Pedagogia da Reconciliação: Uma Alternativa à Humanização às Relações Interpessoais
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O conflito é uma realidade inerente às relações humanas, mas que carece de uma resolução adequada para evitar uma escalada com consequências danosas para os envolvidos. Para algumas pessoas, é difícil resolvê-lo, e mais áspero torna-se quando esses conflitos se prolongam no tempo. O desafio é sair desses contextos, assegurando a possibilidade de manter as relações de maneira segura e saudável.
Este livro tanto ensina técnicas adequadas que viabilizam a resolução de problemas como estimula conhecer um processo vivencial de aprendizagem da gestão das emoções para identificar necessidades não satisfeitas que subjazem às emoções, para viabilizar o comprometimento dos envolvidos em conflitos com a vivência da reconciliação.
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Pedagogia da Reconciliação - Maria do Socorro Medeiros Dantas
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
À minha mãe, por todos os cuidados a mim dispensados e pelo esforço em prol da educação que me ofereceu, e ao meu pai, em memória, por tudo o que me ensinou de valores humanos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à professora e amiga Irmã Aurélia Sotero Ângelo (religiosa na Congregação das Filhas do Amor Divino), por ter sido ponte entre a Defensoria Pública e a Universidade Católica do Tocantins, que juntas viabilizaram a difusão da metodologia da reconciliação em suas instituições. Você me estimula na minha caminhada e impulsiona o meu crescimento profissional. Ao amigo e professor da Universidade Federal do Tocantins Denílson Barbosa de Castro, pelo incentivo à produção. Aos meus alunos estagiários de Práticas Restaurativas, pelo compartilhamento de suas experiências de estágio e necessidades apresentadas. À professora Dilma Felizardo, pela importante contribuição na orientação da obra. Às minhas companheiras da Comunidade Jesus Menino, em Currais Novos-RN, pela compreensão e pela solidariedade a mim dispensadas durante o período dedicado à produção do livro.
PREFÁCIO
Um prefácio não é o lugar mais apropriado para contar uma história. No entanto, não poderia deixar de abrir este livro sem revelar como a autora me fez compreender a dimensão do perdão.
Durante uma viagem a trabalho a Cuiabá, com a amiga Guiomar Veras, fizemos uma parada para almoçar em um shopping local, momento em que exploramos ideias em torno do perdão. Dias antes, tínhamos participado de um curso da Escola de Perdão e Reconciliação, ministrado pela Irmã Socorro. Fiquei com o assunto na cabeça.
Em uma parada para comprar livros, a proprietária do estabelecimento aproximou-se depois que reconheceu nosso sotaque característico. Ela revelou que constituiu família no Mato Grosso depois de uma vida de muito sofrimento no Ceará. Falamos um pouco da nossa região, até perguntar-lhe por quanto tempo ela não visitava seus parentes no Nordeste.
- Em 25 anos, fui apenas duas vezes ao Ceará
, disse-nos.
E completou prontamente: -Uma, quando meu filho se formara em Direito e outra quando se tornara Defensor Público
.
Quando quis saber o motivo de ter voltado tão poucas vezes às origens, ela quase que encerrou o assunto, esclarecendo que não retornou mais por motivo de discórdias familiares. Disse-lhe para perdoar seus parentes, escrevendo-lhes uma carta à mão com esse pedido. Devo ocultar outros detalhes dessa conversa divina, mas é preciso informar que depois de ter proferido aquilo, essa mulher emocionou-se muito e começou a chorar. Falou-nos que, dias antes de falecer tragicamente, seu filho também havia feito o mesmo pedido; queria que ela perdoasse os familiares.
A história dessa mulher foi de abandono e perdas. Quando viviam no Ceará, a sua mãe foi largada pelo marido, e depois ela e os irmãos foram também abandonados pela mãe. Vivera daí em diante trabalhando como doméstica com uma tia, até que finalmente partira para o Mato Grosso, onde conquistou uma nova vida, mantendo apesar disso muitos ressentimentos. Sofria com a perda prematura e recente de um dos dois filhos. Somente ainda é preciso dizer que essa mãe explicou que se emocionara porque identificou, entre as nossas próprias palavras de perdão, a lembrança do que havido dito o seu filho antes de falecer. Não sei por qual razão, mas falei que estava ali em nome dele; abraçamo-nos e choramos muito.
Expliquei também que havia pedido para ela escrever uma carta porque uma freira designada no Ceará − a Irmã Socorro Dantas − contou-me certa feita uma história de uma mãe que havia feito as pazes com familiares no Sul do país, depois de lhes escrever algumas cartas à mão, em uma situação semelhante à que ela vivia.
Nossa conversa chegou ao fim. A mãe me deu um livro religioso pedindo para ler uma determinada página quando chegasse ao Hotel. Sai dali com a promessa dela de perdão. No dia seguinte, partimos de Cuiabá para Natal, fazendo uma conexão em Brasília, onde nos dirigimos rapidamente para o portão de embargue. Assim que sentamos, encontramos na cadeira exatamente à nossa frente a Irmã Socorro, que estava vindo de Tocantins, indo visitar a própria mãe em Caicó. Ficamos muito emocionados com o encontro e com o entendimento de que a vida não sossega sem perdão.
A filosofia comunitária permite repensar a justiça de uma forma muito menos utilitarista ou individualizada, ofertando mais ênfase na coletividade holística, ou seja, sem deixar ninguém de fora dos projetos coletivos de felicidade.
De fato, não há quem possa ser individualmente responsável pelos atos do passado, mas existem os descendentes das vítimas desses atos, portadores de uma memória coletiva de ações reais que ainda hoje reproduzem formas de violência. O argumento da irresponsabilidade da geração atual convém a propósitos de reduzir os compromissos com erros passados, na mesma medida em que não engaja ações de ajuste para evitá-los no futuro. Perdoar é comprometer-se hoje para que atos do passado não se repitam.
Qualquer que seja a concepção de justiça penal, que ignore a importância e o poder da comunidade, será um ato de rompimento de laços e favorecimento de algum tipo de violência do indivíduo para a comunidade e vice-versa. O ponto de vista teórico do direito estruturado, essencialmente, sobre a responsabilidade individual não serve para uma concepção holística de justiça. É preciso pensar