Como o cérebro aprende?
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É difícil imaginar suas cogitações sobre os tais seres celestes. Que tipo de medos ou inquietações povoavam seu encéfalo primitivo? De que maneira considerava sua própria existência? E por mais que não possamos dimensionar com acurácia as muitas possibilidades de resposta, uma coisa é certa: o modo de aprender sobre o mundo, em muito seria distinto do nosso, pois em sua cabeça residia um sistema complexo que estava intimamente atrelado a seu contexto e que evoluíra de modo extraordinário até apresentar o layout que hoje abrigamos em nossos crânios.
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- Rating: 2 out of 5 stars2/5falou mais sobre a evolução do cerebro do que do processo de aprendizagem em si.
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Como o cérebro aprende? - Rockson Costa Pessoa
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Pessoa, Rockson Costa Como o cérebro aprende? / Rockson Costa Pessoa. -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor, 2018.
Bibliografia.
1. Aprendizagem - Aspectos fisiológicos 2. Cérebro - Estimulação 3. Cérebro - Fisiologia 4. Cérebro - Localização das funções 5. Cognição 6. Psicologia da aprendizagem 7. Psicologia educacional I. Título.
18-16389 | CDD-370.1523
Índices para catálogo sistemático:
1. Aprendizagem e cérebro : Psicologia educacional 370.1523 2. Cérebro e aprendizagem : Psicologia educacional 370.1523
ISBN: 978-65-89914-24-2
CONSELHO EDITORIAL
CEO - Diretor Executivo
Ricardo Mattos
Gerente de produtos e pesquisa
Cristiano Esteves
Coordenador de Livros
Wagner Freitas
Diagramação
Rodrigo Ferreira de Oliveira
Capa
Rodrigo Ferreira de Oliveira
Revisão
Rafael Faber Fernandes
© 2018 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer
meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito
dos editores.
Sumário
Prefácio
Apresentação
PARTE I - Sua majestade, o encéfalo
O modo como enxergamos o cérebro
Os tecidos nervosos
PARTE II - Filogênese do encéfalo humano
Quando olhávamos as estrelas: a resolução de problemas
Nosso vício é aprender
Emoção: o elo perdido
O ambiente e a aprendizagem
PARTE III - A ontogênese do encéfalo humano
Ensinadores de cérebros: um bate-papo com educadores
Como ensinar cérebros?
Os princípios para ensinar cérebros
Como melhorar a aprendizagem?
Eixos facilitadores para aquisição de novos conteúdos
De volta às estrelas: futuro e possibilidades
Referências
Para Bernardo, Klicyane, João, Mara, Robson e Alexandra, com todo o meu amor e gratidão.
[...] Olha bem que é a cabeça do cônego. Temos à escolha um ou outro dos hemisférios cerebrais; mas vamos por este, que é onde nascem os substantivos. Os adjetivos nascem no da esquerda. Descoberta minha, que, ainda assim, não é a principal, mas a base dela, como se vai ver.
Sim, meu senhor, os adjetivos nascem de um lado, e os substantivos de outro."
Machado de Assis (O Cônego ou Metafísica de Estilo, 1908)
Prefácio
Nos últimos anos, a curiosidade acerca do funcionamento encefálico tem se mostrado cada vez maior, tanto entre leigos quanto entre profissionais. Por mais que tal curiosidade remonte aos eruditos gregos, tais como Hipócrates e Aristóteles, é apenas a partir do século XIX que conseguimos obter avanços expressivos na forma de compreender o sistema nervoso, sendo o século XXI o mais profícuo na geração de conhecimentos sobre essa área.
Isso me leva a seguinte pergunta: como você, leitor, chegou até este livro? É um leigo na área, que busca compreender de maneira mais acurada como nós funcionamos? É um profissional das neurociências que busca refinar conhecimentos acumulados ao longo dos anos em distintas e, muitas vezes, exaustivas formações profissionais? É um docente, o qual deseja identificar novas alternativas de ensino-aprendizagem? Ou é, ainda, um estudante, que tem o propósito de dominar as melhores estratégias para aprimorar a forma de consolidar dados em seu dia a dia acadêmico?
De acordo com o local de onde partimos, nossa percepção sobre uma obra pode ser muito distinta da percepção das demais pessoas que apreciam a mesma leitura, visto que nossas experiências e conhecimentos prévios ditam um papel importante na organização de informações novas.
Independentemente da resposta que você deu à minha pergunta anterior, gostaria de lhe propor um convite. Ao apreciar a leitura desta obra, tente utilizar a abordagem de John Locke e sua ideia de tábula rasa. Deixe de lado, momentaneamente, tudo que você conhece sobre ensino e aprendizagem, sobre o encéfalo, sobre as neurociências em geral. Não porque seu conhecimento prévio seja problemático, mas porque uma mudança de postura é interessante para que nos mostremos mais acessíveis a dados que podem nos fazer repensar sobre nossas certezas.
E é exatamente isto o que o livro de Rockson Pessoa faz: ele aborda nossas certezas de maneira sutil e as desconstrói a partir de dados que, atualmente, ainda não têm tanto alcance em nossa prática cotidiana.
O convite que fiz a você, leitor, eu gostaria que tivesse sido direcionado a mim ao iniciar a leitura deste material. Como pesquisadora em neurociências e docente, cometi o erro compreensível, e até muito comum, de analisar o texto a partir de um viés mais crítico.
Contudo, ao apreciar a primeira parte, a qual se propõe a apresentar o encéfalo, fui me deparando com informações havia muito esquecidas, e outras, novas, sobre a fantástica estruturação do sistema nervoso e suas distintas conexões, e fui levada, mais uma vez, a ponderar sobre como estruturas tão singulares podem interpretar o universo de maneira tão peculiar. Destarte, fui instigada a prosseguir com a leitura.
Na segunda parte deste livro, aborda-se a aprendizagem a partir da perspectiva biológica, a qual, a despeito do que se apregoa, pode trazer uma percepção interessantíssima, e até, por que não, romântica, sobre nossa busca por aprendizagem, nosso vício, como muito bem demonstrado pelo autor, um vício que é permeado por emoções e pelo ambiente que nos circunda.
Por fim, já na terceira parte do material, Rockson aborda os elementos inerentes à aprendizagem na prática, não como um manual de conduta, mas como um mapa cujo tesouro só poderá contemplar quem se arriscar a observar o processo de ensino-aprendizagem de uma nova perspectiva.
Ao concluir a apreciação de tão contundente obra, encontrei-me em um estado de contemplação quando à difícil prática que é se propor a ensinar diferentes estudantes. Tendo dado início à leitura com tantas certezas, não apenas não pude deixar de fazer uma análise crítica da minha própria conduta como professora, como me vi, uma vez mais, cheia de dúvidas.
E isso não é ruim, muito pelo contrário. É o referido vício em aprender, tão adequadamente abordado pelo autor, manifestando-se e me instigando a buscar novas formas de fazer meus alunos terem vontade de compreender os temas que almejo ensinar.
E se tal condição foi implicada durante minha leitura, também pode levar você, independentemente de como chegou a este livro, a levar a aprendizagem a um patamar que nos auxilie a repensar a qualidade de ensino que tanto nos é necessária na atualidade.
Larissa Leite Barboza
Apresentação
O ano era 2010 e eu residia em Porto Alegre (RS). Era aluno de Neuropsicologia do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com a especialização já caminhando para o fim, tive de escolher um orientador para elaborar um trabalho de conclusão e uma série de fatores determinou a escolha da orientadora, doutora Renata Menezes Rosat, que, na época, iniciava algo novo e desafiador, e de pronto me introduziu no campo de algo ainda disforme, algo denominado neuroeducação. Naquele momento, eu não sabia, mas alguns anos depois ministraria muitas aulas em cursos de pós-graduação em neuropsicopedagogia e neuropedagogia. Inúmeras palestras e discussões seriam concretizadas com o intuito de relacionar e até mesmo desmistificar as possíveis maneiras de entrelaçar neurociência e educação.
Coincidentemente, antes de iniciar a elaboração deste livro, tive de revisitar o trabalho de conclusão do já referido curso; acabei por me deparar com algo muito superficial e que denotava apenas o interesse em finalizar e cumprir os créditos finais, ou seja, até aquele momento eu mesmo não havia compreendido a real noção de como o cérebro aprendia e de quão relevante são os códigos do cérebro. Passados mais de seis anos, várias contingências encorajam-me a escrever este livro, o que é, sem dúvida alguma, um grande desafio. Um dos fatores que mais me impulsionaram para a concretização desta obra foi a equivocada ideia de cérebro. São inúmeros mitos e um total desconhecimento do órgão que permite a aprendizagem. Como não mencionar a resistência com os tópicos relacionados aos estudos do cérebro? E esse foi outro elemento que permitiu avaliar a possibilidade de elaborar esta obra.
De maneira equivocada, alguns profissionais da educação criaram ojeriza a quase tudo que se produz e recebe um rótulo de neurocientífico
. E qualquer novidade que surja com a etiqueta de neurociência passa a ser considerada um resíduo das hard sciences e, consequentemente, passa a ser temido. Tal estranhamento é esperado, pois até mesmo na psicologia se observa tal comportamento aversivo. Como já dito, há muita fantasia. A mais grave delas é aquela que surge da falsa ideia de que as neurociências seriam empregadas para extinguir as mais diversas ciências. Na verdade, o contrário é verdadeiro, já que as neurociências surgem para contribuir e somar esforços aos conhecimentos já existentes e, não menos importante, permitem a concretização de novas possibilidades.
O campo da educação é um dos últimos redutos que as neurociências alcançaram. A aversão por parte de alguns profissionais dará lugar a uma nova forma de conhecimento sobre o encéfalo humano, mas, para que isso ocorra, mudanças devem iniciar-se em quem busca ser educador. Este livro não é uma exaltação ao campo do conhecimento, tampouco surge para ratificar a sacralidade
ao método, como muitos fazem. Ele, como uma centena de outros, pauta-se em esclarecer como o cérebro aprende e, diferentemente dos muitos existentes nos dias atais, esclarece aspectos inerentes ao cérebro que demonstram que todos podem aprender. Não menos relevante, é um material que busca mediar um diálogo entre os novos achados das ciências do cérebro e os educadores.
Se ao folhear este livro você busca um guia despretensioso para doutrinar
cérebros ou um manual com as dicas mais surpreendentes, abandone o mais rápido possível a leitura, pois correrá o risco de enveredar por um caminho muito perigoso que o(a) fará pensar e refletir sobre tudo que considerava saber sobre cérebros. Um livro que fala sobre cérebro, isso mesmo, aborda um órgão existente em nossos crânios, órgão este que cumpriu a dura sina dentro de caixas-pretas e que, injustamente, por milênios foi confundido com coração.
Há muito que falar sobre o cérebro e seus mitos. E aqui cumprimos uma etapa inicial: explicar como ele adquire o conhecimento. Ao longo destas páginas, ambiciona-se esclarecer sobre o encéfalo e sobre seu logismo; sobre sua natureza e sua forma de contextualizar o mundo. Como o cérebro aprende? Sigamos em busca de melhor compreender.
Rockson Costa Pessoa
PARTE I - Sua majestade, o encéfalo
Dentro de nossos crânios reside o encéfalo humano, sendo o cérebro o órgão mais importante (HIGGINS; GEORGE, 2016), com um peso que varia entre 1 e 1,3 kg. Quanto à pergunta comumente realizada, a resposta é não! Não há diferenças significativas entre os cérebros masculino e feminino, por mais que os homens tenham os maiores volumes corticais e subcorticais, as mulheres, em contrapartida, têm os córtices mais espessos e maior complexidade do trato da substância branca (RITCHIE et al., 2017).
Antes de iniciarmos esta jornada, é importante esclarecer alguns fenômenos importantes que erroneamente são colocados como sinônimos: encéfalo, cérebro e mente. O que denominamos corriqueiramente cérebro é, na verdade, o encéfalo. O encéfalo é todo o sistema que está contido em nosso crânio, a saber: cérebro, cerebelo e tronco encefálico. Uma vez que você ainda possa estar se habituando a estes termos, vamos empregar inicialmente o termo cérebro, primeiro, por ser mais palatável, e segundo, por traduzir melhor as muitas ideias que serão propostas ao longo desta obra. No decorrer deste percurso vamos adequando os termos e aperfeiçoando nosso domínio sobre tópicos iniciais de neurociência.
Sobre a mente, é relevante resgatar a longa história que permitiu sua construção em nosso imaginário. Nos primórdios, a mente era denominada alma e espírito, o sopro divino proveniente de um avatar. Essa feição perdurou por um longo período, permitindo relevantes construções filosóficas e até mesmo favorecendo as bases para as mais diversas religiões. E, dessa concepção de fôlego da vida
até a consolidação do paradigma vigente das neurociências, o qual defende que a mente é um produto do cérebro, o que há de certeza é que muitos debates serão necessários para esquadrinhar os mistérios que vão além da semântica do que denominamos mente.
Muitas perguntas podem ser feitas com relação à mente, tais como: qual seu formato ou tamanho? É fixa ou