Anorexia e Bulimia: Conversando com as famílias
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Book preview
Anorexia e Bulimia - Laura Vilela e Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Souza, Laura Vilela e Anorexia e bulimia : conversando com as famílias / Laura Vilela e Souza, Manoel Antônio dos Santos. -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor, 2007.
Bibliografia.
1. Anorexia - Obras de divulgação 2. Bulimia - Obras de divulgação I. Santos, Manoel Antônio dos. II. Título.
07-9180 | CDD-616.8526 | NLM-WM 172
Índices para catálogo sistemático:
1. Anorexia e bulimia : Transtornos de alimentação : Medicina 616.8526 2. Bulimia e anorexia : Transtornos de alimentação : Medicina 616.8526
ISBN: 978-65-89914-09-9
CONSELHO EDITORIAL
CEO - Diretor Executivo
Ricardo Mattos
Gerente de produtos e pesquisa
Cristiano Esteves
Coordenador de Livros
Wagner Freitas
Diagramação
Tânia Menini
Capa
Marcelo Moscheta
Revisão
Vetor Editora
© 2007 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer
meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito
dos editores.
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Apresentação
1. A abordagem construcionista social
1.1. A construção da doença
1.2 A família no contexto dos transtornos alimentares
1.3 o grupo como uma construção social
2. O delineamento da pesquisa
2.1 Objetivos
2.2 Marco teórico
2.3 O contexto de realização do estudo
2.4 descrição do grupo de apoio aos familiares
2.5 Cuidados éticos
2.6 As estratégias de coleta de dados
2.7 Estratégias de sistematização e Análise dos dados
3. A descrição dos participantes
4. Conversando com as famílias
Sessão selecionada do grupo de apoio psicológico
4.1 A apresentação dos participantes: os sentidos de estar no grupo
4.2 Os sem-esperança
e os fortalecidos
: a construção da diferença no grupo
4.3 Somos iguais e diferentes
: o reconhecimento de semelhanças e desigualdades entre os participantes
4.4 Você é caçula, do meio ou adulto?
: os diferentes lugares no grupo
4.5 O grupo para quê? A compreensão dos sentidos doados para o espaço grupal
4.6 Somos colegas nesse ponto também
: a construção da possibilidade de continuarem juntos
5. Considerações finais
Referências bibliográficas
Apêndices
Apêndice A
Apêndice B
Apêndice C
Sobre os autores
A todos os familiares que estiveram presentes no grupo de apoio estudado, pela generosidade de compartilharem conosco sua arte de tecerem sempre novos sentidos.
Agradecimentos
Um agradecimento especial ao professor Manoel Antônio dos Santos, pelo convite para percorrermos juntos esse caminho, por sua confiança em minhas possibilidades profissionais e de pesquisa, por abrir portas e janelas ao longo desse tempo de parceria e por continuar acreditando em meus sonhos e invenções.
Aos meus pais, Ignácio Eduardo dos Santos e Souza e Maria Andréia Rossi Vilela e Souza e minha irmã Paula Vilela e Souza pelo apoio, incentivo e investimento nessa empreitada. Pelo carinho e respeito com que se dispuseram a enfrentar comigo todos os percalços desse caminho e, especialmente, pela ajuda fundamental nos momentos finais do feitio desse trabalho.
À minha família ourofinense, que de longe vibra com minhas conquistas, em especial a minha avó Rosires, meu avô Vicente (in memoriam), meu avô Lucas, minha avó Dorothy (in memoriam) e meus tios, minhas tias e meus primos queridos.
Ao Heitor Parenti Junior, por incentivar meu crescimento, sempre a oferecer a sua ajuda para o que for preciso e por seu amor, que torna mais sereno todos os desafios de minha caminhada.
À Susy Keiko Masuda meu agradecimento de coração por ser quem é, por aceitar entrar em minha história de uma maneira tão especial, pelos sentimentos compartilhados e por fazer parte dessa e de outras tantas conquistas.
À Fabiana Elias Goulart de Andrade Moura, pela especial colaboração na resolução dos entraves de meu trabalho, pela companhia nos questionamentos sobre os mistérios do ser humano
e, especialmente, pela parceria nas minhas reflexões e práticas profissionais.
Ao Murilo dos Santos Moscheta, pelo exemplo de trabalho sério com pitadas de muita criatividade e pela confiança em mim depositada em muitos momentos de nosso caminhar juntos.
À Tatiane Neme Campos-Brustelo, pela imensa ajuda nessa pesquisa, pela disponibilidade em sentar e refletir comigo sobre as possibilidades de sua construção e, em especial, por sua torcida e seu incentivo.
Às amigas da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto, pelo crescimento adquirido ao seu lado, em especial, à Fernanda Kimie Tavares Mishima, Cristiane Martins Bueno e Maria Berenice Seleguim Santos Moraes.
A todos os amigos pelo apoio, em especial, à Raquel Paschoal Sampaio, Carolina Brunelli Alvares da Silva, Lívia Maria Benetti e Liana Papapietro Galvão Montemor.
Ao professor José Ernesto dos Santos, por permitir a minha entrada no GRATA e apoiar essa pesquisa.
À professora Rosane Pilot Pessa Ribeiro, por me acolher no serviço, por ser modelo de trabalho empenhado e por ter aceitado o convite de debater meu trabalho mais de perto.
À Felícia Biguetti, por estar sempre aberta a compartilhar suas práticas e conhecimentos.
Aos demais integrantes do GRATA, que atualmente fazem parte da equipe ou que passaram por ela: Barbara Selan, Camila Schalassaria Campos, Carolina Lopes da Silva, Christiane Baldin Adami, Cristiane Cruvinel Gonçalves, Guilherme Nogueira Derenusson, Leila Maria Quiles, Luciana Lopes Azeka, Marina Garcia Mano Chio, Nerielen Martins, Rida Sabbagh do Amaral, Thaís Genovese. Em especial, à Érika Arantes de Oliveira, Juliana Maria Faccioli Sicchieri, Luciana Maria da Silva, Denise Zanin, Paula Carolina Barboni Dantas Nascimento, Thais Fonseca de Andrade, Marita Iglesias, Cecília Saconato e Carolina Mota Gala, que colaboraram mais de perto na elaboração desse trabalho.
Ao professor Emerson Fernando Rasera pelas valiosas e fundamentais contribuições em minha pesquisa em diversos momentos de seu feitio, por me ensinar muito sobre o construcionismo social e por posicionar-se de maneira tão humana ante os desafios da construção do conhecimento.
À professora Maria Aparecida Crepaldi pela generosidade em partilhar sua companhia contagiante e seu vasto conhecimento e por ter prontamente aceitado prefaciar este livro.
À professora Marina Massimi pelo rico e precioso aprendizado de pesquisa oferecido ao longo de minha iniciação científica ao seu lado e pelo constante incentivo ao meu crescimento.
À professora Ana Paula Soares, por ser exemplo de pesquisadora e pela constante abertura a conversas.
À CAPES pelo apoio financeiro.
Prefácio
Escrever este prefácio muito me honra, pois conheci Laura como membro da banca que examinou seu trabalho de dissertação de mestrado na USP de Ribeirão Preto. Naquela ocasião surpreendeu-me como Laura, uma jovem psicóloga, apresentava muita determinação ao estudar um tema tão árduo, desafiador e não menos importante na contemporaneidade, como os transtornos alimentares. Sem contar sua capacidade de acolhimento às pessoas envolvidas, iniciando o trabalho como observadora e, mais tarde, assumindo a função de coordenadora do grupo.
Assim, partindo de sua experiência com um grupo de apoio a familiares de pessoas com transtornos alimentares (anorexia e bulimia nervosa) realizado em um hospital, um grupo aberto e de alta rotatividade, Laura estudou os discursos produzidos nesse contexto a partir de uma aproximação cuidadosa do campo para inteirar-se dos processos de negociação de sentidos construídos no espaço conversacional grupal.
O leitor encontrará neste livro um trabalho precioso que vai pouco a pouco edificando o contexto em que os familiares, protagonistas, como numa peça de teatro, vão construindo as cenas discursivas ao longo de cenários inusitados, na tentativa de dar sentido à experiência de terem na família uma pessoa diagnosticada com anorexia e bulimia nervosa. Engajadas em pautas interativas, as pessoas criam sentidos para suas experiências de dor, sofrimento e o que consideraram desconhecimento da doença, incluindo as estratégias de enfrentamento no cotidiano. Falam do estar no grupo, de semelhanças e diferenças entre eles, da esperança que traz o compartilhar sentidos com os demais familiares, do apoio grupal.
Os transtornos alimentares, sobretudo a anorexia e a bulimia, tornam-se cada dia mais freqüentes, constituindo-se em um grande desafio à pessoa doente, a seus familiares, aos profissionais da saúde e, porque não dizer, à sociedade contemporânea. As pessoas acometidas apresentam uma sintomatologia com marcas visíveis, como o emagrecimento e o definhar corporal. As características essenciais da anorexia nervosa são a recusa do sujeito em manter um peso corporal na faixa normal mínima, associado a um temor intenso de ganhar peso. Há uma perturbação significativa na percepção do esquema corporal, ou seja, da autopercepção da forma, do tamanho do corpo, e a recusa alimentar torna-se conseqüência importante dessa distorção da imagem corporal.
A bulimia nervosa, por sua vez, envolve compulsões periódicas e métodos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso, que também têm conseqüências que podem levar à morte.
Assim, o livro mostra como os familiares narram suas experiências de vivenciar a doença das pessoas com quem têm relações de proximidade, de afeto, de parentesco, e ao narrar ressignificam pouco a pouco as possibilidades de sentido, alternando categorias da ciência biomédica e outros sentidos bastante peculiares.
O espaço de conversação parece privilegiado para tal empreendimento. Maturana[1] refere que todas as ações humanas se concretizam no espaço conversacional, ou seja, o conversar é o entrelaçamento contínuo entre o linguajar e o emocionar que constitui e realiza o humano
. Conversar, segundo o autor, vem da união de duas raízes latinas: cum, que significa com
, e versare, que significa dar voltas
. Então conversar inclui dar voltas com o outro, num movimento contínuo de linguajar e emocionar-se. Dando voltas com as famílias cujas trajetórias são aqui descritas, os conversadores grupais vão fazendo emergir, por meio da linguagem, a emoção e a razão, co-construindo sentidos que os unem, pela experiência de ter um familiar com sofrimentos, ao mesmo tempo, parecidos e diversos.
Nessa dança conversacional entre pessoas, os sentidos foram produzidos e negociados na interação grupal, como pretendia a pesquisa, alternando-se entre