Uma Cartografia sobre o Tosco: Micropolíticas no Consumo Digital da Gravadora Läjä Records
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A principal pergunta que esta pesquisa busca responder é: o consumo de produtos e as mensagens da subcultura punk, com marcadores ideológicos claros, podem apresentar novas formas de resistência ou são uma espécie de diluição?
Essa ambivalência torna a Läjä (como caso representativo) um objeto interessante para análise. A busca é por compreender como se articula uma ideia de resistência via discurso e estética no contexto digital de atores independentes. Minha hipótese é que as novas formas de consumo digital possuem poder de mobilização política, podendo ser vistas como práticas de resistência no contexto das micropolíticas do cotidiano. Ao final da pesquisa, concluo que o sucesso da gravadora está diretamente ligado aos seus posicionamentos toscos, alegres, combativos e colaborativos. Nomeei esse fenômeno como estética do tosco.
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Uma Cartografia sobre o Tosco - Luis Henrique Bottoni
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
AGRADECIMENTOS
Acredito que toda pesquisa nasce de uma inquietação, de um incômodo. Lidar com esse incômodo, muitas vezes, pode tornar o processo muito complicado. Mas, ao mesmo tempo, sem o deslocamento e todo o nervosismo que ele envolve, o crescimento epistemológico do pesquisador e o avanço da própria ciência em si não seriam possíveis.
Gostaria de começar agradecendo à professora doutora Saraí Patrícia Schmidt, que, desde o período da graduação, foi uma das mestras que despertaram meu interesse pelo universo do desenvolvimento acadêmico e me ajudaram a enxergar que é dever ético do profissional de comunicação atuar de forma ativa no mundo a fim de transformá-lo. Além disso, sem suas contribuições durante a banca de qualificação, este trabalho estaria muito menos complexo e profundo. Em segundo lugar, agradeço à professora doutora Adriana Amaral, que conheci durante o mestrado e cujos apontamentos foram essenciais, principalmente no que tange às subculturas e à metodologia da cartografia. A menção dessa metodologia em minha banca de qualificação transformou minha relação com a pesquisa. Em terceiro, não posso deixar de agradecer à professora doutora Melina Santos, que participou da minha banca de defesa me ajudando a problematizar algumas ideias e conclusões, além de auxiliar na construção de possíveis caminhos futuros.
Também agradeço, é claro, à professora doutora Sandra Portella Montardo, que orientou este trabalho. A professora Sandra já vem me dando apontamentos sobre a pesquisa em comunicação desde minha banca no trabalho de conclusão de curso na graduação, em 2016. Durante o mestrado, desde meu ingresso, passando pela escolha do tema de pesquisa e durante os diversos processos de orientação, a Sandra sempre soube me questionar de forma a problematizar quaisquer suposições que eu viesse a fazer, e eu podia sentir sua vibração quando discutíamos o tema e os caminhos dos próximos passos. Devo muito desse processo de pesquisa ao seu apoio.
Gostaria de agradecer também aos meus amigos, por todo o apoio que sempre me deram nos momentos de dificuldade e por, algumas vezes, acreditarem na potência dessa pesquisa (e, agora, deste livro) mais do que eu mesmo. Tenho que fazer uma menção especial à Maria Catharina dos Santos Alves, cujas indicações e discussões me foram essenciais não apenas para seguir motivado, mas também e principalmente no que tange à compreensão do processo de desenvolvimento da cartografia. Gostaria também de mencionar minha companheira, Elisa Müller, cujos afeto e questionamentos me tornam, a cada dia, uma pessoa melhor. Fico muito feliz pelo privilégio de caminhar ao seu lado. Aos demais amigos, os quais não vou citar nominalmente porque tenho receio de deixar algum nome importante passar sem ser citado: que sigamos amando o SUS e afetando uns aos outros de forma ativa e apaixonada.
Ao meu irmão, João Gabriel Bottoni, deixo meu muito obrigado por todo o apoio e pela sagacidade de sempre. Seu bom humor e sua firmeza ao se posicionar em relação às injustiças dessa sociedade em que estamos inseridos são uma profunda inspiração para mim. Tenho muito orgulho de chamá-lo de irmão. Ao meu pai, Almir Luiz Bottoni, agradeço também pelo apoio e por sempre me fazer questionar minhas posições e decisões. Apesar de algumas diferenças marcantes em nossas visões de mundo, tenho certeza que o amor que sentimos um pelo outro é maior e seguirá perseverando por toda nossa existência. Agradeço também à minha mãe, Neiva Godóis Miranda, cuja sabedoria, afeto e amor fizeram de mim quem sou hoje, e cujo apoio se provou essencial não só durante as crises em relação ao mestrado, mas em relação a todos os desafios que a vida me apresentou até hoje.
Por fim, é claro, fica meu profundo agradecimento a todos que contribuíram para o financiamento coletivo, cujos nomes listo a seguir. Sem vocês este livro não seria possível, muito obrigado!
APOIADORES
O erro do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem compreender e, principalmente, sem sentir e estar apaixonado.
(Antonio Gramsci)
PREFÁCIO
Luís Henrique Bottoni chegou ao mestrado em Processos e Manifestações Culturais, da Universidade Feevale, intrigado sobre se o consumo relacionado ao punk independente observável em plataformas de redes sociais era uma forma de diluição ideológica ou resistência. Afinal, a conta do Instagram de Fábio Mozine, proprietário da gravadora Läjä Records, ator importante do cenário hardcore underground brasileiro em torno do qual se estruturou sua pesquisa, era tudo isso junto e misturado. Como orientadora de Bottoni, senti na inquietação do pesquisador uma expressão genuína da condição do próprio autor, ele mesmo, a um só tempo, publicitário e punk, um diretor de arte que promove produtos e serviços com sua sensibilidade estética, intrigado com os desígnios comerciais de uma subcultura marcada, desde seu início, pela resistência ao status quo. E que, por tudo isso, fascina-o.
Essa ambivalência como condição humana contemporânea que, em todos nós, emerge de alguma forma, anima seu trabalho de pesquisa do início ao fim. Com o objetivo de analisar a produção e o consumo digital de discursos e produtos do punk nacional independente, considerando processos de formação de identidade, a partir do caso da gravadora Läjä Records, a natureza interdisciplinar do curso em que a pesquisa foi desenvolvida é evidente. A exploração teórica parte de conceitos de cultura (subcultura), linguagem e identidade, e avança, de forma consistente, para uma abordagem sobre consumo e micropolíticas no Instagram. O percurso metodológico se deu pelo método da cartografia, que se relevou pertinente para o fim de delinear um mapa, inacabado e provisório, porque só um mapa assim seria capaz de contemplar a complexidade que envolve consumo simbólico, material, posicionamentos políticos bem definidos e música.
A possibilidade de elaboração de inquietações internas autênticas com a apropriação rigorosa de elementos externos (conceitos e métodos) expressa-se na forma de um texto em que o leitor sente-se descobrindo, ao mesmo tempo que o autor, as pistas para esse desfecho. Em vez de um texto burocrático, que seleciona as partes que, às vezes, artificialmente, venham a confirmar um resultado de investigação previamente imaginado, Bottoni compartilha em seu livro o seu processo de pesquisa propriamente dito, propondo, com isso, uma espécie de pacto de cumplicidade com o leitor que raramente se observa e do qual o leitor não tem alternativa a não ser render-se a ele. O texto, escrito em primeira pessoa, é expressão formal da pergunta que o próprio autor faz-se no livro: "Se você começa uma pesquisa já sabendo