O Grande Sertão: Tempo, Memória e Linguagem
()
About this ebook
A proposta é estudar e analisar o sertão que corresponde ao desvelamento da condição humana, observando-o como espaço existencial de construção da linguagem, na medida em que o narrar se revela como rememoração que busca o sentido do ser através da ontologia existencial.
Riobaldo, ao narrar a travessia do rio São Francisco, passa a organizar melhor as lembranças em sua mente, como em um ritual iniciático à sua vida. Nós estamos sempre nos transformando, manifestando um vir- a - ser plenamente em nossa personalidade.
Related to O Grande Sertão
Related ebooks
Lobato na Escola - Livro I: Roteiro de leitura da obra infantil e juvenil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLabirinto da palavra Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO resto do sertão: história e modernidade em grande sertão veredas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHidrelétricas e Povos Indígenas: O Caso Apucaraninha -: Volume I - A EELSA e a Eletricidade para a Pequena Londres e Região Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsConvém sonhar Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTextos Da China Antiga Vol.1 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMar Del Plata Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Mondego Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQue eu seja a última: Minha história de cárcere e luta contra o Estado Islâmico Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCarta da Companhia de Jesus para o seráfico São Francisco Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA LUZ QUE SE APAGOU - Rudyard Kipling Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAlice No País Das Maravilhas E O Limiar Entre Loucura Sã E Sanidade Patológica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPopulação, recursos materiais e geopolítica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsRomance Contemporâneo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsComportamento Que Te Salva Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm monarquista nas repúblicas: A diplomacia de Francisco Adolfo de Varnhagen nas Repúblicas do Pacífico, 1863-1867 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDiáspora africana na Índia: Sobre castas, raças e lutas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHistória do acre para Ensino Médio, Enem e Concursos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsOs Povos Indígenas e os Sertões das Minas do Ouro no Século XVIII Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSéculo Xix Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsÍndex Platônico: Obra Completa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO livro do Tao e da virtude: Edição bilíngue Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO burro carregado de sal Rating: 0 out of 5 stars0 ratings100 nomes da edição no Brasil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsVozes do exílio e suas manifestações nas narrativas de Julio Cortázar e Marta Traba Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEscrita da História e construção do regional na obra de Arthur Reis Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMad Maria Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFronteiras em movimento Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMestres da Poesia - Olavo Bilac Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHy Brasil: a construção de uma nação Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Philosophy For You
O Livro Proibido Dos Bruxos Rating: 3 out of 5 stars3/5O Príncipe: Texto Integral Rating: 4 out of 5 stars4/5Em Busca Da Tranquilidade Interior Rating: 5 out of 5 stars5/5Poder & Manipulação: Como entender o mundo em vinte lições extraídas de "O Príncipe", de Maquiavel Rating: 5 out of 5 stars5/5Tudo Depende de Como Você Vê: É no olhar que tudo começa Rating: 5 out of 5 stars5/5Tesão de viver: Sobre alegria, esperança & morte Rating: 4 out of 5 stars4/5Entre a ordem e o caos: compreendendo Jordan Peterson Rating: 5 out of 5 stars5/5Sociedades Secretas E Magia Rating: 5 out of 5 stars5/5A história da filosofia para quem tem pressa: Dos pré-socráticos aos tempos modernos em 200 páginas! Rating: 5 out of 5 stars5/5PLATÃO: O Mito da Caverna Rating: 5 out of 5 stars5/5TAO TE CHING - Lao Tse: O Livro do Caminho e da Virtude Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPolítica: Para não ser idiota Rating: 4 out of 5 stars4/5A ARTE DE TER RAZÃO: 38 Estratégias para vencer qualquer debate Rating: 5 out of 5 stars5/5Aristóteles: Retórica Rating: 4 out of 5 stars4/5Minutos de Sabedoria Rating: 5 out of 5 stars5/5Platão: A República Rating: 4 out of 5 stars4/5Além do Bem e do Mal Rating: 5 out of 5 stars5/5Ética e vergonha na cara! Rating: 5 out of 5 stars5/5Disciplina: Auto Disciplina, Confiança, Autoestima e Desenvolvimento Pessoal Rating: 5 out of 5 stars5/5Baralho Cigano Rating: 3 out of 5 stars3/5Sobre a brevidade da vida Rating: 4 out of 5 stars4/5Você é ansioso? Rating: 4 out of 5 stars4/5Schopenhauer, seus provérbios e pensamentos Rating: 5 out of 5 stars5/5A voz do silêncio Rating: 5 out of 5 stars5/5Viver, a que se destina? Rating: 4 out of 5 stars4/5
Reviews for O Grande Sertão
0 ratings0 reviews
Book preview
O Grande Sertão - Wcleverson Silva Batista
CAPÍTULO I - MEMÓRIA, TEMPO E LINGUAGEM EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Grande sertão: veredas é constituído do início ao fim pelo relato das memórias do personagem narrador e protagonista Riobaldo. A memória que expressaremos aqui podem ser entendidas como o relato do percurso da vida de Riobaldo; os acontecimentos de sua jornada, como seus questionamentos subjetivos sobre a vida, a morte, o medo, a existência de Deus e do Demo
. A existência de Riobaldo totaliza-se como viagem acabada, mas que necessita ser relatada para que se perceba o seu sentido e seu lugar no mundo. Assim, desde que o homem pensa para viver, a pergunta sobre o seu lugar no mundo tornou-se umas das mais importantes, e em relação a essa pergunta todas as outras se tornaram secundárias.
A travessia do sertão e das coisas, que é a descoberta do mundo e de nós mesmos (O sertão tematiza o mundo e a travessia), produz uma aprendizagem da vida enquanto se vive, é o que Riobaldo, como narrador-personagem, recolheu na sua memória e que recompõe, dificultosamente, refletindo de maneira interrogativa acerca do sentido da ação consumada, do tempo transcorrido. Sua recordação não serve apenas para recuperar a lembrança do passado, ela o leva ao fundo de si mesmo, ao dúbio conhecimento do que foi e daquilo que se tornou, em meio ao vago entendimento do que poderia ter sido.
1.1 A MEMÓRIA
A memória, como característica da condição humana, alimenta-se do tempo decorrido, que depende dela para poder permanecer. É por meio da relação do indivíduo com o tempo que ocorre a construção da memória, faculdade que nos permite conservar e lembrar estados de consciência passados e tudo o que se associe a eles. A lembrança, que conserva aquilo que se foi e não retornará mais, é, pois, a nossa primeira experiência com o tempo. Ela é a sólida garantia da nossa identidade, permitindo-nos dizer e reunir tudo o que fomos e fizemos o que somos e fazemos.
Além de permitir uma espécie de atualização do passado, a memória registra também, segundo a filósofa brasileira Marilena Chauí, o presente para que permaneça como lembrança. Como consciência dessa diferença temporal – passado, presente e futuro –, a memória é uma forma de percepção interna, cujo objeto é interior ao sujeito: as coisas passadas lembradas, o próprio passado do sujeito e o passado registrado ou relatado por outros, em narrativas orais e escritas. Além dessa dimensão pessoal e introspectiva (interior), a memória também possui uma dimensão coletiva e social, ou seja, ela está gravada nos monumentos, documentos e relatos da História de uma sociedade.
Deste modo, a memória revela uma das formas fundamentais da existência humana, que é a relação com o tempo e, no tempo, com aquilo que é invisível, ausente e distante, isto é, o passado. Ela é o que confere sentido ao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo fazer parte dele) e do futuro (mas permitindo esperá-lo e compreendê-lo). Nota-se que a memória é inseparável do sentimento do tempo, ou da sua percepção/experiência, como algo que escoa ou passa, seja o tempo físico ou interior.
Para alguns estudiosos, a memória seria apenas um fato biológico, ou seja, um modo de funcionamento das células do cérebro que registram e gravam percepções e ideias, gestos e palavras. Contudo, se a memória fosse mero registro cerebral, como explicaríamos, no fenômeno da lembrança, que o que selecionamos e lembramos possui aspectos afetivos, sentimentais e valorativos? Tais questionamentos não eliminam a evidência de que haja componentes biológicos, fisiológicos e cerebrais na memória, pois estudos científicos mostram o papel de algumas substâncias químicas na produção e conservação dela. O que se tenta demonstrar é que os aspectos químicos e biológicos apontados pela pensadora contemporânea Marilena Chauí, não dão conta de explicar todo o fenômeno, isto é, a memória como forma de conhecimento e de componente afetivo de nossa vida.
1.2 MEMÓRIA: CONSERVAÇÃO DO PASSADO
Teorias modernas da memória, como a dos filósofos Leibniz, Bergson e Husserl, também a veem como conservação do passado, o que retoma a concepção agostiniana do tempo como duração de consciência. Tais teorias afirmam que, na memória, há a conservação integral do espírito por parte de si próprio, ou seja, a persistência nele de todas as suas ações e afeições, de todas as suas manifestações ou modos de ser. Na forma de virtualidade ou faculdade, a memória pode conservar integralmente todo o ato ou manifestação do espírito, já que ele é justamente essa autoconservação. Essa concepção de memória, que é considerada pela filosofia como espiritualista ou consciencialista, encontra sua melhor exposição na obra publicada em 1896, do filósofo francês Bergson, Matéria e memória