O Fim do disfarce
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Victor Santos
Victor Graça dos Santos nasceu em São Tomé em 18 de Agosto de 1975. Licenciou-se em Organização e Gestão de Empresas (OGE) no IUCAI, é empresário, membro da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e Auditores de São Tomé e Príncipe (OTOCA) e membro da União Literária e Artística Juvenil (ULAJ). Com longa trajetória no associativismo, deu o seu contributo com outros jovens criando a Jovens Luz Verde (JLV), ONG ambientalista, Federação das Associações Centro e Clubes Unesco de São Tomé e Príncipe (FACCUSTP), Associação Santomense de Energias Renováveis (AENER), exercendo funções como Diretor-Presidente. É membro fundador da Federação de Organizações Não Governamentais em São Tomé e Príncipe (FONG-STP) e, em 2019, criou a Associação Santomense de Promoção Empresarial (ASPRE).
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Book preview
O Fim do disfarce - Victor Santos
© Editora Gato-Bravo, 2021
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro nem o seu registo em sistema informático, transmissão mediante qualquer forma, meio ou suporte, sem autorização prévia e por escrito dos proprietários do registo do copyright.
editor Marcel Lopes
coordenação editorial Paula Cajaty
revisão e adaptação Inês Carreira
projecto gráfico Bookxpress
imagem da capa Rebeca Rasel
Título
O fim do disfarce
Autor
Victor Santos
e-
isbn 978-989-8938-87-9
1a edição: Fevereiro, 2021
gato
·
bravo
rua de Xabregas 12, lote A, 276-289
1900-440 Lisboa, Portugal
tel. [+351] 308 803 682
editoragatobravo@gmail.com
editoragatobravo.pt
A Frederico Gustavo
A Victor Bonfim
Sumário
Agradecimentos
Mataram a praia lá de Água Izé
Introdução
O fim do disfarce
Glossário
Agradecimentos
Os meus sinceros agradecimentos às pessoas que diretas ou indiretamente me ajudaram neste trabalho tão árduo e bonito como é o caso da escrita de O fim do disfarce, de uma longa vida.
Não se compra a amizade,
ela é como uma semente lançada à terra.
Sendo de boa qualidade brotará,
crescerá e dará frutos no seu habitat.
Assim seja!
Mataram a praia lá de Água Izé
Com Luta ganhamos a nossa andorinha
Feita com revoltas e garras
Gentes audaciosas
Balbuciaram a meia voz
Andorinha voa, voa Andorinha
Pássaro de bom tempo
Voo tão lindo e difícil
Mas, morreram os nossos heróis
E Conquistamos os nossos valores
Andorinha, saímos passeando pelas ruas
Com tambores e gritos
Conquistamos a liberdade.
Nesse voo perdemos a voz do comando
É por este conto que choro
Onde está o nosso ninho
Num alicerce a desfazer-se na areia
Andorinha voa voa
Não quero mais lembrança
De tanta vingança
Que os códigos, palavras de ordem
Sem alardes nem conflitos
Não sejam sons dispersos
O bom tempo virá
Andorinha voa voa
Na procura de bom tempo
Hoje perdemos as cores da andorinha
Brotamos a semente separatista
De uma mente sem rumo!
Encontramo-nos todos perdidos
Na barca do abismo incerto
Andorinha voa, voa andorinha
Não queremos mais tristeza
Este nosso voar é populista
De barca do abismo incerto
Heróis terão que nascer
Com tanta luta perdemos os comandantes
Caídos na boca do inferno
Lá na praia de Água Izé
Hoje reinam soldados.
Dizemos que o bom tempo voou
Onde a vida primitiva reinou
Onde era espelho da pátria
E o individualismo entrou.
Até onde chegamos
De canoa a remos ficamos
Andorinha voa voa
Em roda do arco
Um dia conquistaremos o bom tempo
É que eu sou portador desta rubrica
Deste espaço bonançoso
Em que havemos de sorrir todos num forum
Sem rancor e reservas
Deixemos voar a nossa andorinha
Andorinha voa voa…
Ao meu pai – Manuel Victor
Aos meus entes queridos
Sucumbido pela vida
Tão cedo levou-te a morte.
Para tão longe dos viventes
Nem já sei o que te aconteceu
Onde na nossa roda de arco
Fazíamos um rio de esperança…
Da mesma água e da mesma nascente!
Corriam nas nossas veias.
No seu redor sinto!
Linhas que separam o nosso passado
Do teu espírito presente
Do teu coração imaculado
Tu deixaste-me saudades
Fração de lembrança que semeaste;
E não enterraste na terra!
Onde tu partiste e deixaste o cristal
Hoje! O nosso coração chora
Por uma insanável perda tua.
Introdução
O acordo pretendido pelo escritor era o de transcrever e terminar uma série de episódios de cinco rodas de convento de ideias ‘O fim do disfarce’, de uma vida passada.
Por acaso, este trabalho teve o seu início na Galeria Teia D’Arte, no grande encontro de oficina de letras em que o escritor projetou os primeiros rascunhos de uma grande resistência interna e interpretação de um projeto, no interior de uma esfera amigável que mantinha com o Carlos, a Antonieta, o Duda, a Esttela, a Cáthia e o Celso.
O romance tem o seu alicerce em factos reais, que o autor tenta expor de forma clara, tais como as personagens, os seus obstáculos, as suas emoções, a sua repugnância e as situações críticas da sociedade. Este carrinho de rodas, puxado por uma imensidão de amigos, pessoas carinhosas e afetuosas a quem não deixaria de dedicar esta obra, pelo auxílio prestado na realização dessa aspiração de um passado, de uma longa vida, como é o caso do Dr. Frederico Gustavo, do Dr. Victor Bonfim e do Senhor Caustrino Alcântara.
O fim do disfarce
I
Naquele tempo em que algum homem mais velho, como era o caso do Sun Me Xinhô, o homem respeitado no seu meio…
Ele acabou por sair, partiu de madrugada com os seus pupilos para a praça de fronte do cais velho, a atual Praça da Independência, no dia doze de julho de mil novecentos e setenta e cinco, para ver com os seus olhos o célebre evento que teve lugar naquele dia (marcado pelo cair da bandeira colonial e o hastear da bandeira nacional).
Segundo ele, e conhecido como sábio da freguesia de Almeirim, Dja jagu na sa dja pa sun fe nadaxi plumêlu vê fa
¹. Mas quem mais perto dos acontecimentos estava um bocadinho a leste dessa questão.
Eram os mais novos
, porque os mais velhos anciãos eram conhecedores do saber popular, em suma, do verdadeiro manancial da sabedoria popular. Achavam sem limite, com mágoa, a escolha daquela data menos doce e azarenta, doce como mel, mas um verdadeiro fel para o advento da independência nacional.
Esses mais velhos associavam a esta data uma ideia de azar, que havia referências e atribuições daquilo que é profano, infeliz ou que prognosticava desgraça.
Aquele mundo exótico de suspeitas, de incertezas que tragavam tempestades acompanhadas de relâmpagos que poderiam devastar as inspirações de um povo, por estar associado a um evento infeliz ou de pouca sorte.
O povo imbuído desse credo cristão interpretou esse acontecimento com uma grande dúvida e conturbação, tentando obter resposta de como seria o nosso destino a partir daquele momento.
Quando era manhã já grandinha, a multidão mostrava-se enfurecida da longa espera daquele sorriso radiante da conquista da liberdade dos seus melhores dias. Reuniam em diferentes pontos das localidades mulheres de saias e kimoni, todas vestidas do mesmo traje, miúdos saltando com tanta alegria, pensando atingirem o céu.
O grupo dos outros indivíduos reunidos na localidade de Água Arroz limpava com vassouras com o lema – vamos lavar os pés dos colonos, blanku be bô, su be d’ala
e assim iam lavando as ruas, lojas e muitos outros estabelecimentos da capital e arredores. As lojas eram invadidas e tudo se encontrava no chão, sem pernas, e o povo também limpava tudo o que representava os colonos para a foz da Baía Ana Chaves.
Tudo isso acabou numa confusão sem pernas — a cidade, rodeada de manifestações culturais, mais tarde deu lugar a um grande comício popular em que Sun Me Xinhô, cabisbaixo, falava baixinho aos seus adjuntos.
— Zêntxi Kêsê’ pya jagu². Coisa dele começa bem, mas acaba mal. É como se você começar um teto de casa e a mesma não finaliza.
Esta conversa soava camuflada na mente dos indivíduos que haviam sido espalhados pelas raízes de toda a praça, ficando os ouvintes em dúvida de que se transformaria num obstáculo para as pessoas mais céticas.
— Isto é verdade?
O povo dividido sentia o executar de uma profecia, como que se acabasse de realizar um novo enlace matrimonial. Qualquer um que pede recebe, e quem busca achará, e a quem bate abrir-se-á a porta para a liberdade.
Porém, ao lado da bomba Sopol do velho Pontes, encostado na robusta palmeira real que ali se encontrava, o jovem Carlos, que esperava a sua vez para comprar petróleo, sentia correr nele uma leve brisa naquela tarde em que o sol já dourava, nesse embaralhar de gente, quando se deparou com uma menina aproximadamente da sua idade.