O Debate Marx-Bakunin sobre o Autoritarismo
By Nildo Viana and David Adam
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Nildo Viana
Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás; Doutor em Sociologia pela UnB; Autor de diversos livros, entre os quais: O Capitalismo na era da Acumulação Integral; Quadrinhos e Crítica Social; As Esferas Sociais; Cinema e Mensagem; Manifesto Autogestionário; A Mercantilização das Relações Sociais; A Teoria das Classes Sociais em Karl Marx; Hegemonia Burguesa e Renovações Hegemônicas; O Modo de Pensar Burguês; Universo Psíquico e Reprodução do Capital.
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O Debate Marx-Bakunin sobre o Autoritarismo - Nildo Viana
O AUTORITARISMO EM MARX E BAKUNIN
Nildo Viana
O presente ensaio da David Adam segue o caminho de suas outras análises do pensamento de Marx, nas quais resgata as verdadeiras concepções desse autor (ADAM, 2020). Nessa obra específica, ele trata da acusação anarquista de autoritarismo em Marx. Assim, Adam retoma o debate entre Marx e Bakunin focalizando a questão da acusação de autoritarismo do segundo ao primeiro. Marx era autoritário? Bakunin estava correto? Esse é o teor da discussão efetivada por Adam, com o foco no último elemento. E, para tal, ele resgata a posição de Marx, bem como de Bakunin. O resultado final é a constatação de que Marx não era autoritário e Bakunin o era. Conclusão surpreendente.
O nosso objetivo é comentar tal conclusão e seus argumentos, bem como contribuir com a questão da discussão sobre o suposto autoritarismo de Marx
e a questão do autoritarismo de Bakunin. Vamos iniciar nossa reflexão discutindo as bases da concepção de Adam e, posteriormente, analisar o conjunto do debate colocando a necessidade de aprofundamento do mesmo.
Esse pequeno livro de Adam é bastante oportuno, tendo em vista o chavão que se tornou comum, nos meios anarquistas, de atribuir um autoritarismo a Marx. David Adam contesta isso e, para tal, usa alguns argumentos básicos. Os seus argumentos são fundados em alguns elementos que são: a filosofia política de Bakunin, a posição deste diante da Associação Internacional dos Trabalhadores, a questão da relação com a autoridade, e, por fim, a crítica bakuninista a Marx.
David Adam aponta as divergências filosóficas
entre Marx e Bakunin. Nessa parte de sua análise, Adam não foi muito feliz, tanto pela escolha do título quanto pelo pouco aprofundamento na discussão. Adam afirma que Bakunin é idealista e aponta algumas considerações sobre seu pensamento, especialmente sobre as massas
e a revolução. Ele não aprofunda a questão do idealismo, por um lado, e nem aponta as contradições existentes entre o que Bakunin diz e o que Marx afirma. Bakunin diz: o povo deve se revoltar; Marx diz: Bakunin considera que as massas são como matéria bruta
. Adam certamente tem razão em relação a Bakunin, mas a atribuição de idealismo
necessitaria de aprofundamento, tanto na definição do que se entende por isso quanto no que se refere às consequências disso. E isso seria ainda mais importante pelo fato de que Bakunin se autodefiniu várias vezes como materialista
e até mesmo como tendo acordo com o materialismo histórico¹.
Um elemento que Adam poderia ter desenvolvido é a concepção absolutista de Bakunin fundada no abstratificacionismo². Qualquer leitor de Bakunin concordaria que este defende a liberdade absoluta
e, ao mesmo tempo, condena o Estado como um mal absoluto
. Assim, é possível colocar que Bakunin não é um materialista histórico
, nem utiliza o método dialético, mas isso não fundamenta a concepção de que ele é idealista. Seria necessário, numa perspectiva marxista, superar a antinomia burguesa entre materialismo e idealismo³. Isso foi feito por Marx ao unir materialismo e história, algo antiburguês, pois a episteme burguesa é anistórica e, por conseguinte, recusa a história no sentido mais amplo, enquanto história das sociedades humanas, compreendendo o capitalismo como a última etapa da história da humanidade.
Porém, o que interessa aqui é a posição de Bakunin. O fato de David Adam não ter aprofundado a discussão sobre idealismo pode ser justificada pelo título remeter à "filosofia política e por isso seu foco na questão da liberdade e da revolução. Bakunin professa a crença numa liberdade absoluta e Marx se fundamenta numa teoria da liberdade no plano histórico-social concreto. Adam é feliz nessa distinção, bem como quando coloca a questão do
Estado em abstrato" em Bakunin.
A ideia de uma liberdade absoluta é uma crença de Bakunin. E se trata de crença, pois não tem uma fundamentação filosófica suficiente para tal, o que a aproxima do dogma. Isso remete para sua concepção de Deus como Abstractum Absoluto, tal como o Estado⁴. A base da ideia de liberdade absoluta é a ideia de natureza humana em Bakunin, que, no entanto, não tem fundamentação, nem histórica e social, nem filosófica ou qualquer outra. A revolta
é um direito natural
e a recusa da religião, do Estado e das autoridades, devem ser realizadas de forma igualmente absoluta.
Porém, fundar a ideia de transformação social na concepção de revolta
embasada numa