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Luta pela Terra: Pedagogia de Emancipação Humana? experiências de luta da CPT e do MST
Luta pela Terra: Pedagogia de Emancipação Humana? experiências de luta da CPT e do MST
Luta pela Terra: Pedagogia de Emancipação Humana? experiências de luta da CPT e do MST
Ebook500 pages6 hours

Luta pela Terra: Pedagogia de Emancipação Humana? experiências de luta da CPT e do MST

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About this ebook

Este livro compreende a luta pela terra como pedagogia de emancipação humana. A análise teórica ancora-se na emancipação humana segundo Marx e vários marxistas. O materialismo histórico-dialético é nossa base teórica e prática. Analisamos a questão cultural na luta pela terra: a ideologia dominante e hegemônica; o sistema do capital e o capitalismo, grandes obstáculos da luta pela terra no chão da noite; uma série de pontos conexos, tais como: posse e/ou propriedade capitalista da terra, a raiz maior?; a aliança do atraso - Estado e oligarquias - e o controle da terra no Brasil; a Igreja e a questão agrária: da solidariedade à politização da luta pela terra; o trabalho 'livre' assalariado e a produção de mais-valia: o tronco da opressão?; a renda da terra e a luta pela terra: quanto mais luta pela terra menos renda e vice-versa; pilares da sociedade brasileira: a grande propriedade territorial e a escravatura (e, posteriormente, o regime de colonato); a ideologia do trabalho como meio para se enriquecer; o cativeiro da terra, condição para se abolir a escravatura negra e meio para ampliar a acumulação de mais-valia; com a força de trabalho dos imigrantes a mais-valia dos capitalistas agrários se reproduz e se amplia; a Lei de Terras: no Brasil, compra; nos Estados Unidos, posse. A luta pela terra integra a luta por democracia, contra o patriarcalismo e o verdeamarelismo; a ideologia dominante, o que (o)corre no mais profundo das relações sociais: fetichismo e coisificação, galhos que circulam o ar do capital; a questão religiosa na luta pela terra sob a perspectiva marxista. A luta pela terra está sendo ou pode se tornar pedagogia de emancipação humana? Buscamos compreender a práxis da CPT e do MST na luta pela terra em contexto de injustiça agrária, mas continua aberta a questão: na luta pela terra, pedagogia de emancipação humana? Finalizamos a tese com uma reflexão sobre a utopia da luta pela terra. Nas considerações finais elencamos as principais descobertas da pesquisa teórica e da pesquisa de campo que tornaram possível a construção deste livro.
LanguagePortuguês
Release dateJul 21, 2021
ISBN9786525203485
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    Luta pela Terra - Gilvander Luís Moreira

    capaExpedienteRostoCréditos

    [...] Malditas sejam

    todas as cercas!

    Malditas todas as

    propriedades privadas

    que nos privam

    de viver e de amar!

    Malditas sejam todas as leis,

    Amanhadas por umas poucas mãos

    Para ampararem cercas e bois

    e fazer a Terra, escrava

    e escravos os humanos! [...]

    (DOM PEDRO CASALDÁLIGA).

    Aos protagonistas da liberação social cabe a tarefa de reforjar referências teóricas que iluminem uma via de saída possível para a história que atravessamos, a qual é mais aterradora do que nunca. Não somente as espécies desaparecem, mas também as palavras, as frases, os gestos de solidariedade humana (FÉLIX GUATTARI).

    A ESCRITA COMO ARMA DE LUTA:

    BOCA FECHADA NÃO FAZ MEU TIPO.

    Há mais de trinta anos escrevemos a conta-gotas para reforçar as lutas populares. Aprendemos que a luta é frenética e nela não há espaço para perfeição. Escrevemos às pressas nos apuros das lutas coletivas por direitos sociais. Não basta lutar, é preciso comunicar as lutas travadas a partir de quem a está protagonizando. Nessa perspectiva, calou forte em nós a sabedoria apresentada pelo filósofo, cantor, compositor e poeta Eliakin Rufino, no poema

    CLAMANDO PELA POSSE DA TERRA ...

    ANTÔNIO BAIANO (Antônio Pereira de Almeida), no CD Encanto pela terra, de 1999, canta assim:

    Clamando pela posse da terra, no campo milhares estão.

    Esse grito está incomodando a quem sempre viveu da exploração.

    O QUE POSSO FAZER? O QUE TENHO A DIZER, MEU PAI? QUE SE FAÇA JUSTIÇA, REPARTAM AS TERRAS, PARTILHEM O PÃO ENTRE NÓS FILHOS TEUS!

    Não posso mais enumerar os mártires deste país. Na roça e também na cidade,

    só vê crueldade, correm rios de sangue.

    A quem serve a lei e o poder, a polícia e a Constituição?

    Assassinam sem piedade, permanecem impunes nesta nação.

    Passo a passo fazemos caminho, sempre em busca de organização.

    De mãos dadas sigamos em frente, formando a corrente pra libertação

    (ANTÔNIO BAIANO).

    OITO RAIOS DE LUZ QUE NOS GUIARAM NA ELABORAÇÃO DESTE LIVRO

    1) Vim trazer fogo à terra e como gostaria que já estivesse queimando! (Na Bíblia, Lucas 12,49).

    2) Por causa da especulação imobiliária, o barro vale mais do que ouro, aqui em Uberlândia. Por isso insistem em despejar a gente (Aparecida Damasceno da Ocupação-comunidade Nelson Mandela, de Uberlândia, dia 30/9/2014).

    3) O facão é o uniforme do Sem Terra acampado (José Barbosa Dos Santos, do Assentamento Dom Luciano Mendes, dia 22/9/2014).

    4) A terra curou a falta de esperança que Sebastião Salgado assimilou ao ver milhares de pessoas mortas na África (Do filme O Sal da Terra).

    5) As colunas da injustiça sei que só vão desabar quando o meu povo, sabendo que existe, souber achar dentro da vida o caminho que leva à libertação! (Thiago De Mello).

    6) Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia (GUIMARÃES ROSA, 1994: 86).

    7) Lá na cidade, um dia escrevi uma poesia que dizia: As empresas metalúrgicas me engolem às 6h da manhã, sem eu ver o sol nascer, e me vomitam às 18h ou às 20h, sem eu ver o sol se por, sendo que eu nasci livre no campo, vendo o sol nascer, vendo o verde da natureza, sentindo o cheiro e o calor da mãe terra (Ricarda Maria Gonçalves Da Costa, acampada no Acampamento Rosa Luxemburgo, na Ariadnópolis, em Campo do Meio, MG).

    8) É legítima a ocupação de uma terra que não está sendo trabalhada (Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo da Arquidiocese de São Paulo).

    DEDICATÓRIA

    Com eterna gratidão, dedicamos este livro a todas e todos militantes da luta coletiva pela terra e pelos territórios para que esta e estes sejam de todas as pessoas e de todos os seres vivos, que tornam vivo em nós e no nosso meio o legado político e profético dos que tombaram na luta pela socialização e democratização da terra, no campo e na cidade: in memoriam dos vinte e um mártires trucidados em Eldorado dos Carajás, dia 17/4/1996; dos três fiscais do Ministério do Trabalho em Unaí – Eratóstenes de Almeida Gonçalves (o Tote), João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva - e do motorista Aílton Pereira de Oliveira, dia 28/01/2004; dos cinco mártires de Felisburgo - Iraguiar Ferreira da Silva, Miguel José dos Santos, Francisco Nascimento Rocha, Juvenal Jorge da Silva e Joaquim José dos Santos, dia 20/11/2004; de Manoel Bahia, assassinado dia 31/3/2015 e de Ricardo de Freitas, o Kadu, assassinado em emboscada dia 22/11/2015, ambos integrantes da coordenação da Ocupação-comunidade Vitória, na região da Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, enquanto lutavam pela socialização da terra para quem estava expropriado dela; Dedico in memoriam de Cidona do MST, de Dom Tomás Balduíno, de Egídio Brunetto e de Silvino Nunes Gouveia. Enfim, in memoriam dos 1483 camponeses tombados na luta pela terra, em 34 anos, de 1985 a 2019 ¹.

    À Filha de Cleciana Nunes Santana e Jonas da Silva Santos, Alice Sofia Silva Nunes, criança de 7 meses que, dia 19/6/2015, recebeu no seu colo uma bomba de gás lacrimogêneo jogada por policiais da polícia militar de Minas Gerais, a partir de um helicóptero, durante repressão de marcha pacífica de mais de duas mil pessoas das Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória), na Linha Verde (MG-10), próximo à Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, MG.

    Ao Marcelo Guimarães Mello - in memoriam-, o geólogo criador de projeto de soberania e autonomia do campesinato através de microdestilaria de álcool consorciado com a produção de alimentos em propriedade camponesa da terra.

    Ao Alvimar Ribeiro dos Santos, in memoriam, o ‘Alvimar da CPT’, falecido no dia 19/8/2016, por ter sido um ‘profeta Amós’ na luta pela terra em Minas Gerais, especialmente no Norte e Noroeste do estado, nas últimas 4 décadas, 34 anos como agente de pastoral da CPT. Ao Sebastião Clemente de Souza, in memoriam, o ‘Tiãozinho da CPT e da Bio-saúde’, por ter sido ao longo da sua vida, no noroeste de Minas, um semeador da luta pela democratização da terra aos camponeses e, em Belo Horizonte, um militante exemplar de muitos métodos de terapias naturais.

    Ao bispo Dom Pedro Casaldáliga, in memoriam, profeta Amós no nosso meio por muitas décadas.


    1 Dados da CPT.

    GRATIDÃO

    Ao Deus da vida, que não tem religião, é um mistério de infinito amor, anticapitalista e socialista que inspira luta por emancipação humana.

    Ao papai José Moreira de Souza e à mamãe Leontina Rosa de Souza, in memoriam, porque sempre diziam: Faremos o possível e o impossível para dar estudo para nossos filhos, pois estudo é riqueza que ladrão não rouba.

    A todas/os as/os trabalhadores rurais com os quais convivi, na minha infância e adolescência no campo, trabalhamos juntos no cabo da enxada, lutamos juntos, nos alegramos e nos abraçamos também nos momentos de dor e de injustiças: José Messias Pimentel de Souza, Juscelino Pimentel de Souza, Assuero Pimentel de Souza, Dos Reis, Joaquim, Francisco, Ismael, Juarez, Baiano, entre muitos outros.

    Às famílias camponesas Sem Terra do Acampamento Dom Luciano Mendes, do Assentamento Dom Luciano Mendes, do Assentamento Irmã Geraldinha e da Comunidade Quilombola Braço Forte, em Salto da Divisa, e às famílias camponesas Sem Terra do Assentamento Primeiro do Sul, do Assentamento Nova Conquista II e dos 11 Acampamentos do MST (Quilombo Campo Grande), em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais, minha eterna gratidão. Vocês tiveram a audácia de enfrentar os Golias do latifúndio da região.

    Às famílias do Assentamento Primeiro do Sul, em Campo do Meio, MG, obrigado de coração pela luta e por terem acolhido centenas de famílias Sem Terra despejadas do latifúndio da ex-usina Ariadnópolis até a conquista do grande latifúndio da Ariadnópolis.

    À professora Marildes Marinho assassinada na Bahia, dia 18 de julho de 2011, enquanto lecionava para os povos indígenas. Cheguei à FAE/UFMG no dia que você partia para a vida plena. Você, profa. Marildes, esteve presente em mim durante a construção dessa tese que virou livro. Obrigado pela dedicação à educação emancipatória dos povos indígenas, nossos parentes, que resistem há 521 anos de dizimação e massacres.

    Aos professores e às professoras da FAE/UFMG que me ensinaram que o/a educador/a deve aprender o que ensina e se comprometer com a emancipação dos educandos, especialmente as/os que eu tive a alegria de cursar alguma disciplina: Ana Maria Rabelo Gomes, Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, Antônio Júlio de Menezes Neto, Savana Diniz Gomes Melo, Hormindo Pereira de Souza Júnior, Maria Rosimary dos Santos, Maria Isabel Antunes Rocha, Leôncio José Gomes Soares, Lúcia Helena Álvarez Leite, Maria Alice de Lima Gomes Nogueira, Fernando Selmar Fidalgo de Oliveira, Eucídio Pimenta Arruda e os que me ensinaram nos corredores: Daisy Moreira Cunha, Inês Assunção de Castro Teixeira, Maria da Conceição Reis Fonseca e Carmen Lúcia Eiterer, dentre outros.

    Às Professoras doutoras Maria Isabel Antunes Rocha e Maria de Fátima Almeida Martins, minha orientadora, e ao professor Dr. Ariovaldo Umbelino de Oliveira que participaram do Exame de Qualificação dessa tese. Obrigado pelas críticas, observações e orientações imprescindíveis para o rumo da pesquisa e, acima de tudo, pelo compromisso ético que revelam no jeito emancipatório de educar. Todas as correções e sugestões se tornaram um facho de luz nos rumos da nossa pesquisa.

    Às professoras doutoras e aos professores doutores que participaram da banca examinadora da minha tese: Maria de Fátima Almeida Martins (UFMG), Maria Isabel Antunes (UFMG), Felisa Cançado Anaya (UNIMONTES), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP) e José Luiz Quadros de Magalhães (PUC-MINAS). E os suplentes professores doutores Antonio Júlio de Menezes Neto e José Geraldo Pedrosa.

    À Marlene Hostalácio de Andrade e à Nádia Aparecida Sene Oliveira que, com competência e dedicação, corrigiram os erros gramaticais, de digitação e de sintaxe do texto.

    A LUTA PELA TERRA, ENTRE DENÚNCIA E ANÚNCIO


    0 Latifúndio e luta pela terra, denúncia e anúncio, verso e reverso. Em Morte e Vida Severina, o poeta João Cabral de Melo Neto faz a mais lúcida condenação do latifúndio, que mata as pessoas que se dispõem a lutar pela terra. E os consome como espigas debulhadas, roendo-lhes as forças, a mocidade, a fibra de trabalhador. Assassina-os transformando-os em mártires da luta pela terra. Em 32 anos, de 1985 a 2017, pelo menos 1424 camponeses tombaram na luta pela terra. Assim como Moisés, morreram antes de conquistar a terra prometida, mas pela luta pela terra, como profetas, viram e experimentaram outra terra para além da terra prometida.

    0 http://musica.com.br/artistas/chico-buarque/m/morte-e-vida-severina/letra.html.

    0 http://www.landless-voices.org/vieira/archive05.phtml?rd=FLOWERIN035&ng=p&th=49&sc=1&se=0&cd=ARTINMOV039

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ADCT - Atos das Disposições Constitucionais Transitórias

    AGE - Advocacia Geral do Estado

    ALMG - Assembleia Legislativa do estado de Minas Gerais

    BH - Belo Horizonte

    CEBs – Comunidades Eclesiais de Base

    CEDEFES - Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva

    CIMI - Conselho Indigenista Missionário

    CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

    CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

    CF - Constituição Federal

    CPT – Comissão Pastoral da Terra

    CUT - Central Única dos Trabalhadores

    ENFF - Escola Nacional Florestan Fernandes

    EUA - Estados Unidos da América

    FPA - Frente Parlamentar da Agropecuária

    INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

    MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

    MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

    PA - Projeto de Assentamento

    PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

    PCB - Partido Comunista do Brasil

    PDA - Projeto de Desenvolvimento do Assentamento

    PEC - Proposta de Emenda Constitucional

    PROTERRA - Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste

    PT - Partido dos Trabalhadores

    PUC/RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

    RENAP - Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares

    STJ - Superior Tribunal de Justiça

    SR-06 - Superintendência Regional do INCRA de Minas Gerais

    SR-28 - Superintendência Regional do INCRA de Brasília e do Entorno

    STR - Sindicato de Trabalhadores Rurais

    TFP - Tradição, Família e Propriedade

    UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

    UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso

    UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

    URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

    PREFÁCIO

    Os livros: CPT e MST: E A (IN)JUSTIÇA AGRÁRIA? - Experiências de luta da CPT e do MST e, o outro:   LUTA PELA TERRA: PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA? Experiências de luta da CPT e do MST, são oriundos da tese: A LUTA PELA TERRA EM CONTEXTO DE INJUSTIÇA AGRÁRIA: PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA? Experiências de luta da CPT e do MST. Estes livros trazem questões sobre a experiência coletiva dos camponeses e das camponesas, além de serem dois excelentes textos que têm, também, como intencionalidade a aproximação com a prática política dos sujeitos pesquisados e, por isso, importantes para o debate sobre a luta pela terra que vem sendo travada pelos movimentos sociais, hoje, em Minas Gerais e em todo o Brasil.

    Antes de adentrar na especificidade dos dois livros e da importância que estes darão para o debate sobre terra, trabalho e movimentos sociais, por serem estes dois livros emergidos da base, cuja investigação nasceu do acompanhamento das lutas dos camponeses/as e dos/as trabalhadores/as no fortalecimento destas, sejam elas de permanência na terra ou pela própria existência da vida, é necessário falar do autor destas obras.

    Como sujeito comprometido com a essencialidade da vida humana, o autor assume como ação prática da/na vida a permanente luta em favor dos excluídos. Por isso, julgo importante evidenciar, divulgar e fazer chegar àqueles que estão na base da luta, a obra realizada por Frei Gilvander Luís Moreira, porque, seja na organização e mobilização dos/as trabalhadores/as e camponeses/as, seja na escrita da tese e nos livros aqui apresentados, essas são ações que fazem parte de sua vida, como aquele que está o tempo todo na luta, do lado dos oprimidos, seja no campo ou na cidade.

    Por isso, enxergo no seu trabalho com a escrita sobre os movimentos sociais, evidenciando-os nas suas buscas e percursos, também uma forma de luta. Ou seja, como o próprio autor fala, é preciso ter A escrita como arma de luta: Boca fechada não faz meu tipo. Considero que, desta forma, com um percurso de vida e de luta descritos em sua tese, o autor destaca que já se vão mais de três décadas nesta empreitada, e a escrita, ao longo desta temporalidade, esteve aos miúdos, mas sempre com o sentido de desvelar, escrevendo sobre e com os sujeitos, a potência e o significado que há no movimento das lutas populares. Para esse autor a luta é frenética, e, por vezes, às pressas e nos apuros do calor das lutas coletivas por direitos sociais" é necessário coragem para estar do lado dos oprimidos, por ser luta revolucionária.

    O desafio lançado e alcançado pelo autor foi concretizado, por ter realizado extensa pesquisa sobre espaços e experiências de luta em defesa da terra e dignidade para quem dela precisa para viver e produzir.

    Em seu percurso de vida e aproximação com os mais oprimidos, fatos e ações serão importantes para escrever a história da luta dos/as camponeses/as e contribuir para reescrever e ressignificar a história da própria classe trabalhadora. Boa leitura!

    Maria de Fátima Almeida Martins

    (Professora doutora da FAE/UFMG, orientadora da pesquisa de Tese de Gilvander Luís Moreira)

    APRESENTAÇÃO

    O livro de Gilvander Luís Moreira intitulado " LUTA PELA TERRA: PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA? Experiências de luta da CPT e do MST " é um texto importante no processo de luta pela terra no Brasil. Ele nasceu do desdobramento de sua tese de doutorado defendida na Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, que teve como orientadora a Profa. Dra. Maria de Fátima Almeida Martins.

    Esta tese do frei Gilvander inicia-se pelas palavras proféticas de Pedro Casaldáliga:

    [...] Malditas sejam

    todas as cercas!

    Malditas todas as

    propriedades privadas

    que nos privam

    de viver e de amar!

    Malditas sejam todas as leis,

    Amanhadas por umas poucas mãos

    Para ampararem cercas e bois

    e fazer a Terra, escrava

    e escravos os humanos! [...]

    DOM PEDRO CASALDÁLIGA

    E passa pelas palavras céleres deste Antonio Baiano, poeta do povo nas Minas Gerais e em Goiás:

    "Clamando pela posse da terra, no campo milhares estão.

    Esse grito está incomodando a quem sempre viveu da exploração.

    O QUE POSSO FAZER? O QUE TENHO A DIZER, MEU PAI? QUE SE FAÇA JUSTIÇA, REPARTAM AS TERRAS, PARTILHEM O PÃO ENTRE NÓS FILHOS TEUS!

    Não posso mais enumerar os mártires deste país.

    Na roça e também na cidade,

    só vê crueldade, correm rios de sangue.

    A quem serve a lei e o poder, a polícia e a Constituição?

    Assassinam sem piedade, permanecem impunes nesta nação.

    Passo a passo fazemos caminho, sempre em busca de organização.

    De mãos dadas sigamos em frente, formando a corrente pra libertação"

    ANTÔNIO BAIANO (ANTÔNIO PEREIRA DE ALMEIDA)

    (Música do CD Encanto pela terra, 1999)

    Assim, tomado pelas magistrais palavras de Pedro e de Baiano, o livro de Gilvander inicia-se e, como não poderia ser diferente, um livro, produto de uma tese de doutorado, escrito por um frei, somente poderia começar por estes caminhos. Caminhos, caminhando pelas trincheiras da vida. É esse o caminhar de frei Gilvander.

    Seu livro tem três capítulos. O primeiro versa sobre "Grandes obstáculos da luta pela terra em contexto de injustiça agrária; o segundo Questões conexas à luta pela terra e à práxis da CPT e do MST; e o terceiro, Por uma Pedagogia da emancipação humana da/na luta pela terra. Neles o frei Gilvander navega por mares nunca vistos. Mas navega pelo tema central da pesquisa. No primeiro capítulo, o autor discute o método da pesquisa realizada, nele fala de Marx e sua produção teórico-material nas suas condições históricas; da Propriedade capitalista da terra, a raiz maior da injustiça agrária e ‘DNA’ do capital?; do Ter terra é ter poder. Quem domina a terra domina as classes trabalhadora e camponesa; do Trabalho ‘livre’ assalariado e a produção de mais-valia: o tronco da exploração capitalista?; da A Renda da terra e a luta pela terra: quanto mais luta menos renda, e vice-versa; do Estado e oligarquias - aliança do atraso - e o controle da terra no Brasil; Poder político no Brasil: movimento pendular; Pilares da sociedade brasileira: a grande propriedade territorial e a escravatura (e, posteriormente, o regime de colonato) e atualmente, o agronegocinho; do Cativeiro da terra, condição para se abolir a escravatura negra e meio para ampliar a mais-valia; da Força de trabalho dos imigrantes reproduz e amplia a mais-valia dos capitalistas agrários; da Lei de Terras: no Brasil, compra; nos Estados Unidos, posse; da Luta pela terra como luta por democracia, contra o patriarcalismo e o verdeamarelismo; e, da Ideologia dominante, o que (o)corre no mais profundo das relações sociais: fetichismo e coisificação, galhos que circulam a ‘seiva’ do capital".

    No segundo capítulo, Gilvander traz à tona as "Questões conexas à luta pela terra e à práxis da CPT e do MST. Fala da emancipação humana a partir de Marx e de outros marxistas e compara Marx e Paulo Freire na luta pela terra. Depois, aborda a questão da função social da propriedade da terra, analisando-a como a coluna mestra da propriedade. Em seguida, para não negar que quem escrevia era um frei, tratou do ensinamento social da Igreja e fecha o capitulo com a Questão religiosa na luta pela terra: obstáculo à emancipação humana?".

    No terceiro capítulo, o autor aborda a conclusão da tese "Por uma Pedagogia da emancipação humana da/na luta pela terra. Neste último capítulo do livro, frei Gilvander, aborda de forma detalhada a educação política emancipatória"; afirma que "sem mística emancipatória não há luta pela terra emancipatória; lembra que A atuação das crianças Sem Terrinha fomenta emancipação humana; trata da dimensão ecológica da luta pela terra e conclui com a Utopia da luta pela terra".

    Dessa forma, cheio de vida e luta do campesinato, Gilvander termina, sem terminar de fato, seu livro. Este livro completa o anterior também oriundo da tese.

    Que suas luzes ascendam as muitas histórias de luta pela terra neste país.

    Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Geógrafo, Professor, Doutor - USP

    (Nestes dias friorentos do final do outono de 2021)

    SUMÁRIO

    Capa
    Folha de Rosto
    Créditos
    INTRODUÇÃO NECESSÁRIA
    CAPÍTULO 1. GRANDES OBSTÁCULOS DA LUTA PELA TERRA EM CONTEXTO DE INJUSTIÇA AGRÁRIA
    INTRODUÇÃO
    1.1. MARX E SUA PRODUÇÃO TEÓRICO-MATERIAL NAS SUAS CONDIÇÕES HISTÓRICAS
    1.2. PROPRIEDADE CAPITALISTA DA TERRA, A RAIZ MAIOR DA INJUSTIÇA AGRÁRIA E ‘DNA’ DO CAPITAL?
    1.3. TER TERRA É TER PODER. QUEM DOMINA A TERRA DOMINA AS CLASSES TRABALHADORA E CAMPONESA
    1.4. O TRABALHO ‘LIVRE’ ASSALARIADO E A PRODUÇÃO DE MAIS-VALIA: O TRONCO DA EXPLORAÇÃO CAPITALISTA?
    1.5. A RENDA DA TERRA E A LUTA PELA TERRA: QUANTO MAIS LUTA MENOS RENDA E VICE-VERSA
    1.6. ESTADO E OLIGARQUIAS - ALIANÇA DO ATRASO - E O CONTROLE DA TERRA NO BRASIL
    1.7. PODER POLÍTICO NO BRASIL: MOVIMENTO PENDULAR
    1.8. PILARES DA SOCIEDADE BRASILEIRA: A GRANDE PROPRIEDADE TERRITORIAL E A ESCRAVATURA (E, POSTERIORMENTE, O REGIME DE COLONATO) E, ATUALMENTE, O AGRONEGOCINHO
    1.9. CATIVEIRO DA TERRA, CONDIÇÃO PARA SE ABOLIR A ESCRAVATURA NEGRA E MEIO PARA AMPLIAR A MAIS-VALIA.
    1.10. FORÇA DE TRABALHO DOS IMIGRANTES REPRODUZ E AMPLIA A MAIS-VALIA DOS CAPITALISTAS AGRÁRIOS
    1.11. A LEI DE TERRAS: NO BRASIL, COMPRA; NOS ESTADOS UNIDOS, POSSE
    1.12. A LUTA PELA TERRA COMO LUTA POR DEMOCRACIA, CONTRA O PATRIARCALISMO E O VERDEAMARELISMO
    1.13. A IDEOLOGIA DOMINANTE, O QUE (O)CORRE NO MAIS PROFUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS: FETICHISMO E COISIFICAÇÃO, GALHOS QUE CIRCULAM A ‘SEIVA’ DO CAPITAL
    CONCLUSÃO PARCIAL
    CAPÍTULO 2. QUESTÕES CONEXAS À LUTA PELA TERRA E À PRÁXIS DA CPT E DO MST
    INTRODUÇÃO
    2.1. A EMANCIPAÇÃO HUMANA SEGUNDO MARX E ALGUNS MARXISTAS
    2.2. PAULO FREIRE E MARX NA LUTA PELA TERRA
    2.3 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE DA TERRA: COLUNA MESTRA DA PROPRIEDADE
    2.4. O ENSINAMENTO SOCIAL DA IGREJA E A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE DA TERRA
    2.5. DRIBLES DO ESTADO, DO CAPITAL E DA CIÊNCIA PARA IMPEDIR O AVANÇO DA LUTA PELA TERRA
    2.6. QUESTÃO RELIGIOSA NA LUTA PELA TERRA: OBSTÁCULO À EMANCIPAÇÃO HUMANA?
    CAPÍTULO 3. POR UMA PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA DA/NA LUTA PELA TERRA
    INTRODUÇÃO
    3.1. POR UMA PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA
    3.2. EDUCAÇÃO POLÍTICA EMANCIPATÓRIA
    3.3. A CPT E O MST NA LUTA PELA TERRA: PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA?
    3.4. LUTA PELA TERRA, PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA?
    3.5. SEM MÍSTICA EMANCIPATÓRIA NÃO HÁ LUTA PELA TERRA EMANCIPATÓRIA
    3.6. A BÍBLIA TAMBÉM INSPIRA O POVO CAMPONÊS EM LUTAS EMANCIPATÓRIAS
    3.7. A ATUAÇÃO DAS CRIANÇAS SEM TERRINHA FOMENTA EMANCIPAÇÃO HUMANA
    3.8. ECONOMICISMO, NÃO!
    3.9. E A DIMENSÃO ECOLÓGICA DA LUTA PELA TERRA?
    3.10. OLHAR PARA ONDE E COMO?
    3.11. UTOPIA DA LUTA PELA TERRA
    CONSIDERAÇÕES FINAIS PARA CONTINUAR A PESQUISA ABERTA SOBRE A LUTA PELA TERRA ENQUANTO PEDAGOGIA DE EMANCIPAÇÃO HUMANA
    REFERÊNCIAS

    Landmarks

    Capa
    Folha de Rosto
    Página de Créditos
    Sumário
    Bibliografia

    INTRODUÇÃO NECESSÁRIA

    Nesta pesquisa de doutorado que virou dois livros, sendo o SEGUNDO este aqui, nos propomos a compreender que tipo de luta pela terra se torna, de fato, pedagogia e processo de emancipação humana. Na análise da questão serão explicitados os limites, os entraves e as potencialidades da luta pela terra em duas experiências específicas. Tentaremos identificar a centralidade da terra, como matriz emancipatória entendida como cultura, identidades coletivas e valores. Nessa esteira poderá ser reconhecida como pedagogia de emancipação humana – pedagogia marxista -, distinguindo-a de pedagogias que oprimem, as brutais.

    No final da segunda década do século XXI, o momento dramático que vivenciamos exige de nós uma compreensão acurada do que é e do potencial emancipatório da luta pela terra - transformação para melhor das condições históricas materiais objetivas para além do capital - , o que analisaremos adiante, não apenas da necessária continuidade da luta pela terra, mas principalmente como deve ser continuada tal luta para reacender esperanças e propostas gestadas por quem faz história com as próprias mãos, pois nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer (BENJAMIN, 2012, p. 12). Como quem busca decifrar os mistérios do que oprime, humilha, escraviza e mata camponeses e como alguém que cultiva esperança contra toda desesperança, buscamos nesta pesquisa compreender a luta pela terra como pedagogia de emancipação humana, mais do que emancipação política. A luta pela terra não se pode restringir, apenas e especificamente à luta pelo direito do acesso à terra; deve, isto sim, ser a luta contra quem está por trás da propriedade capitalista da terra, ou seja, o capital (OLIVEIRA, 2007, p. 67). Ciente de que não se consegue compreender a fundo um movimento social, se não se vive um pouco de suas razões e sentimentos (CALDART, 1987, p. 13), buscamos compreender como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), não sendo movimentos homogêneos, entre dezenas de outros movimentos camponeses, transformam processualmente na luta sem-terra em Sem Terra, novo sujeito social e político que, além de muitas mercadorias, produz pessoas humanizadas e humanizadoras, seres humanos que assumem coletivamente a condição de sujeitos de seu próprio destino, social e humano (CALDART, 2012, p. 23)².

    Marx termina o prefácio da obra Para a Crítica da Economia Política impondo uma exigência, fazendo analogia da ciência com o inferno, citando Dante Alighieri na Divina Comédia. "Na entrada para a Ciência – como na entrada do Inferno – é preciso impor a exigência: Qui si convien lasciare ogni sospetto / Ogni viltà convien che sia morta (Que aqui se afaste toda a suspeita / Que neste lugar se despreze toda a covardia.)" (MARX, 2005, p. 54). Nesse tom introduzimos esta pesquisa sobre a luta pela terra enquanto pedagogia de emancipação humana buscando superar suspeitas, dúvidas e covardias, sejam elas de qualquer origem, e para isso nos impomos uma exigência: buscar rigor científico nas razões profundas da luta pela terra como possibilidade de emancipação humana. Óbvio que não qualquer rigor e nem qualquer ciência.

    Se algum tipo de reforma agrária, a economicista, já foi feita no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, por que no Brasil não foi implementado, ainda, nenhum tipo de reforma agrária e muito menos revolução agrária? Como compreender isso? Incomodado, indignado e inconformado diante dessas questões, ciente de que no problema fundiário está o núcleo das dificuldades para que o País se modernize e se democratize (MARTINS, 1999, p. 12), resolvemos pesquisar a luta pela terra em Minas Gerais, como pedagogia de emancipação humana, na esperança de elaborar algo teórico-prático que sirva como um despertador e gerador de mais luta pela terra e, principalmente, com métodos que apontam no rumo de emancipação humana.

    Ciente de que uma sociedade não é apenas todos nós ou toda a população, mas assume diferentes identidades e características dependendo do espaço (América do Norte ou Latina, Ásia, África, Europa ou Oceania) e do tempo (a sociedade do século I, do século XVI ou a do século XX, ou ainda a da década de 1960 ou a atual), uma sociedade que gera barbárie e mais barbárie não existe simplesmente pela vontade dos latifundiários. Não basta condenar moralmente o latifúndio como sendo diabólico, satânico e injusto, mas é necessário desarticular as condições materiais objetivas que sustentam uma sociedade latifundiária. Em que medida a luta pela terra tem minado essas condições objetivas?

    Enquanto pedagogia de emancipação humana, a luta pela terra está em crise no contexto do agronegócio que campeia com monoculturas, uso indiscriminado de agrotóxicos, utilização de tecnologias de transnacionais, de última geração e aproveitamento de mão de obra em situação análoga à de escravidão? Esta questão será uma bússola na nossa pesquisa. Pressupomos que o agronegócio está em crise, pois, além de devorar energia e água, concentra terra e renda, provoca graves impactos ambientais, elimina empregos e não resolve a fome no mundo (LEROY, 2010, p. 293).

    Na luta pela terra há luta pela terra que escraviza e há outras formas de lutar pela terra que emancipa? Mais do que lutar pela terra ou para além dela, a CPT e o MST têm como questão fundamental: que tipo de luta pela terra continuar fazendo?

    Buscamos o chão concreto da mediação e, por isso, não queremos apenas produzir mais um discurso lógico, mas partir da terra para atingir o céu – céu aqui mesmo na terra -, partir das camponesas e dos camponeses, trabalhadoras e trabalhadores, mulheres e homens reais, de carne e osso, conforme afirmam Marx e Engels, em A ideologia alemã:

    A estrutura social e o Estado provêm constantemente do processo de vida de indivíduos determinados, mas desses indivíduos não como podem aparecer na imaginação própria ou alheia, mas sim tal como realmente são, quer dizer, tal como atuam, como produzem materialmente e, portanto, tal como desenvolvem suas atividades sob determinados limites, pressupostos e condições materiais, independentes de seu arbítrio (MARX; ENGELS, 2007, p. 93).

    Buscamos a lógica da transformação e do desenvolvimento da realidade, evidenciando o dinamismo da práxis transformadora da classe trabalhadora e do campesinato como sujeitos históricos. Assim, o materialismo histórico-dialético é ciência filosófica marxista que compreende sociologicamente o que caracterizam a vida da sociedade, sua evolução histórica e a prática social dos indivíduos, no desenvolvimento da humanidade, sempre como uma realidade material permeada de contradições, violência e exploração que moldam o jeito das pessoas pensarem e agirem, enquadrando-as geralmente dentro da ideologia dominante, que é imprescindível para a reprodução das relações sociais de superexploração. Criado por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), o materialismo histórico-dialético é uma perspectiva teórica, metodológica e analítica para compreender a dinâmica e as transformações da história e das sociedades humanas. O termo ‘materialismo’ diz respeito à condição material da existência humana, o termo ‘histórico’ parte do entendimento de que a compreensão da existência humana implica na apreensão de seus condicionantes históricos, e o termo ‘dialético’ tem como pressuposto o movimento da contradição produzida na própria história.

    Questões que temos que enfrentar: Como classes sociais diferentes, a classe trabalhadora e a classe camponesa, que estão sempre mudando, precisam se emancipar de quê, como e com quais armas/instrumentos? Será um processo longo e viável dentro das atuais relações contraditórias do capital que devasta o trabalho emancipatório e as trabalhadoras e os trabalhadores? Tomam de nós com uma pá aquilo que conquistamos suadamente com uma colher, diz Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST. Que condições concretas e objetivas precisam ser criadas, e como criá-las, para se superarem as formas produtivas do capital e se instalarem culturalmente ‘forças produtivas’ segundo os direitos sociais das trabalhadoras e dos trabalhadores da cidade e do campo? Não será a emancipação humana uma utopia sem base realizável? E, quais as mediações (condições específicas, ações concretas, táticas, estratégias etc.) para realizar a emancipação humana, social, política, econômica, cultural, religiosa e ecológica? Qual a força e a centralidade da luta pela terra no processo de transformação social? Esta é nossa questão primordial, ciente estamos de que ela para ser compreendida exigirá ser desdobrada em várias outras questões conexas.

    Não estamos analisando apenas a emancipação das pessoas no sentido individual que de sem-terra se tornam Sem Terra, mas investigamos emancipação humana que inclui, mas supera a emancipação política. Constatar pequenos processos emancipatórios na luta pela terra é menos difícil, conforme demonstra Darlan Faccin Weide:

    As lutas sociais do campo trazem modificações na estrutura social e nos próprios camponeses nelas envolvidos, facilitando o processo de emancipação

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