Estereótipos de velho representados em contos da literatura brasileira
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Estereótipos de velho representados em contos da literatura brasileira - Josafá Miranda de Souza
AGRADECIMENTOS
A Deus, de modo especial, agradeço pela oportunidade estendida a mim para a realização de mais este sonho, pois, foi sempre NELE que busquei, durante todo tempo, amparo e forças para a conclusão deste.
Aos meus pais adotivos, In Memorian, Maria Rosa e Laurentino Lima por terem-me concedido o direito à vida e me incentivarem aos estudos, por terem visto em mim um filho.
À minha Mãe biológica, In Memorian, Maria de Lourdes Miranda por oferecer-me a luz da vida e fazer com que eu acreditasse que com humildade, simplicidade e muita dedicação eu seria capaz de alcançar uma boa formação, ser uma pessoa do bem.
Agradeço, também, a minha esposa Raquel Carneiro pela constante ajuda e parceria, por ter seguido firme comigo a oferecer-me o apoio necessário para a conclusão desta etapa.
A minha filha Isadora pelo acompanhamento, a incentivar-me sempre por acreditar nos meus esforços.
Aos meus irmãos Gidalva, Lindalva e Jurandir pelas orações e incentivos e, mesmo distantes, sempre muito presentes.
Agradeço, ainda, de forma muito especial, aos meus professores orientadores Doutora Neila Barbosa Osório e Doutor Luiz Sinésio Neto pelo muito que fizeram para que eu alcançasse a conclusão deste Mestrado.
Aos professores das disciplinas do curso com os quais socializei as muitas horas de estudo para esta formação: Drª Maria José de Pinho, Drª Jocyleia Santana e Dr. Idemar Vizolli.
Às amigas e professoras Maria de Lourdes Macedo e Lígia Felix Parrião por terem me acompanhado durante a escrita desta dissertação.
Aos colaboradores da Universidade da Maturidade, senhoras Margarete e Jucélia, senhores José, Edval, Eli, o Fábio, por estarem sempre dispostos a auxiliar em questões internas no que lhes era possível nos diversos momentos de necessidade.
Aos meus queridos alunos da UMA, pela prazerosa troca de experiências e pelo carinho a mim dedicado durante o tempo de convivência, principalmente nas aulas. Aos demais amigos com os quais tenho convivido, de modo especial ao Jorge Valeriano e Edson Cabral com os quais busquei aliviar momentos difíceis.
Aos demais, que direta ou indiretamente estiveram presentes durante esta minha trajetória e caminhada para a concretização desta etapa da vida.
Que DEUS abençoe a todos.
Muito obrigado.
Tenho guardados comigo:
As sombras dos anos que ficaram no passado;
As imagens das diferentes faces refletidas no espelho tempo,
As mudanças, do corpo e da alma, registradas na cansada memória,
Os medos, todos os temores, que dizem existir na e com a velhice,
As lembranças dos muitos amigos do meu envelhecer ... estão por aí;
As saudades boas e ruins até mesmo do que não tive;
Os apegos aos sonhos ou às decepções por não ter sonhado;
As culpas por não ter arriscado um pouco mais ...
Tantos outros ... tantos de guardados que não me servem mais!
Guardado, mesmo, comigo, tenho o presente como um presente:
o poder, o direito em dizer que, com todo orgulho,
cheguei ao meu melhor de mim;
Sim, o meu melhor de tudo: alcancei o tempo ouro da velhice!
Mas inda há muito tempo para eu ter um dó de todos que ficam pelo caminho, esses que não saberão o bem que é SER VELHO!
Josafá Miranda de Souza
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PREFÁCIO
Estereótipos de Velho
Representados em Contos da Literatura Brasileira
Ao degustar cada página desta obra, vamos saborear histórias reais que serviram de base para a sua construção, mediante pesquisas, análises, convívios com as diversas fazes da vida humana. Tão salutar é perceber que não há limites para a ocupação da mente e os desafios que a vida nos oferece, com a possibilidade de encontrarmo-nos em um banco da universidade voltada para a velhice.
Ao contribuir para com a sociedade que ingressa ou permanece na melhor idade, esta obra de Josafá Miranda enche-nos os olhos e alimenta a alma, acalma os ânimos e faz serenar o coração dos membros das famílias de idosos, de adultos, de jovens e de crianças de um planeta chamado Terra.
A metamorfose confunde realidade com ficção, colocando à prova os atos e os fatos de que muitos não se tornam velhos, outros nem se dão conta de que os anos se foram, muitos, vários, chegam de fato à velhice. Quando se olha para dentro é que se percebe o que tem por fora. É no banco da escola que a velha vida dá asas à imaginação que se liberta e alça voos na arte e na literatura imortalizada em contos que refletem o prazer de ser velho, ou, a tristeza também de ser velho, materializada em teorias, surgindo aí a criação de personagens idealizadas em misto de amor e de ódio.
Ao alimentar seus olhos nas páginas deste belíssimo trabalho, que é o resultado de pesquisas e vivências reais, o leitor vai compreender a importância da Universidade da Maturidade, não apenas ao se sentar em seu interior, mas principalmente no ambiente externo e no pensamento de cada um daqueles que acessarem esta obra. É Sempre muito importante observar que a criatividade deve ser aguçada e incentivada na busca da compreensão e na construção de todo ser humano, em sua trajetória de vida. Ainda que velho, há tempo para recomeços e enfrentar desafios, que realmente parecem monstros devastadores de esperanças para muitos e para outros, não passam de pequeninos bichinhos do tempo que, de certa forma, acenam-nos para o fim da vida, mas com um alerta da permanência na lembrança dos sucessores ou herdeiros, que dão forças para seguir trilhando o caminho com os melhores olhares aos arredores do dia após dia, como se aquele fosse o último dia, recebido como um presente do Grande Arquiteto do Universo.
O encantamento encontrado neste livro fortalecerá o gosto pela leitura e a esperança pela vida na terceira idade, com saúde e produtividade. As grandezas singulares dos contos imortalizados em obras primas de vários imortais da literatura brasileira vão despertando o interesse em continuar saboreando cada capítulo, apegando-se e, obviamente, terminando a leitura de um, começando do outro.
Velho é simplesmente imprevisível, mesmo porque vai interiorizando o seu passado, apegando e desapegando das lembranças inesquecíveis, mas sem se estacionar no acostamento dos anos vividos com alegrias, com saudades, com tristezas e com emoções que estão reservadas nas páginas desta obra que chega em momento muito especial ao mercado do livro. Para concluir, resta-me, desejar a você uma excelente leitura!
Jorge Valeriano
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
1 INÍCIO DA CAMINHADA
1.1 ROTEIRO PARA O (RE)CONHECIMENTO
1.2 DISPOSIÇÃO DA PESQUISA
2 O VELHO NA UNIVERSIDADE DA MATURIDADE
2.1 O QUE É A UMA?
2.2 O TRABALHO EDUCACIONAL NA UNIVERSIDADE DA MATURIDADE
2.3 A REPRESENTAÇÃO DO ENVELHECIMENTO NOS DOCUMENTOS NORTEADORES DA UMA
2.4 AS AULAS DE LITERATURA, ARTES E GERONTOLOGIA NA UMA
3 ITINERÁRIO TRAÇADO PELOS OLHARES
3.1 OLHAR CIRÚRGICO NAS ENTRELINHAS DE CONTOS DA LITERATURA BRASILEIRA
3.2 O ANDAR ENTRE AS LINHAS DAS NARRATIVAS COM OS ACADÊMICOS DA UMA
4 O AUTOR E A ARTE LITERÁRIA: TECELÃO PROSADOR
4.1 A ARTE LITERÁRIA À LUZ DAS TEORIAS
4.2 ESTRUTURAS DO CONTO
4.2.1 LADO OBSCURO EM CONTOS BRASILEIROS: INQUIETAÇÕES E BUSCAS
4.3 CRIAÇÃO DE PERSONAGENS
5 ESTEREÓTIPOS DE VELHO EM CONTOS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E DE GRACILIANO RAMOS
5.1 ELEMENTOS ESTRUTURAIS NOS CONTOS DE OSMAR CASAGRANDE
5.1.1 ESTEREÓTIPOS DE VELHO REPRESENTADOS NO CONTO DE OSMAR CASAGRANDE
5.1.2 TEORIA DO APEGO NO CONTO DO AUTOR
5.1.3 COMPORTAMENTO DE VELHO NO CONTO OSMARIANO: SOLIDÃO E ISOLAMENTO SOCIAL
5.1.4 ASTÚCIAS DA VELHA ESTEREOTIPADA: AMORALIDADE E IMORALIDADE
6 ESTAÇÃO PARA DESCANSO
REFERÊNCIAS
APÊNDICE - FRAGMENTOS DE VIDAS
ANEXO A - A DOIDA
ANEXO B - A NOITE DA REVOLTA
ANEXO C - PRIMEIRA AVENTURA DE ALEXANDRE
ANEXO D - O OLHO TORTO DE ALEXANDRE
ANEXO E - TOTONHA
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
1 INÍCIO DA CAMINHADA
O tema velhice é uma recorrência na minha vida, desde a infância. Sou filho adotivo de pais velhos. Eles me adotaram quando eu tinha três anos e já estavam velhos, ele com 70 e ela com 66 anos. Então, a experiência e convivência com velhos começaram desde muito. Aprendi muito cedo a olhar a pessoa velha como uma referência de vida e as imagens que tenho dos meus pais adotivos me transportaram para a vida racional. Eles partiram, faz muito tempo.
Hoje, carrego o legado por eles a mim deixado como a maior lição de vida, uma educação moldada de bons princípios; não tenho dúvidas de como pretendo ter a minha esperada velhice, caso tenha a sorte de chegar a essa fase. Meus velhinhos eram analfabetos, sabiam desenhar os nomes no papel, espécie de arte abstrata, mas tinham gosto para com a arte literária, principalmente Dona Maria Rosa, que adorava recitar poesias diversas e de autores tantos para eu ouvir e, às vezes, fazia-me repetir alguns versinhos, ainda me contava lindas e emocionantes histórias; ela tinha muitas narrativas na memória. Não que seja ousadia minha, mas posso dizer que ela era uma poetisa nata, a minha Rosa em versos, como uma Cora Coralina.
Antes de ser adotado por eles, eu morava com meu avô, Joaquim de Souza, Velho Quincas (irmão da minha mãe poetisa), em uma fazenda, a Mombuca, zona da caatinga, no município de Bom Jesus da Serra, estado da Bahia. Ele era autodidata, criador e contador de causos, histórias/estórias de caçadores, pescadores e coisas do outro mundo.
Contam que ele sempre era convidado por donos de casas de farinha para contar os causos durante as torrefações noturnas, uma forma lúdica de manter os torradores, trabalhadores de ofício, alegres e acordados. O meu velho usava a cachacinha
como antídoto e levava uma certa carga da mandioca em pó como pagamento do serviço de contador, de farsista. Caminhou por esta vida por cento e três anos. Deixou-nos saudades e a missão de continuarmos com os causos, com as histórias dele, de outros e as inéditas. Sou, dele, um dos herdeiros deste ofício.
Com meus pais adotivos, passei a morar em um vilarejo, Bomfim do Amianto, distrito de Bom Jesus da Serra, próximo da cidade de Poções, um lugar menos rural, mas não de tudo, pois, havia roça que se estendia pelo longo terreno, quando Deus mandava chuva, raramente Ele mandava, criação de caprinos, de suínos e aves. Logo cedo, deram-me a obrigação de cuidar de parte da bicharada.
Ao completar cinco anos de idade, colocaram-me na escola que ficava próximo de onde morávamos. Era apenas uma sala de aula na modalidade educação multisseriada, isto é, diferentes faixas etárias e graus de aprendizagem em um mesmo espaço. Lembro-me de que havia apenas um professor, Chico Lopes, que, às vezes e por muitos dias, tinha ataque de loucura, saía pelas casas a pegar penicos (urinóis) e os pendurava em barbantes e com um na cabeça, como um capacete, a gritar versos pelas ruas do vilarejo. Escrevia estrofes e poemas completos em pedaços de papel e os pregava em árvores por onde passava. Enquanto ele estava em crise, ficávamos em casa.
Nosso mestre também era um poeta por natureza. Muito estudioso, dominava muitos e variados conhecimentos. Durante as aulas, sempre deixava um tempo para nos contar uma história/estória, uma espécie de dramatização literária. Eu ficava fascinado com as narrativas. Com ele, tive meu segundo contato com a literatura. Naquele período, ainda não sabia ler fluentemente, mas também já recitava versos ensaiados pela minha mãe e pelo professor. Com isso, aos seis anos de idade, venci meu primeiro concurso de poesia, organizado pelo professor Chico Lopes, em certa data comemorativa. O troféu para o vencedor foi um grande e gostoso bolo confeitado. Minha mãe, orgulhosa e muito feliz, levou o bolo para casa.
Durante os anos seguintes, outros velhos surgiram nos meus caminhos e, também, deixaram-me certezas de como olhar e aceitar a imagem velha, a velhice, como conviver com as marcas deixadas pelo tempo. Graças a esses contatos e vivências com o mundo da literatura, além de contador de causos, herança de meu avô, ousei-me tornar um produtor de obras literárias nos diversos gêneros, inclusive na dramaturgia. Hoje, sou um homem das letras, das palavras, confrade (imortal) da Academia Palmense de Letras,