Formação humana em István Mészáros
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Formação humana em István Mészáros - Cátia Regina Assis Almeida Leal
estudo.
CAPÍTULO 1
A POLÍTICA CULTURAL E A FORMAÇÃO HUMANA EM ISTVÁN MÉSZÁROS
1. Considerações iniciais sobre a política cultural e a formação humana em Mészáros
Baseado no pressuposto de que apenas na democratização mais radical é possível considerar uma solução segura e duradoura para os problemas culturais, este capítulo toma a política cultural como uma dessas categorias mais simples que se expressam em uma categoria mais concreta. Ou seja, a política cultural é um dos pormenores necessários para a compreensão da totalidade da formação humana em István Mészáros. Para entender a relação entre as categorias formação humana e política cultural, foi feito um estudo teórico do livro A revolta dos intelectuais na Hungria: dos debates sobre Lukács e sobre Tibor Déry ao Círculo Petöfi.
Antonio Rago Filho e Claudinei Cássio de Rezende afirmam, na apresentação à obra, que a primeira aproximação de Mészáros com Lukács, o primeiro encontro, ocorreu em 1950 na Universidade de Budapeste, num momento em que Lukács havia passado de líder revolucionário na Comuna Húngara de 1919 a intelectual desprezado e atacado pela burocracia stalinista. Nesse contexto, as contradições entre os escritos marxianos sobre o comunismo e a forma específica das sociedades soviéticas estavam bastante evidentes na Budapeste do jovem Mészáros. Afirma este que o bloco soviético jamais conseguiu se livrar do capital, o que ele chama também de pseudossocialismo (RAGO FILHO; REZENDE, 2018).
Para Mészáros (2018), o processo transitório das sociedades soviéticas não se efetivou, resultando numa sociedade produtora de mercadorias cujo intercâmbio social produtivo consistia no relacionamento dos produtores e de seus produtos como meras mercadorias. Para ele, essa é a forma mutante do controle de capital, a transmutação de uma revolução que demonstrou sua face monstruosa no massacre de 1956 da Revolução Húngara. Esse livro ora em questão foi elaborado no itinerário que perpassa pela definição do regime soviético e da política cultural stalinista, preocupação central de Mészáros, e se constitui num corajoso e erudito relato sobre o massacre da intelectualidade húngara pelas tropas soviéticas durante a revolução de massa daquele ano, conforme destacam Rago Filho e Rezende (2018).
Refugiado na embaixada da Iugoslávia durante a opressão soviética ao ciclo de intelectuais revolucionários, Mészáros foi para Turim e na sequência ao Reino Unido, onde lecionou e, anos depois, apresentaria a teorização da anulação do poder político e do Estado em Para além do capital (2002). Enquanto isso, Lukács foi preso e levado à Romênia para interrogatórios. Depois retornou a Budapeste, em 1957, com a alcunha de inimigo ideológico da classe trabalhadora, campanha difamatória de um intelectual que dedicou a vida à emancipação humana.
Ambos tiveram destinos separados, ambos lutaram contra a política cultural stalinista. Mészáros, no entanto, pôde dar um passo além, consubstanciando a recusa do servilismo partidário sem renunciar à perspectiva marxista revolucionária. A revolta dos intelectuais na Hungria é um relato profundo dos acontecimentos relacionados aos processos revolucionários e à inteligência húngara¹. Nos treze dias, a partir de 23 de outubro de 1956, que abalaram o mundo soviético, em Budapeste uma marcha de estudantes e operários desnudou a importância da vida cultural húngara, da arte que impulsiona as paixões revolucionárias. O resultado dessas lutas sociais foi a tentativa de instituir conselhos de trabalhadores numa nova e autêntica revolução soviética, contra aquilo que tinha se tornado o socialismo de acumulação.
Diante do quadro exposto, entende-se que o livro A revolta dos intelectuais na Hungria se difere da abundante literatura produzida sobre a revolução húngara, porque se dedica exclusivamente à análise da função desempenhada pelos intelectuais na luta contra o stalinismo, porque a análise do autor pertence à oposição socialista interna que deu ao movimento dos intelectuais húngaros suas figuras mais combativas e porque o autor participou diretamente dos eventos narrados, estando apto a fornecer uma série de informações em primeira mão. Ao fim, o livro é uma tentativa de verdadeira história
(MÉSZÁROS, 2018, p.