Ipê "DO" amarelo
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Dessas vezes, quantas você acreditou que poderia florescer novamente?
Seja qual for a resposta, neste livro, você vai ser lembrado que contrariando as previsões e as aparências, as flores voltam!
Dorivaldo, nasceu em Boracéia-SP, escolheu viver seu tempo nessa pequena cidade do interior, onde cresceu e constituiu família. Cheio de sonhos e no auge da vida profissional, descobriu ser paciente de Esclerose Lateral Amiotrófica. Maria José, sua fonoaudióloga e amiga, resolveu lhe provocar com o desafio de juntos escreverem um livro. Dorivaldo aceitou a provocação e, então, com esse livro, a importante descoberta: esse é o primeiro de outros!
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Ipê "DO" amarelo - Dorivaldo A Fracaroli
Prefácio
Os pais escolhem o nome do filho muitas vezes motivados em homenagear alguém muito querido, como o pai, o avô ou alguma pessoa que em algum momento da vida fez parte da sua história.
Num primeiro momento pensamos que o nome foi uma escolha ao acaso dos nossos genitores, mas por trás de cada nome está escondido uma missão, por trás de cada nome está oculto um mistério. A realização de uma pessoa é a realização plena do significado do seu nome. Carlos Drummond de Andrade, no poema Procura da Poesia
, apresenta que para decifrar o mistério escondido em cada palavra necessitamos de uma chave e precisamos nos aproximar:
"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?"
Este livro apresenta a chave para entender o nome Dorivaldo. Você precisa chegar perto, precisa ter a coragem de abrir a porta.
Depois de ler o livro você entenderá qual o segredo está escondido na palavra Dorivaldo, nome dado a alguém que nasceu numa época sem celular, num lugar sem energia elétrica e sem televisão, onde os brinquedos e jogos estavam intimamente vinculados com a natureza: terra, animais e plantas.
Qual a origem do nome Dorivaldo? Buscando como surgiu este nome chegamos a um lugar na França, uma pequena vila chamada Orival
na Região da Normandia, nome dado pelos Romanos (Aureavallis
em português Vale de Ouro
) em razão do aspecto rico e abundante do vale junto ao rio Sena. Dorivaldo é o habitante da cidade de Orival
. O nome Dorivaldo está intimamente ligado à natureza, e ser habitante de um vale de ouro, habitante de um vale de riqueza e abundância.
A vida de Dorivaldo, que em tantos momentos parecia ser um vale de lágrimas, nunca deixou de ser um vale de ouro com tanta riqueza e abundância. Riqueza de amigos e abundância de solidariedade.
A vida de Dorivaldo, quando parecia tornar-se um deserto, escondia o vale de ouro, a riqueza da fé e a abundância da esperança.
Ser Dorivaldo é ser um vale de ouro
, é carregar a riqueza e a abundância.
Cada parágrafo deste livro derrama a abundância e a riqueza de uma vida. Cada página deste livro apresenta o vale dourado
que é Dorivaldo.
A riqueza e abundância mensuradas, não em valores econômicos, mas em variedades e intensidades de experiências vividas, de relações que veem o cotidiano sempre como uma novidade.
A riqueza e abundância estão nas conquistas diárias, quando barreiras são superadas e desafios são vencidos.
A riqueza e abundância estão em olhar o passado como força para caminhar no presente rumo ao futuro.
A riqueza e abundância que é Dorivaldo.
Como última palavra, que a leitura deste livro possa ajudá-lo a descobrir que riqueza e abundância está no dar e não no possuir; que a riqueza e abundância é ser e não ter; que a riqueza e abundância é estar mais do que fazer.
Desejo riqueza de sentido e abundância de alegria na sua existência.
Frei José Antônio Cruz Duarte, OFM
Janeiro de 2017
detalhe gráfico do textoIntrodução
Dorivaldo,
Pisamos o mesmo chão de terra vermelha e com os mesmos pés descalços.
A geografia que nos pertencia era pequena demais para separar as pegadas no chão, no entanto, suas pegadas misturadas a outras tantas não se deixaram identificar. Naquele tempo, vivíamos nossa doce infância e criança tem dessas coisas, só se importa com o que realmente lhe importa. Naquele momento, era importante descobrir quem ia e quem vinha, porque pés marcados na terra nos mostravam direções. Era importante, também, saber se as pegadas eram de gente grande ou gente miúda ou até se tinha bicho andando com gente. Quando os pés grandes estavam na frente e os miúdos atrás, ah!, tinha gente precisando de colo. Se havia só um pé direito e um pé esquerdo, era gente na solidão, por isso era tão bom ver pegadas misturadas. Entre tantas marcas nesse pedaço de chão suas pegadas passaram por mim, as minhas pegadas passaram por você, mas a gente nem se quer percebeu que não eram pelos pés que o destino ia nos apresentar. A gente não sabia que o destino nos reservava um encontro pelas palavras. Só quando meus olhos estavam desacostumados a contar pegadas no chão e minhas palavras acostumadas a buscar esperança é que o destino nos apresentou. Assim começa essa história, não com o conhecido: Era uma vez
, mas com o desafiador: É a nossa vez!
. Vez de transformar pensamentos em palavras; frases em parágrafos; linhas em história... Uma história que começa com o mesmo sabor de jabuticaba, apanhada do pé, sabor que eu também nunca mais senti; gosto de mamão maduro, dividido com sanhaço e sabiá, eu também nunca mais provei e a comida de avó no fogão a lenha, também não sei mais o que é.
Já não posso subir as escadas da casa que me viu crescer.
Já não posso falar com amigos, que pularam comigo na palha de café.
Já não posso abraçar o sotaque italiano, que me pedia para parar de brincar perto da cerca de arame.
Já não posso brincar de moer café na casa da Carolina, que oferecia um banquinho para me nivelar ao moedor.
Já não posso sentar à porta da sala, no fim de tarde, para acreditar nas pedras que eram lançadas na casa da vizinha sem que alguém as tivesse lançado.
Já não posso subir no galho mais alto do abacateiro, para apanhar um abacate qualquer, só porque subir no ponto mais alto era divertido.
Nunca mais vi festa de vagalumes em meu quintal.
Nunca mais fui ao bar do ponto.
Nunca mais bebi guaraná por um furo na tampinha.
Nunca mais ouvi histórias de lobisomem.
Nunca mais procurei por amigos no jardim de cima ou jardim de baixo.
Nunca mais passei pelo ferry boat de olhos fechados...
Somos todos perdedores... Perder de vista, perder as estribeiras, perder a hora, o endereço, o amigo, a confiança, o dinheiro, o trabalho, a vez, o tempo. Perder o primeiro dente, o primeiro amor, um pouco da visão, um pouco dos cabelos, um pouco da paciência, um pouco da inocência, mas não perder A FÉ, A CORAGEM, A VONTADE, O SORRISO, OS PENSAMENTOS.
Ah! Os pensamentos! Pensamentos que são trazidos às palavras escritas, que vão se formando letra por letra, palavra por palavra. Pensamentos, que se transportam pelo piscar de olhos, que viram tinta e me fazem ouvir o grito bem alto:
"Sou Dorivaldo: portador e paciente de Esclerose Lateral Amiotrófica, perdedor dos movimentos, mas a energia que meu cérebro deixou de gastar nas pegadas desse chão, está sendo investida na felicidade de pensar – e penso com todas as minhas forças –, que a felicidade não depende dos movimentos, depende, sim, dos meus pensamentos, pois com eles posso voar, correr, abraçar e ser tudo o que eu quiser, um sapo ou um príncipe, depende do conto de fadas que eu quiser criar. As invenções do mundo saíram dos pensamentos e não das mãos; as melhores histórias saíram dos pensamentos, não das canetas; os maiores amores saíram dos pensamentos, não do buquê de flores; os mais extraordinários, assim são, pelos pensamentos, não pelos pés ou pelas mãos; as melhores músicas são dos pensamentos, não das melhores vozes...
Pensamento!
É TUDO