmentos da população já vulneráveis por sua posição socioeconômica e seu acesso a serviços públicos e equipamentos urbanos.

    Conforme abordado em diferentes capítulos do livro, o padrão histórico de urbanização e a hipertrofia demográfica são causa de problemas complexos com consequências ambientas deletérias e, em sentido inverso, a mudança climática acentua parte desses problemas e, no caso mais extremo, compromete, até, a viabilidade de ambas megalópoles. O intenso afluxo populacional e a ausência de políticas públicas capazes de dar resposta à crescente demanda habitacional levaram à multiplicação de modalidades precárias de moradia caracterizadas ora pelo abarrotamento e uso irregular de imóveis de baixo custo nas zonas centrais – cortiços, vecindades –, ora pelo loteamento e edificação irregular de terrenos em áreas incipiente ou precariamente urbanizadas (assentamento irregular, colônias populares), ora pela invasão e ocupação de terrenos de propriedade privada ou do Estado – federal, estadual ou municipal – (favelas, cidades perdidas). Se a escala populacional traz consigo, por exemplo, desafios inerentes como a necessidade de aterrar resíduos sólidos em volumes colossais, o padrão de urbanização acresce problemas permanentes como a mobilidade da população. No mesmo sentido, se a escala torna a provisão de água mais um desafio inescapável, a mudança climática aumenta o estresse sobre o Sistema Cantareira e o Sistema Cutzmala, acenando com um futuro não improvável de colapso urbano.

    Por fim, o livro que o leitor tem em mãos vai além do diagnóstico dos problemas, e também oferece o exame crítico das iniciativas e políticas de planejamento urbano desenhadas para enfrentá-los, dos planos diretores à política de micromobilidade, dos modelos seguidos por urbanistas às respostas perante as mudanças climáticas. Esperamos que mais pesquisadores sigam a trilha traçada nestas páginas, tornando a comparação entre ambas as megalópoles menos rara e seu conhecimento, mais rico e alimentado por interlocução densa entre pesquisadores dos dois países.

    Adrian Gurza Lavalle

    Referências/Referencias

    IBGE. (2008). Produto Interno Bruto dos Municípios 2003-2007. Disponível em: https://bit.ly/3cHGWSf. Acesso em: 2020.

    INEGI. (2012a). Anuario de Información Estadística y del Distrito Federal. Nuevo León: INEGI.

    INEGI. (2012b). Anuario estadístico. Cobertura temporal: 2011. Desglose geográfico: Municipal. Nuevo León, INEGI

    MATZKIN, K. I. Cidades latino-americanas: convergência ou diversidade no processo de produção contemporânea do espaço. Tese de doutorado – (Planejamento urbano e regional), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2006.

    ONU, Department of Economic and Social Affairs, Population Division. (2010). World Urbanization Prospects : The 2009 Revision. CD-ROM Edition - Data in digital form (POP/ DB/WUP/Rev.2009).


    Notas

    1. O ranking contempla as trinta maiores regiões metropolitanas. A Cidade do México foi a única aglomeração urbana desse país a figurar na lista nos 60 anos considerados; já no caso do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo (ONU, 2010).

    2. A taxa de crescimento da população foi mais elevada nessas três décadas. Na Cidade do México: 4,9; 5,2 e 3,4 para os anos 1950, 1960 e 1970, respectivamente. Em São Paulo, e na mesma ordem: 6,17%; 5,24; e 4,46 (Matzkin, 2006, p. 119; 171). A partir dos anos 1980, a taxa tem mantido uma tendência declinante.

    3. Em 2007, as cidades com maior PIB no Brasil, depois de São Paulo, eram Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, com contribuições ao PIB nacional substancialmente menores – 5,24%, 3,76% e 1,44%, respectivamente (IBGE – Produto Interno Bruto dos Municípios 2003-2007. Disponível em: https://bit.ly/3cHGWSf. Acesso em: maio 2020). Por sua vez, o estado de Nuevo León, onde se encontra a segunda cidade com maior PIB no México, Monterrey, contribuiu, em 2006, com 7,7% do PIB nacional (Inegi, 2012b).

    Introdução

    Este livro, bilíngue (português-espanhol), surgiu de uma conversa entre os professores Mario Federico Bassols Ricárdez, da Universidad da Autónoma Metropolitana-Iztapalapa (México), e Pedro Roberto Jacobi, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (Brasil), em agosto de 2018, em plena Avenida Paulista, uma avenida mais curta e mais estreita, como se fosse um Paseo de la Reforma paulistano. O objetivo foi produzir um livro com artigos em português e espanhol sobre os processos, conflitos e políticas ambientais, constituídos sob a forma de um regime ambiental, típico das duas regiões metropolitanas.

    Com ênfase nos problemas prementes característicos da década de 2010-2020, a principal motivação foi articular pesquisadores numa proposta convergente e multidisciplinar e atual. O conceito estruturante é o do planejamento e a governança ambiental, os cenários possíveis para a resolução de conflitos, em dois contextos metropolitanos de alta complexidade espacial, administrativa e ecossistêmica – assim como amplas desigualdades. Quando acordado que se podia produzir um livro se convidou em São Paulo, Pedro Henrique Campello Torres, pós-doutor no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo e a professora Silvana Zioni da Universidade Federal do ABC, assim como o pesquisador Dr. Arturo Venancio-Flores, da Universidad Autónoma del Estado de México.

    Desde os anos 90, as agendas dos governos locais têm incorporado de forma gradual o paradigma ambiental, em contextos caracterizados na América Latina e o Caribe por estilos de desenvolvimento marcados pela degradação ambiental e desigualdade social.Nesse sentido, novas regulamentações e normas procuram regular os processos e conflitos ambientais em diferentes escalas de intervenção (global-nacional-regional-local). E também são implementadas políticas com ênfase na recuperação de espaços públicos, na reciclagem de resíduos sólidos ou em medidas restritivas da poluição atmosférica em médias e grandes cidades, ou na promoção de alternativas ao transporte privado como meio de mobilidade urbana.

    Independentemente das formas tomadas pela configuração do espaço urbano, o metabolismo das cidades continua a ser regido por estilos de vida baseados no consumo predatório, mas também em padrões culturais que pouco contribuem para o cuidado do patrimônio natural e para a preservação dos ecossistemas.Assim como a apropriação pelo capital do discurso e narrativas de sustentabilidade, verdadeiras maquiagens verdes, greenwashing, gentrificação verde (Torres et al., 2019), entre outros processos que ao invés de combater as desigualdades, acabam por aumentar processos desiguais.

    A América Latina, região mais urbanizada do mundo, em que cerca de 81% da população vive em cidades, com previsão de chegar aos 90% em 2050 (ONU-Habitat, 2018), tem vivenciado as tensões e contradições particulares do processo de acelerada urbanização planetária (Brenner; Schmid, 2012). A região sofre especialmente com a crescente mercantilização de seus espaços por ser um lócus importante de sua produção e reprodução (Brandão; Fernández; Ribeiro, 2018).

    No seio desse processo, um novo fato urbano pode ser percebido com cada vez mais força em diversas cidades de países latino-americanos. A expansão do território e da sociedade urbana contemporânea implicam um aumento vertiginoso do consumo e apropriação de recursos naturais, com escalas diferentes entre sua distribuição e impactos nas camadas mais pobres da população (Wolch; Byrne; Newell, 2014). As metrópoles e suas expansões têm vivenciado esse fenômeno de diversas formas e, ao mesmo tempo, denunciado, quando possível, os agravos ambientais e suas desigualdades nas cidades, por meio de movimentos como os por justiça ambiental, por direito à cidade, ou por direitos na cidade (Torres et al., 2017).

    São Paulo e Cidade do México são as duas maiores metrópoles da América Latina, com doze e nove milhões de residentes respectivamente nos seus municípios centrais, abrangem mais de 22 milhões habitantes quando consideradas suas regiões metropolitanas. Em termos de área a Cidade do México supera o município de São Paulo, abrangendo 1.959 km² enquanto que a capital paulista abrange 1.521 km². Vão se aproximar, no entanto, quando consideradas suas regiões metropolitanas, que abrangem cerca de 8.000 km², 7.866 e 7.954 km² respectivamente. Ainda que se diferenciem pela formação histórica e condicionantes físicos, a ocupação dessas grandes metrópoles lhes confere um padrão de espraiamento que numericamente se aproxima, uma vez que as densidades demográficas de Cidade de México e São Paulo variem atualmente em torno de 2.500 hab/km² e 2.700 hab/km².

    As regiões metropolitanas implicam a coexistência de diversos governos municipais que intervém no planejamento da cidade e na prestação de serviços e infraestrutura pública. A gestão ordenada e eficiente das zonas metropolitanas requer um processo integrado entre os atores, no que pouco foi feito por São Paulo e Ciudad de México; portanto, uma parte importante da população vive em áreas urbanas desconectadas e, consequentemente, desprovidas de um desenvolvimento urbano sustentável e justo.

    Entre São Paulo e a Ciudad de México, a desigualdade territorial tem gerado um desigual acesso aos serviços urbanos básicos, nas quais a população que é a mais afetada se apresenta marginalizada em diversas dimensões ambientais, como no acesso à água, tratamento de resíduos sólidos, transporte, entre outros. Embora o enfoque do presente livro seja as duas cidades supracitadas, os mesmos desafios, conflitos e dilemas podem ser considerados para metrópoles como Santiago, Lima, Bogotá, entre outras. A presente publicação reúne especialistas do Brasil e do México para tratarem, sob perspectiva multidisciplinar, as principais questões postas na contemporaneidade em temas como transporte e logística, micromobilidade, acesso à água, justiça energética, ruralidades, adensamento urbano e cidade compacta, mudanças climáticas, infraestrutura verde, entre outros.

    Ciudad de México: ensayo sobre historia ambiental de Mario Bassols abre o livro, refazendo o percurso histórico da questão ecológica em uma das principais metrópoles da América Latina. A interferência do homem no espaço e a ocupação histórica, assim como sua revitalização é tema central da análise do autor para pensar não apenas o tempo pretérito como modelo alternativo a cidade neoliberal extrativista do século XXI.

    No capítulo Transformações no sistema e na cultura de planejamento na Macrometrópole Paulista face às mudanças climáticas, Sandra Momm, Pedro Henrique Campello Torres, Pedro Roberto Jacobi, Ana Lia Leonel, Livia Rosetto, Igor Matheus Santana-Chaves, analisam o lento, e pouco perceptível, movimento das transformações no sistema e nas práticas, ou cultura, de planejamento na Macrometrópole Paulista em um contexto de mudanças climáticas. No capítulo se aborda como a problemática das mudanças climáticas tem sido trabalhada no sistema e nas práticas do planejamento territorial no interior dessa megacidade-região.

    No capítulo Dilemas ambientales y gobernanza: la gran Ciudad de México, Alfonso Iracheta apresenta alguns dos desafios territoriais e ambientais que enfrenta a Zona Metropolitana do Vale do México (ZMVM), dimensionando sua magnitude e seus impactos; e se inclui alguns elementos que caracterizam o planejamento e governo metropolitano, e sugere caminhos possíveis para atenuar a crise metropolitana desde a perspectiva da governança de base territorial.

    Ana Mauad e Eduardo Viola, em Comparando las respuestas de cambio climático en São Paulo y Ciudad de México: la calidad de la gobernabilidad, desenvolvem uma reflexão a partir de um olhar histórico. Analisam a evolução da agenda do clima nas duas cidades desde a crise de extrema contaminação do ar nas décadas de 1970, 1980 e 1990 simultaneamente com sua inserção internacional por meio da rede de cidades C40 a partir de 2005 até 2019. A análise aborda as ações dos governos municipais, embasada nas realidades metropolitanas e a relação com os governos nacionais.

    Em São Paulo: experiências, oportunidades e desafios para a sustentabilidade urbana, Gabriela Marques Di Giulio, Juliana Z. Giaretta, Fabiano de Araújo Moreira, Michelle dalla Fontana e Tadeu F. Malheiros analisam como questões de mobilidade e de infraestrutura verde nos espaços urbanos são tratadas nas perspectivas top-down e bottom-up na megacidade de São Paulo, a partir de abordagens sobre governança urbana e adaptação às mudanças do clima. Estas questões, consideradas centrais no processo de transição para sustentabilidade urbana, são abordadas a partir de exemplos concretos de ações que contam com maior participação governamental ou de coletivos da sociedade civil.

    Em Aprender a dialogar: presupuestos participativos y la construcción de la agenda ambiental de la Ciudad de México, Miriam Alfie Cohen e Oscar Flores Jáuregi analisam o alcance dos novos arranjos de governança urbana, decorrentes do regime de participação cidadã no cumprimento da agenda ambiental na Cidade do México. Para sua operacionalização se comparam os alcances dos projetos ambientais contemplados nas diferentes agendas ambientais antes e após 2016, ano em que ocorreu a reforma política de la Cidade do México, que define a implementação de agenda ambiental, apoiada nos mecanismos de participação cidadã.

    Rodrigo García Herrera, com o capítulo Análisis de redes de calles: comparativo entre áreas metropolitanas de São Paulo y el Valle de México, desenvolve uma análise exploratória das redes de ruas das duas maiores regiões metropolitanas da América Mestiza. O autor tem como base conceitual a teoria de redes complexas ou teoria de grafos baseada em instrumentos analíticos por meio do qual se desenvolve software para realizar medições e computar índices e indicadores.

    Em Redes de Infraestrutura como estratégia de transformação urbanística: investigações sobre potencialidades socioambientais do Plano Diretor Estratégico de São Paulo (2014), Renato Anelli mostra a importância de articular o planejamento do uso do solo com o planejamento da infraestrutura viária e hídrica, dentro de uma perspectiva de gestão socioambiental integrada. Apresenta estudos de novos instrumentos de planejamento e projeto que auxiliem essa gestão integrada e permitam uma nova relação da cidade com suas águas, seja para garantir o abastecimento, seja para minimizar os riscos de enchentes.

    Nadia Somekh e Fernanda Militelli analisam em A questão ambiental e o mito da cidade compacta em São Paulo como as ideias do paradigma urbanístico da cidade compacta, sobretudo, o vínculo entre adensamento populacional ao longo dos eixos de transporte coletivos e as questões ambientais, se materializam no marco regulatório (plano diretor e lei de parcelamento de uso e ocupação do solo) de São Paulo. O foco é na constituição do conceito de cidade compacta, motivada pelo desejo do uso eficiente dos recursos naturais disponíveis, a partir da necessidade de adensamento populacional e, consequentemente, otimização da infraestrutura urbana.

    Em Distribución del agua del Sistema Cutzmala a la Zona Metropolitana de la Ciudad de México. Reflexiones críticas desde la gobernanza, Arturo Venancio-Flores, Edith Imelda Bernal González, María Estela Orozco Hernández y Gustavo Álvarez Arteaga analisam os processos territoriais e sociais que influenciaram o desenvolvimento do Sistema Cutzamala para a distribuição da água na Zona Metropolitana da Cidade do México. A abordagem é desenvolvida desde enfoque territorial com base nas mudanças decorrentes da construção da represa de Valle de Bravo, destacando os conflitos sociais e as estratégias de distribuição de água potável.

    Face aos problemas hídricos que o México e outros países sofrem, torna-se necessário conhecer os processos que os geram para poder influenciar com soluções alternativas. El proceso de manejo del agua. Aproximación a la metrópoli del Valle de México, de Alejandro Alvarado, propõe uma perspectiva holística agrupada em duas áreas: quantidade e qualidade, em um espaço delimitado pela bacia hidrológica, com base no manejo do líquido. Por meio do conceito: Processo de Gestão da Água, analisa-se uma área das relações entre sociedade e natureza que é estudada, por meio deste recurso natural vital, não apenas para a sociedade, mas também para a manutenção dos processos de biodiversidade. Este capítulo contempla basicamente três aspectos: o processo de gestão da água; o cenário biofísico da bacia do Vale do México e as fases do processo de gestão da água na bacia interna do Vale do México.

    No capítulo Governança da água na Região Metropolitana de São Paulo – desafios à luz das mudanças climáticas, Pedro Roberto Jacobi, Marcos Buckeridge, Wagner Costa Ribeiro discutem que dada a complexidade da governança da água na RMSP e a iminência de efeitos cada vez mais fortes das mudanças climáticas, a região precisa se preparar para evitar, ou minimizar, as consequências relacionadas à saúde, à vida dos habitantes, assim como os impactos econômicos. No capítulo se discute como os efeitos das mudanças climáticas podem afetar o sistema de governança da água na RMSP, observando que estas podem agravar ainda mais a realidade hídrica, dificultando o abastecimento público e os demais usos da água, incluindo os serviços ambientais e ecossistêmicos.

    Luciana Travassos, Bruno Portes, Anna Kaiser Mori, Fabio de Santis, Maria Lucia Bellenzani, Gabriel Machado Araujo, Bruna de Souza Fernandes apresentam importante contribuição com A importância do rural na região metropolitana de São Paulo: serviços ecossistêmicos e a produção do espaço. O capítulo discute com dados empíricos e cartográficos o lugar das ruralidades em uma metrópole como São Paulo e seus serviços ecossistêmicos indispensáveis para o bem viver.

    Mayavel Magaña Alcaraz aborda em Los conflictos relacionados con el agua en la Ciudad de Mexico. Un acercamiento desde la prensa nacional os conflitos por água caracterizados pela relação com a escassez, a contaminação, a inequidade no abastecimento, o desperdício e a valorização monetária do recurso, por meio da ação de diversos atores durante um governo que pela primeira vez é eleito em nível federal e na Cidade do México, o partido Movimiento de Regeneración Nacional (Morena).

    No capítulo Micromovilidad urbana em la Ciudad de México: la emergência de los scooters, Mario Federico Bassols Ricárdez e Ernesto Morúa Ramírez desenvolvem uma reflexão sobre as mudanças e o estado atual na Cidade do México e seus modos de transporte. Apresenta-se uma análise histórica das scooters e da estratégia de mobilidade, com base em pesquisa realizada para caracterizar o perfil de 70 usuários e das características de sua mobilidade.

    No capítulo Logística e mobilidade em São Paulo: escolhas contraditórias e insustentáveis, Silvana Zioni, Luiz Henrique Werneck de Oliveira, Graziana Donata Punzi de Siqueira discutem como a dinâmica do processo de descentralização concentrada na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), em um processo de contínua expansão e articulação a outros polos e centros urbanos, constitui-se numa cidade-região. Os autores abordam as contradições e a aparente insustentabilidade das escolhas feitas ao longo das últimas décadas na provisão de infraestrutura, transportes e logística especialmente a partir dos anos 2010 quando ocorre um agravamento devido à falta de investimentos, incertezas e descontinuidade de gestão e mudanças do contexto político.

    Kauê Lopes dos Santos, Gina Rizpah Besen e Pedro Roberto Jacobi em Gestão de resíduos urbanos na Região Metropolitana de São Paulo face ao Plano Estadual de Resíduos Sólidos apresentam a complexidade em se tratar da questão dos resíduos sólidos urbanos na Região Metropolitana de São Paulo. Analisam os marcos legais que regem as políticas, gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos na RMSP, e indicadores, fixos e fluxos em termos de gestão, destinação e disposição final no território face ao Plano de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo, concluem que tanto no Estado, assim como na RMSP persiste a necessidade de um grande esforço contínuo para a melhoraria da gestão dos resíduos sólidos urbanos.

    Em A transição energética no estado de São Paulo: o papel das energias renováveis, Lira Luz Benites-Lazaro, Raiana Soares, Leandro Luiz Giatti e Celio Bermann apresentam importante reflexão sobre o conceito de transição energética, assim como remontam o percurso de tal processo histórico para o caso do estado de São Paulo.

    As crises ambientais e urbanas das metrópoles não são uma novidade (Jacobi, 2013; Bassols; Melé, 2001). A emergência da crise climática, no entanto, com tendência de exponencial aumento dos impactos às populações mais vulneráveis nos obriga à constante reflexão sobre a forma pela qual nossas cidades vêm sendo produzidas e reproduzidas, assim como sobre quais caminhos precisamos seguir na busca de modelos alternativos, justos e sustentáveis para essa produção do espaço.

    Esse é o contexto em que o presente livro foi gerado. No anseio de que as presentes contribuições possibilitem debates acadêmicos e fora dos espaços universitários para a construção de uma nova racionalidade que rompa com o atual status quo, única maneira possível de enfrentarmos os desafios contemporâneos presentes e os que estão por vir.

    Pedro Roberto Jacobi

    Mario Federico Bassols Ricárdez

    Pedro Henrique Campello Torres

    Silvana Zioni

    Arturo Venancio-Flores

    Referências/Referencias

    BASSOLS, Mario; MELÉ, Patrice. Medio ambiente, ciudad y orden jurídico. México: Miguel Angel Porrua; Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa, 2001.

    BRANDÃO, Carlos Antônio; FERNÁNDEZ, Víctor Ramiro; RIBEIRO, Luiz Cesar. Escalas espaciais, reescalonamentos e estatalidades: lições e de­safios para América Latina. Rio de Janeiro: Letra Capital e Observatório das Metrópoles, 2018.

    BRENNER, Neil; SCHMID, Christian. Planetary urbanization. In: GANDY, Matthew (ed.). Urban constellations. Berlin: Jovis, 2012, p. 10-13.

    JACOBI, Pedro Roberto. São Paulo metrópole insustentável – como superar esta realidade? Cadernos Metrópole, v. 15, n. 29, p. 219-239, 2013.

    ONU-HABITAT. World Urbanization Prospects: The 2018 Revision. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3kNyGTp. Acesso em: 01. fev. 2020.

    TORRES, Pedro Henrique Campello; SANCHES, Taísa; RIBEIRO, Rodrigo. O direito à cidade no Rio de Janeiro Contemporâneo. Olhares Plurais, v. 1, n. 16, p. 132-155, 2017.

    TORRES, Pedro Henrique Campello; VIVIAN, Mariana Motta; SANCHES, Taísa de Oliveira Amendola. Produção capitalista do espaço e meio ambiente: ativismo urbano-ambiental e gentrificação verde no Brasil. Cadernos Metrópole, v. 21, n. 46, p. 689-714, 2019.

    WOLCH, Jennifer R.; BYRNE, Jason; NEWELL, Joshua Peter. Urban green space, public health, and environmental justice: the challenge of making cities just green enough. Landscape and Urban Planning, v. 125, p. 234-244, 2014.


    Notas

    4. Segundo Consejo Nacional de Población (2019) e Emplasa (2019).

    Capítulo 1. Ciudad de México: ensayo sobre historia ambiental

    Mario Bassols Ricardez

    La Ciudad de México se cimenta sobre las ruinas de Tenochtitlan, la antigua capital del reino mexica, erigida hace casi 700 años. Si bien, las transformaciones en el paisaje natural, componente principal de su historia ambiental, no iniciaron con el periodo español, sí significaron un decisivo cambio en la época posterior a la conquista.

    Cuatro rasgos centrales se distinguían en su entorno: a) pronunciadas elevaciones montañosas dentro de la cuenca de México, coronadas por los volcanes Iztaccíhuatl y Popocatépetl, cuya altura rebasa los 3600 metros sobre el nivel del mar; b) una zona lacustre formada por cinco lagos (Zumpango, Xaltocan, Xochimilco, Chalco y Texcoco) cuya cuenca hidrológica rebasaba los 2,000 kilómetros cuadrados; c) 45 grandes ríos que corrían por los linderos de dos cadenas montañosas y alimentaban sus lagos; d) una numerosa red de asentamientos humanos alrededor de los mismos, en sus bordes e inmediaciones, que formaban el núcleo central del territorio dominado por los aztecas.

    La argamasa política estaba dada por el dominio azteca en toda la región y tenía como punto geográfico central un islote artificial, construido a base de chinampas, en el que se encontraban el Templo Mayor, Tlatelolco y la ciudad de Tenochtitlan. Se estima una población mayor al medio millón de habitantes a la llegada de los españoles, pero un total de uno y medio millones en toda la Cuenca de México, distribuidos en una centena de poblados y ciudades (Reader, 2004: 181). Por lo anterior, se puede afirmar que la red de pueblos vinculados a la órbita azteca, fue el primer antecedente de una organización territorial de caracter metropolitano.

    Esencial es hacer denotar el conocimiento profundo del agua, por parte de los antiguos pobladores de la cuenca, pues fue un factor esencial para lograr la fortaleza de la civilización prehispánica: La Gran Tenochtitlan fue una ciudad sobre el agua con avanzadas tecnologías para controlar sus niveles y reciclar sus desechos (Legorreta, 2008: 208).

    En el afán de borrar todo vestigio de la simbología indígena e imponer un arquetipo de ciudad europea renacentista, los conquistadores se propusieron eliminar el modelo prevaleciente prehispánico. Inició con la destrucción, durante el sitio de Tenochtitlan, del Albarradón de Nezahualcóyotl, que dividía el lago de Texcoco en dos partes.

    La supresión del medio acuático se logró a base del conocimiento técnico y la ingeniería de entonces, pero ignoró ciertamente el sentido práctico del recurso. Así por ejemplo, las canoas utilizadas como medio eficaz para el transporte de mercancías en tiempos de los aztecas, comenzaron a dejar de circular en la red de canales existentes. Este fue parte del desastre al que se enfrentó la ciudad colonial, al privilegiar el transporte terrestre basado en tracción animal y dentro de esta modalidad, la mula como su sustituto. La introducción de la ganadería porcina y vacuna, alteró gradualmente el antiguo paisaje y el uso del suelo se modificó con diversas consecuencias ambientales. Ello se produjo en parte, por la construcción de caminos, que fungieron a su vez como obstructores de corrientes de agua alrededor de la ciudad. Al no poder fluir, inmensos volúmenes de agua se estancaron y con ello adquirió relevancia el temor por las inundaciones. Se estimó entonces que la solución sería constuir nuevos canales, pero para desalojar el exceso de agua desde los lagos, hacia zonas de menor altitud (Reader, 2004: 187).

    En este patrón bajo el que se diseñó la nueva ciudad, se desecaron lagos, se desviaron ríos de su curso natural y se construyó el Tajo de Nochistongo, para desalojar las aguas de los lagos situados al norte de la emergente urbe (Mazari et al., 2001: 43-44). Al resultar esta obra un fracaso, se diseñó el Canal de Huehuetoca a principios del siglo XVII. Bajo esa condición se fue construyendo a base de planos, una idílica ciudad barroca, conocida como Ciudad de los Palacios, la cual fungió como capital del Reino de la Nueva España. Pese a haber experimentado una serie de inundaciones relevantes, se mantuvo empero, como centro del poder colonial durante tres siglos.

    Posterior a la Independencia y en el marco del efímero reinado de Maximiliano de Habsburgo (1864-1867) se trazó un proyecto de desecación del Lago de Texcoco, conocido como Túnel de Tequixquiac, o Gran Canal del Desagüe, el cual fue concluido en plena consolidación del régimen porfirista al concluir el siglo XIX. A pesar de ello, no se logró impedir del todo la sucesión de nuevas inundaciones en la ciudad de México. Importa mencionar que, en este periodo, aún se conservaba una zona lacustre de dimensiones importantes. Los cuadros pintados por el paisajista mexicano José María Velasco, sobre el Valle de México(Museo Nacional de Arte), corresponden a la segunda mitad del siglo XIX y constituyen una muestra elocuente de la importancia de los lagos y lagunas existentes en la geografía del paisaje. Forman parte sin duda, del imaginario de ciudad y territorio construido alrededor de la gran metrópoli, pero cada vez menos visible y constatable.

    La obra hidráulica más ambiciosa llevada a cabo en el siglo XX fue el Drenaje Profundo, con el propósito de desalojar el agua pluvial (80%) y residual (sólo 20%), mediante una obra de ingeniería colosal. Se construyó un túnel llamado Emisor Central de 51 km de largo, 6.5 metros de diámetro y situado a 240 metros bajo tierra (Legorreta, 2008: 214). Iniciado en 1967 y concluido en 1975, constituye la base inicial del sistema de drenaje profundo que posee la ciudad de México. Dadas las dimensiones del crecimiento demográfico en el conglomerado metropolitano, el cual había duplicado su población en unos 30 años (de unos 10 millones de habitantes a mediados de los años 1970 a alrededor de 20 millones), se sucedieron crecientes problemas urbanos.

    Ante eventuales como previsibles fallas en el antiguo Emisor Central, se definió un nuevo proyecto aún más extenso de drenaje profundo. En varios puntos de la zona metropolitana, particularmente en el oriente, las inundaciones estaban a la orden del día. Así, en 2008 dieron inicio los trabajos del Túnel Emisor Oriente, con 62 kilómetros de longitud, que de acuerdo al plan, pretende desalojar el flujo pluvial de diversas zonas de la metrópoli capitalina hacia el estado de Hidalgo. La obra fue concluida en diciembre de 2019 e inaugurada por la Jefa de Gobierno de la Ciudad de México y los gobernadores de los estados de México e Hidalgo. Andrés Manuel López Obrador, presidente de México, escribiría en su twitter el 23 de diciembre de ese año: Con el Túnel Emisor Oriente se evitarán en buena medida las inundaciones en la Ciudad de México. Dos presidentes anteriores habían asegurado lo mismo (Gustavo Díaz Ordaz y Luis Echeverría) sin resultados consistentes, al menos en el largo plazo.

    En este ciclo histórico de transformaciones ambientales, la hidropolítica dominante se construye permanentemente de espaldas a una cultura del aprovechamiento racional del agua. La extracción de agua del subsuelo desde la era colonial y el crecimiento urbano en la metrópoli capitalina desde fines del siglo XIX, provocaron el hundimiento de la ciudad, la formación de grietas y fisuras, así como desgajamientos de tierra en zonas altas de la cuenca. Los antiguos lagos de aguas dulces han dejado de existir y los mantos acuíferos se deterioran.

    Sin duda, los pueblos ribereños situados en el circuito comercial y político que rodeaba a la capital azteca, fueron una condición espacial indiscutible en la formación metropolitana de la ciudad de México, durante la segunda mitad del siglo XX. Será al menos una condicionante de tal proceso: la incorporación de antiguos pueblos a la metrópoli central, como uno de los procesos relevantes en la construcción del hábitat urbano.

    En la actualidad la llamada Zona Metropolitana de la Ciudad (o del Valle) de México, está integrada por 60 municipios, casi todos ellos del Estado de México (uno del estado de Hidalgo). Contiene a una población cercana a los 23 millones de habitantes. Dentro de sus destacados problemas, se enfrenta a la paradoja de la escasez hídrica, patente en la vida cotidiana de un vasto conjunto de su población.Ello se dio así cuando, históricamente, se tuvo la oportunidad de conservar los recursos hídricos que poseía, en tiempo y forma. Por un lado, se erigen enormes obras hidráulicas para evitar las inundaciones y conducir el drenaje fuera de la urbe; y por otro lado, se realizan otras tantas obras gubernamentales para importar agua desde distancias cada vez más lejanas, con las consecuentes tensiones sociales generadas en el amplio territorio de disputa por el abastecimiento metropolitano y uso local del agua.

    En la época actual es la región con mayor número de conflictos derivados de la disputa por el agua (Alba y Cruz, 2013: 10) y en donde son constantes las inundaciones en diversas zonas de la metrópoli. Todo ello convierte a la misma en un territorio complejo para la toma de decisiones en materia de política social.

    En el contexto actual de emergencia sanitaria a nivel mundial por la aparición del Coronavirus SARS-COV2, uno de los desafíos es el de contar con agua para todos. El estrés hídrico (Becerril, 2013: 18) que presenta la Ciudad de México, se deriva tanto de las formas de gestión gubernamental relacionadas con el acceso y provisión del recurso hídrico en sus diferentes comarcas, como de las presiones ejercidas por una población consumidora cuyos asentamientos humanos se extienden a un radio mayor a los 100 kilómetros desde su centro histórico.

    Como ecosistema artificial construido por el hombre, la historia ambiental que marca la construcción progresiva de la ciudad de México (y sus espacios locales multidimensionales) ha tenido impactos significativos en su entorno natural. Es un paisaje profundamente transformado en los últimos 500 años, a partir del cambio de una sociedad, cuya cultura estuvo marcada por un profundo significado del agua en sus vidas; a otra sociedad que históricamente la ignoró, dentro de un planteamiento antropocéntrico en la construcción del hábitat. Dicho paradigma de construcción sistémica del entorno urbano, se aceleró en el siglo XX con los afanes modernizadores de la ciudad, regidos por criterios de racionalidad económica y centralización del poder, con claras consecuencias ambientales y de calidad de vida disminuida.

    Los años venideros serán cruciales para definir nuevas formas de gestión orientadas hacia la sostenibilidad ambiental. Si esto se logra, será resultado en alguna medida, de estrategias probadas para el aprovechamiento del agua pluvial, el reciclaje eficiente de los residuos sólidos, la disminución de las fuentes de contaminación atmosférica, el fomento de prácticas de agricultura urbana; o bien entre otras, de nuevas prioridades, a favor del grueso de la población, en materia de transporte metropolitano.

    No pueden descartarse los planteamientos en torno a la recuperación del lago de Texcoco y la revitalización de la zona chinampera de Xochimilco. Al contrario, deben ser incoporados en los posibles escenarios alternativos al modelo de ciudad extractivista neoliberal, al inicio de la tercera década del siglo XXI.

    Referencias

    ALBA, Felipe de; CRUZ, Carlos. Los olvidados del estrés hídrico. Ciudades, Red de Investigación Urbana, BUAP, Puebla, n. 98, 2013.

    BARRERA RODRÍGUEZ, Raúl; MEDINA MARTÍNEZ, Lorena. Tenochtitlan y la llegada de los conquistadores españoles. Arqueología Mexicana, Instituto Nacional de Antropología e Historia, Editorial Raíces, México, v. XXVII, n. 162, 2020.

    BECERRIL, Citlalli. Estrés hídrico. Ciudades, Red de Investigación Urbana, BUAP, Puebla, n. 98, 2013.

    LEGORRETA, Jorge. Transformación y restauración lacustre de la ciudad de México. In: LEGORRETA, Jorge (coord.). La ciudad de México a Debate. México: UAM-Azcapotzalco, 2008.

    MAZARI, Marisa et al. Ciudad de México: dependiente de sus recursos hídricos. Ciudades, Red de Investigación Urbana, BUAP, Puebla, n. 51, 2001.

    READER, John. Cities. London: William Heinemann, 2004.

    Capítulo 2. Transformações no sistema e na cultura de planejamento na Macrometrópole Paulista face às mudanças climáticas

    Sandra Momm

    Pedro Henrique Campello Torres

    Pedro Roberto Jacobi

    Ana Lia Leonel

    Livia Rosetto

    Igor Matheus Santana-Chaves

    Introdução

    Diante de um cenário de urbanização extensiva, no Brasil, a Macrometrópole Paulista (MMP) emerge como uma nova escala regional de planejamento e governança – considerada como plataforma para a integração de políticas públicas setoriais (Emplasa, 2014; Castro; Santos-Júnior, 2017; Tavares, 2018). Entendida a partir do conceito de megacidade região (Magalhães, 2008; Xu; Yeh, 2010; Frey, 2019; Torres et al., 2020), a MMP é polarizada por São Paulo, mas com um grau de policentricidade, destacando subpolos como Campinas, São José dos Campos e Santos. A MMP é uma região complexa com mais de 52 mil quilômetros quadrados e população superior a 30,8 milhões de habitantes (75% da população estadual), 83% do PIB do estado de São Paulo ou 28% do PIB do Brasil, que concentra riqueza e desigualdade (Castro; Santos-Júnior, 2017; Travassos et al., 2019). Apesar de não ser regulamentada por lei específica, a agora extinta Emplasa – Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. – por meio do Plano de Ação da Macrometrópole Paulista 2013-2014 (PAM) (Emplasa, 2014) inseriu a região no sistema de planejamento do estado de São Paulo (Tavares, 2018). Antes disso, a partir de 2011⁵, outra autarquia do Governo do Estado de São Paulo, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) passou a definir novos recortes territoriais para sua análise e proposição da gestão dos recursos hídricos no maior conglomerado urbano do hemisfério sul. Nessa nova proposição, além das Regiões Metropolitanas, incorporou outras bacias hidrográficas e aglomerados urbanos conformando-se que o órgão passou a considerar como Macrometrópole Paulista, objeto territorial do Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos (PDRH-MP), elaborado a partir do entendimento da área de influência das oito Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

    Apesar da emergência desse recorte de planejamento e de instrumentos específicos para esta região, a MMP não se configura como uma unidade de planejamento formal, com jurisdição própria, mas sim como um contexto territorial, um ambiente no qual o planejamento se dá em múltiplos níveis. É o que Zioni et al. (2019) consideram como perímetro frouxo e que exemplifica a complexidade em se ter como objeto de análise um território heterogêneo e fragmentado (Travassos et al., 2020). Como um recorte territorial

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1