Abrindo as portas do futuro: Aprender a aprender, relacionar-se e trabalhar
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Abrindo as portas do futuro - Celso Antunes
Abrindo as portas do futuro
APRENDER A APRENDER, RELACIONAR-SE E TRABALHAR
Como ensinar alunos a estudar e aprender, conquistar e preservar amizades e desenvolver competências para o trabalho e a criatividade.
Celso Antunes
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Sumário
underEntre o prazer e o temor
O HOJE, O AMANHÃ E O VERDEIRO SENTIDO DA FAMÍLIA E DA ESCOLA
1. Aprendendo a aprender
ORGANIZAÇÃO DO TEMPO
LEITURA COMPREENSIVA
ANÁLISE DE UM TEXTO
LEITURA CRÍTICA
O INTERESSE POR LEITURAS
SÍNTESE DE UM TEXTO
APONTAMENTOS
ORGANIZAÇÃO DE UM CADERNO
DIFERENÇA ENTRE UMA ANÁLISE E UMA DESCRIÇÃO
MEMORIZAÇÃO
DESENVOLVIMENTO DE UMA INVESTIGAÇÃO (PESQUISA)
A VITÓRIA SOBRE A EMOÇÃO
O DESAFIO DAS PROVAS
A TRAVESSA
DE UM NÍVEL PARA OUTRO
2. Ajudando a desenvolver habilidades sociais
A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO
PRIMEIRO PASSO: SER AMIGO DE SI MESMO
SEGUNDO PASSO: ESTAR ABERTO A NOVAS IDEIAS
TERCEIRO PASSO: DESCOBRIR O LADO POSITIVO
NUNCA ACORDAR SEM NOVOS PROJETOS
RECLAME, MAS SOMENTE EM ÚLTIMO CASO
TER BOM HUMOR É MAIS IMPORTANTE QUE SER ENGRAÇADO
UM BATE-PAPO COM UM BOM AMIGO
A ÉTICA NAS AMIZADES DE TODO DIA
ANTIPATIA E SIMPATIA: A IMPORTÂNCIA DE SENTIR O OUTRO EM SI
A ARTE DO RELACIONAMENTO
UM ENSAIO LEVADO A SÉRIO
OLHAR, ESCUTAR, VER, SENTIR
3. Desenvolvendo competências essenciais ao trabalho
CAPACIDADE DE COMPARAR E ANALISAR DIFERENTES PONTOS DE VISTA
ANÁLISE DE SITUAÇÕES COM EXPOSIÇÕES CLARAS
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE RACIOCÍNIO LÓGICO
APRENDIZADO PELA OBSERVAÇÃO DE ATIVIDADES PRÁTICAS
CAPACIDADE DE LIDERANÇA E DE INTERAÇÃO COM OUTRAS PESSOAS
CAPACIDADE DE PLANEJAR COISAS NOVAS
CAPACIDADE DE DESENVOLVER VISÕES SISTÊMICAS
CAPACIDADE DE ABSTRAÇÃO E USO DO PENSAMENTO LATERAL
CAPACIDADE DE REPRESENTAÇÃO E DRAMATIZAÇÃO
CAPACIDADE DE PENSAR POR IMAGENS
DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE E DA INICIATIVA
Conclusão
Sugestões de leitura
NOTAS
SOBRE O AUTOR
DO MESMO AUTOR
REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
Entre o prazer e o temor
underObservo com carinho e curiosidade o cão que se aproxima do banco em que estou sentado. Pelo seu olhar, deduzo que não me considera nem perigoso para ele, nem alguém temeroso de sua aproximação. Deseja, quem sabe, um afago, um resto de lanche ou, ainda, que eu possa dispor de tempo para brincar, atirando-lhe um pedaço de pau que, feliz e rapidamente, ele irá buscar para que eu o atire novamente. Sua aproximação me deixa sorridente e feliz e o fato de ser acolhido em sua tentativa, provavelmente, deixa-o feliz também. Mas, por certo, minha felicidade é muito diferente da desse cão que se aproxima.
Minha felicidade dura alguns minutos, segundos talvez. Em pouco tempo, dou-me conta de que preciso deixar o banco da praça para ir trabalhar. Sou envolvido por apreensões, receios, inseguranças. Por que senti-los se estou tão bem agora? Sinto-os porque o presente em que vivo é rápido, imediato, foge depressa e envolvem-me as sensações e os receios do futuro. Estou muito bem agora, é verdade, mas como estarei amanhã? Como estarão as pessoas que amo? E como estará meu país? Como ficarei ao saber o resultado do exame médico que devo providenciar? O presente não me encanta porque o futuro me assusta e porque tenho dúvidas sobre esse futuro – tolamente escolho o temor em vez do prazer.
Essas angústias e inquietações não envolvem o meu amigo cão que docemente se aproxima. Ele sabe viver com pouco e meu afago certamente lhe basta. Para ele, não existe futuro; vive e viverá um permanente agora. Sem dúvida, ele enfrenta em sua vida momentos de medo, mas eles são restritos, limitados a uma ou outra circunstância. Os perigos são totalmente ignorados pelo cão fora dos contextos que os geram e, como ele sabe viver em seu perpétuo agora, desfruta do prazer sem inquietações, sem temores. Seria bom, muito bom, se o futuro não nos preocupasse e pudéssemos extrair toda a satisfação de viver permanentemente agora. Seria bom, mas não é possível.
Essa é uma diferença marcante entre os homens e os outros seres vivos. Possuímos um cérebro extraordinariamente evoluído e, consequentemente, sabemos que o prazer do agora é sempre limitado pela perspectiva do amanhã. O futuro que nos aguarda, no breve momento do dia seguinte ou na imensidão dos anos que virão, integra nossos pensamentos e nossa consciência e esse cérebro admirável que tantas conquistas alcançou não pode – senão por breves instantes de sonho – fugir da realidade que virá e, por não sabermos como virá, assusta-nos seu desafio.
Mas será isso correto? Será que é mesmo necessária à espécie humana a permanente escravidão do temor, que lhe rouba a serenidade e a alegria? Não existe uma maneira de caminhar em direção ao futuro com a segurança de quem se sente preparado para superá-lo? Será que o otimismo de olhar com esperança a surpresa do amanhã é atitude tola de ingênuos? Será que não existe uma pedagogia
para que se trabalhe o futuro com precaução, mas também com prazer?
As respostas, certamente, dependem de pontos de vista e algumas delas não serão necessariamente aceitas por todos. A diversidade de respostas, entretanto, não é razão para que deixemos de buscar pontos de convergência que nos permitam construir uma estrutura básica dos caminhos a trilhar.
É esse o propósito maior deste livro. A vontade sincera de destacar que o porvir não precisa obrigatoriamente provocar calafrios, temores; que é possível viver o presente com o inefável prazer de construir uma visão de futuro com serenidade e segurança, necessariamente com prudência e com expectativa, mas sem nenhum rescaldo de temor. Acredito que a escola e a família que ensinam uma pessoa a aprender, ajudam-na a fazer e preservar amigos, a superar frustrações, a perceber limites e conquistar competências para compreender o trabalho; de certa forma, ajudam-na a acreditar que o futuro não precisa ser assustador.
É um livro dirigido a pais e professores, para que ofereçam a seus filhos e alunos alguma segurança para o amanhã que virá. Foi escrito com intenção de evitar sustos e sobressaltos para todos quantos estejam caminhando para a porta do futuro, sobretudo para quem educa os que estão no limiar do agora.
O hoje, o amanhã e o verdadeiro
intersentido da família e da escola
Por que existem escolas? Você, por acaso, já pensou na razão essencial para justificar a existência de escolas em um mundo onde a informação está em toda parte?
Houve um tempo em que o que na escola se aprendia era somente lá que se aprendia, mas, hoje, quando a informação se acha em todo canto, é realmente necessário que existam escolas? Mesmo que consideremos sua existência necessária, fica a pergunta: será que deve a escola ensinar o que ensina? Será que, sem a ação dos professores na sala de aula, não se aprende a matemática das ruas, a geografia dos destinos, a história que sedimenta a certeza, a língua com que aprendemos o mundo?
A resposta à primeira pergunta não atende necessariamente a segunda. É essencial que existam escolas porque a informação sem conhecimento, sem espírito crítico e sem articulação é inútil, mas nem sempre o que nas escolas se ensina é o essencial no aprender. Senão, vejamos.
As escolas existem, pelo menos, por três motivos indiscutíveis. Ensinar uma pessoa a aprender e, dessa forma, libertar-se das amarras e dos limites à criatividade e ao livre pensar. As escolas não existem para que nelas aprendamos matemática, ciências ou geografia. Esses saberes, bem como o de outras disciplinas, podem ser conquistados na internet, nos livros e em apostilas ou em alguns programas de televisão. As disciplinas escolares são, na verdade, ferramentas
para que, por meio de seus conteúdos, aprendamos a pensar, pesquisar, organizar ideias, atribuir significação aos estímulos que recebemos e desenvolver competências para vivermos melhor e para acolhermos os desafios do futuro com serenidade e segurança. Os verdadeiros professores, os sempre imprescindíveis educadores, são os que sabem usar as ferramentas dos conteúdos para construir o pensamento de seus alunos, ajudando-os a aprender a aprender. O aluno que aprende apenas saberes escolares, esquece-os depressa. Por isso tudo, o papel de uma verdadeira escola é ensinar a aprender, mas não se restringe a ensinar pessoas a aprender, pois que é também sua essencial razão de existir ensinar as pessoas a fazer amizades.
Quem cresce em uma família estruturada pelo amor raramente enfrenta desafios quanto à sua aceitação, em casa. Toda criança que assim evolui recebe em seu lar a permanente solidariedade do afeto e a constante ternura do elogio. É quando vai para a escola e se relaciona com os outros que essa cerca protetora de ternura se fragiliza e, pela primeira vez, a criança vivencia a possibilidade de não ser aceita por todos, admirada em cada frase, aplaudida em cada gesto. Viver em meio a desconhecidos implica aprender a desenvolver habilidades sociais e, por meio delas, fazer amigos. Essas competências, sem dúvida, não nos são inatas: é na verdadeira escola que as aprendemos. Portanto, se um dos papéis essenciais da escola é ensinar as pessoas a aprender, outro papel não menos importante é ensiná-las a se relacionar, fazendo amigos e construindo solidárias correntes de afetividade.
Entretanto, o papel da escola não se restringe a