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Sylvio e eu: Um encontro no exílio
Sylvio e eu: Um encontro no exílio
Sylvio e eu: Um encontro no exílio
Ebook151 pages2 hours

Sylvio e eu: Um encontro no exílio

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About this ebook

Portuguese description:

Sylvio é um professor universitário brasileiro fugindo da perseguição a intelectuais inocentes no Brasil dos anos 60 e 70. Muriel é uma tradutora norte-americana que mora em Washington, capital. Nesta história verdadeira, quando eles se encontram, é amor à primeira vista. Após passarem apenas dez dias juntos, ele pede que ela o acompanhe ao México, onde está pretendendo um cargo. Ela aceita sem titubear.
Casados no papel, os dois se estabeleceram no México, começando sua vida em comum. O livro conta a vida que eles viveram juntos desde sua chegada ao Mexico até a morte de Sylvio, ainda no exílio, em Washington, capital dos Estados Unidos.
LanguagePortuguês
PublisherBookBaby
Release dateSep 10, 2021
ISBN9781098381578
Sylvio e eu: Um encontro no exílio
Author

Muriel Vasconcellos

The main contributors to this book are friends of Isabel who rallied around her to support her in her cancer journey. Alice is a long-time colleague with whom she spent many vacations. Muriel is another colleague, and her friend Sandy met Isabel and Alice in San Diego. A cousin and other friends of Isabel appear near the end of the book.

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    Sylvio e eu - Muriel Vasconcellos

    cover.jpg

    Copyright © 2020 Muriel Vasconcellos

    Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução ou utilização deste livro ou de qualquer parte dele para qualquer fim, sem a autorização expressa, por escrito, da editora, salvo para uso em citações breves em críticas literárias.

    ISBN (versão impressa): 978-1-09838-156-1

    ISBN (eBook): 978-1-09838-157-8

    Contents

    Agradecimentos

    Dedicatória

    Chapter 1

    Chapter 2

    Chapter 3

    Chapter 4

    Chapter 5

    Chapter 6

    Chapter 7

    Chapter 8

    Chapter 9

    Chapter 10

    Chapter 11

    Chapter 12

    Chapter 13

    Chapter 14

    Chapter 15

    Chapter 16

    Chapter 17

    Chapter 18

    Chapter 19

    As homenagens

    Notas

    Agradecimentos

    Estou imensamente grata pelas contribuições de Simone Campos para a conclusão da versão em português desta história. Seu trabalho se distinguiu por uma compreensão profunda da língua inglesa, um talento para resolver problemas idiomáticos, e um ouvido excepcional para traduções que soassem naturais. Além disso, sua paciência e flexibilidade foram admiráveis. Uma verdadeira profissional! As traduções parciais anteriores realizadas por Branca Heloisa de Vasconcelos Pinheiro e Mário Freitas foram de grande ajuda. Sou grata também a Claudio Ramos por providenciar a transcrição das homenagens coligidas no final do volume.

    — Muriel Vasconcellos

    Agosto de 2020

    Dedicatória

    Este livro é dedicado à memória de Sylvio Carvalho de Vasconcellos. Sylvio amava o Brasil onde nasceu e amava os Estados Unidos, onde viveu seus últimos anos de vida. Ele amava o povo de ambos os países e incentivava-os a zelar por seus valores nacionais e legados artísticos. A cultura valia ouro para Sylvio: ele acreditava que o futuro do Ocidente dependia da solidez de seus alicerces culturais.

    A importância do patrimônio brasileiro foi transmitida a Sylvio por uma família já imersa na história da nação há pelo menos quatro gerações. A preservação dessa herança foi sua missão de vida.

    Como preservacionista artístico e histórico responsável pela salvaguarda de obras de arte e estruturas arquitetônicas coloniais em seu estado, Minas Gerais, ele se dedicou incansavelmente ao resgate e proteção desses tesouros por mais de 25 anos.

    Como educador, professor titular de arquitetura brasileira na Universidade Federal de Minas Gerais, ele trabalhou para garantir que essa herança permanecesse segura, transmitindo seu significado à geração seguinte.

    Mas Sylvio não vivia no passado. Ele estava sempre olhando para a frente.

    Como um dos primeiros defensores da arquitetura modernista no Brasil, ele criou uma ponte entre o passado e o futuro do seu país.

    E, como autor de catorze livros publicados e inúmeros textos breves, ele contribuiu para que a cultura do seu país fosse mais admirada tanto pelo seu povo como pelo de outras partes do mundo.

    As múltiplas contribuições de Sylvio foram conquistadas mesmo frente a barreiras quase intransponíveis. Durante a sua carreira, seus esforços foram minados por homens inconsequentes e burocracias, e por sua batalha contra uma doença que vivia solapando suas forças, interrompeu seu trabalho em três ocasiões e acabaria por levar sua vida.

    As páginas seguintes revelam o lado pessoal de Sylvio que vim a conhecer durante nossa vida a dois e suas diversas boas qualidades que persistem em meu coração mesmo passados mais de quarenta anos.

    1

    Sylvio e eu pegamos a estrada para a Cidade do México em um conversível vermelho abarrotado, deixando nossas antigas vidas para trás. No retrovisor estava Washington, a capital norte-americana, onde havíamos nos conhecido — em primeiro de abril, para ser precisa. Nove meses depois, éramos um casal loucamente apaixonado, casado no papel, e nossa vida em comum estava prestes a começar ¹.

    Ele trabalhava para a Organização dos Estados Americanos (OEA); havia um posto à sua espera no escritório da organização no México. Lá, ele exerceria o cargo de assessor de desenvolvimento urbano e moradias de baixo custo nos países da América Central. Eu, tradutora e revisora por profissão, já tinha serviço autônomo por fazer.

    Brasileiro, Sylvio era arquiteto e escritor prolífico em seu país. Ele tinha 17 anos a mais do que eu, porém a diferença etária nunca nos incomodou.

    Quando nos conhecemos em Washington naquele primeiro de abril de 1970, ele acabava de chegar do Brasil. Estava em uma missão cultural patrocinada pelo governo dos Estados Unidos e pretendia passar alguns dias na cidade antes de partir em visita de muitas outras.

    Embora eu tivesse ouvido falar em Sylvio por seu falecido irmão, John Vasconcellos, eu jamais poderia imaginar que viria a conhecê-lo. Quando ele me telefonou para se apresentar, combinamos de almoçar em seu hotel.

    Nós nos olhamos nos olhos pela primeira vez quando ele saía do elevador. Ele tinha 1,93 m de altura e era o homem mais bonito que eu já vira. Recuperei o fôlego como pude, muito grata pelos anos que passara estudando português. Ainda que ele tivesse um intérprete oficial para os eventos planejados, no resto do tempo ele estava por conta própria. Conforme eu o ajudava a se localizar na cidade, nossa amizade foi se fortalecendo.

    Ele viera despreparado para o frio e precisava comprar um casaco mais grosso. Na verdade, ele trouxera consigo pouquíssima bagagem. Além da pasta, de uma máquina de escrever portátil Olivetti e de uma câmera Leica, ele trouxera apenas uma pequena mala contendo o mínimo essencial. Ele usava uma camisa de nylon drip-dry que podia lavar no quarto de hotel à noite.

    Sua bagagem mais séria eram as lembranças da prisão em 1964, na qual passara meses devido a acusações forjadas pelos militares brasileiros. Certa tarde, ele lia o jornal tranquilamente em sua casa quando a polícia chegou para prendê-lo. Ele ficou atônito e desconcertado; não tinha a menor ideia de qual crime pudesse ter cometido. De início, ele foi atirado em uma cela lotada onde foi obrigado a ficar em pé por dias, com dor nas costas e tudo. Depois, foi transferido para uma base da Força Aérea Brasileira, onde permaneceu sob vigilância até amigos e familiares conseguirem libertá-lo.

    Quando por fim ficou sabendo quais eram as denúncias contra ele, deparou-se com acusações descabidas, totalmente infundadas. Alegava-se que, como diretor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais em Belo Horizonte, ele fomentara a revolução no campus, divulgara propaganda comunista, incitara os estudantes ao proselitismo com os moradores das favelas, permitira que os alunos cantassem canções de cunho comunista e organizara a participação deles em uma conferência de arquitetura em Cuba. Ele era inocente de todas essas acusações. Na verdade, havia assumido o cargo de diretor poucos meses antes de ser preso. A viagem a Cuba havia ocorrido antes de sua época no cargo e ele não havia se envolvido nos preparativos².

    Assim que foi libertado, o choque pelo que vivera o impeliu a embarcar em três anos de exílio auto-imposto em Portugal, na França e no Chile³.

    Em 1967, ao descobrir que um habeas corpus a seu favor havia sido deferido, protegendo-o contra as acusações dos supostos crimes, ele havia voltado ao Brasil por algum tempo, reassumindo seu antigo cargo na Escola de Arquitetura e seu trabalho em preservação histórica e artística⁴.

    Entretanto, um novo ato promulgado pela ditadura militar no fim de 1968 concedia ao governo poder absoluto para suspender os direitos políticos de qualquer pessoa dita subversiva e de demiti-la de cargos governamentais⁵. E de fato, em 1º de dezembro de 1969, ele foi aposentado compulsoriamente aos 53 anos de idade — em outras palavras, demitido — da Universidade, cortando um laço que datava de mais de três décadas. Pouco depois, ele ouviu dizer que os militares estavam prestes a encarcerá-lo de novo. Sua situação estava ficando cada vez pior. Com a ajuda de seus amigos, ele rapidamente costurou uma série de compromissos no exterior, pretendendo ficar por lá até que seu retorno fosse possível.

    Washington foi a primeira parada de sua nova odisseia. Depois da missão cultural, que duraria um mês, ele passaria o verão em Portugal trabalhando em pesquisas financiadas pela Fundação Gulbenkian. E o melhor era que ele acabara de receber uma prestigiada bolsa da Fundação Guggenheim, que permitia sua permanência num país de sua escolha por um ano.

    E, afinal de contas, seus temores de voltar à prisão acabaram por se justificar. Pouco depois de sua chegada a Portugal, ele recebeu uma intimação datada de 3 de julho de 1970 para comparecer diante de uma Comissão de Inquérito do Ministério de Educação e Cultura e responder a uma nova leva de acusações, citando irregularidades tais como usar um carro oficial para assuntos pessoais. Por causa destas acusações ele poderia ter ido preso.

    Mesmo assim, ele sempre teve a intenção de retornar ao Brasil. Tinha trabalho a fazer, tesouros coloniais para salvar e três filhas adultas de quem sentia muita saudade. Sempre acreditou que sua situação era temporária e que, mais cedo ou mais tarde, voltaria à vida que levava antes. Não tinha dúvida de que em algum momento a ditadura chegaria ao fim. Enquanto isso, caso fosse necessário, ele poderia sair de novo do Brasil ou se esconder na casa de sua irmã em São Paulo, como já fizera antes.

    Sylvio e eu continuamos a nos comunicar enquanto corria o mês de sua missão. Nesse meio tempo, ele tomara conhecimento de uma oportunidade de trabalho da OEA no México. Tratava-se de uma das suas especialidades: desenvolvimento urbano. O contrato teria a duração de dois anos. Ele cogitava a possibilidade de se candidatar à vaga.

    Quando ele retornou a Washington, em 4 de maio, o tempo tinha esquentado. Era a véspera do meu aniversário e ele pediu ao seu intérprete que o ajudasse a comprar um presente para mim. Ele se decidiu por um vidro do mais caro Chanel No 5 em meio a um buquê de rosas cor-de-rosa. O intérprete não aprovou:

    — Isso é um exagero — disse ele. — Você mal a conhece. Aqui não se usa esse tipo de coisa.

    Sylvio, porém, tinha um plano. No dia seguinte, ele me presenteou o buquê (com perfume incluído). Embora àquela altura ele e eu tivéssemos passado juntos apenas dez dias ao todo, ele me disse que só se candidataria ao cargo no México se eu fosse junto. Na época, eu tinha um emprego fixo e bem remunerado, acabava de adquirir uma pequena casa geminada na Rua Corcoran, perto do

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