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Direitos da natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais
Direitos da natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais
Direitos da natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais
E-book351 páginas3 horas

Direitos da natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais

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Sobre este e-book

À primeira vista, a ideia de direitos da Natureza pode causar algum estranhamento: talvez o mesmo estranhamento que um dia causaram as propostas de direitos civis, direitos humanos e direitos das crianças, por exemplo. Neste livro, o sociólogo uruguaio Eduardo Gudynas analisa os caminhos conceituais e as lutas sociais que vêm abrindo espaço para que comecemos a tratar a Natureza como sujeito de direitos, e não como mero objeto da exploração humana. O autor analisa os casos do Equador, que colocou os direitos da Natureza na Constituição aprovada em 2008, aproximando os termos Natureza e Pacha Mama, e da Bolívia, que aprovou leis de proteção da Mãe Terra. Sem abrir mão da crítica à experiência real destes e de outros países latino-americanos na gestão do meio ambiente, o autor oferece argumentos para construir uma nova ética de convívio entre seres humanos e o mundo natural: uma ética que não passa pelo romantismo de manter os ecossistemas puros e intocados, mas pelo respeito a seus ciclos, a suas capacidades e a seus povos originários, abandonando as métricas economicistas que propõem um crescimento infinito pautado pela destruição ambiental — e, consequentemente, pela desigualdade social.

***

Convivemos com um processo de inversão do sentido atribuído à natureza. Com a dinâmica avassaladora e onipresente da superexploração dos bens ambientais, o sentido duplo que a natureza oferecia, de mãe (provedora) e madrasta (ameaçadora), como que uma espécie de Janus dupla-face, transmuda-se. A pólis, que antes encontrava-se no seio da natureza, isolada, praticamente inofensiva, aumenta de tamanho e torna-se a aldeia global. Agora é a natureza que está na pólis. Tratar da questão ecológica, portanto, tornou-se uma questão eminentemente política. Nunca antes o sentido de natural e artificial estiveram tão próximos um do outro. O vivo também passa a ser, em muitos sentidos, artificial; e o artefato, naturalizado. Na era da natureza enjaulada e das árvores de plástico, torna-se urgente e oportuno que repensemos o lugar do mundo natural e a sua importância para manutenção dos ciclos vitais do planeta e da própria humanidade. Nesta importante obra, Eduardo Gudynas procura repensar a sempre complexa e turbulenta relação entre desenvolvimento, democracia e meio ambiente. A postura de cuidado para com a natureza, a partir da categoria dos denominados direitos da natureza, é tomada no sentido de reorientar profundamente a ética aplicada ao meio ambiente.

— Daniel Braga Lourenço, na orelha
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de fev. de 2020
ISBN9788593115615
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    Direitos da natureza - Eduardo Gudynas

    país.

    1. Os valores e a Natureza

    Nas últimas décadas, acumula-se um enorme volume de informações que alertam sobre os sérios impactos ambientais e a perda de biodiversidade em todo o planeta. Por sua vez, os impactos ambientais também afetam diretamente muitas comunidades locais. Desse modo, alimentam-se as reivindicações por outras relações com o meio ambiente e, nesse contexto, surge uma ou outra consideração sobre seus valores — propõe-se, por exemplo, possíveis valores econômicos à biodiversidade, ou seus valores culturais para povos indígenas, ou a relevância de espécies ameaçadas.

    Dessa maneira, explícita ou implicitamente, a questão da valoração é uma dimensão de enorme relevância nos debates ambientais atuais. Essas questões são analisadas no presente capítulo, caracterizando-se as posições prevalecentes na atualidade e o papel de uma ética ambiental na renovação das políticas ambientais orientadas à conservação.

    1.1. As urgências ambientais

    As circunstâncias ambientais atuais não apenas são graves; a degradação que enfrentamos é mais extensa e aguda do que muitas vezes se aceita. Uma brevíssima revisão da situação ambiental deixa isso evidente.

    Internacionalmente, alerta-se sobre a existência de uma onda de extinções maciças de espécies (Barnosky et al., 2012; Ekins et al., 2019) e disfuncionalidades ecológicas em escala planetária, tais como mudanças climáticas, alterações nos ciclos de fósforo e nitrogênio e a acidificação marinha, que ultrapassaram limites planetários (Rockström et al., 2009; Sutherland et al., 2010; Ekins et al., 2019), e que dificilmente são administráveis (Galaz et al., 2012). Essas alterações são de tal envergadura que estaríamos nos aproximando de um salto nas dinâmicas planetárias (Barnosky et al., 2012). Isso traz, como c