Web Arte e Poéticas do Território
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Book preview
Web Arte e Poéticas do Território - Maria Amélia Bulhoes
Sumário
Apresentação
PARTE I - IMAGENS DA ARTE NO CIBERESPAÇO
Lugares da Arte na Internet
Estética e Regime Visual da Web Arte
Memórias: tempo e espaço na web arte
PARTE II - POÉTICAS DO TERRITÓRIO
Novo Espaço e Novas Cartografias
Paisagens na Web Arte: em busca de um novo olhar
Cidades, Territórios em Interatividade
Referências
Imagens
Apresentação
Today, the world is too dangerous for anything less than utopia. Buckminster Fuller
Evidencia-se cada vez mais a importância da imagem no mundo contemporâneo e, neste âmbito, se questiona o papel das artes visuais, com suas possibilidades de significação das especificidades desse universo. Como observou Pierre Bourdieu,¹ a superação dos padrões clássicos de representação exigiu a construção de um novo olhar; e essa foi a grande mudança implementada pela modernidade em termos de artes visuais. De forma semelhante, a produção artística contemporânea promove profundas alterações na visualidade moderna e as tecnologias digitais concorrem de forma significativa para que se estabeleça um novo regime escópico.² A abordagem desse fenômeno diretamente nas produções de web arte³ é o foco das reflexões desenvolvidas neste livro. A escolha por web arte dentre o imenso conjunto de produções artísticas que utilizam os meios digitais deve- se às especificidades destes meios, bastante popular e democrático, que têm captado cotidianamente o interesse de um grande número de pessoas, principalmente jovens, dentre os quais muitos não lidam diretamente com arte fora desse circuito. Sua flexibilidade e seu amplo raio de ação possibilitam driblar alguns controles, rompendo, dentro de certos limites, com o sistema da arte, tema sobre o qual venho trabalhando há muito tempo. A interatividade que essa produção utiliza e desenvolve estabelece novas formas de relação com o público, que precisam ser melhor conhecidas. Além disso, sua ubiquidade abre um campo específico de problemáticas dentro das complexas relações territoriais globalizadas que têm sido o foco de meu interesse de pesquisa nos últimos anos.
Observa-se que, frente à homogeneização imposta pela globalização, a função simbólica passa a ser um valor de afirmação da subjetividade, sustentado pelo pensamento da diferença. Também pode-se identificar que as principais estratégias utilizadas para demarcar diferenças através de processos estéticos visuais encontram-se enraizadas na conexão dos conceitos de territorialidade e subjetividade. Isso porque, devido aos constantes deslocamentos que se impõem – seja por opção, seja por contingências que fogem ao seu desejo e controle –, o homem do século XX está cada vez mais impelido a constantes alterações territoriais.
Delineiam-se movimentos contraditórios em relação aos espaços geográficos. De um lado, rompem-se as fronteiras territoriais, através da grande circulação de informação, mercadorias e pessoas, criando-se uma nova geopolítica. De outro, as diferenças de cultura, religião e raça afirmam-se cada vez mais em suas particularidades. Os trânsitos internacionalizados são conduzidos segundo a lógica dos interesses econômicos e políticos, tornando difícil a vida de migrantes pobres e de exilados políticos. Os circuitos internacionais reforçam diferenças e desigualdades, criando uma relação tensa e contraditória na interação centro/ periferia, local/regional. A fluidez com que circulam bens e mensagens não apaga as relações de poder, mas estabelece uma nova geografia que sobrepõe e articula os territórios tradicionais, criando novas problemáticas das quais a arte tem sido uma importante forma de manifestação. Aliado a isso, os deslocamentos espaciais, possibilitados pelo avanço das tecnologias comunicacionais com que se conta atualmente, estabelecem novas dinâmicas no sistema da arte, alterando a aura da obra de arte na sua circulação. A sacralização contemporânea se realiza no próprio circuito de difusão, onde se articulam mercado e instituições, a partir de novos processos produtivos e receptivos. O significado social da arte torna-se muito mais complexo, pois é perpassado por diferentes instâncias de legitimação.
Como, neste contexto, desenvolver um estudo sobre a web arte?
Como ponto de partida percebe-se uma ausência bibliográfica sobre o tema além de certa segmentação nas abordagens das produções artísticas que utilizam os meios digitais em geral. Por um lado, encontram-se vários textos focados especificamente nas novas tecnologias, com estudos de sua gênese e análises conceituais que buscam suportes teóricos na filosofia das ciências, separando-se de leituras conectadas com a tradição reflexiva da estética e da história da arte. Eles dão muita ênfase aos meios digitais enquanto modificadores das estruturas de pensamento e de comportamento, mas estabelecem poucas relações entre essas produções e as artes visuais contemporâneas que utilizam outros meios, criando uma segmentação de circuitos. Por seu turno, a crítica mais tradicional aborda a arte contemporânea alijando de seus interesses obras que envolvem preponderantemente inovações tecnológicas e, principalmente, trabalhos de web arte, não refletindo sobre as grandes transformações na visualidade que esse tipo de produção enseja. Ela parece ignorar que essa produção já se instalou definitivamente no campo das artes visuais e ganha terreno a passos largos, como se pode observar pela presença de fotos digitais interferidas, vídeos, vídeos instalações e mesmo web arte em feiras, exposições e bienais internacionais. Este livro integra-se a uma corrente de pensamento que procura aproximar o que está sendo criado no âmbito das tecnologias digitais e dos meios comunicacionais das abordagens da produção artística em geral e das problemáticas do campo da arte, buscando vias comuns e estabelecendo cruzamentos.
Esta obra nasceu de ideias apresentadas em congressos, em artigos publicados em anais e revistas especializadas, assim como de novos textos escritos a partir da necessidade de complementar as estruturas de pensamento que então se delineava. Os textos básicos foram sofrendo substanciais alterações e aprofundamentos no desenvolvimento do trabalho em consequência de comentários e sugestões recebidas e das leituras complementares realizadas. A estrutura final da publicação emergiu das conexões que se estabeleceram entre as ideias apresentadas em cada texto e do seu encadeamento em uma linha de pensamento. Como a produção de web arte circula em um meio bastante específico, à margem do circuito artístico tradicional, interessa-me contribuir para a sua inserção e difusão dentro dele. Assim, ao longo do texto, observações conceituais permeiam as análises interpretativas das obras. Elementos conceituais de ordem da imagem digital na internet são abordados dentro de uma ótica estética, respeitando suas especificidades, seus limites e suas possibilidades.
O ponto de partida foi o contato direto com as propostas de web arte, tentando perceber que caminhos apontam e que problemáticas enfrentam. Interessou-me, em especial, aqueles trabalhos nos quais percebia intenções comunicacionais questionadoras, que iam além do exercício experimental do meio ou de um deslumbramento de suas possibilidades tecnológicas. Na seleção dos trabalhos, cruzei meu interesse relativo a questões de territorialidades com as poéticas desenvolvidas e com os diálogos instaurados por essas produções. A análise das obras aporta subsídios para a compreensão de estratégias formais e conceituais utilizadas pelos artistas em processos de resistência; como, por exemplo, quando recorrem ao acervo de imagens e conceitos já trabalhados em épocas passadas para, a partir destes, realizar abordagens contemporâneas. Ou, ainda, as estratégias de relação arte-vida em que a problemática da instauração da aura se transpassa do mundo real para o mundo da arte, recuperando a memória de eventos, objetos e pessoas manipulados para configurar imagens pessoais. Interessa repertoriar as imagens, identificando suas origens e os significados sociais de sua nova utilização, percebendo como o trabalho do artista participa de uma reconstrução simbólica coletiva.
A estrutura do livro se organiza em duas partes – cada uma com três capítulos. A primeira trata de aspectos gerais relativos à prática da arte na internet; a segunda, mais especificamente, das conexões dessas produções com questões de territorialidade.
Inicialmente, faço uma abordagem das alterações implementadas pela internet na cultura contemporânea e do ciberespaço como um campo de comunicação em que circulam pensamentos diversos e antagônicos. Com uma postura crítica, exploro, ao mesmo tempo, as possibilidades, os riscos e os limites das relações do sistema da arte com esse novo meio. Em segundo lugar, analiso questões relativas às transformações promovidas pela produção digital na visualidade e, mais especialmente, pela internet. Aprofundo aspectos de seu regime visual híbrido e das interpelações que faz à estética tradicional. Finalizo essa primeira etapa discutindo problemáticas de tempo, espaço e memória a partir da realidade do mundo contemporâneo e de suas manifestações na web arte.
Na segunda parte do livro enfoco diretamente questões de territorialidade, explorando as formas como os artistas, atuando no espaço virtual da rede, se relacionam com determinados territórios geográficos. Primeiramente, detenho-me às novas representações cartográficas; a seguir abordo a territorialidade nas relações que se estabelecem com as paisagens a partir de suas novas formas de sua apresentação e representação; finalmente, identifico a cidade enquanto foco central da obra de vários artistas, analisando os diferentes enfoques que eles dão às relações com os espaços urbanos e como se estabelecem as conexões dos usuários da web com os mesmos.
O livro discute a pertinência do conceito de territorialidade em uma arte que perde referências geográficas ao circular de forma globalizada em um universo virtual. Útil nesse propósito é a análise dos dispositivos utilizados pelos artistas para configurar a presença ausente de territórios geográficos precisos em obras que só existem no espaço virtual da rede. Dispositivos tais como mapas, fotos ou dados e informações concorrem pra estabelecer as inúmeras possibilidades de deslocamentos propostas pela obra. O conceito de territorialidade, fundamental no debate contemporâneo de diferentes áreas, pode assim ser abordado em relação às artes visuais em seus diferentes processos.
Gostaria de agradecer pelo apoio recebido do CNPq, da CAPES e da FAPERGS, organismos fundamentais para o trabalho de pesquisa no país, e também à Universidade Politécnica de Valência, onde se desenvolveu importante parte deste projeto. Agradeço, ainda, aos diversos interlocutores nessa jornada de muitos anos, colegas e alunos que, concordando ou discordando dos posicionamentos aqui apresentados, auxiliaram-me a perceber melhor a complexidade desse objeto de investigação. Obrigada por ajudarem a manter no horizonte a utopia do conhecimento, que faz o caminho ir sempre mais além.
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