Pauliceia desvairada
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Mário de Andrade
Mário de Andrade (1893–1945) was a poet, novelist, cultural critic, ethnomusicologist, and leading figure in Brazilian culture. He was a central instigator of the 1922 Semana de Arte Moderna (Modern Art Week), which marked a new era of modernism. He spent much of his life pioneering the study and preservation of Brazilian folk heritage and was the founding director of São Paulo’s Department of Culture.
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Book preview
Pauliceia desvairada - Mário de Andrade
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2019 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Texto
Mário de Andrade
Revisão
Casa de ideias
Produção e Projeto gráfico
Ciranda Cultural
Imagens
Alexzel's/Shutterstock.com;
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
A553p Andrade, Mário de
Pauliceia desvairada / Mário de Andrade. - Jandira, SP : Principis, 2021.
112 p. ; EPUB. - (Clássicos da literatura).
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-618-9 (E-book)
1. Literatura brasileira. 2. Vivências. 3. Percepções. 4. Romance. 5. Poema. I. Título.
Elaborado por Lucio Feitosa - CRB-8/8803
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura brasileira : Romance 869.8992301
2. Literatura brasileira : Romance 821.134.3(81)-34
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
Todos os direitos reservados.
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A Mário de Andrade
Mestre querido.
Nas muitas horas breves que me fizestes ganhar
a vosso lado dizíeis da vossa confiança pela arte
livre e sincera... Não de mim, mas de vossa
experiência recebi a coragem da minha Verdade
e o orgulho do meu Ideal.
Permiti-me que ora vos oferte este livro que
de vós me veio. Prouvera Deus! Nunca vos
perturbe a dúvida feroz de Adriano Sixte...
Mas não sei, Mestre, se me perdoareis a distância
mediada entre estes poemas e vossas altíssimas
lições... Recebei no vosso perdão o esforço
do escolhido por vós para único discípulo;
daquele que neste momento de martírio muito
a medo inda vos chama o seu Guia, o seu Mestre,
o seu Senhor.
Mário de Andrade
São Paulo, 14 de dezembro de 1921
Prefácio interessantíssimo
Dans mon pays de fiel et d’or
j’en suis la loi.
E. Verhaeren
1 Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
*
2 Este prefácio, apesar de interessante, inútil.
*
3 Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.
*
4 Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio interessantíssimo.
*
5 Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei.
*
6 E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita se pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem.
*
7 Livro evidentemente impressionista. Ora, segundo modernos, erro grave o Impressionismo.
Os arquitetos fogem do gótico como da arte nova, filiando-se, para além dos tempos históricos, nos volumes elementares: cubo, esfera, etc. Os pintores desdenham Delacroix como Whistler, para se apoiarem na calma construtiva de Rafael, de Ingres, do Greco. Na escultura Rodin é ruim, os imaginários africanos são bons. Os músicos desprezam Debussy, genuflexos diante da polifonia catedralesca de Palestrina e João Sebastião Bach. A poesia... tende a despojar o homem de todos os seus aspectos contingentes e efêmeros, para apanhar nele a humanidade
... Sou passadista, confesso.
*
8 Este Alcorão nada mais é que uma embrulhada de sonhos confusos e incoerentes. Não é inspiração provinda de Deus, mas criada pelo autor. Maomé não é profeta, é um homem que faz versos. Que se apresente com algum sinal revelador do seu destino, como os antigos profetas
. Talvez digam de mim o que disseram do criador de Alá. Diferença cabal entre nós dois: Maomé apresentava-se como profeta; julguei mais conveniente apresentar-me como louco.
*
9 Você já leu São João Evangelista? Walt Whitman? Mallarmé? Verhaeren?
*
10 Perto de dez anos metrifiquei, rimei. Exemplo?
Artista
O meu desejo é ser pintor – Lionardo,
cujo ideal em piedades se acrisola;
fazendo abrir-se ao mundo a ampla corola
do sonho ilustre que em meu peito guardo...
Meu anseio é, trazendo ao fundo pardo
da vida, a cor da veneziana escola,
dar tons de rosa e de ouro, por esmola,
a quanto houver de penedia ou cardo.
Quando encontrar o manancial das tintas
e os pincéis exaltados com que pintas,
Veronese! teus quadros e teus frisos,
irei