Pan-africanismo e descolonização das nações africanas: possibilidades de inserção no ensino de história
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Através deste trabalho, o autor representa milhares de professores e professoras no país que não aceitam a zona de conforto como possibilidade, que buscam novas formas de ensinar e também de ressignificar identidades e narrativas construídas à luz de uma história embranquecida e eurocêntrica." Do Prefácio de Grazielly Pereira.
Neste livro, Allan Santana "atravessa os limites que se colocam, muitas vezes, de forma absolutamente inadequada entre a pesquisa acadêmica e a História ensinada, nos enriquecendo com a abordagem de um tema fascinante, sobretudo nos últimos tempos, que é o do ensino sobre a descolonização dos países africanos."
Da Apresentação de Patricia Teixeira Santos.
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Book preview
Pan-africanismo e descolonização das nações africanas - Allan Santana
Durante o período colonial convidava-se o povo a lutar contra a opressão. Depois da libertação nacional, é ele convidado a lutar contra a miséria,o analfabetismo, o subdesenvolvimento. A luta, afirmam todos, continua. O povo verifica que a vida é um combate sem fim.
Frantz Fanon, Os condenados da Terra
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha esposa, Renée Santana, pelo amor, carinho e fé inabalável em minhas potencialidades.
Agradeço aos meus pais, Maria Aparecida da Silva e Astério Santana Sobrinho, por me ensinarem o valor do conhecimento e pelo incansável incentivo à leitura e aos estudos. Mais do que isso, pelo amor, carinho e cuidado. Pelas jornadas duplas e triplas.
Agradeço ao meu irmão, Bruno Santana, pelo amor, carinho e apoio de sempre.
À todos os mestres que passaram pela minha vida. Todas e todos. Em especial: ao Walson Lopes, ao Mário Rega, ao Henri de Carvalho, à Any Marise, ao Carlos Pompeu, ao Aldo Fornazieri, ao Daniel Feldmann, ao Cléber Vieira, ao João do Prado, à Maria Rita Toledo, à Elaine Lourenço, ao Antonio Simplício Neto e ao Fábio Franzini. À querida professora Patricia Teixeira Santos, pela salutar orientação durante o mestrado, pelo afeto, reconhecimento e pela bela apresentação deste livro. Um agradecimento especial também aos demais mestres do ProfHistória que lutaram para que o programa chegasse na UNIFESP e que se dedicam à ele com tanta disposição.
Aos amigos. Em especial: à Grazielly pela parceria nos últimos tempos, pela confidência, por ser uma referência e pelo generoso prefácio. À Suzane pelo convívio, pelos aprendizados compartilhados, pelas valiosas dicas e apoio. Ao Ivan, ao Héctor e ao Denis por toda prosa e camaradagem. À Rafaela e ao Uelinton pelas primeiras investigações sobre o pan-africanismo. Ao Ricardo e ao Cacio pelo incentivo aos estudos sobre o pan-africanismo. Aos amigos da FESP. Aos divertidos e sagazes amigos do ProfHistória da UNIFESP.
Aos alunos do CIEJA que marcaram minha carreira docente, acadêmica e minha vida.
Ao IPEAFRO que aceitou o diálogo comigo durante a pesquisa do mestrado. Agradeço à Elisa L. Nascimento por isso e por seus escritos sobre pan-africanismo.
Gratidão à Ludmila.
Aos amigos e colegas do GTEH da ANPUH-SP pelo convívio, trabalho e estudo no último ano.
À editora Dialética pelo convite para publicação e por todo o cuidado de todos os profissionais com a edição deste livro.
APRESENTAÇÃO
É com alegria que apresento esta bela obra de Allan Santana, que é resultado do mestrado defendido no Programa do Mestrado Profissional de ensino de História da Universidade Federal de São Paulo em 2018, sob minha orientação.
Esta atravessa os limites que se colocam muitas vezes de forma absolutamente inadequada, entre a pesquisa acadêmica e a História ensinada, nos enriquecendo com a abordagem de um tema fascinante, sobretudo nos últimos tempos, que é o do ensino sobre a Descolonização dos países africanos.
Nesta o autor nos mostra como a partir desse assunto é necessário se fazer a abordagem sobre o Pan-africanismo cultural e político, demonstrando como este extrapolou os espaços de origem nos Estados Unidos e no Caribe, ganhando incrível força nos movimentos de libertação em África e chegando ao Brasil, no esteio das lutas antirracistas e das lutas pelo empoderamento da presença negra nos espaços políticos, sociais e culturais, como foi por exemplo a exuberante trajetória do Teatro Experimental do Negro.
Além disso, na obra o autor faz um importantíssimo debate com a bibliografia sobre a temática, nos brindando com uma sistematização analítica que nos permite não só trazer o assunto para a dimensão da História ensinada, mas enriquecer o debate mais ampliado das releituras contemporâneas do Pan-africanismo.
Fruto da maturidade profissional de um professor historiador que se percebe e também os seus alunos e o mundo que o cerca, este livro nos traz a comprovação de que é possível e fundamental os docentes escreverem suas próprias histórias e formar pessoas, enriquecendo a academia e o chão da Escola
.
Que essa obra seja muito lida, refletida, discutida e transformada. Esse é o melhor e maior destino para os belos textos. Enraizar e fazer nascer flores.
Ter sido orientadora desta pesquisa me transformou e essa alegria de uma educação inovadora que não deixa mais o docente ficar na zona de conforto que compartilho com as pessoas que lerem esta obra. É um incrível percurso caminharmos por essas páginas, mas afianço que vale completamente a pena!
Boa leitura!
Patricia Teixeira Santos
Professora Associada do Departamento de História da UNIFESP. Pesquisadora Colaboradora do CITCEM Universidade do Porto - Portugal, do LAM Universidade de Bordeaux – França e do Departamento de Estudos Africanos da Universidade de Dehli – Índia.
PREFÁCIO
Mãe! Me imagino arrancado dos seus braços Que não me viu nascer, nem meus primeiros passos O esboço! É o que tenho na mente do teu rosto Por aqui de ti falam muito pouco E penso... Qual foi o erro cometido? Por que fizeram com a gente isso? O plano fica claro... É o nosso sumiço O que querem os partidários, os visionários disso Eis a questão…
Carta à Mãe África - GOG
Em minha jornada como profissional da educação, que iniciou-se em 2012, ainda como auxiliar de Desenvolvimento Infantil na prefeitura municipal de Santo André, diversos sujeitos e sujeitas colaboraram significativamente para a minha formação intelectual e continuada, Allan é uma dessas pessoas. Ele faz aquele perfil de pessoa prodígio
, que com sua maturidade, carreira e influência impacta o seu meio desde muito jovem. Aos 29 anos já é professor da rede pública há 10, sendo 8 somente na rede municipal de São Paulo. Defendeu sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP em 2018, que agora materializou-se neste livro. Ele levanta-se, mesmo sem querer, como uma liderança natural para as pessoas que o acompanham e convivem cotidianamente, pois possui uma organização e pensamento ágil, que o permite trabalhar de forma diversificada e desenvolver múltiplos projetos, além de sua oratória e política de relacionamento interpessoal que o garante credibilidade e escuta nos espaços onde circula.
Como sua colega de mestrado e mulher negra em processo de formação, o primeiro contato foi de admiração à distância, quis observar e tentei compreender aquela mente pulsante, onde era perceptível o seu não contentamento e indignação com as injustiças e desigualdades sociais impostas, gerando angústias possíveis de serem identificadas em seu olhar. Além disso, ele também domina uma versatilidade de discutir profundamente teoria acadêmica mas também sabe dissertar com tranquilidade sobre as influências das redes sociais e materiais produzidos na web que podem influenciar o pensar social e histórico de uma determinada parcela da sociedade, principalmente a mais jovem, por exemplo. Isso mostra que além de atento às mudanças, é um homem do seu tempo. Ele nos ensina que é imprescindível o diálogo com o mundo à nossa volta, mesmo que ele nos seja estranho.
Imagino que seja essa personalidade ativa, efervescente e inquieta que o guiou em sua escrita sobre o pan-africanismo e os processos de descolonização das nações africanas .
Ao receber o convite para escrever este prefácio, refleti sobre todas as vezes em que estive em sala de aula, e não acessei materiais didáticos consistentes acerca do tema, e também o quanto me faltou de repertório para trabalhá-lo com as turmas. Afinal, faço parte de um grande número de pessoas negras no Brasil que estão ressignificando sua existência somente na vida adulta, em razão do racismo estrutural que nos é imposto neste país desde a infância. Além da falta de repertório, não me lembro na minha carreira docente de ter tido acesso a nenhum livro didático onde havia um capítulo, ou pelo menos duas ou três páginas dedicadas ao tema, quando muito, meia ou uma página, onde se falava genericamente sobre o movimento pan-africanista, mas logo seguia-se adiante com os temas canônicos.
O próprio autor faz um resgate de sua memória escolar, onde como estudante ainda entre os anos de 2002-2008 (onde a lei 10.639/03 já estava em vigor), quando cursava os ensinos Fundamental II e Médio não teve qualquer tipo de contato em sua trajetória estudantil com os temas em questão, que nos são tão caros, especialmente à ele, um jovem negro. Creio que o incômodo cresce conforme é perceptível que a invisibilidade se mantém e o acompanha durante a sua formação acadêmica no ensino superior até chegar em sala de aula novamente, porém, agora como professor.
O livro, que originou-se na dissertação de mestrado do autor, portanto, tem o objetivo de discutir a inserção no ensino de História do pan-africanismo e os processos de descolonização das nações africanas, colaborando para que chegue aos estudantes da educação básica um referencial teórico acerca das resistências dos povos africanos e afrodescendentes na História contemporânea da África. Logo, não só coloca em prática a Lei Federal 10.639/03 como nos oferece material teórico e didático essencial para repensarmos e ressignificarmos nossas formações, práticas curriculares e consequentemente pedagógicas.
A provocação para a pesquisa surgiu ainda em 2014, quando o autor trabalhava com turmas de EJA na rede municipal de SP. Através de escuta e diálogo com os educandos,