Curso de direito financeiro e orçamentário
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Curso de direito financeiro e orçamentário - Flávio de Azambuja Berti
CAPÍTULO 1. ORÇAMENTO PÚBLICOS
1.1 - PLANEJAMENTO E ORÇAMENTAÇÃO PÚBLICA:
Ao pensar-se em Administração Pública vem à tona imediatamente a estrutura necessária para que esta preste serviços públicos demandados pela coletividade e edifique as obras públicas também demandadas pelo bem-estar do conjunto de cidadãos. Tal estrutura consistente em órgãos públicos dotados de competências próprias¹, consoante o previsto na legislação, e entidades com personalidade jurídica com relativa autonomia, sejam elas de direito público ou de direito privado. Seu funcionamento impõe a necessidade de investimentos vultuosos por parte do Estado tanto para sua criação quanto para sua manutenção, donde a premência e permanência de despesas públicas a demandar fontes próprias e impróprias de financiamento.
Todavia esta estruturação orgânica da Administração Pública com as múltiplas atribuições decorrentes do próprio regime de funcionamento da máquina pública impõe uma ordenação, uma coordenação, um planejamento. Tal qual é inconcebível imaginar o funcionamento de uma empresa privada sem que a mesma possua um plano de atuação para aquisição de seus insumos, organização de sua mão-de-obra, divisão das atividades entre processos de trabalho, treinamento de pessoal, análise e prospecção de mercado, estratégia comercial para obter novos clientes e fidelizar os antigos, sistema de informação que permita a seus sócios e dirigentes gerenciar o negócio e investir o que seja o mais próximo possível do ideal com vistas a fazer prosperar sua atuação, também é impensável a existência da Administração Pública sem uma base de planejamento e estratégia pensada, testada e organizada.
Em tal contexto, o planejamento sob as óticas financeira, contábil, econômica e patrimonial é fundamental para o sucesso da atuação dos diferentes órgãos e partes integrantes do Estado², a partir do que a necessidade premente de uma orçamentação pública que organize especificamente falando as previsões e perspectivas de receitas de um lado e as demandas e imposições de gastos e despesas de outro. Esta a ideia de orçamento público enquanto peça fundamental no planejamento da atuação da gestão pública. Não se trata de novidade ao imaginar-se que ao longo da história desde as campanhas bélicas e militares no período da Antiguidade clássica no ocidente e também nas invasões e guerras antigas entre os impérios do oriente, sempre houve um planejamento prévio com definição de estratégias de ação e suporte para tais campanhas. Ao longo dos séculos a mesma ideia fora replicada para os mais diferentes contextos de atuação do Estado, independentemente de sua forma ou dos parâmetros em que estivesse baseado o poder político em todos os cantos do globo terrestre.
Mais recentemente, se traçarmos um recorte dos últimos cem anos, observaremos que o planejamento econômico e financeiro foi o que permitiu a reconstrução da Europa arrasada nas duas guerras mundiais. Foi ele também que permitiu a superação da crise de 1929, da crise do petróleo na década de 70 do século passado, das instabilidades monetárias atravessadas por diferentes países nas décadas de 80 e 90 também do século passado, da crise financeira decorrente da bolha imobiliária nos anos 2000 e o que permitirá a superação da grave crise estrutural decorrente da pandemia a partir de 2020. A organização e reorganização das finanças públicas é o pontapé inicial para qualquer processo de retomada pós-crises. Aliás, é o que permite a minoração dos efeitos de qualquer crise e mesmo em alguns momentos a superação de momentos difíceis com o menor sofrimento possível para pessoas e organizações.
Traçando um novo recorte temporal e espacial, falando especificamente do Brasil, foi a partir da década de 60 do século passado que surgiu de modo mais estruturante o conceito de orçamento programa
enquanto forma de melhor planificar a atuação do Estado brasileiro nos diferentes âmbitos de Poder. Pensou-se então em planificar de modo sistematizado o agir do Estado considerando cada um dos elementos integrantes da estrutura administrativa, tanto da Administração direta quanto da Administração indireta composta por empresas públicas, sociedades de economia mista, autarquias, fundações públicas e serviços sociais autônomos, fazendo-se não apenas a previsão de receitas de cada qual para o ano seguinte como também a autorização para suas respectivas despesas, o que demandava por óbvio a adaptação das regras contábeis já existentes para empresas privadas, também para as organizações públicas. Daí o pensar-se numa legislação de regência própria para a contabilidade pública, processo este que culminou com a aprovação e publicação da Lei Federal 4.320/64³, responsável não apenas pela promoção desta organização, senão também pela definição de conceitos até então nebulosos ou desconhecidos como a divisão das receitas públicas em tributárias e não tributárias, a estruturação das despesas públicas em correntes e de investimento, a justa definição de restos a pagar, as bases para a elaboração de uma lei anual de orçamentação pública com procedimento próprio para sua aprovação e uma organização mínima de controle do gasto a partir da definição da necessidade de empenho prévio da despesa e sua liquidação.
Tais inovações surgiram num momento em que ainda não haviam sido lançadas as bases consolidadas para a separação entre a Ciência das Finanças e o Direito Financeiro. Papel fundamental foi exercido por Aliomar Baleeiro que além de jurista ímpar tendo ocupado inclusive assento no Supremo Tribunal Federal, fora também parlamentar e influenciou de modo incontestável o avanço do regramento normativo a propósito da atividade financeira do Estado⁴, atividade esta que compreende quatro núcleos fundamentais quais sejam: 1) o orçamento público; 2) as despesas públicas; 3) as receitas públicas; 4) o crédito público.
Grosso modo, pode-se dizer que o arranjo destes quatro núcleos que compõem a atividade financeira do Estado precisava ser normatizado a partir de uma modulação legal com base em marcos jurídicos precisos. É isto que foi feito pela Lei de Contabilidade Pública, atualmente em discussão novamente no Congresso Nacional para ser atualizada. A partir daquele período em que promulgada a Lei 4.320/64 conseguiu-se organizar a vida financeira da Administração de modo mais estruturado e racional. Sobrevieram mais tarde normas de contenção de excessos observados ao longo das décadas e que resultaram num gargalo nas contas públicas gerando déficits orçamentários sucessivos, em razão do que uma reorganização foi promovida no ano 2000 com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal⁵, responsável pelo estabelecimento de novas limitações racionais quanto à realização de despesas, notadamente das despesas com pessoal ativo e inativo, e quanto às operações de crédito consistentes que são em formas alternativas de obtenção de mais recursos públicos a fim de cobrir déficits orçamentários. Problema é que tais operações foram utilizadas de modo abusivo e descontrolado especialmente nas décadas de 70, 80 e 90 do século passado mediante a intermediação de instituições financeiras públicas, especialmente os bancos estaduais, cujo resultado foi o enriquecimento de agentes políticos à custa da desorganização das finanças públicas, donde a necessidade de que surgisse uma lei complementar a fim de regulamentar a matéria financeira pública e impor novos limites.
Muito se contesta o excesso de controles existentes hoje na Administração Pública, inclusive quanto às matérias com repercussões financeira e orçamentária, atribuindo os mais apressados a falência fiscal dos Estados-membros, de muitos Municípios e do Governo Federal a este excesso de controle. Tese sedutora, porém falaciosa. Expressões como o apagar das canetas
, o medo do gestor público
, excesso de burocracia
, mãos atadas do gestor
etc, não convencem sob o ponto de vista técnico, porquanto a situação contemporânea de verdadeira calamidade das contas públicas deve-se na sua maior parte justamente aos desmandos, fraudes e gastos descontrolados cometidos por gestores públicos ao longo de décadas. A atividade financeira do Estado tem sido exercida de modo indevido por muitos gestores. Não é coincidência a quantidade enorme de casos de corrupção, lavagem de dinheiro público, superfaturamento em compras públicas, licitações fraudulentas e condenações de agentes políticos que têm sido observadas na última década e meia país afora. Sem dúvida, tal se deve a mais transparência em relação aos gastos públicos à luz da sua divulgação em portais de transparência, a uma imprensa atuante e à autonomia da grande maioria dos órgãos de controle como Ministério Público, Polícia Federal, Controladorias e outros, cuja conformação e atuação institucional tem levado a uma evolução, ainda que lenta, das instituições e das formas de atribuição de responsabilidade.
Em face disto é que tomando como parâmetro os quatro aspectos da atividade financeira do Estado expressos pelo orçamento público, despesa pública, receita pública e crédito público, mais o elemento do controle externo da Administração Pública, passa-se a expor e analisar em minúcias ao longo deste curso de direito financeiro os elementos fundantes das finanças públicas e sua normatização, iniciando-se pela importância da orçamentação pública enquanto elemento primordial para o planejamento, definição de estratégias e atuação da Administração Pública⁶. Para iniciar, trata-se das três leis orçamentárias existentes no Brasil.
1.2 - PRINCÍPIOS DO DIREITO ORÇAMENTÁRIO:
Quando se pensa em orçamentação pública e direito orçamentário, inexiste possibilidade de análise técnica sobre o assunto sem uma visão prévia a propósito dos princípios constitucionais que norteiam o orçamento da Administração Pública, assim como ocorre quanto aos demais ramos jurídicos. Trata-se da base sobre a qual assentam-se as vedações constitucionais, a estruturação formal e material das leis de orçamento, suas vigências temporal e espacial, as restrições e limitações ao uso de créditos adicionais e demais aspectos fundantes a serem examinados neste primeiro capítulo. Os princípios orçamentários além de base interpretativa fundamental para os temas afetos ao Direito Financeiro ainda possui incontestável caráter normativo vinculante, como de resto vem sendo reconhecido mais contemporaneamente nas demais áreas jurídicas, assim no Direito Administrativo e no Direito Tributário⁷ por exemplo, superando-se aqueles assentamentos tradicionais e antigos segundo o qual não se tratava de verdadeiras normas jurídicas. Vejamos de modo resumido cada um deles.
1.2.1 - Princípio da Unidade:
Iniciando pelo Princípio da Unidade Orçamentária e acompanhando as lições da doutrina do Direito Financeiro⁸ tem-se que o mesmo quer significar a imperiosidade de que todas as despesas e receitas do Poder Público estejam contempladas no orçamento público, noção esta que sofre evolução a partir do advento da Constituição Federal de 1988 na medida em que seu artigo 165, parágrafo 5º determina que a Lei Orçamentária Anual compreende três orçamentos distintos consoante será analisado a fundo no item 1.5 deste primeiro capítulo.
Isto posto, delimita-se o Princípio da Unidade de modo tal que há um espaço próprio para a orçamentação pública de todos os Poderes do Estado – o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público e Tribunal de Contas – compreendida também a estrutura da chamada Administração Pública indireta integrada por autarquias, fundações públicas e empresas estatais, havendo por assim dizer uma integração orçamentária entre os diferentes órgãos de um mesmo Poder e entre os diferentes Poderes do Estado. Como há diferentes leis orçamentárias, consoante também será desenvolvido nesta primeira parte do curso, elas devem compreender toda a matéria de orçamentação do Estado, o que repete-se de modo simétrico para Estados-membros, Distrito Federal e Municípios dada a vinculação das Constituições Estaduais e das Leis Orgânicas dos Municípios e do DF às disposições estruturantes da Carta Magna de 1.988.
A relação direta que se estabelece é que além disto não se permite que outras matérias não afetas ao orçamento estejam contempladas em leis orçamentárias. Não são incomuns na história recente da República medidas provisórias que, a título de estabelecerem orçamentos em situações extraordinárias em que não se chegou ao final do ano com um orçamento efetivamente aprovado e publicado sob a forma de lei para o ano seguinte, estabelecem-no para viabilizar a continuidade de funcionamento da máquina, ainda que pendentes de apreciação legislativa. Ocorre que dentro de si tais medidas provisórias contemplaram assuntos avessos e estranhos à matéria orçamentária. O mesmo se deu em outros exemplos de legislação como aquelas relativas à criação de créditos suplementares, cujo conteúdo vez por outra traz autorizações para contratação direta, terceirização de mão-de-obra na Administração, extrapolação de índices de endividamento etc, tudo ao arrepio da Constituição Federal e do Princípio da Unidade.
1.2.2 - Princípio da Universalidade:
Embora aparentemente similar ao anterior, o Princípio da Universalidade diferencia-se por impor tão somente que todas as despesas e receitas do Poder Público devam constar da lei orçamentária extraindo-se daí sua denominação segundo a qual a universalidade da atividade financeira do Estado deve estar contida no conteúdo da lei geral de orçamento. Como será depurado ao longo deste capítulo, esta lei geral de orçamento é denominada de Lei Orçamentária Anual, cuja exatidão entre o total de despesas e receitas permite o equilíbrio da vida financeira da Administração Pública. Já o Princípio da Unidade abarca a integração entre o planejamento orçamentário e autorização para gasto dos diversos Poderes com a exclusão de qualquer outro assunto ou temática dentro das leis orçamentárias, sendo por assim dizer uma premissa para o Princípio da Universalidade.
A ideia aqui é fixar parâmetro hermenêutico vinculante segundo o qual tudo o que seja relativo à previsão das receitas enquanto fontes de financiamento dos gastos públicos, bem como tudo o que diga respeito direto e imediato à autorização para realização de despesas deva estar contemplado no conteúdo das leis orçamentárias.
Um breve exame em portais de transparência de Municípios com busca ativa pelas respectivas leis orçamentárias anuais possibilita a visualização prática do que é determinado pelo Princípio da Universalidade. Ao abrir-se o texto da LOA de um Município qualquer observar-se-á ali, como regra, que há uma abertura por fonte de cada um dos tipos de receitas cuja estimativa de arrecadação fora feita pelo legislador. Da mesma forma, do outro lado do orçamento, tal como será examinado mais adiante, serão encontradas todas as despesas previamente autorizadas cujo montante está indicado também em quantitativo para cada grupo, para cada espécie, para cada órgão e unidade orçamentária. Este o sentido da universidade orçamentária.
1.2.3 - Princípio da Anualidade:
Diferentemente do que ocorre no direito tributário em que um dos princípios estruturadores das limitações constitucionais ao Poder Público é o chamado Princípio da Anterioridade⁹, através do qual assegura-se base de segurança mínima para os contribuintes diante do agir legislativo do Estado quando pretenda instituir novo tributo ou aumentar os valores dos tributos já existentes, seja pela ampliação da base de cálculo seja por aumento de alíquota, pelo que assegura-se aos contribuintes que haja um prazo mínimo de vacância entre a notícia decorrente da aprovação e publicação do texto de lei e o início de sua eficácia, o que segundo a Anterioridade deve dar-se em exercícios financeiros diferentes, mas sem a necessidade de aguardar-se um ano inteiro, no direito financeiro as leis orçamentárias terão vigência por todo um período de um ano calendário, devendo a orçamentação ser preparada para existir num espaço de tempo que compreende justamente um exercício financeiro, coincidente com o ano calendário entre primeiro de janeiro e trinta e um de dezembro.
Esta é a razão pela qual à luz do Princípio da Anualidade a cada ano deve-se pensar na elaboração consistente e estruturada de um projeto de lei orçamentária nova a ser aprovada até o final do exercício financeiro¹⁰ e que será executada no ano seguinte e assim sucessivamente de modo tal que a lei orçamentária propriamente dita, chamada de lei orçamentária anual, têm vigência e eficácia por doze meses. Ela parte obviamente de bases assentadas antes de modo planejado e estruturado em outras leis de orçamento conforme será analisado ao longo deste primeiro capítulo.
Por certo, dada a continuidade do agir da Administração Pública, a vigência periódica do orçamento por um ano fundamenta-se na impossibilidade de sua existência ilimitada, na necessidade de que seja sucedida pela vigência de outro orçamento devidamente discutido e aprovado novamente pelo Poder Legislativo, dentro de um processo de exame e discussão formal previsto na Constituição Federal, o que permite assim um controle maior sobre sua execução, porquanto a cada ano novo estará na pauta de discussão o orçamento para o ano seguinte e assim sucessivamente sem que se aprove um cheque em branco
para período contínuo de tempo.
1.2.4 - Princípio do Equilíbrio Orçamentário:
Decorrência da ideia de racionalidade e eficiência da Administração Pública¹¹ o Princípio do Equilíbrio Orçamentário preceitua a imperiosidade de uma gestão fiscal não apenas eficiente, senão também planejada e organizada, a ponto de que a programação prévia para o curto e médio prazos contemple detalhamento suficiente a garantir que o total de ingressos financeiros seja suficientemente vultuoso para cobrir as saídas decorrentes de gastos correntes e investimentos devidamente autorizados nas peças orçamentárias. Mais que isto, tal princípio impõe a máxima eficiência das ações administrativas e programas de políticas de governo para que se evitem também superávits grandes e que, num primeiro momento poderiam deixar transparecer a ideia de correção no agir da Administração Pública, mas que em verdade constituiriam expressão de um mal planejamento. O ideal apregoado pelo Princípio do Equilíbrio Orçamentário é a exatidão absoluta entre o total de receitas e o total de despesas programados e a mesma identidade numérica quanto ao efetivamente executado.
Bem verdade que a realidade prática apresenta nuances próprias, fatores imponderáveis e questões que embora esperadas são de difícil diagnóstico quanto à sua exatidão em termos de valores como por exemplo as quebras orçamentárias em face da redução de atividade econômica que implique em perda de receita devida a menor arrecadação tributária, por exemplo. Ocorre que como linha geral principiológica, deve-se manter no horizonte como objetivo a ser perseguido diuturnamente o equilíbrio orçamentário entre receitas e despesas. Questões pontuais como restos a pagar, sobras orçamentárias e perdas de arrecadação devem ser tratadas com o devido cuidado, seguindo-se sempre as normativas das Lei de Contabilidade Pública e as bases jurídico-constitucionais a propósito do Direito Financeiro.
Evidentemente que não apenas um planejamento de excelência mas também um monitoramento e acompanhamento permanente durante a execução orçamentária em todos os níveis de governo, em cada uma das estruturas orgânicas da Administração Pública¹², são exigências que se impõem à plena realização deste princípio, o que exige um grande comprometimento das estruturas responsáveis pela arrecadação e pelos gastos, devidamente integradas com as unidades de controle interno, peças-chave de um sistema orçamentário equilibrado. A propósito disto, ressalte-se que infelizmente o grosso da estrutura administrativa brasileira ainda carece de mais autonomia e eficiência quanto aos órgãos controladores internos, notadamente nas Administrações Municipais, cuja imposição de controle é mal vista, mal compreendida e mal estruturada pelo Poder Público.
1.2.5 - Princípio da Exclusividade da Matéria Orçamentária:
Este último princípio do rol aqui definido e diretamente relacionado ao Princípio da Unidade Orçamentária já visto acima, apresenta-se como independente para parte da doutrina, razão pela qual aparece destacado em item próprio; para outra parte da doutrina ainda incipiente do Direito Financeiro porém, está contemplado dentro do Princípio da Unidade Orçamentária. Independentemente disto, observe-se que o rol aqui escolhido como parâmetro para os fins de delimitação deste curso não esgota a relação dos princípios orçamentários. O princípio ora tratado em específico possui uma relação direta com a imperiosidade de combater uma prática arraigada na cultura político-legislativa brasileira, qual seja a de esconder em meio a textos legislativos longos e complexos, armadilhas e normas sorrateiras instituídas o mais das vezes para atender interesses pontuais e nem sempre republicanos.
Tal princípio veda a criação de crédito adicional, o remanejamento de saldo de determinadas rubricas orçamentárias ou a suplementação de dotação para aquisição de determinado bem ou serviço em meio a uma medida provisória que tenha por escopo principal a instituição de um programa de incentivos fiscais em favor de determinados contribuintes, por exemplo. Impede-se também a ampliação de saldo de uma conta orçamentária afeta a um determinado tipo de contratação de serviço dentro do texto de uma nova lei de posturas municipais e normas para obtenção de alvarás de construção dentro da cidade. O contrário também é verdade, porquanto está proibida a utilização de uma lei orçamentária