Flores de Alvenaria
By Sérgio Vaz
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Com apresentação do cantor e compositor Chico César, a obra traz diálogos, relembra a situação da periferia em outras épocas e conta com poemas que costumam ser declamados na Cooperifa, evento criado pelo poeta que transformou um bar de Taboão da Serra em um evento cultural.
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Book preview
Flores de Alvenaria - Sérgio Vaz
FLORES DE ALVENARIA
SÉRGIO VAZ
APRESENTAÇÃO
CHICO CÉSAR
***
2a edição digital
São Paulo
2021
Minha poesia vem das ruas
que os anjos não costumam frequentar.
Sérgio Vaz
Sumário
Flores de alvenaria — Chico César
Poeta das ruas de flores e espinhos
Flores de alvenaria
Naquele tempo que era bom
Primavera Periférica
Canto das negras lágrimas
Oração de um vira-lata
Ser feliz
Sinfonia para surdos
50 tons de sangue
Bar adentro
Antes que seja tarde
Amar dói amar
Ideologia
Luva de pelica
Evolução das espécies
Fábrica dos sonhos
Miniconto
O amor de todo dia
Orgulho mata
Temporal
Teoria da evolução
Alegria artificial
Monalisa de fogo
Magia negra
Medo do escuro
A vida é loka
Homem não chora
Amor com fim
Depois de nós
Caminhos
Maria fodida
Simplicidade
Somos nós
Família vende tudo
Ilusão
Na Fundação Casa...
Coração aberto
Eram os poetas astronautas?
Enquadro poético
Sobre dezembros e janeiros
Oficina de poesia I
Lugar de criança é presa na escola
Sem palavras
Chão de estrelas
A liberdade custa caro
Ilusões perdidas
Fé
Sobre o autor
Poeta das ruas de flores e espinhos
Das delicadezas que a vida própria cria, contra a morte torrencial e mal-acostumada, voraz nos territórios desvalidos, nos chegam estes versos como se viessem montados na garupa de um motoboy que cospe flores incendiárias plantadas nos aquéns dos suburburinhos. É a fala de quem não aceita ser deletado pela bala do verniz corretor da rota academicista e sua frota de carros importados, estacionados dormentes no pátio das universidades públicas em privadas tornadas. É Sérgio Vaz porta-voz de reencantamentos e cultivos intangíveis de lugares desejantes de se afirmar não mais ou apenas pela mão de obra, mas pela obra em si, de operários em desconstrução a operar a reengenharia de reconhecer-se gente e fazer-se, assim, poeta. Criaram até uma associação de demoradores, a Cooperifa. E aí se demoram, delongam, evanescem e ressurgem em litúrgicos rituais coletivos em que trocam entre si a exposição de seus poemas.
E não é fato isolado na cidade madrasta. Do picho-esfínge Juneca Pessoinha
, dos anos 1980, nas paredes inumanas e hostis do Largo Treze ao Anhangabaú, passando pelas avenidas Santo Amaro, São Gabriel e Nove de Julho, aos saraus do Binho e da própria Cooperifa, os sambas da vela iluminando o que resta da garoa, o Teatro Clareô boiando nas enchentes do Campo Limpo, a autoafirmação do hip-hop na ZS, na ZL, na ZN e mesmo na gozolândia-madalênica da ZO, tem sido potente a presença da chamada periferia
na disputa pela cidade, inclusive em seus aspectos simbólicos. Como se dissesse: agora e cada vez mais tudo é centro.
Em Flores de alvenaria, Sérgio Vaz nos banqueteia (e às vezes nos esbofeteia) com uma saraivada dos poemas e textos que costuma declamar nos saraus da Cooperifa e nos lugares aonde vai. E mesmo outros como os que vez por outra publica em revistas por aí, aqui, acolá, alhures. Variam formas e temas. Mudam a tessitura e o timbre. Pode ser poesia ou prosa. O homem e o poeta são o mesmo, um só. Romântico, mordaz, perplexo, inquieto. E assertivo, sem a lenga-lenga de talvezes: Enquanto o futuro não se decide, o agora me parece uma boa opção
. Segue a melhor tradição do faça-você-mesmo dos punks, da geração mimeógrafo. Só que não no Parque Lage carioca, mas na laje de algum bairro afastado com o nome de Jardim
ou Parque
da capital paulistana. Sérgio nos dá algumas pistas de seu DNA: "Minha poesia vem das ruas que os anjos não