Revolução existencial: A coragem para ressignificar a sua existência e mudar a sua vida de dentro para fora
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É PRECISO IR ALÉM E APRENDER A ENXERGAR A VIDA COM OS OLHOS DA ALMA
Engana-se quem pensa que nascemos sabendo ver; é algo que se aprende, que se aprimora, que se desenvolve ao longo da vida. Muitos passam uma existência toda sem ter aprendido a enxergar de verdade. Pensam ter visto o mundo, mas, na grande maioria das vezes, enxergaram apenas um recorte da realidade, apenas o que foram ensinados a ver. Agir dessa maneira é tocar a superficialidade das coisas, sem jamais, porém, ter penetrado seus significados mais profundos.
Há coisas que só conseguimos ver com os olhos da alma. Esse olhar interno, que busca sentidos, vê propósitos e dá a verdadeira cor aos nossos dias. Quem vê apenas com os olhos do corpo não enxerga longe. Limita-se à superfície e às aparências. Mas quem vê a vida com os olhos de dentro mergulha na infinitude da existência.
Em Revolução existencial, o filósofo Alexandro Gruber, especialista em psicologia positiva e ciência do bem-estar, analisa temas fundamentais da trajetória de todos nós, como ego, dor, medo, tristeza, solidão, intuição, cura, para que o leitor possa ganhar uma nova perspectiva sobre cada um deles e enxergar seu próprio caminho entre a dor e o amor pelos olhos de dentro, dando, assim, um novo sentido à vida.
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Revolução existencial - Alexandro Gruber
1
A SENSIBILIDADE
A sensibilidade é a porta por onde a alma enxerga a existência e dialoga com ela.
A sensibilidade nada mais é do que a capacidade de a alma captar as nuances mais sutis. Uma pessoa sensível não é aquela que se abala emocionalmente com mais facilidade, mas certamente a que assimila mais o que está ao seu redor, por isso geralmente é alguém que sente e pressente as coisas com muita facilidade e com mais intensidade do que as demais. Todas as pessoas possuem essa capacidade, mas nem todas estão abertas a ela. Para se abrir à sensibilidade, é necessário compreender que a vida não se dá apenas por vias lógicas. Nosso raciocínio e nossa análise são essenciais, mas a inteligência intuitiva, ou sensível, nos permite captar coisas que vão além da mente, ou seja, que apenas com a capacidade lógica não conseguimos apreender. Unida ao nosso poder de raciocínio, a nossa sensibilidade nos possibilita enxergar as situações de modo mais amplo e profundo, e é por isso que ela consiste na porta em que os olhos da alma espiam. Trabalhar essa capacidade requer uma abertura mais ampla diante da vida, coragem para entrar em contato com os próprios sentimentos e disposição para ver as coisas com mais profundidade. Muitas pessoas a possuem de maneira inata; são indivíduos dotados de uma empatia natural e que podem ser chamados de almas sensíveis.
Ao contrário do que muitos pensam, almas sensíveis não são almas fracas, já que elas carregam uma sensibilidade mais sutil, enxergam outras camadas da vida e são profundamente comprometidas tanto com o crescimento próprio quanto com o coletivo. Costumam ser almas antigas, intuitivas, que se sentem diferentes da grande maioria – porque realmente são! Elas nasceram para construir um mundo novo, talvez por isso alguns as enxerguem como loucas, estranhas, contudo representam, na verdade, pessoas despertas que estão aqui para ajudar a acordar uma coletividade ainda adormecida. Essa é uma grande tarefa, longe de ser algo simples ou fácil.
Em um mundo ainda movido por valores materiais e transitórios, completamente apegado a conceitos que se desfazem com o tempo, pautado na dinâmica das aparências, do exibicionismo e das relações superficiais, as almas sensíveis se destacam porque buscam um propósito na vida. Elas não se contentam em viver uma existência sem significado ou em agir por pura necessidade. A voz que vem da alma as motiva a buscar mais. Exatamente por isso nem sempre é fácil viverem aqui. A ignorância por parte da sociedade e o deslocamento, consequência disso, levam as almas sensíveis a uma incompreensão de si mesmas perante o que sentem, o que querem e o que vivenciam.
Essa confusão interna, que ocasiona os mais diversos sentimentos, como a solidão, o medo, a tristeza, a ansiedade e a angústia, nada mais é do que a força da sensibilidade buscando algo para além das aparências, jornada essa nem sempre fácil. Por sentir com intensidade e viver por propósitos, a alma sensível necessita de elementos que deem suporte a essa busca. E mais do que isso: ela necessita educar a própria sensibilidade, porque, embora seja um grande dom, precisa ser bem usado para que possa trazer bons resultados. Alguém com elevada empatia, mas que não é capaz de administrar essa capacidade, capta e absorve o sentimento alheio sem saber como lidar com ele dentro de si ou como agir diante do outro. Por isso, uma pessoa sensível à beleza e à magia do mundo pode facilmente se deprimir diante de situações mais difíceis caso não entenda o que elas representam para além da dor.
Assim, educar a sensibilidade é saber direcioná-la. Quanto mais foco dermos à negatividade, ao desequilíbrio e à dor, mais captaremos esses elementos e sofreremos com eles. Não devemos absorver o que é negativo. Direcionar a nossa sensibilidade dessa maneira traz apenas desequilíbrio e mal-estar e não nos permite auxiliar de forma efetiva. É inevitável sentir aquilo que é ruim
. O ponto não é fugir disso, mas sim aprender a administrar esse contato, buscando entendê-lo em vez de absorvê-lo. Entender é sentir, analisar e agir, jamais se deixar contaminar. É assim que as verdadeiras soluções devem ser encontradas: filtrar o negativo e se envolver pelo positivo; é a melhor maneira de nutrir a sensibilidade.
Por isso, toda alma sensível precisa passar por um reencontro consigo mesma: a jornada própria em busca de entendimento e autoafirmação de seus valores e da maneira com que enxerga a vida e age diante das situações que encontra. O caminho do autoconhecimento e da expressão das emoções pode parecer solitário, contudo é exatamente ele que a leva a fazer conexões com outras almas que possuem essa mesma sensibilidade de viver e de sentir. Esse encontro faz bem para a interioridade, pois, na busca de si mesma, a alma sensível ressignifica o seu mundo e percebe que nunca foi estranha ou louca, mas sim que ousou viver com valores profundos que sempre foram o seu maior guia. O grande aprendizado da alma sensível está em apoiar a si mesma, pois nada se compara à força de uma alma que acordou para si e para o seu valor.
É necessário não se consumir diante da intensidade de seus sentimentos nem de retrair a própria sensibilidade, mas sim de acolhê-la como uma doce amiga que apresentará o mundo para além das aparências, com mais força e brilho e que faz vibrar o coração. Estimulada por aqueles que não acreditavam possuí-la, e bem direcionada pelos que naturalmente a possuem, mas não sabem como administrá-la, a sensibilidade é um grande tesouro descoberto e um instrumento poderoso na compreensão do mundo como um todo, principalmente a respeito das adversidades, das dores e dos sofrimentos, porquanto entende-se que nada é por acaso. Por meio da sensibilidade, compreendemos também que o Universo como um todo se estende em diversas camadas, sendo o mundo físico apenas uma delas, uma frequência mais densa de outras mais sutis que se entrelaçam.
Esse entendimento possibilita um novo olhar sobre a vida, o qual revela que o mundo é mais do que se mostra; portanto, só quando olhamos a vida pelos olhos de dentro, podemos encontrar o significado do que vivemos. Não se trata exatamente de buscar uma resposta exata e definida para o que nos acontece, mas de saber que tudo pode ser aproveitado de alguma maneira para o nosso crescimento, pois, para além do acaso ou do destino, está a nossa ação diante daquilo que nos ocorre, o que é determinante para a construção da vida que buscamos. Quando trabalhamos em prol da nossa sensibilidade, educando-a, não sentimos os acontecimentos de nossa vida como um peso que dilacera o nosso emocional, pois passamos a lidar como sábios mestres: nós nos abrimos aos nossos sentimentos sem temor, somos sinceros com nossas emoções e, acima de tudo, estamos prontos para dar um passo além para captar o aprendizado de uma situação, porque nossa sensibilidade é o grande farol que nos mostra o que pode ser extraído de nossa vivência.
É assim que, guiados por esse olhar sensível, nossa existência deixa de ser uma experiência aleatória entre dores e dificuldades e passa a ser uma incrível jornada, de descoberta própria, de desabrochamento de diversos potenciais, de encontro com as emoções mais profundas e de expansão de nossa própria alma em sua jornada de progresso.
Não é preciso temer a nossa sensibilidade, mas, em vez disso, despertá-la aos poucos e direcioná-la de modo positivo para o nosso crescimento. A sensibilidade é a porta por onde a alma enxerga a existência e dialoga com ela.
2
A ALMA
"O corpo é o que temos.
A alma é o que somos.
O corpo é o que sente.
A alma é o que dá sentido."
A alma é a Centelha Divina em nós, berço onde a consciência desabrocha, camada sutil para além da densidade do mundo. Não somos seres que possuem almas, mas almas que, enquanto encarnadas, usam um corpo. O corpo é o que temos. A alma é o que somos. O corpo é o que sente. A alma é o que dá sentido. Dela partem o pensamento, a razão, bem como o sentimento e a intuição. O corpo funciona como um intermediário, um instrumento de que a alma se vale para mergulhar e agir neste mundo mais denso. É o figurino que ela veste para atuar no drama da vida e vivenciar a história que melhor a fará crescer no momento.
Como a planta que necessita do solo, da água e da luz para crescer, nossa alma precisa vivenciar e experienciar para poder se estimular, aprender e crescer. Ou seja, a alma precisa se envolver para se desenvolver. Por isso, ela adentra planos mais densos: diferentes corpos, momentos distintos, experiências diversas, sob nomes e condições variados, em contato com outros seres, para que possa vivenciar diversos contextos e, por meio deles, progredir.
Em princípio, enxergamos a vida sob nosso ponto de vista. E, mesmo que experiências possam nos abrir um leque de aprendizados, elas representam um tempo muito curto diante de todos os aspectos que temos de desenvolver em nós. Por isso, é natural que só a vivência em diferentes papéis nos propicie o acervo necessário para o desenvolvimento de vários potenciais, bem como para o entendimento mais amplo da vida. É por meio da vivência de diferentes pontos de vista que nossa alma vai costurando um novo olhar sobre si mesma e sobre a existência, enxergando-se como um todo, em suas mais diversas dimensões, e não mais como um recorte individual que uma única vida neste mundo pode proporcionar.
É por isso que enxergar a vida com os olhos da alma é vê-la sob a perspectiva da eternidade. Analisar nossa existência como finita é limitar toda a nossa jornada e tirar dela todo o sentido. Seria inútil buscar compreender a dor, dar significado a nossas experiências, ver conexões nos nossos contatos. Seria viver uma vida enfadonha e vazia, em desacordo com os nossos próprios sentimentos. Acredita-se que isso possa resultar do medo da morte, da angústia de deixar de existir, mas, na verdade, é a reação da alma a uma crença que vai de encontro à verdade de nosso ser. Ver as coisas dessa maneira é como olhar pelo buraco da fechadura; enxergar com os olhos da alma é escancarar a porta para poder ver toda a infinitude da vida.
Esse conceito é conhecido como transmigração da alma entre os corpos, também chamado de processo de reencarnação, uma crença milenar que já percebia essa atividade da alma em sua jornada de progresso. O hinduísmo, o platonismo, o espiritismo, entre outras correntes, são alguns dos exemplos mais conhecidos de culturas religiosas e filosóficas que creem nessa visão, cada qual com suas próprias peculiaridades.
Embora possa parecer algo estranho à nossa mente (ainda apegada às aparências) nos enxergarmos como um ser eterno, que vivencia as mais diversas experiências, ao analisarmos dentro de nós, percebemos uma sensação de paz e familiaridade, como um conhecimento inato. É algo que possibilita a abertura de um sentido maior à nossa existência, em que cada fato torna-se um alicerce para o nosso crescimento, nenhum encontro torna-se em vão e toda dor torna-se apenas um cenário transitório na estrada infinita da vida.
Para enxergar com os olhos da alma, é necessário, portanto, reconhecê-la como a base daquilo que somos. O nosso eu real vai muito além de nosso nome, de nossa personalidade e de nossos costumes ou de nossa aparência. São aspectos transitórios, alterados pela força da vontade ou do passar do tempo; são personagens e criações do ego, que, mesmo fazendo parte da nossa manifestação no mundo, não dizem exatamente o que e quem somos. Porque somos mais até mesmo do que nossas experiências ou memórias. Somos aquilo que resiste a tudo isso. Somos a potencialidade adormecida que acorda com os estímulos das vivências. Somos essa essência que jamais se perde e que nem a morte pode levar. Somos alma! Princípio vital esse que reconhece sua jornada como um processo indispensável para o seu crescimento.
Nessa perspectiva, nenhuma vivência, pessoa ou situação surge ao acaso, pois cada evento que aparece no caminho vem ao encontro do nosso progresso. Ao assumir esse ponto de vista, muda-se toda a forma de ver a existência, bem como de agir diante dela, pois, a partir desse momento, entendemos que toda essa caminhada leva ao nosso próprio crescimento, de modo que não desejamos mais perder tempo em caminhos que não colaboram diretamente com esse propósito.
No entanto, é importante entender que ninguém se perde para sempre nas estradas infinitas do progresso. Há caminhos que parecem tortos, mas que se encaminham para o mesmo destino, mesmo que tornem o nosso próprio progresso mais lento e muitas vezes penoso. Mas o que não estiver sendo um impulso para o progresso será ao menos um estímulo nos empurrando para lá. Comumente esse estímulo surge pela dor, que dará lugar, à medida que formos mudando nossa maneira de ver a vida e desejarmos caminhar com consciência, a vivências mais leves que nos realizem interiormente.
Buscar a consciência sobre nós e