Educação em tempos desafiadores: transdisciplinaridade, tecnologias e linguagens
()
About this ebook
O uso da tecnologia se inseriu mais do que nunca como uma necessidade premente na Educação. Questão de vida ou morte, a exemplo de outras áreas em cenários mundiais. Professores e ambientes escolares, antes ainda resistentes a tais usos, viram-se obrigados, em questão de poucos dias, a rever posturas e paradigmas em nome da saúde também da própria Educação. Essa súbita demanda gerou, evidentemente, repercussões de todos os tipos.
Logo no início da pandemia, pegos de surpresa, muitos professores tentavam se adaptar às novas exigências de uso da tecnologia em formato virtual. Nesse período, não foi incomum vermos docentes transmitindo suas aulas com a câmera do celular ligada diante de lousas onde escreviam com giz. Sinal preocupante, indicador da urgente necessidade de atualização sobre as novas possíveis linguagens proporcionadas pelas tecnologias. Houve também, ressalte-se, aqueles que logo se deram conta da gravidade do quadro e que, preocupados com a saúde da Educação, buscaram proativamente se adaptar à nova situação, ampliando aquilo que, em certos casos, já vinham fazendo anteriormente: utilizar de modo criativo o universo semiótico de novas e potentes linguagens audiovisuais disponíveis à Educação.
Estamos em transição. E a partir dessa pandemia, o que vem sendo chamado de "formato híbrido" (o presencial aliado ao virtual) parece ter grandes chances de permanecer. Negar a necessidade dessas práticas presentes e futuras é, inadvertidamente, contribuir para o adoecimento da Educação e para o aumento do número de alunos desinteressados em aulas e professores que se negam a utilizar o dinamismo das linguagens audiovisuais em que as gerações mais recentes já nasceram imersas.
Read more from Márcia Fusaro
Mia Couto: uma literatura entre palavras e encantamentos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTempo-memória, Literatura e Ciência Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSignos Artísticos em Movimento Rating: 1 out of 5 stars1/5Artes, Ciências e Educação Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEDUCAÇÃO: REFLEXÕES SOB A PERSPECTIVA DE FILÓSOFOS Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação e Linguagens Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação, Culturas, Artes e Tecnologias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação e linguagens: Da intuição, do imaginário, da corporeidade Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação em Pesquisas: Novas tecnologias e linguagens Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsIN MY MOST DISTANT LANDS Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEstética do Labirinto: a poética de Marco Lucchesi Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPlurilinguismo: Por um universo dialógico Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEntrecartas: ensaiando escritas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducation and Research Topics Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsViver bem: várias concepções e diferentes perspectivas Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to Educação em tempos desafiadores
Related ebooks
Vigotski Fundamentos e Práticas de Ensino: Crítica às Pedagogias Dominantes Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPedagogia do êxito Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAções docentes em tempos de pandemia: relatos de experiência Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação de Qualidade para EJA: Metodologias e Currículos Inovadores Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação em Pesquisas: Novas tecnologias e linguagens Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTestemunhas da Pandemia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Segurança Escolar de Estudantes LGBT na Pauta da Formação de Professores:: Experiência Estética e Desenvolvimento Humano Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSaberes Docentes e Espaço Hospitalar na Formação de Professores/as Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTransição Escolar Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação escolar de jovens e adultos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEscola, Família e Clínica: Uma Relação Tão Delicada Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsImersões Cotidianas na Educação Inclusiva:: Múltiplos Olhares, Múltiplos Saberes; Volume II Rating: 0 out of 5 stars0 ratings(Con)Viver a Educação: Relatos de Práticas Cotidianas no Núcleo de Educação Infantil Paulistinha Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsReflexões sobre a educação no século XXI: da tecnologia à inclusão Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsInfância e Inclusão: princípios inspiradores da atuação na educação infantil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação nova As bases Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsInfância, educação infantil e migrações Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCartas de quem vive as infâncias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCovid-19: Letramento, Educação Especial E Saúde Mental Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO mundo da escrita no universo da pequena infância Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEnsino, currículo(s) e formação docente: Mandala(s) como expressão da omnilateralidade e das ciências Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO lugar da pedagogia e do currículo nos cursos de Pedagogia no Brasil: reflexões e contradições (2015-2021) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLinguagens Infantis: Linguagens Infantis Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação popular e letramentos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTrabalho docente e condições de uso das tecnologias educacionais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPolíticas públicas de acessibilidade nas instituições de ensino: Tecnologia Assistiva em Bibliotecas - MG Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Formação de Professores no Contexto Hospitalar e Escolar:: Construtos Necessários Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA educação para crianças e adolescentes hospitalizados ou em tratamento domiciliar: um direito garantido por lei Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Teaching Methods & Materials For You
Aprender Inglês - Textos Paralelos - Histórias Simples (Inglês - Português) Blíngüe Rating: 4 out of 5 stars4/5A raiva não educa. A calma educa.: Por uma geração de adultos e crianças com mais saúde emocional Rating: 5 out of 5 stars5/5Raciocínio lógico e matemática para concursos: Manual completo Rating: 5 out of 5 stars5/5Ensine a criança a pensar: e pratique ações positivas com ela! Rating: 5 out of 5 stars5/5Temperamentos Rating: 5 out of 5 stars5/5Jogos e Brincadeiras para o Desenvolvimento Infantil Rating: 3 out of 5 stars3/54000 Palavras Mais Usadas Em Inglês Com Tradução E Pronúncia Rating: 5 out of 5 stars5/5Sou péssimo em português: Chega de sofrimento! Aprenda as principais regras de português dando boas risadas Rating: 5 out of 5 stars5/5Piaget, Vigotski, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão Rating: 4 out of 5 stars4/5Cérebro Turbinado Rating: 5 out of 5 stars5/5Como Escrever Bem: Projeto de Pesquisa e Artigo Científico Rating: 5 out of 5 stars5/5Sexo Sem Limites - O Prazer Da Arte Sexual Rating: 4 out of 5 stars4/5Ludicidade: jogos e brincadeiras de matemática para a educação infantil Rating: 5 out of 5 stars5/5Como Estudar Eficientemente Rating: 4 out of 5 stars4/5Pedagogia do oprimido Rating: 4 out of 5 stars4/5Técnicas de Invasão: Aprenda as técnicas usadas por hackers em invasões reais Rating: 5 out of 5 stars5/5Massagem Erótica Rating: 4 out of 5 stars4/5A Bíblia e a Gestão de Pessoas: Trabalhando Mentes e Corações Rating: 5 out of 5 stars5/5Curso Básico De Violão Rating: 4 out of 5 stars4/5BLOQUEIOS & VÍCIOS EMOCIONAIS: COMO VENCÊ-LOS? Rating: 5 out of 5 stars5/5Mulheres Que Correm Com Os Lobos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPense Como Um Gênio: Os Sete Passos Para Encontrar Soluções Brilhantes Para Problemas Comuns Rating: 4 out of 5 stars4/5Manual do facilitador para dinâmicas de grupo Rating: 5 out of 5 stars5/5A arte de convencer: Tenha uma comunicação eficaz e crie mais oportunidades na vida Rating: 4 out of 5 stars4/5Guia Prático Mindfulness Na Terapia Cognitivo Comportamental Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Reviews for Educação em tempos desafiadores
0 ratings0 reviews
Book preview
Educação em tempos desafiadores - Márcia Fusaro
Educação em tempos desafiadores:
transdisciplinaridade, tecnologias e linguagens
Márcia Fusaro
Organizadora
Forma Descrição gerada automaticamente com confiança baixaApoio:
CONSELHO EDITORIAL
ANA MARIA HADDAD BAPTISTA
Mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica. Pós-doutoramento em História da Ciência pela Universidade de Lisboa e PUC/SP onde se aposentou. Possui dezenas de livros, incluindo organizações, publicados no Brasil e no estrangeiro. Atualmente é professora e pesquisadora da Universidade Nove de Julho dos programas stricto sensu em Educação e do curso de Letras. Colunista mensal, desde 1998, da revista (impressa) Filosofia (Editora Escala).
MÁRCIA FUSARO
Pós-doutoramento em Artes (UNESP), Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Mestra em História da Ciência (PUC-SP), Especialista em Língua, Literatura e Semiótica (USJT). Professora e pesquisadora do Programa Stricto Sensu em Gestão e Práticas Educacionais (PROGEPE) e da licenciatura em Letras da Universidade Nove de Julho. Líder do grupo de pesquisa Artes Tecnológicas Aplicadas à Educação (UNINOVE/CNPq). Membro dos grupos de pesquisa Performatividades e Pedagogias (UNESP/CNPq), Palavra e Imagem em Pensamento (PUC-SP/CNPq) e do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CICTSUL) da Universidade de Lisboa (2009-2018).
FLAVIA IUSPA
Diretora e professora de programas internacionais e iniciativas do Departamento de Pós-Graduação em Ensino e Aprendizagem da Florida International University (FIU). Doutora em Educação, com foco em currículo e instrução. Possui MBA em Negócios Internacionais e especialização em Educação Internacional e Intercultural pela Florida International University (FIU). Suas áreas de pesquisa incluem: internacionalização de instituições de ensino superior, desenvolvimento de perspectivas globais em professores e alunos (Global Citizenship Education) e política de currículo.
ABREU PRAXE
Poeta angolano, licenciado pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), Luanda, onde trabalha como professor de literatura. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Membro da União dos Escritores Angolanos. Possui diversas obras publicadas (poesia) em diversos países.
MÔNICA DE ÁVILA TODARO
Graduada em Pedagogia, mestre em Gerontologia e doutora em Educação pela UNICAMP. É professora adjunta do Departamento de Ciência da Educação (DECED) da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ). Docente do Programa de Mestrado em Educação da UFSJ. Pesquisas nas áreas de Educação e Gerontologia, com ênfase nos seguintes temas: Danças; Corpo e educação; Ludicidade; Alfabetização de Idosos (EJA); Relações Intergeracionais; e práticas educativas. É líder do Núcleo de Estudos sobre Corpo, Cultura, Expressão e Linguagens (NECCEL), da UFSJ. Pós doutorado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) da Universidade de São Paulo (USP).
Tesseractum Editorial
www.tesseractumeditorial.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
(CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Educação e transdisciplinaridade 370.1
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Coordenação Editorial: Equipe Tesseractum Editorial
Diagramação: Equipe Tesseractum Editorial
Capa: Tammy Guerreiro
Revisão: Autores
Todos os direitos reservados à Editora Tesseractum Editorial
Belo Horizonte – MG
contato@tesseractumeditorial.com.br
www.tesseractumeditorial.com.br
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais.
(Lei 9.610/98).
Sumário
Apresentação
A artesanalidade dos currículos e das culinárias: os saberesfazeres dos praticantes e as políticas educacionais brasileiras - Júlio César Augusto do Valle e Luciana de Oliveira Ferreira
Criação de artefatos lúdicos para crianças portadoras de deficiência visual: uma abordagem semiótica - Juliana Rocha Franco e Higor da Mota Gonçalves
As insólitas máscaras dos agenciamentos pandêmicos - Márcia Fusaro
Por dentro, texto - Paulo Saul Duek
Sou professora, não youtuber!
: excluídos ou autoexcluídos digitais em tempos de pandemia? - Dartagnhan Salustiano Rodrigues
À la Lumière de Barthes: o retorno do morto na educação - Roger Henrique Pozza e Márcia Fusaro
Mulheres nas telas: imagem, gênero e representação - Erika da Silva Santos e Márcia Fusaro
Narciso na educação virtual: o eumismo
refletido - Eva de Magalhães e Márcia Fusaro
A transtechné como mediadora de conhecimento - Moisés Galvão Batista e Márcia Fusaro
Desenhos animados na educação: notícias do mundo analógico para o digital - Priscila Fátima da Silva Fiel e Márcia Fusaro
Ao professor deve ser dado apoio para que ele adote uma
nova atitude e assuma sua responsabilidade perante o futuro.
Isso depende essencialmente de sua própria transformação,
conhecendo-se como um indivíduo e como um ser social,
inserido numa realidade planetária e cósmica.
Ubiratan D´Ambrosio
(Educação para uma Sociedade em Transição)
Apresentação
Este livro está sendo lançado em mais um cenário de grande desafio à Educação. Desde o ano de 2020, temos vivido uma nova e complexa realidade planetária deflagrada pela pandemia gerada pelo coronavírus. Se anteriormente já se viviam incontáveis desafios relacionados a urgentes necessidades de revisão educacional, sobretudo no Brasil, após a pandemia novos alcances de urgência surgiram em outras tantas fronteiras.
O uso da tecnologia se inseriu mais do que nunca como uma necessidade premente na Educação. Questão de vida ou morte, a exemplo de outras áreas em cenários mundiais. Professores e ambientes escolares, antes ainda resistentes a tais usos, viram-se obrigados, em questão de poucos dias, a rever posturas e paradigmas em nome da saúde também da própria Educação. Essa súbita demanda gerou, evidentemente, repercussões de todos os tipos. Uma delas, que se quer aqui destacar, foram os novos e salutares alcances semióticos na Educação. Onde antes se privilegiava a alfabetização verbal, evidentemente ainda fundamental, agora também se abrem novos ambientes virtuais promovedores da alfabetização não verbal. Palavra, imagem, som, enfim, todo um universo de explorações semióticas se mostra com muito mais ênfase na atualidade educacional, e ao alcance de um número considerável de alunos e professores. Aos que ainda, infelizmente, não contam com tais acessos, reivindiquemos tais direitos.
Logo no início da pandemia, pegos de surpresa, muitos professores tentavam se adaptar às novas exigências de uso da tecnologia em formato virtual. Nesse período, não foi incomum vermos docentes transmitindo suas aulas com a câmera do celular ligada diante de lousas onde escreviam com giz. Sinal preocupante, indicador da urgente necessidade de atualização sobre as novas possíveis linguagens proporcionadas pelas tecnologias. Houve também, ressalte-se, aqueles que logo se deram conta da gravidade do quadro e que, preocupados com a saúde da Educação, buscaram proativamente se adaptar à nova situação, ampliando aquilo que, em certos casos, já vinham fazendo anteriormente: utilizar de modo criativo o universo semiótico de novas e potentes linguagens audiovisuais disponíveis à Educação.
Dificuldades existem, sabemos. Falta de recursos. Falta de incentivo e respeito à Educação e aos educadores. Tantos outros exemplos poderiam ser aqui lembrados. Foquemos, no entanto, na vida e na saúde do que pode ser feito, considerando-se o que temos ao nosso alcance. Uma mudança de postura dos professores ainda resistentes aos usos das novas tecnologias já seria um ótimo e salutar início de projeto educacional. Professores que dizem não serem youtubers
, ou que encaram com rancor as novas demandas de trabalho virtual, precisam se dar conta de que os tempos são outros, acompanhados por todo um novo cenário de demandas atualizadoras na Educação. Estamos em transição. E a partir dessa pandemia, o que vem sendo chamado de formato híbrido
(o presencial aliado ao virtual) parece ter grandes chances de permanecer. Negar a necessidade dessas práticas presentes e futuras é, inadvertidamente, contribuir para o adoecimento da Educação e para o aumento do número de alunos desinteressados em aulas e professores que se negam a utilizar o dinamismo das linguagens audiovisuais em que as gerações mais recentes já nasceram imersas.
Manter a paixão pelo ensino, apesar das dificuldades. Apesar de tudo. Fazer-se respeitar como profissional de uma Educação em transição, mas que precisa resistir e viver. Inclusive para ter força de continuar a lutar por seus mais do que merecidos direitos. Não deixemos que o vírus do desalento educacional nos atinja. Se antes ele já era nocivo à saúde da Educação, agora pode mesmo se tornar letal. Lembremos que a saúde planetária, no amplo sentido do termo, depende, fundamentalmente, de pessoas bem formadas por professores cientes das necessidades de seu tempo. Apesar das dificuldades. Apesar de tudo.
Em face do trágico cenário da pandemia, iniciado em 2020, saudemos, carinhosamente, a lembrança dos que se foram e celebremos suas memórias respeitando nossas próprias vidas e o fato de ainda podermos estar aqui, fazendo nossa parte pela Educação que queremos ver no mundo.
Meu profundo agradecimento a cada um dos autores que colaboraram para esta coletânea. Que essa bem-vinda parceria seja aqui representada como nossa própria celebração particular às nossas vidas e às nossas maneiras de valorizar a Educação. Que os alcances de nossas reflexões aqui apresentadas promovam outros tantos salutares encontros felizes.
Márcia Fusaro
A artesanalidade dos currículos e das culinárias: os saberesfazeres dos praticantes e as políticas educacionais brasileiras*
Júlio César Augusto do Valle¹
Luciana de Oliveira Ferreira²
Boa cozinheira precisa de receita?
(…) Ao longo dos anos, sempre estando na cozinha, envolta de temperos e condimentos fui me aperfeiçoando e criando minhas próprias receitas, assim a meu ver, cada pessoa tem o seu próprio talento e o seu desenvolvimento em suas próprias habilidades, sendo assim, não precisa de receita
.
Rosemeire Aparecida da Silva Couto
O filme Tempos Modernos (Modern Times), dirigido, em 1936, pelo britânico Charles Chaplin (1889-1977), constituiu uma crítica caricatural e consistente ao mundo moderno, industrializado, central na construção do novo
paradigma. Relacionando a vida e o trabalho à linha de montagem fabril, Chaplin denuncia a alienação do trabalho, característica basilar do capitalismo, alvo de inúmeras críticas advindas de estudos marxistas.
Mais profundamente, contudo, o diretor e protagonista de seu filme denuncia a fragmentação como fundamento do saber-fazer moderno. As lógicas estruturantes de toda a epistemologia moderna e de todo o trabalho moderno se fundam, portanto, na constituição de grandes rupturas, todas maniqueístas, que se tornam as premissas do novo paradigma, decorrentes da instituição da racionalidade europeia como padrão cognitivo. O homem moderno representa, a partir do olhar de Chaplin, um homem fragmentado, incapaz, sobretudo, de relacionar – e, então, mensurar – sua ação aos impactos dela em seu contexto. Poderíamos dizer, então, que se trata de um homem fragmentado entre o fabril e o artesanal, tomados como sentidos opostos de desenvolvimento dentro da concepção que passa a vigorar na modernidade.
Os currículos e suas políticas, durante muitos anos e ainda hoje, reproduzem esquizofrenicamente essas marcas da modernidade, gestados por uma lógica fragmentária, aprofundam-na por sua incapacidade de superar as marcas contextuais de sua elaboração. Destarte, observamos reproduzidas também no currículo a dicotomia construída pela modernidade entre o fabril e o artesanal de tal modo que a qualidade dos currículos passa a ser mensurada, inclusive, por uma suposta capacidade de adaptação aos mais variados contextos, traduzida por sua abrangência. Opõe-se, por exemplo, no contexto brasileiro, a possibilidade de que escolas construam seus caminhos no currículo à implementação
de uma Base Nacional Comum Curricular. O fabril, de larga escala, universalizado e homogêneo, em oposição ao artesanal, local, heterogêneo, construído de maneira efetivamente coletiva.
A partir dessa perspectiva, caracterizamos como artesanal o currículo em que é reconhecido o direito fundamental dos atores locais, especialmente professores, alunos e comunidade escolar de participar de sua construção – um currículo construído a várias mãos. Interessa-nos, neste texto, evidenciar a artesanalidade do currículo, condição que também existe no cozinhar da cozinheira, além de mostrar sobre como essa artesanalidade tem sido mobilizada no contexto de políticas curriculares. Diante dos abismos que nos defrontam, muitos deles agravados pela Pandemia do coronavírus, outros inéditos, articulamos à compreensão da artesanalidade do currículo nas políticas as possibilidades inauguradas com a tecnologia de que – ainda nem todas e todos – dispomos.
E como as cozinheiras aprendem a cozinhar?
"As cozinheiras bem-sucedidas aprenderam a fazer cozinhar e fazer suas receitas com suas avos ou suas mães, e assim com o tempo se tornaram boas cozinheiras testando