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Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos
Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos
Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos
Ebook168 pages2 hours

Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos

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O estudo inicia pela abordagem dos aspectos históricos da economia solidária no Brasil, seus atores sociais e as políticas públicas que envolvem o tema. Na sequência, analisa-se a relação da sustentabilidade ambiental a partir da ideia de cidades sustentáveis e as práticas de economia solidária como importante instrumento na geração de trabalho e renda. O último capítulo trata da relação entre a economia solidária e os direitos humanos e a efetivação destes, na qual buscou-se identificar a potencialidade dessa prática de economia na reconstrução social e sua efetivação da inclusão social. A prática da economia solidária está alicerçada na gestão democrática associada à participação dos seus atores sociais e no interesse coletivo, que são pressupostos indispensáveis para a existência de uma cidade sustentável à luz dos direitos humanos e da justiça social. Restam indispensáveis essas conexões a fim de atenuar as disparidades sociais e econômicas, buscando a prevalência da igualdade com mais dignidade ao cidadão ao ter consciência individual de seus direitos.
LanguagePortuguês
Release dateJan 18, 2022
ISBN9786525224152
Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos

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    Economia solidária - Marlete Mota Goncalves

    1 INTRODUÇÃO

    Este livro representa a inquietação da autora relacionada à efetivação da inclusão social por meio da economia solidária, como forma de justiça social ao cidadão consciente de seus direitos. O debate central do texto baseia-se em três focos: Economia Solidária, Cidade Sustentável e Direitos Humanos.

    O objetivo da presente obra se alicerça no intuito de esclarecer a viabilidade de geração de trabalho, renda e inclusão social no ambiente urbano visando à efetivação de direitos inerentes aos seres humanos.

    São apresentados conceitos e definições, necessários para a compreensão do assunto. Busca-se, também, identificar as responsabilidades do poder público, a fim de que este atue juntamente com os grupos na organização da economia solidária, em prol da inclusão social e da efetivação dos direitos humanos. Tema este que apresenta relevância social, pois uma parte da população economicamente vulnerável sobrevive com renda auferida pela prática da economia solidária e o interesse pelo assunto advém da grande importância que representa aos atores sociais envolvidos nesta prática.

    No século XVII iniciou-se o processo de industrialização, induzindo a formação de uma futura sociedade capitalista e, em consequência, emergiu a produção dominante, contribuindo significativamente com o início dos problemas sociais e ambientais. Com base nisso, no século XVIII iniciou-se a prática da economia solidária. Na época foi a solução que as pessoas excluídas economicamente do trabalho formal, encontraram para trabalhar e prover sua subsistência e a de sua família. Ademais, o desenvolvimento econômico alicerçado pelo sistema capitalista foi o ponto de partida, para que iniciasse, de forma acelerada, o crescimento desordenado das cidades e, consequentemente, a formação dos problemas ambientais.

    O início da era moderna, em meados do século XVIII, foi associado ao surgimento do Iluminismo Europeu. A evolução proporcionada por esta era ensejou que a simplicidade cedesse espaço para a complexidade e, portanto, a modernidade foi aceita como um estilo de vida que, aos poucos, conduziu ao surgimento de inovações tecnológicas, permitindo o aumento do consumismo humano. Sendo assim, marcou-se um novo período de uma nova ordem do desenvolvimento social, político e econômico.

    A partir do surgimento das inovações tecnológicas, iniciou-se uma verdadeira revolução no mercado de consumo. Todavia, muitos problemas surgiram, comprometendo a estabilidade da mão de obra nas cidades, provocando, também, o aumento do desequilíbrio ambiental. Essa exploração insustentável do meio ambiente continua desenfreada, tendo em vista as razões de que quanto maior for a extração da natureza, mais expressivo é o prestígio e o sucesso de quem a explora.

    Diante disso, surgiu a necessidade de investir-se em ações preventivas sustentáveis. Para tal, seria necessário reunir forças sociais e democráticas, no sentido de construir um modelo de gestão que, de fato, alinhe os objetivos sociais, o qual é justamente a preservação do meio ambiente. Nas cidades tornou-se indispensável o planejamento e a prática de desenvolvimento sustentáveis, ou seja, esse desafio carece de comprometimento político associado à participação efetiva da sociedade.

    Desta forma, observa-se a necessidade de ampliar ações multidisciplinares, focado nos problemas que assolam a população. E a responsabilidade quanto ao propósito seria do poder público integrado à comunidade local. Com base nisso, a união entre as pessoas possibilita a organização de trabalho coletivo, em forma de cooperativas ou de associações na comunidade. Nesse sentido, observa-se que um trabalho realizado em grupo fortalece as relações humanas e sociais, uma vez que, a falta de uma política pública direcionada para efetivar o desenvolvimento do trabalho, em forma de cooperativas ou associações, desarticula o sujeito, que ainda não descobriu seu espaço de atuação no mundo.

    Consoante a essas premissas, a economia solidária impacta na inclusão social e na efetivação dos direitos humanos, portanto, a prática da economia solidária está alicerçada em uma perspectiva positiva. Além disso, visa a civilização com equidade em relação a oportunidades e distribuição de renda, tendo por finalidade reduzir a discrepância entre os padrões de vida dos pobres e dos ricos. A atividade da economia solidária promove uma melhor qualidade de vida e contribui, dessa forma, para a formação de uma cidade, tornando-a justa e sustentável à luz dos direitos humanos.

    Nesse cenário urbano em que as desigualdades sociais se intensificam rapidamente, especialmente nas regiões periféricas, percebe-se a ineficácia das ações públicas do Estado em promover melhoria nas condições básicas de sobrevivência da população. Esses espaços, ecologicamente precários das cidades, são locais que atraem a maioria das pessoas economicamente vulneráveis, que migram para os centros urbanos à procura de trabalho.

    Por fim, no terceiro capítulo, discorre-se sobre a economia solidária, como um projeto de desenvolvimento e justiça social. Nesse sentido, busca-se demonstrar que o trabalho solidário é digno de enfrentar os desafios para a concretização da inclusão social diminuindo, de certa forma, diversos níveis de exclusão. Considera-se que a economia solidária tem exercido seu papel de forma a atender dignamente às pessoas que dela participam, promovendo a frenagem das consequências trazidas pelo desemprego, fruto do capitalismo moderno.

    2 A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO PRÁTICA DEMOCRÁTICA

    O presente capítulo tem por objeto a análise conceitual e a aplicabilidade da economia solidária sustentável em sua dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. A importância desse assunto induz rememorar a história para compreender o presente e alicerçar o futuro em busca de uma reconstrução econômica planejada e alinhada ao equilíbrio do meio ambiente, tornando-o justo e sustentável à luz dos direitos humanos. Nesse sentido, a prática da economia solidária é uma alternativa capaz de enfrentar as adversidades sociais advindas com a modernidade, tendo por objetivo promover a geração de renda e a inclusão social. Essa prática permite focar em ações prementes, motivando a coletividade a trabalhar integradamente e contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento e fortalecimento de uma cidade sustentável.

    2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL

    A economia solidária possui como característica fundamental uma atuação com essencialidade em sua organização democrática. Essa afirmação encontra respaldo em um conjunto de regras constituídas por decisões coletivas. No contexto atual, a economia solidária imprime uma formação de sociabilidade, uma vez que, as decisões não partem de um sistema fechado e, por essa razão, contém características democráticas e, periodicamente, realizam debates, reuniões com um único objetivo: selecionar as melhores propostas que satisfaçam as expectativas dos integrantes do grupo.

    O perfil democrático da economia solidária, no Brasil, sustenta a possibilidade de se estreitar os laços de participação de forma efetiva na tomada de decisões. É justamente essa forma de cooperação que fortalece e amplia o modo de produção e de distribuição das atividades econômicas, desenvolvidas por meio de grupos de agentes. Cabe salientar, ainda, o modelo da sistemática aplicada na organização do trabalho que ocorre de forma alternativa, uma vez que a administração é submetida aos princípios de cooperação e autogestão, regulados pela gestão democrática e coletiva.

    Nesse contexto, destaca-se como princípio norteador da atividade solidária o valor ao trabalho, que prioriza a união e defende a tolerância em grupos, estabelecendo laços entre si com único objetivo, qual seja, fortalecer vínculo laboral com reciprocidade. Notadamente, houve um processo evolutivo alicerçado em uma gestão democrática e coletiva. Logo, essa evolução, vai ao encontro de um conjunto de práticas designadas com objetivo de iniciar autonomamente o exercício de um comércio justo e igualitário que represente o real motivo para a ocupação do espaço, promovendo a adaptação do sujeito ao tecido social.

    É interessante, para implementar o exercício da prática, contar com o auxílio de políticas socioeconômicas, com a finalidade de viabilizar um novo modelo de reestruturação social produtiva, em nível local ou até mesmo nacional. Dessa forma, naturalmente, o trabalho associativo demonstrou o vigor da organização destacando a aceitação no cenário econômico atual. Além disso, a capacidade de produção reflete a potencialidade interna de participação na geração de renda, como também, viabiliza o cidadão a formar sua identidade profissional.

    Sob este prisma, diversos intelectuais têm analisado a necessidade e a importância de regulamentar a atividade da economia solidária. Alguns estados já possuem alguma norma que regulamenta a atividade local, o que torna a organização econômica mais segura e confiável, trazendo maior expressividade e abrangência às atividades.

    Contudo, no aspecto histórico, o capitalismo industrial antecedeu a origem da economia solidária, sendo que esta somente emergiu com a justificativa de desafiar o desemprego que foi motivado em razão da forte difusão das máquinas. E como consequência, desencadeou a organização fabril da produção, ocasionando de forma acentuada o empobrecimento, principalmente, dos artesões¹.

    Cabe destacar que a Revolução Industrial foi um marco histórico que se iniciou na Grã-Bretanha e a maioria dos camponeses foi expulsa das fábricas e os que permaneciam trabalhando tinham por obrigação cumprir uma carga horária excessiva. Como consequência restava a exaustão física aos trabalhadores e, inevitavelmente, isso gerava a diminuição da produção.

    Nessa fase inicial da economia solidária, até mesmo as crianças trabalhavam nas fábricas e cumpriam as jornadas longas de trabalho. Naquele contexto, surgiram os industriais, principalmente, o britânico Robert Owen, que detinham certo esclarecimento da ilegalidade das excessivas jornadas de trabalho e se empenharam em regulamentar as leis, dando maior proteção aos trabalhadores².

    Robert Owen era um grande proprietário industrial na área têxtil, porém, não consentia com a exploração da força de trabalho de seus empregados e, por isso, decidiu, na primeira década do século XIX, limitar a extensa jornada de trabalho e coibir a presença e o trabalho de crianças nas fábricas. Para o cumprimento regular das ordens, Owen se dispôs a construir escolas para que os filhos de seus empregados pudessem frequentar³.

    Devido ao tratamento indispensável e notório por parte de Owen a seus assalariados, estes reconheceram a sua generosidade e se dispuseram a recompensar, por isso, se empenharam em elevar a produção. Logo, Owen passou a auferir maior lucro e produtividade em suas fábricas. Naquele contexto, Owen passou a ter mais credibilidade e admiração, recebendo, inclusive, o título de filantropo.

    Na Europa, em 1815, finalizava um extenso período de guerras. Nesse contexto, houve depressão profunda na Grã-Bretanha. Diante disso, Robert Owen propôs-se a auxiliar no restabelecimento da economia, que estava totalmente abalada, a fim de amenizar o desemprego e auxiliar as pessoas economicamente desamparadas. Ao identificar o problema, Owen constatou que tinha ocorrido a degeneração da economia em razão de não haver mais a procura por armamento, navios e outros produtos que interessavam para continuar as guerras na Europa. Robert Owen, em 1817, incentivou o governo britânico na compra de terras, construção de aldeias e cooperativas para auxiliar os pobres a retirarem o próprio sustento e o de sua família. Os excedentes de produção eram destinados a trocas nas aldeias.

    As cooperativas de produção são associações de trabalhadores, inclusive administradores, planejadores, técnicos que visam produzir bens ou serviços a serem vendidos em mercados⁴. O procedimento econômico adotado por Owen estava dando certo, até que na segunda década do século XIX, o governo britânico passou a ignorar a proposta de Owen, uma vez que quanto mais Owen explicava o seu plano, mais evidente se tornava que o quê ele propunha não era baratear o sustento dos pobres, mas uma mudança completa no sistema social e uma abolição da empresa lucrativa capitalista ⁵. Owen, então, partiu para os Estados Unidos com a ideia de lançar um novo

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