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O Outro sou eu Também a Formação de Professores das Classes Populares em Diálogo com Paulo Freire e Enrique Dussel
O Outro sou eu Também a Formação de Professores das Classes Populares em Diálogo com Paulo Freire e Enrique Dussel
O Outro sou eu Também a Formação de Professores das Classes Populares em Diálogo com Paulo Freire e Enrique Dussel
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O Outro sou eu Também a Formação de Professores das Classes Populares em Diálogo com Paulo Freire e Enrique Dussel

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O livro O outro sou eu também: a formação de professores das classes populares em diálogo com Paulo Freire e Enrique Dussel apresenta uma pesquisa realizada com estudantes de um curso de Pedagogia. Procurou-se compreender como as demandas e as expectativas trazidas pelas estudantes das classes populares à universidade poderiam contribuir para (re)pensar a formação de professores no curso em questão. A reflexão sobre a formação de professores/as oriundos/as das classes populares se faz relevante quando compreendemos que, de maneira geral, esses sujeitos retornarão à escola como docentes das classes populares. Partindo da questão disparadora e conduzida pelo paradigma indiciário de Carlo Ginzburg e dos estudos com o cotidiano, o caminho teórico-metodológico foi construído com os sujeitos da pesquisa. Sem definições a priori, o estudo tratou de buscar pistas, indícios e sinais a partir de relatos extraídos de conversas vivenciadas na roda de conversa e de conversas informais, autoavaliação das estudantes e trechos transcritos em diário de campo, registrando discussões em aula e no grupo de estudos organizado com os sujeitos da pesquisa. O referencial teórico que dialoga, neste estudo, com as experiências dos sujeitos da pesquisa é o pensamento de Paulo Freire e os Estudos Decoloniais, a partir de Aníbal Quijano e da compreensão da colonialidade do ser, do saber e do poder, e a Filosofia de Enrique Dussel, que apresenta a possibilidade de uma leitura do cotidiano das classes populares amparada em outros fundamentos epistemológicos que propõem outras compreensões. As questões produzidas com as estudantes foram encaminhando a construção da pesquisa que, partindo das experiências desses sujeitos, problematizou a relação centro-periferia mundial a nós apresentada por Dussel, para pensarmos tal relação na formação de professores, bem como o sujeito periférico como o outro, neste caso, o outro na universidade e que será professor/a. Os movimentos realizados pelos sujeitos da pesquisa apresentaram ao curso questões e reflexões que anunciaram o diálogo como um elemento potente nesse processo, emergindo nuances de libertação.
LanguagePortuguês
Release dateJun 4, 2021
ISBN9786558205654
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    O Outro sou eu Também a Formação de Professores das Classes Populares em Diálogo com Paulo Freire e Enrique Dussel - Fabiana Eckhardt

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO PSI

    Agradecimentos

    Aos (re)encontros que esta pesquisa me oportunizou: Maria Teresa Esteban, Maria Tereza Goudard Tavares, Marisol Barenco de Mello e Marisa Narciso Sampaio.

    A Anna e Angelo, pela partilha cotidiana deste texto.

    Aos amigos que, generosa e interessadamente, discutiram comigo e contribuíram para as escolhas que geraram o texto final: Sandra Bortolotti, Leandro Ricon, Tallita Stumpp Moreira, Renato Simões Moreira e Anna Carolina Eckhardt.

    Isso de querer

    ser exatamente aquilo

    que a gente é

    ainda vai

    nos levar além.

    (Paulo Leminski)

    PREFÁCIO

    Encontro. Essa é a palavra com que a autora define os movimentos que constituem este livro.

    Encontro, concordo com Fabiana, é a palavra que articula o trabalho reflexivo no qual este livro se tece.

    Encontro entre pessoas, entre lugares, entre tempos, entre projetos.

    Encontro que desafia, que acolhe, que provoca rupturas, que desdobra afetos, que mobiliza, que tira o chão e que produz outros encontros.

    Encontro entre professoras/es, entre estudantes, entre professoras/es

    e estudantes, entre e com memórias. Mas sempre encontro com a vida e com as vidas – em experiências e histórias – que se entrelaçam no desenrolar da pesquisa que a elas se mistura.

    Encontro entre ideias que por vezes se desencontram, se interpelam, entram em conflito, rasuram, arranham, ferem, aniquilam, silenciam.

    Encontro com teorias que convidam ao diálogo, à reflexão, ao conhecimento, a dar um passo a mais, a mergulhar mais fundo, a voar mais alto, ao silêncio, à observação atenta, à escuta cuidadosa, à fala respeitosa.

    Encontro com dois de nossos maiores teóricos, que com os pés enraizados na América Latina, nas dores e belezas de suas gentes, desestabilizam cânones e projetam outras lógicas, outras possibilidades, outros mundos possíveis: Paulo Freire e Enrique Dussel.

    Por ser um trabalho feito por Fabiana e um texto por ela escrito, é também o encontro com a delicadeza. A delicadeza de quem sabe, porque vive e com outros que vivem o ser da periferia partilha experiências, que as classes populares enfrentam cotidianamente inúmeras negações e obstáculos, num caminho marcado pelo sentimento de humilhação, como o texto afirma. A delicadeza necessária ao enfrentamento dos processos de subalternização, tão intensos em nossa sociedade de matriz moderno-colonial, com aqueles e aquelas que sentem na pele, como também ressalta o texto, os muitos modos de exclusão. A delicadeza, na condução da pesquisa e na produção do belo texto que compõe este livro, para que os encontros se efetivassem e que a experiência de subalternização se mostre como parte dos processos de libertação, de modo que o sentimento inicial que desvitaliza se transforma em sentimento de periferia, que se traduz em descoberta, potencializa interpelações e instaura movimentos.

    Delicadeza que se encontra com compromisso, com intensidade, com vigor, com partilha, para tratar da presença das classes populares na universidade, no curso de formação de professores e professoras e problematizar o modelo de formação hegemônico. Uma interrogação que se configura como parte de um processo que vai se tornando mais e mais dialógico.

    Diálogo tecido com a delicadeza de quem se propõe ao exercício de escovar palavras.

    Um diálogo que se amplia e se aprofunda, e nos convida a ir pouco mais além, a fazer outros questionamentos, a ver mais do que se mostrava possível inicialmente, a escutar vozes que foram silenciadas, a exercitar o silêncio para confrontar o silenciamento, a viver as histórias apagadas, não contadas, escondidas, a confrontar os processos de negação para interrogar a formação e pensar princípios outros que articulem uma educação com as classes populares. Um diálogo potente, no qual vão entrando muitos e muitas, cuidadosamente chamados para participarem deste estudo que toma Dussel e Freire como interlocutores privilegiados. Diálogo ao qual somos, como leitores e leitoras, constantemente convidados a nos integrar, quem sabe tomar a palavra por sermos afetados pela beleza de algumas de suas partes, pela dureza de outras, pela intensidade de tantas, por nos reconhecermos, por nos surpreendermos, por nos indignarmos, mas, certamente, diálogo, ou diálogos, aos quais não ficamos indiferentes.

    Em todo o diálogo estão as professoras e os professores, as e os estudantes do curso de Pedagogia, os fluxos que percorrem os processos de formação, com seus limites e potências. Mas não se encontram no texto como indivíduos, atomizados, idealizados, desenraizados e a-históricos, por não ser este o modo como compõem a pesquisa. No trabalho compartilhado neste livro, vão ocupando a universidade como resultado de suas conquistas como classe, como sujeitos históricos e coletivos: como classes populares. O curso de Pedagogia desponta como um projeto em disputa, pois ainda estamos distantes de uma educação articulada à pedagogia do oprimido, tão importante na luta das classes populares por sua libertação. Disputa, como bem sabemos agora, que se atualiza e exige a manutenção da esperança e da luta.

    Luta. Última palavra que trago a este breve texto, cuja intenção é convidar à leitura. Luta que não pode prescindir, como o livro demonstra, do diálogo que afirma o outro e constitui-se na alteridade. O outro sou eu também, assevera o título deste livro, marcando a posição que o trabalho assume nesta luta.

    A autora traz ao debate o lugar da Pedagogia na luta pela desarticulação de uma educação que nega o outro e oferece reflexões indispensáveis às e aos que se comprometem com a ressignificação da Pedagogia. Desafio que se faz possível e necessário com a chegada dos outros às salas de aula dos cursos de formação de professoras e professores.

    A presença das classes populares ao curso de Pedagogia se mostra como mais um movimento de fortalecimento da luta para que a educação se alimente da alteridade e se realize como uma prática de liberdade, contribuindo para a gente ser aquilo que a gente é: o outro, como nos propõe a autora.

    Que seja intenso o seu encontro com o livro!

    Prof.ª Dr.ª Maria Teresa Esteban

    Universidade Federal Fluminense

    Sumário

    INTRODUÇÃO 15

    1

    A CONSTITUIÇÃO DA TRAMA:

    O ENTRELAÇAMENTO DOS FIOS QUE FORMAM OS NÓS 25

    1.1 O ENCADEAMENTO DE GESTOS E O ENTRELAÇAMENTO DOS FIOS E DOS SUJEITOS QUE TECERAM O CAMINHO DA PESQUISA 32

    1.2 ESCOVANDO AS EXPERIÊNCIAS 44

    1.2.1 Alguns sentidos que podem traduzir a palavra experiência: Opressãolibertação, classificaçãoigualdade e prontidãoinacabamento 45

    1.3 A PERSPECTIVA EPISTEMOLÓGICA E TEÓRICO-METODOLÓGICA DA PESQUISA 57

    2

    NOSSO LUGAR NO MUNDO:

    NORTE- SUL, CENTRO-PERIFERIA 69

    2.1. AMÉRICA INVENTADA, AMÉRICA INVERTIDA: SITUANDO-NOS NO MAPA 77

    2.1.1 Relações de colonialidade e o sentimento de periferia 79

    3

    OUTROS MUNDOS, OUTROS SUJEITOS:

    SER OU NÃO-SER 101

    3.1 A PROXIMIDADE COMO FUNDAMENTO DE OUTROS MUNDOS POSSÍVEIS 106

    3.2 A EXTERIORIDADE EXISTE E O OUTRO SOU EU QUE SEREI PROFESSOR/A 113

    3.3 ORALIDADE E ESCRITA: COLONIALIDADE DO SER, DO SABER E DO PODER 121

    3.4 OUTRAS LÓGICAS, OUTRAS POSSIBILIDADES, OUTROS MUNDOS POSSÍVEIS 132

    4

    SER AQUILO QUE A GENTE É: O OUTRO 137

    (Últimas palavras, porque é necessário encerrar) 137

    REFERÊNCIAS 149

    Índice Remissivo 155

    INTRODUÇÃO

    Diego não conhecia o mar.

    O pai, Santiago Kovaldloff, levou-o para que descobrisse o mar,

    viajaram para o Sul.

    Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando,

    quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,

    depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.

    E foi tanta imensidão do mar,

    e tanto seu fulgor,

    que o menino ficou mudo de beleza.

    E quando finalmente conseguiu falar,

    tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

    me ajuda a olhar!

    (Eduardo Galeano)

    A pesquisa que apresento neste livro foi iniciada no ano de 2013, vendo as condições de vida da população brasileira passando por transformações significativas. No meu cotidiano, vi estudantes oriundos das classes populares chegando à universidade. Esses sujeitos traziam sonhos individuais, expectativas e muitos projetos. Olhando para a chegada desses sujeitos em grupos, e não mais de sujeitos isolados, percebia que tais sonhos, expectativas e projetos poderiam deixar de ser individuais e tornarem-se um projeto coletivo na construção de um sonho de que a universidade fosse para todos. Por ser uma pesquisa que tratava da formação de professores, esse sonho se estendia à escola.

    A conclusão do estudo se deu em um momento bastante diferente, pois, em 2017, muitas dessas conquistas que foram resultado de lutas pela concretização de direitos dispostos em lei, em busca de uma sociedade justa, já estavam em processo de desaparecimento. No entanto, precisamente pelo momento conturbado vivido, esse estudo fez-se necessário, no sentido de visualizarmos outras possibilidades que, diante das situações-limites, alimentassem inéditos-viáveis (FREIRE, 2004).

    A decisão de publicar este livro se deu em 2020 – outro momento, outras perturbações, novas e velhas situações-limites se impondo à realidade das classes populares. A luta diária para garantir direitos básicos se torna mais visível, quando, em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara que o surto da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (Espii) e, em 11 de março, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia.

    Como medida de proteção foram indicados hábitos como: lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou utilizar álcool em gel, usar máscaras para conter as secreções de pessoas doentes, evitando, assim, o contágio, e manter o distanciamento social. Medidas de autocuidado, aparentemente simples, mas quase impossíveis para uma grande parcela da sociedade brasileira. Mais uma vez, nos encontramos com a enorme desigualdade que constitui o Brasil.

    Com Enrique Dussel, compreendi que esse encontro, o cara-a-cara, é um movimento necessário para o diálogo, inclusive o diálogo que se estabelece entre o leitor e o texto. Dessa forma, quando apresento os múltiplos encontros que vão dando forma ao pensamento que se organiza em uma questão de pesquisa, não me refiro somente a encontros entre sujeitos concretos, como os que tive com as estudantes, com os/as professores/as do curso de Pedagogia, mas também os encontros que tive/tenho com as leituras que traduzem o pensamento do Sul. Assim, defino que este é um livro que fala de encontros. Encontros com pessoas, com a teoria e com o cotidiano das classes populares. No movimento da pesquisa, encontrei-me também com outros tempos.

    O tempo que aparece no texto, ora como memória, recupera experiências e reflexões acerca da minha formação como professora, recupera encontros que deixaram marcas – uma palavra, um olhar, uma sensação –, ora como o tempo presente, reflete sobre a minha prática e o meu fazer como pesquisadora. Esses encontros e desencontros com o tempo, não tão fiéis quanto à ordem cronológica, mas comprometidos com a narrativa que se propõe marcar as múltiplas experiências que me fizeram e me fazem professora, foram motivo de reflexão durante a pesquisa, na escrita do texto final e na organização deste livro. Como narrar o que passou, mas continua presente? Assim, tomei a decisão de não alterar o tempo, mantive a escrita original, demarcando o caminho que o texto foi encontrando enquanto a pesquisa ia se constituindo.

    Outro encontro que deixa marcas na escrita, aparentemente muito previsível, mas nem sempre considerado, foi o encontro com o feminino presente nas salas de aula do curso de Pedagogia. Neste livro, a denominação de docência como professor/a aparecerá grafada no masculino quando tratar da formação de professores, compreendida como campo de estudos e pesquisas, seguindo assim a regra da Língua Portuguesa para a concordância nominal do plural de diferentes gêneros. Quando referir-me a docentes específicos, marcarei o gênero utilizando-me de "o professor/a

    professora". Porém, quando tratar dos sujeitos da pesquisa, professores/as

    em formação, apesar de entre eles haver um rapaz, o que me obrigaria seguir a definição do gênero masculino, utilizarei sempre o gênero feminino, desrespeitando a regra de concordância nominal, pela prevalência deste gênero na formação de professores no curso de Pedagogia.

    O contexto da pesquisa é um curso de Pedagogia de uma universidade privada na cidade de Petrópolis, localizada na região serrana do estado do Rio de Janeiro – a primeira instituição de ensino superior na cidade, que iniciou suas atividades em 1953 e teve o curso de Pedagogia autorizado no ano 1958. O curso de Pedagogia é um dos mais antigos da instituição e vem formando, ininterruptamente, desde então, profissionais da educação na cidade de Petrópolis e arredores.

    Com turmas que variavam muito em número de estudantes, em 2009, a universidade criou uma política de incentivos aos cursos de licenciatura, instituindo mensalidades fixas e ampliando a oferta de bolsas de estudos para os estudantes. Em 2015, o curso de Pedagogia passou a ser ofertado também na modalidade de educação a distância (EaD).

    Nos últimos anos, percebi a crescente procura de grupos de estudantes moradores das cidades vizinhas, como São José do Vale do Rio Preto, Areal, Magé, Duque de Caxias, Três Rios e Teresópolis, entre outras. Muitos deles chegam à universidade por intermédio do Programa Universidade para Todos, o Prouni¹, e por bolsas de estudos resultantes de convênios estabelecidos entre a universidade e os municípios.

    O curso de Pedagogia está disposto em oito períodos letivos. Em ambas as modalidades de oferta (presencial noturno e EAD) são organizados os períodos ímpares no primeiro semestre e os períodos pares no segundo semestre do ano letivo. No curso ofertado na modalidade EAD, sua primeira turma está cursando, no momento em que finalizo a pesquisa, o quinto período.

    Minha presença no curso de Pedagogia como professora dá-se em agosto de 2009. No semestre seguinte, assumo a coordenação do curso, cargo que ocupei até o ano de 2018. Ao longo desses anos, vim colecionando relatos de professores e professoras acerca da modificação do perfil das estudantes que passam a compor o curso por diferentes motivos, bem como partilho com as estudantes suas histórias², as quais

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