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Van Gogh: entre a arte e sua Melancolia
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Ebook175 pages2 hours

Van Gogh: entre a arte e sua Melancolia

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Este livro investiga a relação do estado emocional e psíquico de Vincent van Gogh e a produção de sua arte reconhecida como impressionista pelo próprio artista. Fiz uma correlação entre a biografia do artista e a vasta correspondência com seus familiares, amigos, médicos, em particular com seu irmão Theodorus van Gogh. Para uma melhor compreensão do artista, visitei algumas cidades que Van Gogh residiu. Os pensadores Freud e Lacan serviram de base para uma compreensão entre arte e psicanálise. Através do estudo entre arte e psicanálise, e das respectivas colaborações de Freud e Lacan acerca da melancolia, cheguei à conclusão de que o diagnóstico de melancolia atribuído a Vincent van Gogh por vários pesquisadores não pode ser corroborado, assim como a teoria do suicídio, tornando-se uma incógnita.
LanguagePortuguês
Release dateJan 20, 2022
ISBN9786525221168
Van Gogh: entre a arte e sua Melancolia

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    Van Gogh - Sheyla Parker

    1. VINCENT VAN GOGH – O PINTOR DOS GIRASSÓIS

    Sempre que o sol pinta de anil todo o céu o girassol fica um gentil carrossel.

    (Vinicius de Moraes)

    Van Gogh, um ser expoente entre os artistas com uma expressão ímpar, um girassol, que não apenas acompanha o sol, mas distribui sua luz, manifesta na arte as expressões do inconsciente, vivencia na pintura aquilo que a realidade lhe consome, cria, sublima, vive.

    Ele foi um artista do século XIX que inquieta os pesquisadores do nosso século pelo seu trabalho. Sua arte faz uma ruptura entre o impressionismo e o pós-impressionismo, como também pelo seu modo de estar no mundo.

    Vincent nasceu em 30 de março de 1853. Um ano antes sua mãe havia tido um filho que chamara de Vincent Willem van Gogh. Este viveu apenas por seis meses, depois veio a falecer, foi enterrado ao lado da igreja em Zundert, na Holanda, onde o pai de nosso artista era ministro. No ano seguinte, nasceu nosso artista no mesmo dia e mês que seu irmão falecido; seus pais seguiram a tradição do século XIX e o nomearam o filho com o mesmo nome do irmão morto. Seu pai se chamava Theodorus van Gogh, e sua mãe, Anna Cornelia Carbentus. Além do irmão morto, Vincent van Gogh teve cinco irmãos: Anna Cornelia van Gogh, Theodorus van Gogh, Elisabeth Huberta, Wilemina Jacoba e Cornelis Vincent van Gogh.

    Em sua trajetória, foi chamado de louco, insano, esquisito. Com todos esses adjetivos, nosso artista deixa sua marca para que o mundo a possa decifrar. Suas telas representam as imagens do inconsciente; poderia ser um esforço para colocar nas pinturas sua dor, seu sofrimento. Durante sua trajetória, as demandas do mundo externo apareceram como duras, difíceis, causando pesar, angústia, incertezas, esbarrando na falta que é constituinte do sujeito. Van Gogh não escapa dela, assim como nenhum outro sujeito, pois o sofrimento é inerente ao ser humano.

    A realidade (mundo externo) está para todos, cada sujeito irá responder às exigências segundo sua passagem pelo Édipo. A psicanálise demonstra como cada sujeito responderá à realidade de um modo diferente. Van Gogh também respondeu de uma maneira muito singular. A resposta que ele deu em relação à castração do Outro poderia ter determinado o desenvolvimento da arte conhecida como impressionista? Ele evoluía na arte em paralelo com suas crises que o levaram a um sofrimento inestimável retratado de uma maneira sublime e permanente em suas telas. As crises descritas pelo próprio artista se assemelhavam a crises depressivas.

    Oriundo de uma família religiosa, o pai de Van Gogh, Theodorus, era pastor; a mãe de nosso artista também seguia esse ideal, era adepta da religião e cheia de manias. A família era regida por regras que ela impunha a todos como costumes da época, porém seu filho Vincent van Gogh fez um furo nesse ideal imposto pela família. Ele tentou até se enquadrar, fazer parte das normas familiares, mas escapou, não conseguiu.

    Sua obra perpassa entre a tragédia e o belo. A doença esbarra na genialidade do nosso artista, o domina, mas também o enriquece, o desperta e nos fascina.

    Usarei a liberdade de escrita para chamar nosso artista de Vincent; era por esse nome que ele assinava suas cartas e também alguns de seus quadros. Além disso, era assim que gostava de ser chamado. Em uma carta ao irmão Théo, ele ressaltou [...] no futuro meu nome deve ser colocado no catálogo da maneira como eu o assino nas telas, ou seja, Vincent e não Van Gogh².

    1.1. A VIDA E A OBRA

    Nosso artista Vincent viveu em uma época de explosão da arte. Quando ele atingiu a fase adulta, emergiram na Europa novos artistas que vinham de todos os lugares estudar e tentar expor seus trabalhos. O período se situa entre o realismo e impressionismo; esses dois movimentos estavam eclodindo na sociedade contrapondo-se ao movimento romancista. Embora no momento atual Vincent seja conhecido por ter criado um estilo próprio de pintar, na época em que viveu foi um pouco diferente. Mergulhado no pensamento impressionista, acreditava ser um deles. Em uma carta a Théo escrita quando viveu em Arles, ele relata Eu realmente sou um impressionista do Petit Boulevard e espero manter essa posição³. Após termos o conhecimento de sua arte através de suas pinturas, percebemos que ele oscilou entre realismo, pontilhismo, impressionismo, pós-impressionismo e chegou a usar a técnica de pinturas japonesas em alguns de seus quadros. E eu tenho uma ENORME quantidade de desenhos para fazer, porque eu gostaria de fazer desenhos no estilo de impressões japonesas⁴. Com esse estilo, ele produziu alguns quadros como o Flowering Plum Orchard. Em um determinado momento, Vincent obteve inspiração nas gravuras japonesas servindo como incentivo para vários trabalhos.

    Vincent morava na Antuérpia quando comprou sua primeira pilha de gravuras japonesas, as prendeu nas paredes de seu quarto e escreveu Meu estúdio é bastante tolerável, principalmente porque pendurei nas paredes um conjunto de impressões japonesas que eu acho muito divertidas⁵. Ele via essas impressões como um exemplo para a arte, pensava que elas poderiam ser grandes obras-primas da história da arte ocidental.

    Empolgado com a arte japonesa, escreveu: A arte japonesa é algo como os primitivos, como os gregos, como os nossos antigos holandeses, Rembrandt, Potter, Hals, Vermeer, Ostade, Ruisdael. Não termina⁶. Mais adiante, seguiu uma tela pintada com influência na arte japonesa.

    Flowering Plum Orchard (after Hiroshige). Paris, 1887.

    Enfim, a partir de sua pintura, podemos dizer, não afirmar, que ele poderia ter criado sua própria técnica. A técnica de Vincent, essa que encanta ou desencanta o ser daquele que se submete a olhar.

    De um modo geral, pode-se dizer que a pintura é a ciência do olhar. Para Vincent, o quadro não é uma imagem, é um deslizamento do olhar. Ao olhar os campos, as paisagens e suas observações na natureza, nosso artista decide eternizar aquelas belas paisagens em sua mente e, mais tarde, em suas telas. E assim o fez. Eternizou o momento em seus quadros, com seu pincel e seu modo único de trabalhar frenético, intenso e agressivo, imortalizou uma arte deslumbrante, que nos deixa estupefatos ao olharmos para ela.

    Nosso artista tinha um grande apreço pelas paisagens. Desde pequeno, gostava de explorar a natureza e o que ela poderia fornecer; levou seu fascínio por toda a vida e tem papel significativo para as reproduções que viriam a seguir em suas obras. Embora Vincent tivesse começado a pintar já adulto, seu olhar e as pesquisas que ele fazia dos campos eram algo que o acompanhavam desde cedo; ele gostava de ficar horas caminhando sozinho ao ar livre durante o dia ou à noite. Na infância, fez amizades com os filhos de camponeses Um camponês é mais belo entre os campos em suas roupas de fustão do que aos domingos, quando vai à igreja ridiculamente vestido como um senhor⁷. Esse modo de ser era desaprovado pela família que prezava pelos bons costumes da época. A mãe de Vincent, Anna Cornelia Carbentus, queria que os filhos tivessem a mesma educação refinada que ela, por isso colocava-os para pintar, escrever, desenhar. Ela era tida como uma admirável desenhista, diziam que o primeiro desenho que Vincent deu para seu pai foi feito por Anna e não pelo pintor. Ela apresentou a todos os filhos o desenho como atividades a serem seguidas em família, era uma mulher muito dura com a família.

    A família Van Gogh prezava pelos bons costumes; normas familiares, valores cristãos e cívicos eram tomados como regras a serem seguidas. Vincent escapa a essas regras. Tido como introvertido e revoltado, indiferente às doutrinas que seus pais alimentavam, os pais o põem em um colégio interno aos 11 anos de idade. Aos 16 anos, ele deixa o colégio interno por contra própria sem concluir os estudos. A partir desse momento, os pais, preocupados com o futuro dele, decidem arrumar um emprego para que ele aprenda e se enquadre na classe social.

    O tio de nosso artista, Vincent van Gogh, chamado pela família de Cent, foi um comerciante de uma galeria de artes em Haia, na Holanda, e expandiu o negócio, filiando-se a uma agência holandesa da firma Goupil & Cie. Foi responsável por comprar obras de pintores que tinham chance de serem vendidas. Outro tio de Vincent, Hendrick van Gogh, o tio Hein, também se filiou ao negócio. Nessa época, as pinturas eram decorativas⁸, a burguesia que mantinha o pintor e a pintura impressionista não estava de acordo com os preceitos da burguesia. Os apartamentos e as casas eram mobiliados com tapeçaria pesada, papéis de parede, móveis de madeira escuros e cortinas de veludo; os quadros impressionistas, as pinturas de ar livre não combinavam com o mobiliário. Os pintores impressionistas pintavam à sua maneira, não estavam preocupados com a função decorativa, os artistas que aderiram ao movimento impressionista pagaram um preço alto por essa escolha, sofreram humilhações e ficaram na miséria. O próprio Vincent viveu isso, enfrentou dificuldades em não conseguir ser bem-sucedido através da pintura.

    O tio Cent atendeu o pedido de seu irmão e criou um cargo de aprendiz na loja para Vincent, que começou a trabalhar na loja aos dezessete anos. Sua paixão pela pintura foi acendida nesse período. Depois de um tempo, acabou se tornando o melhor vendedor da loja e devorador dos livros de artes. Ele lia em três línguas, sem descanso, e frequentava bibliotecas. Esse ritmo frenético pela leitura era desde sua infância, quando a mãe impunha para família que não existia nada pior do que o ócio, e Vincent repetia esse mantra de sua mãe.

    Trabalhando nas casas Goupil & Cie na filial em Londres, aqui Vincent estabeleceu uma grande amizade com o irmão Théo. Nosso artista iniciou uma correspondência com seu irmão em setembro 1872 que duraria até sua morte.

    Enquanto Vincent trabalhava nas casas Goupil & Cie, os artistas estavam sendo influenciados pelo movimento impressionista. Impressionismo consiste na impressão que o artista tem de um objeto, podendo ser um quadro, uma paisagem. Vincent se encontra no momento que eclode o impressionismo, a revolução impressionista tomando forma e alguns pintores cansados da pintura de ateliê⁹ que era dominante, começam a pintar os quadros que ficaram conhecidos como impressionismo. A técnica de impressão consistia em o artista pintar ao ar livre aproveitando a luz, as posições do sol e as variações de cores na natureza. Os impressionistas usavam cores de tons fortes em contraste com a pintura de ateliê que era decorativa com seus tons de cinza e marrons.

    Como dissemos acima, era a burguesia que mantinha o pintor, o burguês que comprava as pinturas e pendurava em suas salas, seus escritórios; a pintura impressionista não estava de acordo com os preceitos da burguesia. A dificuldade que os pintores tiveram em vender seus quadros era justamente pela recusa dos burgueses em adquirir os quadros impressionistas com suas cores vibrantes, pois contrastavam com o ambiente de interiores, casas e estabelecimentos em tons sóbrios. Vincent passou por essa dificuldade ao longo de sua jornada, vendeu apenas um quadro em vida e com valor irrisório. Ele recebeu a notícia dessa venda quando esteve internado no asilo em St-Rémy.

    Agora devo confessar que, mais tarde, quando minha surpresa diminuiu um pouco, me senti muito encorajado por ela às vezes; ontem, além do mais, Théo me informou que haviam vendido uma das minhas pinturas em Bruxelas por 400 francos. Em comparação com outros preços, incluindo os holandeses, isso não é muito, mas é por isso que eu tento ser produtivo para poder continuar trabalhando a preços

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