Caro Senhor Estuprador
By Alice Rocha
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Reviews for Caro Senhor Estuprador
3 ratings3 reviews
- Rating: 5 out of 5 stars5/5Leitura forte, difícil, porém necessária. Recomendo muito a leitura, essencial para entendermos o que sofre uma vítima de abuso para melhorarmos enquanto sociedade.
1 person found this helpful
- Rating: 5 out of 5 stars5/5Literatura profunda e corajosa! Estilo puro! Recomendo! Importante ler textos como esse!
- Rating: 5 out of 5 stars5/5Texto corajoso, forte e atual. Muito bom. Recomendo. Texto corajoso, forte e atual. Muito bom. Recomendo.
Book preview
Caro Senhor Estuprador - Alice Rocha
Caro Senhor Estuprador,
Às vezes, eu esqueço seu nome. Quando percebo que esqueci, fico feliz, mas é só por um segundo, porque lembrar que não lembro me faz pensar em você. Depois, eu me pergunto se você pensa em mim, se o que você fez te assombra, se você já imaginou se eu sou perseguida pelo seu fantasma. É nesse momento que meu coração costuma arder, porque aí eu já passei tempo demais pensando em você, relembrando o que você fez comigo. Até a alegria de esquecer seu nome é amaldiçoada pela marca que você me deixou.
Há momentos em que me convenço de que minha ferida está cicatrizada, ou, pelo menos, no processo de se fechar. Mas essa ilusão some quando percebo que basta ouvir uma música, ler um nome, ou até ver alguém parecido com você, que a dor volta – tão intensa quanto antes –, como se você estivesse enfiando o dedo no meu machucado, que ainda está sangrando.
Me falaram hoje que eu tinha que te perdoar. Me recomendaram escrever uma carta sem o propósito de ser enviada. Não por você, mas por mim. Para que eu possa ser livre dessa sua sombra pesada. Porque eu mereço
. Concordo que faz sentido, mas ainda acho que não importa quantas cartas sem destino eu escreva, nunca vou poder te perdoar.
Você me feriu.
Caro Senhor Estuprador,
Um dia, eu estava na escola, na aula de redação. O professor passou um filme sobre estupro e abuso com a tarefa de fazer um texto ou desenho sobre o tema. Os melhores textos seriam expostos em um evento escolar.
Eu sentei na cadeira com uma folha em branco na minha frente. Eu olhei para a folha e ela olhou para mim. Não conseguia decidir se ela era muito grande ou muito pequena. Alguém perguntou se tinha que colocar o nome: sim. Pensei se conseguiria me expor no papel. Revi na minha cabeça a última noite que te vi. Posso fazer algo simples e impessoal
, pensei. Não consegui aceitar minha própria proposta. Não posso evitar de me abrir para uma folha em branco, acho que faz parte da minha natureza (minha mãe sempre disse que eu tenho alma de escritora).
De repente, algo começou a preencher o papel. Demorei alguns segundos para perceber que eram as minhas lágrimas. Isso tudo durou uma eternidade, mas também foi tão rápido. Não demorou para as pessoas começarem a notar, não demorou para eu ficar nervosa, e não demorou para o professor me levar ao banheiro para lavar o rosto.
— É um vídeo forte, bebe uma água e depois volta para acabar o trabalho – ele disse da forma mais empática que pôde. Voltei para sala com uma amiga perguntando se eu estava bem.
— O vídeo também mexeu comigo – ela