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A maldição da lua cheia
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A maldição da lua cheia

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A lenda do lobisomem teve origem na mitologia grega. Chegou à América Latina com a colonização e rapidamente passou a fazer parte das histórias locais, tornando-se um ser clássico do terror mundial com as produções para o cinema, que tiveram início com a produção de The Werewolf, o primeiro filme do gênero, lançado em 1913 pela Universal.

No folclore brasileiro, o lobisomem é sempre muito presente, possuindo algumas variações na lenda, como acontece com toda história contada de geração em geração. Em alguns locais, acredita-se que o lobisomem somente se transforma em uma encruzilhada, nas noites de lua cheia, de quinta-feira para sexta-feira. Em outras regiões, acredita-se que o sétimo filho, torna-se um lobisomem se não for batizado tendo como padrinho o irmão mais velho.

Apesar de algumas alterações, no geral, todas as histórias levam em conta que ao se tornar humano novamente, o lobisomem não lembra de seus atos enquanto lobo, e se você for atacado por um lobisomem e sobreviver, acabará se tornando um. Para acabar com a maldição, somente uma bala de prata para dar fim ao monstro.

Mesmo com o avanço da tecnologia, e com o tempo dos "contadores de história" ficando pra trás, o lobisomem ainda causa medo nas pessoas e as histórias de novos ataques causados pela besta-fera seguem populares não só no imaginário popular como também na internet, em blogs e redes sociais.

Conheça algumas histórias clássicas de lobisomem que se passem no Brasil, inspiradas em histórias reais, contadas aqui e ali, seja no interior do país ou nas grandes capitais.
LanguagePortuguês
Release dateSep 3, 2021
ISBN9786589837053
A maldição da lua cheia

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    Book preview

    A maldição da lua cheia - Janaina Storfe

    Apresentação

    A lenda do lobisomem teve origem na mitologia grega. Chegou à América Latina com a colonização e rapidamente passou a fazer parte das histórias locais, tornando-se um ser clássico do terror mundial com as produções para o cinema, que tiveram início com a produção de The Werewolf, o primeiro filme do gênero, lançado em 1913 pela Universal.

    No folclore brasileiro, o lobisomem é sempre muito presente, possuindo algumas variações na lenda, como acontece com toda história contada de geração em geração. Em alguns locais, acredita-se que o lobisomem somente se transforma em uma encruzilhada, nas noites de lua cheia, de quinta-feira para sexta-feira. Em outras regiões, acredita-se que o sétimo filho, torna-se um lobisomem se não for batizado tendo como padrinho o irmão mais velho.

    Apesar de algumas alterações, no geral, todas as histórias levam em conta que ao se tornar humano novamente, o lobisomem não lembra de seus atos enquanto lobo, e se você for atacado por um lobisomem e sobreviver, acabará se tornando um. Para acabar com a maldição, somente uma bala de prata para dar fim ao monstro.

    Mesmo com o avanço da tecnologia, e com o tempo dos contadores de história ficando pra trás, o lobisomem ainda causa medo nas pessoas e as histórias de novos ataques causados pela besta-fera seguem populares não só no imaginário popular como também na internet, em blogs e redes sociais.

    Conheça algumas histórias clássicas de lobisomem que se passem no Brasil, inspiradas em histórias reais, contadas aqui e ali, seja no interior do país ou nas grandes capitais.

    A canção de um lobo

    Humberto Barino

    Minhas mãos ensanguentadas contradiziam a lógica de qualquer explicação. Minhas roupas rasgadas e meu corpo desnudo exibido ao frio me faziam tremer pela própria ideia do que poderia ter acontecido: eu sou um assassino, da pior espécie ainda por cima, matei minha própria família, em meio a um frenesi.

    Correndo em meio às matas virgens de minha terra, cabelo comprido e emaranhado batendo no rosto, pés descalços pisando em galhos ou na terra, não sabia direito o que estava acontecendo, só sabia que eles estavam atrás de mim.

    As tochas amarelas e vermelhas me perseguiam como estrelas na noite escura do matagal em que eu me embrenhava. Nunca havia entrado no mato assim, tão fundo, tinha medo de onça e de bicho, mas agora eram eles que, pelo visto, tinham medo de mim.

    Não fazia ideia da merda que estava acontecendo e nem mesmo tinha certeza do que tinha acontecido, todos os flashs eram bem confusos em minha mente e tudo de que me lembrava era pura dor.

    Pelos nasceram de minha pele como intrusos de uma ocupação, meus músculos cresceram, rasgando meu corpo de dentro pra fora, meu crânio quebrou-se até se esticar. Lembro-me dos barulhos da pele sendo cortada, da dor lancinante que senti, das garras do tamanho de um punhal. Depois disso não houve mais amor capaz de parar meu ataque. Meu? Ou seria da besta? Da besta que me transformava a cada lunação.

    Eu tentei fugir, como fazia todas as vezes, mas, dessa vez, não fui capaz. Meu pai me prendeu, preocupado com minhas saídas, preocupado se não estava em bebedeira, desvirtuando os ensinamentos do Senhor. A lua cheia veio mais cedo e brilhou sobre mim. Uma discussão foi o que bastou para que eu perdesse o controle e entrasse no não tão bom, mas muito velho frenesi, onde a besta domina meu ser e só vai embora depois que sua sede por sangue está saciada.

    Quando voltei a mim, sentei-me e chorei, com as mãos sujas do sangue do meu pai, e o corpo banhado do sangue de minha mãe, tendo como visão os membros espalhados de meus irmãos. Chorei, chorei e chorei, e só parei de chorar quando vi as luzes vindo atrás de mim. Por puro instinto, corri.

    E continuei correndo até aqui, à beira do penhasco onde me encontro, com todas aquelas tochas vindo atrás de mim. Eles possuem armas, isso é certeza, conheço os coronéis de minha região. Mas seriam as balas de prata? Não faz diferença agora, ou são eles ou sou eu.

    Me entreguei de livre e espontânea vontade à fúria e à cólera que existem dentro de mim desde a primeira vez em que me transformei.

    A besta sorriu e uivou em meio ao silêncio. Não era mais eu ali, embora eu pudesse ver, ouvir e sentir. Ela me queria acordado agora, para que eu visse do que ela era capaz.

    Maldita besta, que uivou mais uma vez, uma canção vigorosa, maldita, agraciando a lua pela chance de matar mais uma vez.

    A ceia de Licaão, o ceilandense

    Rodrigo Duhau

    Não havia como comemorar. O dinheiro sempre acabava bem antes do término do mês. A festa de aniversário do menino Licaão foi adiada. Mais uma vez. Um abraço e um beijo dos pais foram os seus presentes na sexta-feira em que completou treze anos. Licaão compreendia a situação difícil, mas queria um dia celebrar seu aniversário com a família e os amigos do colégio.

    — No ano que vem, a gente faz, meu filho. Prometo — disse a mãe, enquanto Licaão se deitava para dormir.

    — Tá bom, mamãe.

    Descrente, Licaão respondeu e sorriu, sem mostrar os dentes. Ela o beijou na testa, cobriu-o com um surrado cobertor e desejou-lhe boa noite. Antes de sair, a mãe fechou a cortina do quarto. Fazia um pouco de frio, e uma lua cheia se destacava no céu cinza escuro. As estrelas estavam ausentes. Ventava. E o sopro do vento tinha um ruído semelhante ao uivo de um lobo. Escutava-se também o canto de uma coruja. Licaão logo adormeceu e sonhou com uma bela festa de aniversário. Nela, havia um delicioso bolo de chocolate, rodeado por docinhos e salgadinhos. Seus pais sorriam e o olhavam com admiração. Suas seis irmãs também participavam da festa e dividiam com Licaão aquele momento de pura felicidade.

    — Parabéns pra você. Nessa data querida. Muitas felicidades. Muitos anos de vida — cantou a família em coro.

    E Licaão apagou as treze velinhas em um sopro só.

    ***

    Aos 18 anos, Licaandra deixou a roça morta e o gado esquálido do sertão da Paraíba. Em um pau de arara, veio para o Distrito Federal morar com a irmã mais velha. Até começou a estudar, mas logo abandonou os livros e os cadernos. Arrumou um emprego como empregada doméstica na Asa Norte, bairro de Brasília, a trinta quilômetros de Ceilândia, onde morava com a irmã. Seis meses depois, a patroa decidiu reformar a cozinha e a área de serviço do apartamento. Contratou uma equipe de pedreiros. Um deles se chamava Rubião. E foi assim que Licaandra e Rubião se conheceram.

    Licaandra e Rubião se casaram e alugaram uma casa de dois quartos na Ceilândia. Tiveram a primeira filha, a segunda, a terceira…, mas o sonho de Rubião era ter um menino. Até que conseguiram depois da sexta menina.

    — Ele vai se chamar Licaão — disse o pai, retirando o filho do colo da mãe ainda no hospital e o erguendo, cheio de orgulho.

    ***

    Os anos passaram. Licaandra agora trabalhava em um apartamento com vista para o Parque Sara Kubitschek no Sudoeste, bairro nobre da capital. Ela não sabia pronunciar aquele sobrenome, mas tinha ouvido falar que era de gente importante na política brasileira.

    Certa vez, enquanto limpava as janelas do apartamento, Licaandra viu famílias se divertindo no parque. Pais e filhos jogavam bola, comiam pipoca, tomavam sorvete, faziam piqueniques. Viu também aqueles que aproveitavam as pistas margeadas por eucaliptos para fazer uma caminhada, andar de bicicleta ou, ainda, passear com seus cachorros. Eles iam adorar brincar aqui, pensou ela.

    — Vamos logo com isso, mulher! — exigiu a patroa.

    — Hã…

    — Falei pra andar rápido com o serviço! — disse a dona da casa, aumentando o tom da voz.

    — Ah, sim… Desculpe, senhora.

    — Depois vá lavar a louça do café.

    — Sim, senhora.

    — E você, hein? Minha princesinha. Tá com fome, é? Mamãe vai preparar comidinha pra você. — A patroa segurou Meg no colo, e a cachorrinha lhe deu lambidelas na ponta do nariz.

    A empregada borrifou um líquido e pôs-se a esfregar o pano no vidro. O pensamento nos filhos permaneceu.

    Já Rubião estava desempregado desde a crise que afetou a construção civil na capital federal. A empresa que terceirizava pedreiros para trabalhar nas reformas de casas e apartamentos havia falido. Depois disso, conseguiu, por conta própria, alguns serviços grandes, mas logo os trabalhos foram rareando. Agora, levava algum dinheiro para casa somente quando fazia um bico aqui, outro ali. Sete filhos, aluguel… Realmente, ficava difícil para a família ter algum luxo, como uma festa de aniversário para o caçula Licaão.

    ***

    Licaão se contorcia na cama e a cabeça ia de um lado para o outro. Uma baba branca deslizava pelo canto direito da boca. Abriu os olhos e percebeu que a cortina estava afastada. A claridade da lua cheia entrava pela janela do quarto, fazendo-o ficar acinzentado. Licaão já havia esquecido que sonhou com uma festa de aniversário e que, nela, tinha um delicioso bolo de chocolate.

    Ele foi até a janela. A lua o estava chamando. Licaão sentiu um calor intenso. Parecia que o sol de meio-dia lhe tocava a pele. Mas era meia-noite. O vento continuava com seu gemido, e a coruja, com seu canto. E ele, desconhecendo até aquele momento a força que tinha nas pernas, se agachou para pegar impulso e pulou a janela, caindo em pé. Três das seis irmãs dividiam o quarto com Licaão e continuaram dormindo angelicalmente. As outras três passavam a noite no cômodo dos pais.

    Fora da casa, Licaão olhou para um lado e para o outro e começou a correr. A lua cheia lhe mostrava o caminho. Ele a seguia sem saber qual seria seu destino. À medida que ganhava velocidade, Licaão percebeu que seu corpo estava se transformando: as orelhas cresceram, as pupilas se dilataram, as mãos viraram garras. Uma estrutura raquítica deu lugar a músculos que pareciam saltar da pele, que estava sendo coberta por pelos negros. Era uma transformação demasiado dolorosa. Via-se isso no rosto de Licaão, com suas bochechas contraídas ao extremo. A mudança de anatomia teve como trilha sonora gemidos ensurdecedores.

    A lua cheia escoltava Licaão em sua correria e ele a tinha como única companheira naquela madrugada sem vida humana nas ruas. Parecia que a lua e aquela figura — metade homem, metade lobo — estavam tendo um diálogo.

    A lua estava levando Licaão para algum lugar onde a comida era farta.

    ***

    Surpreendentemente, as luzes do Plenário ainda estavam acesas na madrugada de sexta-feira para sábado. Estavam lá centenas de ternos e gravatas. Os da base do governo e os de oposição conversavam amistosamente, se abraçavam, sorriam. Haviam esperado aquele dia e aquela hora para votar na surdina um aumento em seus salários. A aprovação foi quase unânime. Houve dois ou três votos contrários apenas para disfarçar um pouco a afronta com a população.

    Neste momento, a lua cheia se posicionou sobre o Congresso Nacional. Licaão estava no gramado, à frente do espelho d’água que enfeitava a entrada da construção que representava o mais alto nível do Poder Legislativo. O lobisomem parecia aguardar instruções da lua cheia. Um vento gelado tocou-lhe o rosto. Era o aviso da lua: Licaão deveria se preparar. De súbito, uma fome alucinante o invadiu, e seu estômago roncou gravemente.

    — Agora! — suspirou a lua. Um som que somente o lobisomem foi capaz de escutar.

    Licaão uivou e sua boca se umidificou. Passou a língua no lábio superior e correu, correu, correu. Alcançou uma velocidade fenomenal e entrou no Congresso Nacional. Os poucos policiais legislativos que estavam ali não perceberam a entrada do lobisomem, que, utilizando o faro, localizou rapidamente onde se localizava o restaurante. Ah, o Plenário… o lugar mais nobre do Congresso Nacional estava cheio de ratos e raposas para o desfrute de um ser faminto e sedento de sangue. Licaão atacou. Foi à direita e fez a primeira vítima. Em um golpe só, o lobisomem, com sua garra, arrancou o coração de um rato velho que estava há anos habitando o Parlamento. Engoliu o órgão inteiro enquanto via o corpo, com seu terno preto e gravata azul, se debater no chão até ficar imóvel.

    Rapidamente, o lobisomem foi ao centro. Uma mordida certeira no pescoço matou uma raposa que havia chegado há pouco ao Congresso Nacional, mas que já mostrava uma habilidade rara para fazer negociatas nos corredores da sede do Poder Legislativo. Dessa vítima, Licaão bebeu o sangue, que o deixou com um singelo bigodinho vermelho.

    A essa altura, o Plenário já estava em pânico. Os ratos e as raposas corriam desordenadamente. Os que caíam não recebiam ajuda. Pelo contrário, eram pisoteados por sapatos pretos de couro importado. Os policiais legislativos, ao escutarem a gritaria, correram para o Plenário já com as armas em punho. Mas Licaão não se amedrontou. O lobisomem ainda não estava satisfeito. Locomoveu-se velozmente para a esquerda e, num golpe baixo, arrancou no dente os colhões de sua última vítima, que não aguentou a intensa dor e teve uma parada cardíaca. Os policiais atiraram em vão. O lobisomem de Ceilândia era rápido demais, e as balas não o atingiram.

    Licaão sentiu um novo sopro gelado no rosto.

    — Volte pra casa! — suspirou novamente a lua.

    De novo, foi um som que somente o lobisomem escutou. Licaão obedeceu e correu apressadamente. Chegou em casa quase ao amanhecer. O galo do vizinho bateu as asas e cantou anunciando o começo do dia. As orelhas diminuíram, as pupilas voltaram ao normal, as mãos já não eram mais garras. Os músculos avantajados murcharam e o corpo franzino reapareceu. Os pelos negros entraram na pele. Licaão era novamente um menino que, sem festa de aniversário, tinha completado treze anos no dia anterior. Licaão pulou a janela do quarto, deitou-se na cama e se cobriu. As três irmãs continuavam a dormir angelicalmente.

    ***

    Licaão foi o último a acordar. Chegou à cozinha, esfregando a mão nos olhos. Seus pais e suas irmãs já estavam sentados à mesa sobre a qual havia apenas uma garrafa de café e um pouco de pão para muitas bocas.

    — Tô cheio, não quero comer — disse Licaão.

    E a pequena parte do pão que lhe cabia foi dividida entre as seis irmãs.

    A fera implorou

    Willian Douglas Fernandes

    Maceió tem o costume de decepcionar aqueles que gostam de histórias de horror. É uma terra onde o relato mais horripilante é alguma coisa sobre uma velha do buraco lá no parque municipal ou um grupo de crianças assassinas que moram no meio da mata, mas essas histórias pra boi dormir passam longe daquela que eu nunca contei. O litoral colorido e o aconchego do meu povo escondem marcas de infâncias macabras que nunca viraram cultura. Talvez o povo tenha encontrado a felicidade na negação e escolheram contemplar o mar da Pajuçara em vez do mar de sangue podre.

    A verdade é que havia uma vez no mês que eu não conseguia dormir. Toda vez que a lua cheia, amarelada como queijo, aparecia no céu, vinham com ela, na casa ao lado, urros estrondosos que se tornavam um som gutural e potente como se houvesse um microfone quebrado na boca do gritador. Quando não era isso, um barulho de concreto sendo raspado rapidamente dava a impressão de que um assalto estava acontecendo. Algumas vezes, eu até chorei, implorando ao céu para conseguir dormir.

    A vizinhança nunca comentava ou questionava o que fazia o vizinho de madrugada. Por falta de velhas fofoqueiras, não era. Só se sabia que o homem de, talvez, cinquenta anos morava sozinho desde a morte da esposa e da maioridade do filho. Eu o achava um homem triste. Seu bigode era robusto e engraçado como o do Levy Fidélix e grisalho como todo o cabelo que existia no tórax e na cabeça. Sua vida chata era trabalho, casa, trabalho, casa.

    Eu queria nunca ter mudado essa imagem.

    A luz do sol em uma certa manhã parecia significar alguma coisa. Provavelmente prefigurava o inverso de trevas que envolveriam minha vida a partir daquele dia. Eram férias de fim de ano e nessa época quando os games eram as ruas da vizinhança, tomar café da manhã era sinônimo de perder tempo.

    — Vai aonde, Gui? — Ouvi mamãe gritar no fundo da casa.

    — Andar de bicicleta — respondi em tom que progredia feito sirene de ambulância.

    Aproveitei que mamãe não disse mais nada e saí. Só que nem tive tempo de receber o vento no rosto antes de parar pra ver, boquiaberto, o que outras crianças já cutucavam: um cadáver de rottweiler

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