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Pedagogia Jurídica: contribuições do pedagogo em Varas de Infância e Juventude
Pedagogia Jurídica: contribuições do pedagogo em Varas de Infância e Juventude
Pedagogia Jurídica: contribuições do pedagogo em Varas de Infância e Juventude
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Pedagogia Jurídica: contribuições do pedagogo em Varas de Infância e Juventude

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Você deve estar se perguntando: O que é Pedagogia Jurídica? O que faz um pedagogo no Judiciário?
É natural o questionamento, uma vez que historicamente consolidou-se, até mesmo entre os próprios pedagogos, o entendimento de que esse profissional é o professor da educação básica e seu domínio se restringe aos processos de ensino-aprendizagem e ao ambiente escolar.
Contudo, a Pedagogia, enquanto ciência da educação, tem sido requisitada pela sociedade contemporânea a contribuir para o Judiciário. Inovação para o campo do conhecimento da Pedagogia e também para a instituição.
Visando compreender essa trajetória, a autora recorre aos aspectos históricos e epistemológicos da Pedagogia como um princípio norteador, apresenta um estado da arte sobre o conhecimento produzido acerca da Pedagogia Jurídica e a movimentação dos sujeitos. Percorre, também, a historicidade acerca da infância e da adolescência, assim como os marcos e conquistas dos direitos de crianças e adolescentes e sua interlocução com a Pedagogia.
Após contextualizar a inserção dos pedagogos no Judiciário brasileiro e sua atuação em equipes interprofissionais das Varas de Infância e Juventude, evidencia a realidade do Estado de Goiás caracterizando as demandas e as especificidades das atribuições dos pedagogos no assessoramento técnico aos magistrados. Em uma síntese provisória, a autora finaliza apontando o que considera as principais contribuições da Pedagogia nas Varas de Infância e Juventude.
LanguagePortuguês
Release dateJul 30, 2021
ISBN9786525209159
Pedagogia Jurídica: contribuições do pedagogo em Varas de Infância e Juventude

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    Book preview

    Pedagogia Jurídica - Cyntia A. de Araújo Bernardes

    capaExpedienteRostoCréditos

    Dedico essa obra, primeiramente à minha mãezinha Nira, pelo apoio, amor, carinho e pelas renúncias que teve de fazer para garantir educação para seus filhos e perpetuar o valor da educação em nossas vidas.

    Ao meu esposo Elison, pelo amor e apoio incondicional.

    Aos meus filhos Antônio e Letícia. Vocês me motivam e me inspiram a buscar ser uma pessoa melhor todos os dias!

    A todas as pessoas que poderão ser alcançadas e mobilizadas pelo conhecimento aqui produzido.

    A todas as crianças e adolescentes, em especial aquelas que têm ou tiveram seus direitos violados, razão maior para a produção deste livro.

    O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não a de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história"

    -PAULO FREIRE-

    PREFÁCIO

    Passados 82 anos de sua institucionalização no âmbito da universidade brasileira, continuamos a nos perguntar sobre o que é a Pedagogia, qual a finalidade formativa do curso que possui tal nomenclatura e o que faz o/a profissional dele egresso/a. Tratam-se de indagações reveladoras de uma trajetória complexa de construção das bases identitárias da Pedagogia como campo epistêmico, curso e profissão no Brasil. Apesar de fundamentalmente importantes na estruturação do debate sobre o que pode ser a Pedagogia nessa sua tríplice constituição, em um contexto social atravessado por desafios históricos de efetivação do Direito à Educação, não estão centralmente situadas nas agendas de pesquisa e representação acadêmica em nosso país. A propósito, faz-se necessário ressaltar que, em uma sociedade de redes educativas, o Direito à Educação é entendido como acesso, permanência e garantia de aprendizagem em instituições escolares, mas, também, como inserção em experiências civilizatórias de desenvolvimento humano integral para participação ativa e cidadã na dinâmica de uma sociedade democrática, refletindo o paradigma de educação ao longo de toda a vida.

    A partir do exame da configuração do campo disciplinar da Pedagogia no Brasil podemos posicionar algumas razões explicativas quanto à ausência de centralidade de tais questões em nosso país. A condição de tutela da Pedagogia a outros campos de conhecimento parece cristalizada na universidade brasileira, de modo que sua especificidade como Ciência da Educação ora é confrontada, ora desconsiderada, ora deliberadamente negada.

    Obviamente, na configuração do seu objeto de saber – a educação como prática social – a Pedagogia dialoga com diferentes aportes de ciências que, em maior ou menor medida, contemplam dimensões do fenômeno educacional. O amadurecimento do debate epistemológico sobre a cientificidade das Ciências Humanas e Sociais leva-nos a reconhecer que os fenômenos inscritos nesse amplo campo são multirreferenciais por natureza, circunstância que exige das disciplinas acadêmicas a construção de diferentes conexões teóricas e metodológicas. Nesse sentido, a Pedagogia colabora com outras áreas e, ao mesmo tempo, mobiliza referenciais nelas constituídos, a fim de produzir um enfoque complexo sobre sujeitos, processos, contextos e mediações educativas. Aliás, nenhuma ciência pode se privar de diálogos interdisciplinares, fixando ao redor de si fronteiras herméticas.

    Entretanto, tais conexões não retiram da Pedagogia sua condição de ciência ou enfraquecem sua autonomia disciplinar relativa, uma vez que sua especificidade reside no caráter práxico, ou seja, de ciência da e para a educação. Enquanto diferentes ciências alcançam, a partir de suas matrizes epistemológicas, dimensões isoladas do fenômeno educacional, a Pedagogia insere-se na prática, cuja complexidade não se resume a nenhuma matriz em particular, produzindo e integrando saberes que se traduzem como formas de qualificar o pensar e o agir educativos. A Pedagogia produz um saber engajado com a transformação das práticas, visando capacitar educadores/as para enfrentarem circunstâncias de desumanização que operam cada vez mais intensamente em uma sociedade neoliberal.

    É preciso reconhecer que, no Brasil, o debate sobre a identidade epistemológica da Pedagogia não está instalado firmemente, e isso colabora para que seja reduzida à nomenclatura de um curso que, nesse momento, em função de consensos costurados por associações que, infelizmente, mesmo assumindo concepções progressistas de educação, escantearam, em suas pautas, a referência epistemológica e promoveram a noção de docência como base da formação de pedagogos/as. Se a Pedagogia é a Ciência da Educação e a educação, como prática social, ocorre em diferentes espaços e tempos, o que justifica a centralidade da formação de professores/as no curso de Pedagogia e uma representação restritiva do pedagógico como tecnologia da docência? A questão está, portanto, mal enfrentada e mal resolvida e, por isso, posicionamos a necessidade do debate epistemológico articulado ao formativo e profissional. Na tradição de organização curricular dos cursos de Pedagogia no Brasil sequer há clareza do conteúdo substancial do campo pedagógico, basta considerar que não há componentes sobre Pedagogia no curso homônimo. É preciso que o curso de Pedagogia estude a Pedagogia. Em um campo/curso com uma aguda crise identitária, esse não é um esforço trivial.

    Quando a especificidade da Pedagogia como Ciência da Educação não é assumida, o reconhecimento de movimentos de reinvenção da profissão de pedagogo/a que decorre de descolamentos para diferentes campos é prejudicado por imagens identitárias que fixam o fazer pedagógico, especialmente, nas escolas e, de forma ainda mais restrita, nas salas de aula de crianças. Por onde a Pedagogia, como profissão, tem se movido? Que novos cenários se desenham para a atuação de pedagogos/as? Que saberes se constroem e/ou são demandados nesses novos cenários? Essas são indagações que professores/as e estudantes do curso de Pedagogia precisam se fazer para construirmos um sentido histórico sobre os desafios do campo pedagógico que acolha as especificidades do contexto contemporâneo em que práticas pedagógicas institucionalizadas em diferentes espaços têm se ampliado. Uma das especialidades que traduzem saberes e práticas pedagógicas no campo não escolar tem sido denominada, no Brasil, de Pedagogia Jurídica. É sobre essa especialidade que o presente livro discorre.

    Na busca por um horizonte teórico-metodológico que dê lugar a essa Pedagogia, uma autêntica Pedagogia presentificada, no sentido de constituir-se como uma especialidade sensível às intencionalidades que perpassam o trabalho de pedagogos/as no Poder Judiciário, este livro, assim como outros registros acadêmicos que começam a se desenvolver e ganhar visibilidade, contribui para a reflexão em torno dos saberes e práticas mobilizadas por esses/as profissionais.

    Como um campo em processo de sistematização conceitual, o reconhecimento e a visibilidade da Pedagogia Jurídica nos planos acadêmico e profissional se associam a um processo de teorização da prática. Tal processo deve ser guiado por algumas premissas fundamentais: para ser fonte de produção de saberes, as práticas devem transgredir a representação que as dispõem como simples aplicação de técnicas ou protocolos; os/as pedagogos/as jurídicos/as devem estar implicados/as, individual e coletivamente, na reflexão sistemática sobre seus saberes-fazeres, produzindo um sentido de legitimidade para a expertise que a Pedagogia possui no trabalho das equipes interprofissionais; o intercâmbio de experiências e saberes em redes interinstitucionais, incluindo os espaços acadêmicos, permitirá a construção de agendas investigativas mobilizadoras de diferentes olhares e atores, inclusive docentes do próprio curso de Pedagogia e dos Programas de Pós-Graduação em Educação.

    Este livro certamente fomentará discussões que se inscrevem nesse esforço de sistematização conceitual da Pedagogia Jurídica. Com base em uma perspectiva progressista e crítica de educação, explicita a importância de respaldo pedagógico de processos institucionais de tomada de decisões, pelo Poder Judiciário, orientadas para a promoção do desenvolvimento humano e participação social como expressão de uma noção ampliada de Direito à Educação. Nesse sentido, a Pedagogia Jurídica aporta ao Estado Brasileiro: 1) o fortalecimento das pautas de defesa e promoção do Direito à Educação e ao desenvolvimento integral (dimensão da educação como objeto da Justiça); 2) uma maior expressão do fazer pedagógico dos organismos do Poder Judiciário (dimensão da justiça educadora). A Pedagogia Jurídica é, portanto, necessária.

    Se a trajetória da Pedagogia e da profissão de pedagogo/a, no caso brasileiro, centralizou o processo escolar na sua constituição por razões históricas de reconhecimento da necessidade de formação de professores/as para as infâncias em nível superior, a clareza de que a história é dinâmica deve nos sensibilizar a pensar nos movimentos que puseram a Pedagogia em ação para além das escolas. A escolarização é uma faceta estruturante do Direito à Educação e, em um país que, ao longo do tempo, tem perpetuado desigualdades sociais que se refletem em discrepâncias de acesso e permanência de estudantes nas escolas, é uma condição civilizatória. Por outro lado, o reconhecimento da complexificação das experiências de socialização na contemporaneidade leva-nos a pensar que a escola cumpre finalidades específicas e que, cada vez mais claramente, outras formas institucionalizadas de educação não escolar criam e recriam o sentido de Pedagogia.

    Poderemos, como pedagogas e pedagogos, jurídicos/as ou não, contribuir com o reposicionamento da Pedagogia como campo, curso e profissão em um momento da nossa história que desafia o pensar e o agir educativos de natureza crítico-progressista. Que a Pedagogia Jurídica estenda, para os seus espaços, os comprometimentos ético-políticos da Ciência Pedagógica em seu envolvimento em um projeto de superação de desigualdades e construção de uma sociedade justa e plural. Que a leitura deste livro provoque, mobilize e amplie o que pensamos ser possível fazer, pedagogicamente, no âmbito do Poder Judiciário, na busca por alternativas para defender, promover e garantir direitos e consolidar a democracia.

    Prof. Dr. José Leonardo Rolim De Lima Severo

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeço a Deus, pelo seu amor, amparo e proteção de sempre. Não tenho dúvidas de que só foi possível essa publicação porque Ele permitiu e possibilitou que tudo fosse encaminhado da melhor forma.

    À minha família pelo apoio incondicional e a quem dedico essa obra.

    Aos professores que se dedicaram à profissão e me incentivaram durante minha formação acadêmica. Vocês são inspiração e exemplos de humanidade e de educadores. Suas práxis educativas influenciaram, e ainda influenciam, a minha própria práxis no contexto do Judiciário.

    Ao professor Ms. Marco Antônio de Santana, pela orientação da pesquisa da qual trata esse livro.

    Às minhas lideranças Maria Nilva F. S. Moreira e Ana Paula O. Xavier, assim como à Tatiana R. Freire Franco, verdadeiras companheiras de jornada, amigas e maiores motivadoras para que eu produzisse e compartilhasse com meus colegas pedagogos o conhecimento que venho construindo, por meio dessa publicação. Obrigada a vocês pelo acolhimento, desde o princípio, e por tudo que construímos até aqui enquanto equipe interprofissional e também como seres humanos em constante transformação e desenvolvimento. Aprendo e cresço muito com vocês!

    Aos magistrados e servidores entusiastas pela inserção de pedagogos no Judiciário, minha gratidão pelo acolhimento, voto de confiança e parceria a nós oferecidos no desbravamento deste novo campo.

    Ao Tribunal de Justiça de Goiás, em especial à Corregedoria-Geral da Justiça, minha casa profissional, agradeço pelas possibilidades e oportunidades a mim ofertadas de exercício da minha profissão, qualificação e crescimento constante, principalmente por terem autorizado a realização dessa pesquisa e abraçado o projeto de sediar e viabilizar junto à Escola Judicial de Goiás, a realização do I Encontro Nacional de Pedagogia Jurídica do país, em 2018, nas pessoas do Desembargador Dr. Walter Carlos Lemes e da Magistrada Dra. Sirlei Martins da Costa, Juíza Auxiliar e Coordenadora da Divisão Interprofissional Forense e CEJAI à época.

    Às pedagogas e pedagogos jurídicas (os), colegas que atuam nos diversos Tribunais do país, agradeço a partilha e parceria na luta e constituição do campo da Pedagogia Jurídica, em especial e nas pessoas das queridas Simony Freitas, Gidair Lopes, Pedro Rodrigo da Silva e Mirelly Shirleide Praseres da Silva, pelo pioneirismo na produção sobre o tema, contribuições, influência, exemplo e motivação contínua nesse processo.

    Meu encontro com a Pedagogia Jurídica…

    É minha disponibilidade permanente à vida a que me entrego de corpo inteiro, pensar crítico, emoção, curiosidade, desejo, que vou aprendendo a ser eu mesmo em minha relação com o contrário de mim. E quanto mais me dou à experiência de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto melhor me conheço e construo o meu perfil. (FREIRE, 1996, p. 142)

    Há muito essas palavras e outras de Paulo Freire me acompanham e têm sido base para a minha caminhada profissional como pedagoga. Marcada por seus ideais, eu busquei trilhar meus percursos, entregando-me ao pensar crítico, à curiosidade, ao desejo de aprender e ensinar, à emoção que permeia as relações, buscando construir significados que pudessem auxiliar na construção do meu ser, enquanto educadora.

    Os caminhos formativos e profissionais que percorri propiciaram a percepção de mim mesma no mundo, com o mundo e com os outros, buscando inserir-me e colocando-me na posição de quem luta para ser sujeito da história (FREIRE, 1996), guiada pelo desejo de transformar a realidade.

    Minhas vivências e meu discurso estão preenchidos e afetados pelo outro ou outros, com os quais me relacionei ou me relaciono, pelos livros que li, os lugares por onde passei, trabalhei, e tantas outras pessoas, lugares, leituras e experiências que talvez nem me lembre, mas que, de alguma forma, mediaram a construção do que penso, escrevo, falo e faço.

    E, nesse processo, eu e a Pedagogia nos encontramos. Graduei-me em 2008, mas desde antes da escolha pelo curso, as problemáticas da educação já me acionavam a reflexão e o desejo de conhecer mais, de fazer mais. Com uma história marcada pelo valor que a educação tem na vida das pessoas, eu assisti e assisto, vivi e vivo o seu potencial transformador. Experiência essa que impactou a minha opção pela formação profissional em Pedagogia, permeada pelas minhas esperanças e utopias (latentes até hoje), sempre vislumbrando a educação em sua acepção mais ampla.

    Constituí-me pedagoga, predominantemente, no espaço escolar, mas também fora dele. Experimentei a educação especial, a educação para o trabalho, usualmente denominada pedagogia empresarial, e também a educação escolar em variados níveis do ensino regular. Ainda durante a graduação, busquei inserir-me em todas as possibilidades que me foram propiciadas por meio de estágios não obrigatórios e estudos sobre temáticas que me incomodavam desde muito cedo, em especial a questão inclusão/exclusão.

    Minha primeira experiência como professora foi com adolescentes fora do fluxo série/idade, os conhecidos como atrasados ou multirrepetentes, dentro da estrutura de seriação escolar daquela época. As marcas da exclusão, por meio de rótulos, a rejeição de colegas de outras turmas e da própria escola expressavam também a exclusão social que vivenciavam, e que se mostrou severa naqueles sujeitos e em outros com os quais convivi em minha caminhada como docente, tanto na educação infantil quanto no ensino fundamental, todas em escolas públicas. Essas e outras constituíram-se em experiências ímpares e determinantes na minha formação acadêmica, profissional e humana.

    A identificação com as questões que envolviam os processos de inclusão/exclusão da e na escola, assim como a defesa de uma perspectiva de inclusão como direito humano de acesso à educação de qualidade e permanência na escola sempre me acompanharam. Desse modo, tais experiências aproximaram-me e sensibilizaram-me progressivamente das problemáticas imanentes à educação, à infância, às concepções pedagógicas e, mais recentemente, à proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

    A produção da dissertação de mestrado me possibilitou estruturar o conhecimento acerca das concepções pedagógicas e concepções de formação de professores, posicionando-me em favor de um ideário pedagógico emancipatório, em defesa de uma educação que, para além de um processo instrucional, tem como sentido ontológico a humanização (FREIRE, 1996; 2005). E, possibilitada por meio de processos educativos emancipatórios, visa a um modo de ser caracterizado pela qualidade existencial e pela condição de sujeito autônomo (BERNARDES, 2013, p.185).

    Assim, construí um posicionamento político-ideológico em favor das classes populares e minorias historicamente desfavorecidas e excluídas, defendendo e buscando construir uma práxis, individual e coletiva, contra qualquer forma de degradação humana, em defesa de uma educação que possibilite aos educandos a consciência de si e do outro como sujeitos (históricos, políticos, sociais e culturais) (FREIRE, 2005; SEVERINO, 2001; BERNARDES, 2013).

    Nessa perspectiva, a construção do meu perfil enquanto pedagoga conduziu-me ao encontro com o Judiciário. E, embora não tenha sido planejada ou intencionada durante meu percurso formativo, também não foi por obra do acaso. Antes, veio ao encontro das minhas aspirações iniciais, pautadas na compreensão da Pedagogia enquanto ciência da educação e dessa como processo global de formação humana (SEVERO; PIMENTA, 2015. p.489), além do vislumbre de sua contribuição social em espaços institucionais extramuros da escola.

    Em 2015, quando fui aprovada em concurso público no Poder Judiciário do Estado de Goiás, passei a integrar o rol das primeiras pedagogas a atuarem em equipes interprofissionais forenses¹ no estado, um métier diferente do escolar e com o qual eu e minhas colegas não estávamos ambientadas. O desafio estava posto! Passei a ocupar, juntamente com as outras pedagogas aprovadas, um lugar que nós e a própria instituição ainda estávamos por descobrir e conhecer.

    Desde então, ocupamos o lugar de sujeitos da história da Pedagogia Jurídica. Estamos ainda a construir esse locus de atuação do pedagogo no caminhar. As respostas têm sido produzidas na relação teoria e prática e, retomando as palavras de Freire (1996), na entrega a essa experiência sem medo e sem preconceito com as diferenças, vamos desbravando o campo², constituindo nossa profissionalidade³, o nosso perfil enquanto pedagogas jurídicas.

    Logo, somadas às inquietações pregressas, a realidade em tela foi propulsora para um aprofundamento necessário no sentido de apropriar-me dos conteúdos específicos relativos às funções que nos foram atribuídas. Foi quando me inseri na Pós-graduação em Ensino Interdisciplinar em Infância e Direitos Humanos, da Universidade Federal de Goiás – Catalão.

    No movimento de investigação próprio da Pós-Graduação lato sensu, realizei a pesquisa que aqui apresento, orientada pelo Prof. Ms. Marco Antônio de Santana, cuja síntese encontra-se reorganizada neste livro, na busca por respostas às indagações que estavam postas a nós, pedagogos e pedagogas, pelos pares de outras áreas do conhecimento e até mesmo pela própria instituição: Como nós, pedagogas, podemos contribuir para o trabalho técnico em equipes interprofissionais forenses? O que o campo da Pedagogia tem a oferecer para a atuação da função jurisdicional conferida ao Estado, especialmente, quando se trata da área da Infância e Juventude? Onde os campos do Direito e da Pedagogia se encontram? Esses e outros questionamentos foram o mote para a construção do problema da pesquisa.

    Porém, antes de explicitá-lo, apresento algumas explanações introdutórias sobre a inserção dos pedagogos nos quadros de servidores públicos do Poder Judiciário, especificamente em Varas de Infância e Juventude e sobre os aspectos metodológicos que envolveram e conduziram a pesquisa em questão.


    1 O termo forense é utilizado para designar aquilo que é

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