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O Globetrotter: Como o primeiro nômade digital se tornou o homem mais viajado do mundo
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O Globetrotter: Como o primeiro nômade digital se tornou o homem mais viajado do mundo

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About this ebook

O Bestseller inglês Globetrotter chega ao Brasil. E por um bom motivo! O homem mais viajado do mundo, Ian Boudreault, sempre disse que o Brasil foi seu país favorito no mundo! Uma história real e de tirar o fôlego sobre dedicação, perseverança e inovação no empreendedorismo online e alternativa de vida. Um testemunho sobre como levar os limites da curiosidade humana a novas fronteiras.
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_x000D_ "Antes da era Covid-19, ser um globetrotter digital e passar por todos os países do mundo parecia estar na moda, por isso Ian estava definitivamente criando uma tendência"Tony Wheeler, Co-fundador da Lonely Planet
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_x000D_ O que você poderia aprender após mais de vinte anos passados percorrendo o planeta, sendo dezessete deles sem pausas, como um empreendedor digital? O quanto a sua vida poderia mudar após explorar todos os países do mundo,  230 países incluindo cada um dos 195 reconhecidos pelas Nações Unidas? Esse é o relato de uma incrível jornada com reviravoltas e aventuras sem fim. São dezessete anos vivendo e trabalhando com uma mochila nas costas, carregando consigo apenas o absolutamente essencial para viver confortavelmente, financiado pelo home office, através das maravilhas da renda passiva. A história sobre como um homem destinado a uma carreira promissora de Engenharia se tornou assombrado pela ideia de ter que viver uma rotina de trabalho das nove da manhã às cinco da tarde, engatilhando seus instintos nomádicos para escolher uma vida em que ele pudesse dedicar cada dia de sua existência para viver, respirando e experimentando a liberdade, muitas aventuras e surpresas. A história de como um homem que, embora curioso sobre o que o mundo reservou para ele, se apaixonou pelo Brasil e seu povo, lutando para decidir entre ficar ou continuar seu caminho para novos horizontes.
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_x000D_ Um testemunho inspirador sobre formas alternativas de viver a vida fora dos caminhos tradicionais que nós sempre conhecemos. Uma reflexão sobre o nível de liberdade que uma pessoa consegue alcançar quando se dá essa oportunidade. Uma sede por conhecimento guiada por um desejo de encontrar outros colegas cidadãos do mundo, desde aqueles pertencentes a tribos até a realeza, do Afeganistão ao Zimbábue, pela terra, mar ou pelo céu. Uma jornada motivada apenas por um desejo: descobrir o desconhecido e viver cada dia como se fosse o último.
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_x000D_ Abandonar a segurança e o conforto da civilização ocidental não é a coisa mais intuitiva a se fazer. A história de um sonhador que, por toda a sua vida, teve o desejo de viajar e que, com o diploma de Engenharia em mãos, decidiu jogar tudo fora e arriscar uma saída da vida tradicional. O conceito de empreendedorismo online era desconhecido até então, quando o sonhador decidiu ser o pioneiro de um novo estilo de vida e apostar "tudo ou nada" em uma configuração de nômade digital para custear seu amor por viajar. Uma jornada que, de forma vagarosa, certamente o guiaria por todos os países do mundo.
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_x000D_ Uma longa viagem que, invariavelmente, trouxe um catálogo de inesperadas anedotas fresquinhas. Seu hábito de sempre testar o território e socializar nas mais diversificadas situações o levou a se infiltrar em tribos na África, Oriente Médio e nas Ilhas do Pacífico, a se juntar às comunidades de surfistas nos mares mais remotos ou até dividir refeições com os nômades mongóis, assim como com ministros afegãos. Seu estilo incomum de viajar o levou a navegar o Oceano Pacífico, de navios cargueiros a iates, cruzando fronteiras internacionais pela selva em uma motocicleta e, até mesmo, embarcar em trens intercontinentais por milhares de quilômetros. Isso muitas vezes o levava a encarar os horrores da guerra em locais como Síria, Iêmen, Iraque e Líbia, enquanto escapava das mãos do terrorismo por muitas ocasiões.
_x000D_
_x000D_ Essa é uma história de um aventureiro inquieto com gosto pela vida.
LanguagePortuguês
Release dateOct 1, 2021
ISBN9789962137757
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    Book preview

    O Globetrotter - Ian Boudreault

    SUMÁRIO

    Prefácio

    1 -Fora do Caminho Batido

    2 - Aspirante a Nômade

    3 - A Correria do Dia a Dia

    4 - O Nômade Digital

    5 - Viagem de Volta ao Mundo

    6 - Verão Sem Fim

    7 - Projeto WorldWide

    8 - O Globetrotter Digital

    9 - A Todo-Poderosa Viagem à Glória

    10 - O Fim do Mundo

    11 - Hoje e Depois

    Sobre o Autor

    Também por Ian Boudreault

    Apêndice

    PREFÁCIO

    O mundo? Conquistado!

    É fenomenal finalmente ser capaz de fazer essa afirmação. Na verdade, eu senti calafrios escrevendo isso pela primeira vez. Mas compartilhar o fato de que eu viajei para cada país do mundo, completando um total de 230 países, incluindo todos os 195 reconhecidos pelas Nações Unidas, não é o objetivo final deste livro. Se o fosse, eu certamente teria esperado até à última frase do último capítulo para declarar essa frase. Em contrapartida, eu decidi declará-la assim que possível - no comecinho do primeiro parágrafo. É só a minha forma de quebrar o gelo nesse assunto. Uma bela forma de iniciar a conversa, não acha?

    Chegar à contagem de 195 países não foi o fim das minhas aventuras, mas sim um simples marco em um compromisso eterno com essa vida de nômade. Então, por que eu me dei ao trabalho de contar os países em que estive se isso não tem tanto significado para mim? Puramente pelo motivo de que isso me fornece uma base de medida, assim como quilômetros em uma estrada. Essa não é mais uma história dos chamados contadores de países, pisando em todos os aeroportos possíveis somente para seguir para o próximo destino o mais rápido possível, buscando algum prêmio do Guinness World Records. Se esse fosse o meu objetivo, eu não teria espalhado minha exploração de cada país ao longo de quase vinte anos, circulando o planeta sem parar e aproveitando o processo de não apenas ver e conhecer; mas também de realmente ter a experiência de diferentes culturas e compartilhar horas valiosas com pessoas de todos os tipos. O verdadeiro filé-mignon de toda essa história é a jornada em si, desde as decisões que me levaram de apenas um garoto canadense qualquer, seguindo seu caminho pré-definido, para alguém que repentinamente se recusou a tomar o caminho mais fácil e, ao invés disso, tentou novas rotas fora do comum. Aquele momento dramático que me levou rumo a incontáveis horizontes e que forjaram a pessoa que hoje apresento a vocês. 

    Isso tudo pode parecer muito empolgante de ouvir, mas infelizmente para mim, nem sempre foi uma jornada tranquila. Felizmente para meus leitores, esses empecilhos e obstáculos inesperados me forneceram uma extensa coleção de episódios dramáticos e interessantes, garantidos de fazer o seu coração pular uma batida - ou duas! Na verdade, esse livro pode parecer ficção, mas eu garanto que é tudo 100% verdade.

    Quando eu inicialmente criei o meu blog The Digital Globetrotter, eu queria debater com meus leitores duas noções chaves em que eu me especializei e que caracterizam quem eu sou, ambas ecoadas neste livro. Primeiramente, queria falar sobre o conceito de nômade digital. Por volta de 2005, quando eu saí pela primeira vez como um nômade digital em tempo integral, durante um período no qual ainda havia poucas oportunidades de ganhar dinheiro online (especialmente sem uma locação fixa e viajando por tempo indefinido), ser pioneiro nesse conceito era puramente uma aposta. Minha escolha não foi tão fácil como seguir os passos de um mentor no YouTube… A plataforma nem existia na época! Era sobre deliberadamente se tornar um experimento numa área completamente nova, aprendendo por tentativa e erro e arriscando uma carreira promissora de engenheiro nas incertezas da estrada.

    Segundo, The Digital Globetrotter era sobre o viajante mundial que sou. Tendo finalmente a base financeira para sustentar as viagens, assegurada por trabalhos online, a minha liberdade recém-descoberta de movimento me deu força para seguir um sonho de criança: o sonho de alcançar as terras mais distantes, de explorar profundamente todos os países deste planeta maravilhoso, e eventualmente me tornar o homem mais viajado do mundo. Ainda estou vivendo esse sonho, enchendo mais de dez passaportes no processo e cruzando mais de duas mil fronteiras internacionais, com o único objetivo de introduzir quantas experiências incríveis eu puder no meu dia a dia. Um estilo de vida totalmente desprovido de rotina, uma aventura excitante atrás da outra, ou como gosto de dizer, meu verão sem fim.

    Fique tranquilo, este livro não foi escrito como uma série de tópicos mostrando cada país em que estive. Ao contrário, ele tem a intenção de discorrer sobre diversas escolhas de vida delicadas, começando por como escolher um caminho alternativo na vida pode ser frutífero para criar uma existência única e fora do comum. Afinal, você só tem uma chance na vida… melhor aproveitá-la logo! Este livro não é, definitivamente, um guia de autoajuda, mas com certeza inclui minha notória narrativa de mentor que emprego por tantos anos, seja pessoalmente ou através do blog, para ajudar as pessoas a fazerem a transformação para esse estilo de vida maravilhoso. Desde o começo, eu fiz do meu assunto principal os experimentos em navegar pelos obstáculos que esse modo de viver me trouxe. Estou finalmente pronto para passar esses ensinamentos para meu público com base nessa jornada incrível.

    O que alguém pode aprender em quase vinte anos vivendo na estrada, de forma puramente minimalista, sobrevivendo de uma única mala? Essa história vai demonstrar como manter as coisas simples e focar nos aspectos humanos da vida pode criar encontros fascinantes no dia a dia, não importa em qual lugar do mundo esteja.

    O AUTOR.

    Rio de Janeiro, 2021

    1

    FORA DO CAMINHO BATIDO

    (2013)

    – Isso é África! – o motorista de táxi coletivo gritou para mim, como se fosse uma resposta que bastasse para explicar o porquê de nada estar funcionando naquele dia na fronteira Guineana. Aquelas três palavras fizeram com que um sentimento de déjà vu tomasse conta de mim. Após já ter cruzado vinte e oito países no continente africano sozinho, percebi que cada um deles tinha o costume de utilizar constantemente a mesma expressão. Uma frase simples, mas poderosa, como se pudesse resolver qualquer problema, acabando com qualquer tipo de contratempo, reduzindo-o à insignificância. Àquela altura eu já tinha aprendido que, quando o poderoso Isso é África era usado, deveria ser aceito como uma justificativa legítima para qualquer problema, e que eu deveria responder com um simples Ah, tudo bem e seguir em frente. Era isso o que eu amava neste continente: os desafios permanentes e as persistentes soluções para os problemas.

    Sendo engenheiro, fui devidamente treinado pela minha universidade no Canadá para resolver qualquer tipo de problema, não importando em quais circunstâncias. Essa é uma habilidade que me ajudou, até o momento, a traçar um caminho por mais de 70% do mundo. Aqueles que são mais viajados concordarão que nenhum diploma capacita alguém para o transporte público nas cidades da África. Você precisa viver isso tudo para compreendê-lo plenamente. Especialmente porque menos de 50% dos países esperam receber turistas e, portanto, têm pouca infraestrutura – senão nenhuma. A maioria está acostumada apenas com soldados das Nações Unidas e trabalhadores de ONGs, tanto que, muitas vezes, imaginaram que eu fosse um deles. Muitos africanos que eu conheci pelo caminho tiveram dificuldade de entender o motivo exato pelo qual um viajante como eu desejava visitar seu país. Mal sabiam eles que superar tais desafios foi a essência do que fez minhas aventuras na África tão atrativas.

    De qualquer maneira, eu ainda não tinha solução para o meu problema naquele momento. Eu precisava sair da Guiné-Bissau para conseguir chegar no meu próximo destino conforme o planejado. O destino era Conacri, na vizinhança da República de Guiné. O país era, como a Guiné-Bissau, um dos mais pobres do mundo. O tempo estava curto para mim. Faltavam apenas alguns dias para o Natal e eu não queria ficar preso ali. Se eu esperasse mais, isso poderia prejudicar minha viagem para River nº 2, em Serra Leoa, conhecida por ser uma praia paradisíaca. Aparentemente, era um dos maiores segredos escondidos pela África, prometendo um fornecimento infinito de lagostas por um valor muito baixo.

    Esse seria o lugar perfeito para que eu esquecesse da solidão de mais um Natal longe da minha família, em um dos lugares mais remotos da Terra. O objetivo seguinte seria continuar minha jornada – por terra – pela Libéria e alcançar a Costa do Marfim até a véspera de Ano-Novo, onde um amigo estaria me esperando. Seria a melhor oportunidade de uma boa companhia para celebrar o começo do ano novo em toda a sua glória.

    Aparentemente, os táxis coletivos não estariam partindo em um futuro próximo devido às greves e ao bloqueio de rodovias no caminho para a cidade de Gabu, perto da fronteira. Para mim, isso não era algo incomum, de forma alguma. Definitivamente não era um impedimento para viagens na principal rodovia do país, já que bloqueios de rodovias e greves são bem comuns na África.

    Julgando pelo tom de voz, eu sabia que ele não estava blefando para me colocar em um esquema inflado de preço quando resmungou:

    – Algumas pessoas estão protestando contra o governo mais uma vez.

    Era dezembro de 2013. Os tempos eram difíceis em Guiné-Bissau. O país estava no meio de uma instabilidade política causada pelo golpe militar do General Kuruma um ano antes. Este ficou internacionalmente conhecido como o Golpe da Cocaína, pois foi amplamente difundida a crença de que o golpe havia sido orquestrado para facilitar o narcotráfico. O país buscava desesperadamente assegurar seu papel mediador no trânsito de drogas entre a América Latina e a Europa.

    Nessa época, a Guiné-Bissau era o pior país em relação ao narcotráfico na África. Aproximadamente 60% de toda a cocaína que transitava pela Europa passava pelo pequeno país do Oeste Africano. Era fácil compreender como alguém no poder lucrava com esse dinheiro vindo das drogas. A única coisa que realmente me afetou como viajante foi a corrupção entranhada em qualquer pessoa vestindo um uniforme; então, eu tomava o cuidado de sempre carregar algum dinheiro para o caso de me pedirem suborno.

    Naquele momento, eu estava preso. Havia apenas duas rotas oficiais para a Guiné. A primeira tinha sido fechada durante o período chuvoso. A segunda era aquela, que agora estava bloqueada pelas greves e que, mesmo se não houvessem greves, era conhecida por ser a pior estrada da África (e provavelmente do mundo todo). A jornada de Bissau a Conacri era uma viagem de 700 quilômetros, normalmente feita via transporte público em três dias, na melhor das hipóteses. Aquela estrada horrível e parcialmente asfaltada estava repleta de buracos, sem mencionar os bloqueios feitos por policiais corruptos a cada vinte quilômetros, mais ou menos, e o incontável número de ladrões. Tudo isso no conforto de estar sendo esmagado em um carro abarrotado com onze passageiros.

    Não havia muita informação no meu guia desatualizado, mas pelo menos era de fácil entendimento. Era mais ou menos assim:

    Planeje-se para fazer esta jornada em três dias. No primeiro, pegue um táxi coletivo de Bissau até Gabu, cruze a fronteira e durma em Koundara; irá durar um dia inteiro para completar os 100 quilômetros se as condições forem boas. No dia seguinte, pegue outro táxi coletivo de Koundara até Labé – mais um dia inteiro de viagem. Finalmente, no terceiro dia, pegue o último táxi coletivo para Conacri.

    Era absurdamente demorado, mas era a melhor das hipóteses, caso tudo desse certo. Os antigos Peugeots 504 usados como táxis coletivos eram conhecidos como sete lugares, um nome para designar a capacidade de passageiros. Em Guiné-Bissau, eles milagrosamente conseguem fazer com que caibam onze. Empurram dois passageiros na frente, três na cadeira de trás, três no porta-malas e dois no teto. Nem preciso mencionar que o nível de conforto era nulo e fez com que essa opção de viagem me parecesse cada vez menos atrativa.

    * * *

    Por estar me sentindo apavorado com esses eventos, voltei para o meu quarto de hotel para processar tudo. A chuva caía forte do céu, um lembrete de que era ainda o período de chuvas fortes daquele ano, e isso significava péssimas condições na estrada durante minha jornada pela África Subsaariana. Eu ouvia o barulho da chuva caindo no meu pequeno quarto de hotel, que era uma porcaria mas custava setenta dólares a noite, graças à presença da ONU inflando os preços em hotéis por todo o continente.

    Além disso, eu não tinha acesso à internet. Na verdade, parecia não haver internet no país inteiro. Como eu poderia gerenciar meu negócio online sem conexão? Alguns websites podem ficar indisponíveis nessa situação, e isso estava me deixando nervoso. Não havia uma forma de socorro, prejudicando meu estilo de vida de nômade digital. Afinal, o que é um nômade digital sem internet? Apenas um nômade, e esse era outro motivo para deixar o país o mais rápido possível.

    Voar estava fora de cogitação, já que a maioria dos voos havia sido suspensa dias antes da minha visita. Uma crise foi instaurada quando as autoridades ameaçaram os tripulantes de uma companhia aérea, forçando-os a embarcar setenta e quatro refugiados da Síria. Esse era o estilo da Guiné-Bissau de lidar com os problemas. Além disso, voar nunca foi uma opção para mim, pois eu sempre fui um viajante aventureiro, não um desses contadores de países que voa de capital em capital do mundo praticamente sem sair do aeroporto. Até então, eu já tinha cruzado o continente africano inteiro duas vezes, uma pelo leste de Uganda até a África do Sul, em 2008, e outra pelo oeste do Marrocos até Camarões, em 2010. Mais uma vez, eu estava empenhado em continuar minha jornada por terra.

    Retornar ao Senegal era a última opção no menu, mas voltar por uma rota já percorrida sempre foi uma alternativa temida por mim, então isso estava fora de questão. Retroceder significaria uma grande derrota na minha cabeça. Eu não cruzei 141 dos 195 países para, de repente, desistir e fazer meu caminho de volta. De jeito nenhum! Não foi assim que eu aprendi a viver minha vida. Eu sempre agi dessa forma, não me importando com o que fosse necessário fazer. Sempre segui em frente, a despeito do tanto que tivesse que lutar para superar todos os obstáculos no meu caminho. Já estava calejado de tantas coisas me empurrando para trás durante minha vida, e sempre lutei para superá-las, seguindo em frente.

    A decisão estava clara para mim. Eu tinha que voltar e arrumar uma forma de sair dessa situação miserável. Eu tinha que convencer o motorista de táxi coletivo a me levar para a fronteira, não importando o que encontrássemos no caminho. Fiz imediatamente minhas malas e o check out naquele hotel péssimo e andei de volta para o ponto de táxi coletivo, sabendo que não tinha volta dessa vez. Eu faria tudo dar certo, mesmo que melhorar minha proposta custasse todo o dinheiro do jantar pelos próximos dias. No pior dos casos, eu iria tentar pegar carona ou ir andando. De qualquer forma, eu encontraria uma solução para sair dessa.

    * * *

    O motorista ainda estava lá – dessa vez, lidando com o que parecia ser uma cena caótica de outros passageiros que também pareciam querer viajar. Graças às minhas habilidades com o português, adquiridas enquanto vivi no Brasil como um nômade digital, consegui negociar com os guinéus locais. Isso seria completamente impossível em inglês e teria resultado em uma derrota definitiva.

    – Mesmo que você me pague mais, nós teríamos que encher o carro com outros passageiros que estariam dispostos a se arriscar – falou o motorista ranzinza. – A não ser que você reserve todos os lugares no carro, não tem jeito de você sair do país hoje, meu amigo. Ou então, você pode voltar ao norte para o Senegal. Ou ainda… pegar a estrada lamacenta pela selva até o sul. – Isso era exatamente o que eu precisava, outra solução fora do comum.

    – Direto pela selva? Sério? – respondi.

    – Não, eu estava brincando – ele respondeu, acrescentando: – Mesmo se você conseguisse passar pela selva com a estrada lamacenta e vias navegáveis, você com certeza seria comido pelos canibais. – Ele encolheu os ombros, sua expressão demonstrava tanto sarcasmo quanto seu tom de voz.

    – Canibais, é?

    Ele estava brincando novamente, mas aquilo ressoou como um eco na minha mente. Eu me imaginei em um desenho animado infantil que eu via na TV, do Looney Tunes, chamado Jungle Jitters. Me vi dentro de um grande caldeirão em cima de uma fogueira no meio da selva da Guiné, com canibais dançando ao redor, enquanto eu era cozido com um tomate na boca! Isso era apenas minha imaginação brincando comigo. Nenhum canibal foi visto na região, os únicos reportados foram na região da Libéria, mais ou menos 400 km ao sul. Eu preferia acreditar que nenhum jamais havia sido descoberto.

    Então eu me lembrei de ler a história da Guiné-Bissau, a qual dizia que pouco era conhecido sobre as áreas de selva no interior do país. Na verdade, mesmo que os colonizadores portugueses tenham tomado conta do país por centenas de anos, estabelecendo postos de troca desde o século XVI, foi a partir do século XIX que eles finalmente consideraram explorar algumas áreas no interior, nas extensas áreas de vias navegáveis. Os comandantes locais africanos eram os únicos encarregados do comércio na área e não permitiam que os portugueses se movessem livremente a lugar algum a não ser para duas cidades: Bissau e Cacheu. As florestas no sul da Guiné-Bissau foram deixadas ao relento e até hoje são um território inexplorado.

    Enquanto eu ainda tentava descobrir como eu convenceria o motorista a me levar para a fronteira, um homem milagrosamente se manifestou na multidão e gritou:

    – Eu posso te ajudar! Tenho um irmão que pode te levar de moto até Conacri, pela selva, em apenas dois dias.

    Dessa vez, não pareceu uma das piadas deles; por mais doido que fosse, levei isso a sério imediatamente.

    – Sério? Mas como? E por quanto? – exclamei. – Na moto cabemos nós dois e minhas duas mochilas grandes?

    – Claro. Eu consigo facilmente carregar minha mulher e as três crianças na minha motocicleta, então não é problema algum – ele me assegurou.

    Em quinze minutos, ele chamou seu irmão Paulo para negociar e chegar a um acordo sobre minha jornada pela selva da Guiné. O plano era, na verdade, um péssimo plano! Parecia com esses arranjos de última hora para conseguir um quarto em hotel. Basicamente, a ideia era montar na parte de trás de uma velha 100cc japonesa com minha mochila de vinte quilos encaixada no guidão, carregando nas costas minha segunda mochila de trabalho, de dez quilos, que guardava o meu computador. Nós iríamos assim em uma jornada de 250 km pelos arbustos, passando por alguns rios e lagos, e finalmente cruzando a fronteira, com esperanças de chegar a Boké, no lado guineano, antes do cair da noite. Ele me disse que a vantagem de ir por esse caminho era que, caso algumas estradas de chão estivessem bloqueadas por derramamentos de lama ou por rios, haveria na floresta outras estradas de chão abertas por moradores locais como rotas alternativas para conectar as vilas. Uma péssima ideia, você me diria, se eu tentasse te convencer a aceitar esse plano. Considerando as circunstâncias, esse foi o melhor plano ao qual eu fui apresentado em anos!

    Havia um risco. Mesmo com informações sobre ladrões nas estradas assolando o país, eu estava colocando minha confiança nesses homens que tinha acabado de conhecer. Eu poderia facilmente ser sequestrado no meio da selva, ter meus bens furtados e depois ser enterrado em uma vala sem nenhuma chance de alguém ouvir falar de mim novamente. Eu estaria para sempre perdido no meio de uma terra de ninguém, na selva, em um Estado dominado pelo narcotráfico. O que me chocava era que esse tipo de situação era completamente novo nas minhas aventuras de viajante. Ali estava eu, me imaginando na estrada de chão, fora do caminho comum, em áreas do planeta que talvez nunca tivessem sido visitadas por um ocidental. Nem mesmo pelos colonizadores portugueses que estiveram presentes no país por quatrocentos anos. Ironicamente, apenas algumas semanas antes, fui contactado por um jornalista de um dos maiores jornais do Canadá para fazer parte de uma série de artigos sobre os grandes Viajantes Franco-Canadenses da história. Eles me ranquearam em segundo entre 300 candidatos. Com os meus 147 países visitados à época da publicação, aquilo era um terço dos países do planeta. Se não fosse pelo artigo requerendo que eu quantificasse o número de países que visitei, eu nunca saberia exatamente quantos países foram. Eu certamente contemplava ser o homem mais viajado, mas era difícil mensurar e meu objetivo inicial era passar por mais estradas quanto pudesse, conhecer quantas pessoas conseguisse e aprender a maior quantidade de coisas possível. Essa era a minha mentalidade, sem parar, pelos últimos dez anos.

    Contar países não era comigo. Se fosse meu único objetivo, eu poderia ter completado todos os países do mundo em dois anos, como alguns já fizeram apenas visitando cada aeroporto. Mas qual é o objetivo de preencher uma biblioteca com 195 livros se eles não foram lidos? Certamente, parece bom ter uma biblioteca cheia de livros, mas se eles não foram lidos, ou nem foram abertos, servem apenas para decoração. Além disso, alguns países precisam ser revisitados muitas vezes mais, explorados bem mais a fundo, para que você consiga cobrir tudo o que têm a oferecer. Para mim, países como Brasil, Espanha, Itália, Grécia, Países Russos, dentre outros, merecem mais atenção; é por isso que eu investi tantos anos revisitando-os, chegando a ir vinte vezes em cada um deles. Você nunca sabe o que reserva um país até colocar seus pés nele – é como descobrir novas cores que você nunca soube que existiam. É por isso que eu estou sempre buscando novos destinos, mesmo que isso signifique passar entre 90% a 100%

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