Enganoso Coração

ENGANOSO CORAÇÃO

Roger Serait

Direitos autorais © 2018 Roger Serait Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito do autor.

ISBN: 978-65-00-24397-0.

Design da capa por: Roger Serait

Este livro é dedicado a Lucas e Mateus.

"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas,

e perverso; quem o conhecerá"

Livro de Jeremias

Quem Sou Eu...

Bem-vindo, Meu nome é Roger Serait, sou escritor de contos, novelas e desse romance, que agora você tem em mãos. Sou também o criador da página de Instagram @rogerseraitescritor e do blog Diário de Um Escritor.

Sou um apaixonado por histórias, desde criança. E foi essa paixão que me fez mergulhar de cabeça no estudo das técnicas de narrativa. Eu não sou famoso. Não tenho montes de prêmios e nem faço parte da nata intelectual do meio literário.

Eu precisava aprender o máximo possível sobre técnica narrativa para que eu pudesse deixar a minha marca por aí. Então eu fui atrás de informação. Comprei livros e participei de cursos. Afinal, se você quer escrever bem, é preciso investir (fica aqui essa dica).

E foi pensando nisso, que ao final desse livro você encontrará algumas dicas que eu deixei, para que você possa melhorar a sua escrita.

Atualmente estou cursando Letras e dois outros cursos destinados a Escrita Criatiava.

Sou morador do interior do Rio de Janeiro. Uma cidade chamada Volta Redonda, na região sudeste do país. A cidade é também chamada de: Cidade do Aço.

Bem, isso é um pouco sobre mim.

Espero que você goste dessa história, e queira ler outras também. E por esse motivo eu quero lhe agradecer por acreditar em meu trabalho. MUITO OBRIGADO!

E agora, é melhor deixar você começar a ler logo a estória, não é mesmo?

Então, boa leitura.

Roger Serait.

ENGANOSO CORAÇÃO

I

A Proposta

O homem é um ser responsável, mas há algo sobre o homem que o agente funerário não pode embalsamar, e que os coveiros não podem tocar. Dentro do homem bate um coração. Através de suas contrações rítmicas, ele faz com que o sangue, que é a vida da carne, circule pelo corpo, permitindo a manutenção da vida. O homem pensa com o coração, entende com o coração, ama com o coração, escolhe com o coração e toma decisões com o coração. O coração é quase um sinônimo da natureza humana, moralmente falando.

No passado, os judeus acreditavam que o homem era contaminado por algo exterior a ele. Eles lavavam as mãos para impedir que os germes, da sujeira moral, entrassem pela boca. Mas, eles estavam errados. O coração é o armazém das qualidades morais.

Lorraine logo iria entender que foi um engano. Que foi um erro causado por descuido, por sua falta de atenção. Ou quem sabe, pela falta de conhecimento de si mesma. Pois aquilo que ela pensou ser real, não passou de uma farsa... De uma ilusão.

Lorraine era uma jovem de 17 anos, que se sentia perseguida pelos colegas e professores. Ela não conseguia se adaptar facilmente, o que permitia que seus colegas de classe a considerasse uma pessoa estranha. Não tanto quanto a estranha Carrie, do filme, mas, estranha o suficiente para que os alunos não a desejassem por perto, ou se desejassem, seria apenas para servir como chacota. E ela já estava cansada desse tipo de coisa.

Como toda menina de 17 anos, Lorraine tinha sonhos, desejos, e esperava poder amar, e principalmente, ser amada. Embora ela não entendesse bem o real significado da palavra amor, pois, se amor fosse aquilo que ela vivenciava dentro de sua casa, o melhor seria saber qual o antônimo de amar. Assim, quem sabe, ela poderia ser feliz.

Ela sabia que muitas meninas já tinham saído de casa, não que isso não lhe tenha passado pela mente, a questão era que Lorraine sabia que não seria nada fácil escapar de seus pais. Eram eles que a impedia de levar uma vida normal, como todas as outras garotas de sua idade. Para eles, a mínima atitude de diversão seria a manifestação de uma ameaça diabólica. O que Lorraine considerava como fruto de uma disciplina rígida, que lhes foram impostas, e que ainda hoje, eles adotavam como uma tradição de família. Lorraine sabia que aquelas meninas que saíam de casa, imaginavam que não teriam muita coisa a perder ao fugirem. Mas Lorraine conhecia a verdade, ela sabia que não era bem assim. Muitas dessas meninas entraram em situações sangrentas, cujo final para muitas delas, foi fatal.

Sair de casa poderia ser uma boa, mas ela ignorou essa possibilidade, pelo menos por algum tempo.

Quando alguém perguntava sobre Lorraine era quase que inevitável ouvir como resposta: Aquela menina estranha?. A resposta era quase sempre outra pergunta.

Mas ninguém sabia o que se passava no íntimo de Lorraine. Na verdade, ninguém se importava com ninguém. Lorraine acreditava que fosse esse o motivo de tantos loucos nos Estados Unidos, invadirem escolas, e atirarem em alunos e professores. Coisa que, para ser sincero, acontece com bastante frequência.

Ela acreditava firmemente em uma coisa: Todos vêm cara, ninguém vê o coração.

E naquele dia, em que o céu clareou cedo, ao ir para a escola às sete da manhã, o sol já estava quente. E ao chegar à escola, a primeira coisa que ela quis fazer foi ir ao banheiro. Queria lavar o rosto e retocar o batom. Ela se olhou no espelho e pela primeira vez, parecia se ver de verdade. Não era uma menina feia. Seu cabelo loiro escuro, que ia até o meio das costas, era liso e bem escovado. Seus olhos eram castanhos, mas, em certos momentos, pareciam esverdeados. E muitos rapazes, quando estavam sozinhos, sem a turma que a zoava, já tinham elogiado o seu olhar. Coisa que ela achava uma hipocrisia. Mas, até aí tudo bem. Pelo menos, às escondidas, ela recebia alguns elogios.

Lorraine estava prestes a sair do banheiro quando Viviane, a garota mais popular do colégio, entrou. Com aquele seu ar de superioridade. Mas isso já não incomodava Lorraine, ela descobrira o porquê Viviane era tão popular. Já tinha ouvido as histórias dos rapazes que entre beijos e amassos, escondidos pelo pátio, ou mesmo no banheiro, chegavam a fazer aquilo com ela. E para esse tipo de popularidade, Lorraine não estava afim.

Viviane olhou para Lorraine pelo canto dos olhos, enquanto entrava e deliberadamente lhe deu um esbarrão no ombro, quase derrubando os cadernos que Lorraine trazia abraçados em seu peito:

— Babaca. — Falou Lorraine, baixinho.

Mas, o que ela gostaria mesmo era ter dito: Garota escrota. Pois Viviane era o tipo de garota que gostava de prejudicar, sacanear e zoar as outras meninas.

O som da campainha soou, indicando que mais um dia chato estaria por vir. Lorraine queria acreditar que não. Mas, se todos os dias eram a mesma coisa, porque esse seria diferente?

■■■

O professor de física, do curso médio, era um homem magro, de rosto fino e em forma de um triângulo invertido. Naquele dia ele dava as últimas matérias antes da prova. Aquela turminha que se senta lá atrás, que ri de tudo, como bobos, e por não prestarem atenção às aulas, quase sempre terminavam reprovados; ou, quando menos, de recuperação. Lorraine não era nenhuma nerd, mas também, não se considerava nenhuma anta. Suas notas variavam entre os seis e oito e meio. Mesmo assim, principalmente para a turma lá de trás, isso a fazia parecer uma pessoa estranha.

— Nossa aula inclui questões de revisão. — Informou o professor. — Não esqueçam isso. É importante que vocês respondam a elas depois de estudar cada aula.

— Mas, professor, por que é preciso fazer isso? — Perguntou uma aluna lá de trás, mordendo a parte de trás do lápis.

— É uma forma de testar a compreensão de vocês sobre o material estudado. — Respondeu o professor.

A matéria em questão era sobre as Unidades de Tempo. O tempo que pode ser medido em horas, minutos, segundos, dias, semanas, anos e por aí vai. Isso fez Lorraine olhar para o relógio. Faltavam ainda muitos minutos para o intervalo. E ela já estava contando os dias e as horas para o encerramento das aulas e a tão esperada férias. Mas as provas, essas já estavam à porta, mais duas semanas e elas chegariam.

— Na tabela a seguir, apresentamos as principais unidades de tempo, e os símbolos usados para representá-las. — O professor ergueu o livro para mostrar aos alunos a figura da tabela.

Lorraine gostava de estudar, porém, a física e a matemática não eram muito o seu forte. Apesar disso, sua nota no primeiro trimestre tinha sido sete e meio. O que fez com que Miguel, um de seus colegas de classe, ficasse interessado em estudar com ela. O que contrariou os amigos dele:

— Você tá doido? — Protestou um deles. — Essa menina é muito estranha.

— É mesmo Miguel. – Concordou o outro. — Ela não conversa com ninguém.

— Qual é! – Falou Miguel. — Vocês não dão chance pra ela. Desde o ano passado vocês vivem pegando no pé dela.

— E você não? Qual é Miguel?

— É verdade! Lembra no ano passado, quando você jogou uma bola de papel na cabeça dela? Aquilo foi da hora.

— É! Mas agora eu preciso tirar boa nota em física. — Falou Miguel. — Na prova anterior ela tirou uma nota boa. Eu fiquei com três.

A hora do intervalo era sempre aguardada com ansiedade pelos colegas de classe. Lorraine fazia as anotações finais do professor.

— Não se esqueçam, após terminar de estudar, marque-a como "aula