Diário do acolhimento na escola da infância
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E, em nosso caso, isso significa também a organização do espaço e do tempo para ela se movimentar e viver as primeiras experiências culturais e sociais. Por meio da descrição de cada mês, é apresentado neste livro o diário de um possível ano de trabalho na pré-escola. As funções dos cantos, das paredes, do jardim e os momentos de atividade e de descanso tornam-se, em seu conjunto, orientações que levam a uma nova metodologia: a do sorriso e do acolhimento."
Gianfranco Staccioli
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Diário do acolhimento na escola da infância - Gianfranco Staccioli
Enzo Catarsi
¹
A ambientação e o acolhimento representam um ponto privilegiado de encontro entre a escola da infância e as famílias, visto que fornecem oportunidades preciosas de conhecimento e de colaboração que podem se iniciar por meio de contatos e encontros antes mesmo da entrada dos pequenos na escola. É, certamente, importante a capacidade do professor e da escola, em seu todo, acolher as crianças de modo personalizado e lidar com as suas emoções e com as de seus familiares durante os delicados momentos de separação, de ambientação cotidiana e de construção de novas relações com os colegas e com outros adultos [CEDES, 1995].
Esta parte específica das Orientações² explicita o valor do primeiro acolhimento, embora – como está bem claro neste livro – toda a pré-escola precise ser, sempre e constantemente, acolhedora
.
Para que isso ocorra, é preciso colocar em foco as competências relacionais dos professores, inclusive por causa do renovado reconhecimento que a questão das relações assume na profissão de ensinar. As Orientações, de fato, afirmam:
Ser professor de pré-escola implica, hoje, um perfil muito complexo, de grande responsabilidade, e requer o domínio de competências culturais, pedagógicas, psicológicas, metodológicas e didáticas específicas, juntamente com uma sensibilidade aberta e disponibilidade para a relação educativa com as crianças [idem].
Uma pré-escola renovada precisará, portanto, cada vez mais, de uma nova prática educativa, com características muito diferentes daquelas com as quais estamos acostumados. Esta deverá ser constituída por uma tripla dimensão de competências, que poderia ser caracterizada da seguinte maneira: 1) competências culturais e psicopedagógicas; 2) competências metodológicas e didáticas; e 3) competências relacionais. Não se pode deixar de perceber, portanto, esse novo perfil da profissão de educadora, diferente do atual. A proposta, no entanto, não pretende criticar, de maneira polêmica, a atual categoria de profissionais da educação, cuja formação, como se sabe, sente ainda os efeitos dos resultados nefastos da grande onda
gentiliana³, cujas lacunas, mesmo sendo cada vez mais evidentes, não podem ser essencialmente atribuídas a responsabilidades subjetivas. É necessário, portanto, trabalhar para a sua superação, talvez organizando experiências orgânicas de formação em serviço que tenham a continuidade e a sistematicidade como características distintivas. Ao mesmo tempo, é justo esclarecer que a caracterização da tripla competência, com base na nova prática docente, deve ser entendida em toda a sua dinamicidade e que as três dimensões devem estar presentes de maneira equilibrada.
É por uma questão de espaço, portanto, que se insiste apenas na competência relacional, a qual deve ser cada vez mais considerada central na definição da profissão de educadora de pré-escola. Tudo isso à luz da convicção, cada vez mais difundida, de que o trabalho em equipe constitui um aspecto imprescindível do trabalho na escola dos pequenos, onde o coletivo ou o grupo de professores deve poder agir de maneira colegiada e colaborativa.
A capacidade da educadora de instaurar relações positivas é muito importante para melhorar a relação com as famílias, que são as principais interlocutoras da pré-escola.
Com esse fim, a escola da infância – afirmam as Novas Orientações –, valendo-se de todos os meios previstos e possíveis (entrevistas individuais, assembleias, reuniões, conselhos, comitês, grupos de trabalho), deve criar um clima de diálogo, de discussão e de ajuda recíproca, deve envolver os pais no planejamento educativo, valorizar e potencializar a participação responsável de todas as figuras e instituições interessadas [idem].
As recomendações técnicas sobre a relação com as famílias são, portanto, muito importantes e levam a superar uma postura de isolamento e de fechamento que, às vezes, ainda se encontra presente nas educadoras, cujas expectativas profissionais – desde o momento da formação inicial – estão voltadas para as crianças e não para os seus pais. A consciência do caráter ecológico
e global do desenvolvimento infantil, ao contrário, deve tornar cada vez mais clara a necessidade de uma relação orgânica e continuada, inclusive com as famílias, às quais é preciso dirigir-se com uma postura que inspire segurança e empatia.
A competência relacional do professor revela-se, enfim, fundamental para estabelecer relações gratificantes e encorajadoras
com as crianças, tendo-se a convicção de que o comportamento dos professores é essencial para o desenvolvimento de personalidades equilibradas e, também, para o próprio sucesso das crianças nas atividades escolares. O professor encorajador deve procurar estimular na criança autoestima, confiança, segurança, interesse social e a capacidade de cooperar e de desenvolver atividades. Ao mesmo tempo, ele deve orientar-se por uma série de princípios, entre os quais, em primeiro lugar, o de promover as atividades das crianças de acordo com as suas motivações pessoais.
O professor também precisa ser capaz de compreender a realidade específica de cada criança, tomando consciência dos eventuais problemas que podem surgir da sua história pessoal ou do ambiente familiar de origem. Nesse caso, as crianças sentem-se, de fato, consideradas e respeitadas e, portanto, adquirem mais facilmente a segurança que é imprescindível para poderem obter resultados no estudo. Outro princípio importante é o de redimensionar eventuais insucessos dos alunos, não supervalorizando os seus erros, de modo que as crianças com maiores dificuldades não percam a confiança em suas possibilidades e não desenvolvam uma percepção negativa de si mesmas. Outra coisa importante é atribuir responsabilidade às crianças de forma que elas se sintam criadoras de sua vida educacional. Mas o princípio mais significativo que o professor encorajador
e acolhedor
precisa ter em mente é, a nosso ver, enfatizar o positivo
, o que significa a oportunidade de evidenciar os aspectos positivos do desempenho das crianças, sem ressaltar os negativos.
A competência relacional deveria, ainda, tirar proveito do conhecimento dos problemas e das técnicas de comunicação no contexto escolar, começando pelas estratégias de acolhida e de reforço social, que se mostraram indubitavelmente úteis. É preciso lembrar que, quanto à comunicação não verbal, a atitude de acolhimento passa por comportamentos não verbais: olhares, gestos, postura do corpo e tom da voz. Dizer algo para a criança com tom irônico ou ameaçador provoca confusão e até mesmo o bloqueio da verbalização. A posição do corpo também tem um significado: na pré-escola, especificamente, sentar-se de frente para a criança, de forma que os olhares possam se cruzar, propicia uma comunicação melhor e, ainda, dá à criança a impressão de ser aceita. A proximidade física, evidentemente, confere segurança à criança, que se sente segura também com a atenção que o adulto demonstra quando a olha diretamente ou quando lhe dirige regularmente o olhar enquanto desenvolve uma atividade em grupo. Um sinal de anuência e um sorriso são dois comportamentos não verbais que confirmam e dão segurança à criança.
Em relação à comunicação verbal, verificou-se em numerosos estudos a utilidade da descrição da situação. Outros comportamentos confirmadores podem ser: pedidos de esclarecimento de informações, expressões de encorajamento e as que revelam interesse. Do mesmo modo, foram valorizadas a repetição-eco ou resposta espelhada e a reapresentação dos conteúdos. Essa última, de acordo com as competências linguísticas da criança, pode assumir a forma de expansão (isto é, completar a frase durante a reapresentação do conteúdo) ou de paráfrase (ou seja, reapresentação do conteúdo com outras palavras). Revelou-se especialmente útil a técnica, de origem rogeriana, da confirmação com a repetição-eco ou a resposta espelhada, que propicia a livre expressão dos sujeitos. A utilização dessa técnica, também chamada de espelhamento verbal
, proporciona à criança uma constante provocação e a coloca em condição de se expressar continuamente, já que o professor se limita a verbalizar os seus comportamentos e a resumir o que foi dito, demonstrando interesse pela sua verbalização ao lhe dar sempre a vez de falar.
Essa estratégia pressupõe a aceitação do que o interlocutor está expondo e fundamenta-se na necessidade de não exprimir avaliações de nenhum tipo, negativas ou positivas. A simples presença de avaliações positivas pressuporia existência de avaliações negativas e isso poderia inibir o fluxo da conversa. Trata-se, ao contrário, de demonstrar interesse constante pelo interlocutor e compreensão em relação ao seu discurso, o qual poderá se enriquecer e se desenvolver de forma mais articulada por causa das perguntas encorajadoras
do professor e do seu comportamento global de acolhimento. Desse modo, a educadora de pré-escola poderá, realmente, instaurar uma relação encorajadora
com a criança e contribuir para o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada e multilateral em uma escola da infância verdadeiramente