Salada ou farofa?: Os mais aleatórios cotidianos
By Felix Diniz
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About this ebook
Felix Diniz
Felix Diniz é carioca, nascido em 1964. Professor universitário na área técnica há mais de 25 anos, já atuou em diversos cursos e disciplinas em 12 faculdades espalhadas pelo Brasil. É autor do romance O arqueólogo – ciência e misticismo nos mistérios da Ilha de Páscoa, lançado em 2001 por esta Editora, e da coletânea de palestras Toque de Midas – reflexões sobre espiritualidade, lançado em 2012, edição restrita do autor. Atua também, de forma efusiva, nas atividades desenvolvidas pela Fundação Mokiti Okada, na qual serve como voluntário há quase 40 anos. Com sua mulher, sua filha e duas gatas, vive tranquilo e em harmonia na bela região Sul Fluminense.
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Book preview
Salada ou farofa? - Felix Diniz
Copyright desta edição © 2015 by Félix Diniz
Direitos em Língua Portuguesa reservados a Litteris Editora.
ISBN - 978-85-374-0415-7 (2019)
ISBN - 978-85-374-0280-1 (versão impressa)
Conversão: Cevolela Editions
440Litteris Editora Ltda.
Av. Marechal Floriano, 143 - Sl. 805 - Centro | 20080-005 Rio de Janeiro - RJ
tel (21) 2223-0030; (21) 2263-3141
litteris@litteris.com.br
www.litteris.com.br
Sumário
Capa
Apresentação
1. A Quinta Marmita,
2. Como nos Velhos Tempos,
3. Sonho Lúcido
4. A Anaconda Entalada,
5. Nada sobre Nada - A Macarronada,
6. Culto Ecumênico ou Concurso de Miss
7. Elvis Morreu,
8. A Chacrinha do Chacrinha,
9. O Lançamento do Livro,
10. O Sábio Caleb,
11. Presos em los Angeles,
12. Conexão Rio-Matro Grosso,
13. O Dragão de Komodo,
14. Slot Car,
15. O Feitiço do Açúcar,
16. Piada Acadêmica,
17. Arnaldo e o Segredo,
18. Leve-me ao seu Líder,
19. A Pós-Graduação,
20. As Meninas que Falavam Rapanui,
21. O Macaco e o Teodolito,
22. A Perda da Aliança,
23. Reflexões Comendo Mortadela,
24. O Nome da Universidade,
25. Peruca da Sorte,
26. A Fantasia do Deus Baco,
27. Arnaldo e o Oshibori,
28. Palestra sobre a Ilha de Páscoa,
29. Chile sem documentos,
30. O Roubo do Carro,
Notas
Referências
Autor
Dedicatória
À minha querida família e aos meus nobres amigos pelos momentos cotidianos absolutamente repletos de deliciosa aleatoriedade, garantindo a surpresa e a criação contínuas no dia a dia.
Agradecimentos
À minha família que sempre espera com paciência o final de todos os projetos extras da vida.
A todos que, de uma forma ou outra, motivaram a realização desse livro.
Aos que leram os originais cedendo (ou não) suas críticas.
Ao amigo Jacson Antonio da Silva Andrade pelos aconselhamentos técnicos.
Ao amigo William Rosa Monteiro pela mão amiga no momento de fechamento da Obra.
Ao sempre prestativo pessoal da Litteris, em especial na figura do editor Artur Rodrigues, o Comandante em Chefe dessa Nave de Cultura.
APRESENTAÇÃO
Salada ou Farofa? Qual sentido pode ter essa pergunta? Qual seria a relação entre um conjunto onde se encontram folhas de alface, galhos de agrião, rodelas de tomates e, com probabilidade menor – é bem verdade –, rodelas de pepino ou pedaços de palmito e o outro conjunto de farinha fina com miúdos de frango ou similar?
Poderíamos, no máximo, pensar nas questões de dietas e, nesse caso, a salada deveria ser escolhida no lugar da farofa. Mesmo assim, se a dieta for de engorda
, a escolha reversa é a que vale.
Existe, contudo, devo dizer, um sentido. Trata-se da multiplicidade de escolhas que um indivíduo pode e deve fazer nos seus cotidianos, escolhas tão absurdas, randômicas e disparatadas quanto ter que escolher entre salada ou farofa.
Assim também é este livro, uma mistura definitiva de assuntos aparentemente sem a menor relação. Aqui aparecem as histórias de um português – sem qualquer piada –, de comportamento em família, de sonhos, de amor, de homenagens, de ficção, de decepções e de alegrias. De certa forma, foi assim a minha vida e a vida de qualquer um.
Logo que os rascunhos do livro ficaram prontos, pedi que algumas pessoas íntimas os analisassem na esperança de colher informações e críticas para a complementação de minha obra. Muitos desses amigos já tinham tido acesso aos meus livros anteriores: O Arqueólogo – Ciência e Misticismo nos Mistérios da Ilha de Páscoa (Diniz, 2001) e Toque de Midas – Reflexões sobre Espiritualidade (Diniz, 2012), o que facilitava em muito as conversas. Todos concordaram que esse livro é muito diferente dos anteriores.
Engana-se, contudo, quem acha que aqui se relata um material autobiográfico. É bem verdade que alguns fatos de minha vida – ou de chegados – motivaram os contos, mas o resto é diversão. É como minha mente, de certa forma, encontrou um jeito de expressar o melhor de cada situação vivida ou imaginada. Qualquer semelhança com fatos reais não deve ser considerada, pois.
Já que se deve tirar o melhor proveito de todas as situações, encontrei aqui o caminho do ser engraçado para que os relatos pudessem figurar como leves e, dessa forma, funcionarem também como um agradecimento a todos esses fatos de vida que motivaram os contos do livro.
No fim são apresentadas notas explicativas sobre passagens importantes e implícitas. Termino com as referências. No mais, espero que a leitura lhe proporcione a mais nobre das emoções: a alegria.
Obrigado pela oportunidade.
Félix Diniz
1
A QUINTA MARMITA
Suposta inauguração da Pensão na Rua Uruguai, Rio de Janeiro.
São dez e trinta e dois da manhã. Próximo a um ponto de ônibus de uma movimentada rua chamada Uruguai, num subúrbio da cidade do Rio de Janeiro1, forma-se uma fila de velhinhos decididos, todos portando marmitas de metal de quatro ou cinco andares, já impacientes com o atraso de dois minutos na abertura da pensão que lhes venderia o almoço daquele dia.
Quando o dono do estabelecimento, um homem de meia idade, portando um senhor bigode que não disfarçava sua ascendência portuguesa, abre as portas, todos os fregueses, já em torno de nove ou dez, entram em fila e se dirigem ao caixa para comprar suas fichas de refeição para viagem.
Em ato reflexo, quase sincronizado, dirigem-se agora à porta da cozinha onde, ainda em fila, serão atendidos pela esposa do dono – também portuguesa – e várias ajudantes de cozinha.
A essa altura, outros tantos também chegam famintos, alguns com marmitas, como eu. Agora são jovens e idosos a se juntarem na entrada da cozinha esperando suas vezes, e outros tantos fregueses, funcionários de várias empresas, para matarem suas fomes por ali mesmo, sentados em imensas mesas, servidas por jovens atendentes.
Quando conseguia controlar esta primeira maré de fregueses, via-se Manuel, nosso herói português, a se acomodar em uma das mesas, não longe do caixa, com um prato feito nas mãos, olhando para todos os demais presentes e dizendo em um tom não muito alto: Vou cuidar de mim...
Mas devo dizer que nem sempre as coisas foram assim. Esse sucesso que vivia Manuel teve seu preço: anos e anos de muito trabalho amando o que fazia e respeitando seus fregueses. Essa é a história do Manuel2 e de sua família. Enquanto eu crescia em idade, seu estabelecimento crescia em tamanho.
Chegados da terrinha, Manuel e família vieram com ideia fixa de abrir uma pensão para servir refeições. Alugaram uma casa na tal rua já referida e se puseram ao trabalho.
A casa-restaurante era num antigo estilo muito conhecido no Rio de Janeiro, geminada dos dois lados e com aberturas de portas e janelas somente na frente do imóvel ou bem nos fundos, e nada, a não ser paredes, nas laterais. Tinha a casa duas grandes salas, uma delas com a porta da rua. Retirada a parede entre as duas, gerou-se um salão de dimensões consideráveis onde era o palco de três ou quatro grandes mesas para o servir dos fregueses.
No início, Manuel e família moravam ali mesmo, em dois quartos de tamanho razoável que davam para as salas, contando com algum conforto, mas nenhuma privacidade. Completava-se a casa com um pequeno banheiro para uso comum, isto é, fregueses e família, e, no fundo, uma cozinha que, se fosse usada para uma casa comum seria aceitável, mas, para a condição de pensão, mostrava-se um pouco apertada com seu enorme fogão no centro e calor insuportável.
Lembro-me de, ainda moleque, várias vezes com minha família nos servindo das refeições às tardes ou noites porque, no início, a pensão abria de domingo a domingo para almoços e jantares. Logo, porém, Manuel manifestou na prática o ensinamento de sucesso que tantos e tantos portugueses orientaram os brasileiros: acumular bastante dinheiro trabalhando com paixão e honestamente.
Com a vida estabilizada e agora as duas filhas crescidas, Manuel comprou uma boa casa em uma vila próxima3 para servir exclusivamente de residência, um Chevrolet Monza novinho, e passou a conviver com o seu inseparável Volkswagen TL, a qual dizia ter a robustez necessária para carregar as suas compras. Comprou também a casa que abrigava a pensão e fez uma reforma que eliminou os quartos e aumentou o salão das refeições.
A partir daí, foi reduzindo seu ritmo de trabalho, chegando ao ponto de somente oferecer refeições para os almoços de segunda a sábado. Sua forma de ser e se relacionar com as pessoas a sua volta, contudo, não sofreu qualquer influência negativa da riqueza que acumulava nos bolsos. Ainda éramos muito bem servidos.
Só para se ter uma ideia de como Manuel pensava, quando houve greve dos motoristas dos ônibus da cidade – e me lembro de três ou quatro grandes –, ele próprio buscava de TL seus funcionários em suas casas para que pudesse oferecer o serviço de sempre, mesmo não havendo fregueses garantidos para o dia, já que todos, de uma forma ou de outra, seriam atingidos pelos inconvenientes da greve.
Também absolutamente nenhum alimento era aproveitado de um dia para o outro. O que sobrava no dia era oferecido de forma gratuita aos mendigos e desfavorecidos do bairro. Uma fila de alguns podia ser vista lá pelas três ou quatro da tarde, após todos os fechamentos dos trabalhos e limpeza da casa. Definitivamente, Manuel era e é um grande exemplo.
Hoje, contudo, tenho a certeza de que a característica marcante que fazia seu negócio prosperar com velocidade e diferentemente dos demais era a fartura do produto oferecido. Todos saiam da pensão com a impressão de terem comido muito mais do que pagaram!
Segue o cardápio de qual durante anos me servi. Tínhamos nas mesas um caldeirão de sopa de legumes, salada com alface, tomate e algo mais que variava com o dia, arroz, feijão, farofa, e tudo isso absolutamente liberado! Podíamos comer o quanto quiséssemos! Com regra somente na carne – que vinha sempre mais de um pedaço – e seu acompanhamento, normalmente batatas.
Para os fregueses de marmitas, evidentemente, havia regras restritivas, não por questões de preço, mas pelo tamanho das marmitas. Vejamos como Manuel resolveu esse impasse:
Considerando um conjunto de marmitas de cinco andares – na realidade cinco pequenas marmitas, uma em cima da outra, seguradas pela lateral por dois tirantes de metal que