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General Arquimedes
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Ebook81 pages1 hour

General Arquimedes

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E se a ditadura militar tivesse alguma chance de continuar?
Em meados dos anos 80, quando o Brasil estava prestes a encerrar o ciclo do regime militar e entrar em seu processo de redemocratização, um general, cheio de contradições e dilemas de ordem social e psicológica, não aceita esta nova condição e inicia uma verdadeira cruzada pela perpetuação da ditadura.
Uma guerra pelo sistema ou anti-sistema?
Quem realmente controla o poder?
Somos senhores das nossas vidas ou vivemos manipulados em um mundo de ilusões?
Estas e outras questões aparecem neste conto, onde teorias secretas e fatos históricos se misturam à ficção.
Um olhar sobre a nossa história e nossos valores controversos.
LanguagePortuguês
Release dateNov 15, 2021
ISBN9786500335101
General Arquimedes

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    General Arquimedes - Marcelo Reis

    PARTE I

    Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 1984.

    Amaury Arquimedes Teixeira, general do Exército Brasileiro altamente condecorado, chegava na porta do seu prédio: o edifício Vira Morro, na rua Sá Ferreira, em Copacabana. Um Opala Diplomata de chapa branca conduzido pelo seu chofer - o soldado Jacob Marques – o deixava em casa.

    Bateu a porta traseira do veículo com força e não se despediu do motorista. Entrou no prédio pelos fundos sem responder ao porteiro, que lhe deu um boa tarde.

    Abriu a porta da frente do apartamento 601, caminhou pelo amplo corredor de entrada e foi direto à sala de estar. Jogou sua pasta de trabalho e o terno em cima de uma das poltronas, tirou os sapatos impecavelmente engraxados e se atirou no grande e confortável sofá vermelho. Gritou:

    - Maria Pia! Estou em casa! Hein?

    A esposa apareceu na sala.

    - Chegou cedo hoje! – disse ela.

    - Tá! Tá! Faz uma coisa de útil pra mim! Chama essa neguinha nova, lá na cozinha! Esqueci a porra do nome dela! Pede pra pegar a minha garrafa de Buchanan’s, um copo e um balde com gelo.

    Maria Pia, sem dizer uma palavra, foi até a cozinha. Repassou o pedido à empregada Lurdes e voltou à sala de estar. Sentou-se em um sofá amarelo que ficava em frente à uma mesa de centro com tampo de mármore, repleta de pequenos objetos. Falou ao general:

    - O que está acontecendo?

    - Nada, Maria Pia! Nada! Só quero relaxar um pouco! – respondeu o homem.

    - Eu te conheço, Amaury! Tem alguma coisa te importunando! – insistiu a esposa.

    - Merdas do trabalho! Você sabe!

    - O que houve desta vez? Não vai me dizer que aconteceu outra trapalhada com uma bomba? – disse referindo-se ao episódio ocorrido há alguns anos no Riocentro.

    - Não! Isso aí já foi! O Golbery se fodeu e pronto! Esquece esta história!

    - Então do que se trata?

    - Os putos do Comando Delta. Me tiraram de lá! Acham que eu tô mão de ferro demais, que fiquei antiquado. Querem me passar pra reserva e o pior...

    - O quê?

    - Querem continuar com esta bosta de abertura. Falam agora em regime democrático. Maria: eles vão entregar o país pros civis.

    - Não acredito! Isso vai acontecer mesmo? – perguntou, estupefata, a mulher.

    - Pode acreditar! É o que querem. Imagine! Me passar pra reserva, me afastar do Comando depois de tudo que fiz pelo Brasil. Entregar a nossa pátria na mão desta escória comunista! O que vai ser dos cidadãos de bem? Me diga!

    - Pois é. Esta nação te deve muito, Amaury!

    - Eu não vou deixar isso barato! Não vou mesmo! Quer saber?

    Enquanto o general fazia a pergunta, a jovem empregada Lurdes adentrou a sala trazendo em uma bandeja a garrafa de whisky, o balde de gelo e um copo.

    Maria Pia disse:

    - Quero sim. O que você vai fazer?

    - Eu vou acabar com esta putaria! Se precisar eu explodo Copacabana, explodo o Rio de Janeiro, o Brasil, mas democracia é o caralho! Democracia é o caralho! – berrou ao ponto de ficar com o rosto vermelho.

    Assustada, Lurdes começou a tremer e deixou a bandeja cair, espatifando a garrafa, o copo e espalhando gelo por todo o chão.

    __________________________###__________________________

    Arquimedes estava sentado na cabeceira da mesa de jantar e Maria Pia ao seu lado direito. Lurdes trouxe a sopeira e uma cesta com pães cortados. O caldo verde fumegava e o cheiro da linguiça e do toucinho abria o apetite do general, que se dirigiu à empregada:

    - Vê se não vai derrubar nada desta vez, menina. Hein?

    - Não, senhor! Pode deixar que vou tomar bastante cuidado – respondeu Lurdes, com certo temor na voz.

    Quando iniciaram a refeição o interfone tocou.

    - Dona Maria! Dona Maria! – chamou Lurdes.

    - Calma, menina! Já vou!

    Maria se levantou da mesa, foi até a cozinha e voltou com uma cara assustada.

    - O que foi, mulher? Anda! Desembucha logo! – disse sem paciência, Arquimedes.

    - Era o Seu Augusto do 902.

    - Tá! O que ele quer na hora da porcaria do meu jantar?

    - Tá assustado! Tem um pessoal lá no décimo andar fazendo uma balbúrdia! Ele sentiu um cheiro! Amaury: são maconheiros!

    - O que você disse?

    - Maconheiros! Foi o que eu disse! Tão cheirando, fumando... Sei lá! Ai, eu tenho medo dessa gente!

    O general largou a colher no prato e falou para a esposa:

    - Interfona pro Mateus. Manda ele me encontrar na escada de serviço, que eu vou lá no décimo andar. Nenhum cretino comunista vai bagunçar o prédio que eu sou síndico e incomodar os meus bons vizinhos! O que está acontecendo? Esse pessoal perdeu o juízo e o respeito?

    Ele levantou da mesa, andou até o quarto do casal, abriu seu armário e pegou um coldre e sua arma. Verificou se a mesma estava carregada e colocou-a na cintura.

    Em seguida abriu uma gaveta e tirou um 38. Pegou as balas, carregou o tambor e trouxe o

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