Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação
O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação
O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação
Ebook235 pages2 hours

O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

O Brasil tem uma enorme dívida com seu passado e com o seu futuro. Dívida cujo âmago decorre da história e endêmica desigualdade socioeconômica do Brasil. Hoje temos a compreensão dos fatores socioeconômicos que precisam ser operacionalizados para permitir a construção de uma agenda eficaz de fomento ao desenvolvimento socioeconômico da pessoa humana. O combate à desigualdade socioeconômica no Brasil é mais do que um fundamento de cunho filosófico, um imperativo categórico da moral kantiana. Seu fundamento tem como alicerce a necessidade premente de alcançarmos um crescimento socioeconômico sustentável que permita fornecer as bases para o desenvolvimento da pessoa humana.
Hoje temos a compreensão do gargalo econômico que impossibilita o desenvolvimento socioeconômico dos menos favorecidos. Dentre as diversas medidas a serem adotadas para a redução das disparidades socioeconômicas do povo brasileiro está a realização de uma reforma tributária que privilegie o direito ao desenvolvimento do ser humano, ou seja, uma reforma tributária indutora do desenvolvimento da pessoa humana menos favorecida economicamente. Reforma tributária cuja concepção de sistema constitucional tributário recaia sobre a necessidade ao fomento do desenvolvimento socioeconômico do ser humano, um sistema tributário que possibilite a redistribuição de riquezas de forma a permitir que pessoas desfavorecidas socioeconomicamente possam dispor dos recursos financeiros necessários à inserção em outros espaços.
LanguagePortuguês
Release dateJan 31, 2022
ISBN9786525218731
O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação

Related to O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação

Related ebooks

Law For You

View More

Related articles

Reviews for O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    O Direito ao Desenvolvimento Humano à Luz da Justa Tributação - João Abrantes Cruz

    1 INTRODUÇÃO

    A presente dissertação aborda o direito ao desenvolvimento humano à luz da justa tributação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes, situa-se na área de concentração Direito Econômico e Desenvolvimento e segue a linha de pesquisa de Desenvolvimento Humano, Empresa, Tributação e Responsabilização (Civil, Penal e Administrativa).

    O objeto de pesquisa no qual circunscreve-se o estudo do direito ao desenvolvimento humano à luz da justa tributação recai sobre a necessidade de se repensar o atual sistema de distribuição dos encargos tributários entre os agentes econômicos no Brasil. Um objeto de estudo cujo que privilegie a redução dos encargos tributários principalmente para aqueles que arcam com o ônus financeiro decorrente da tributação indireta incidente sobre o consumo, ou seja, um sistema tributário que permita a justa redistribuição da riqueza nacional por meio de uma política macroeconômica que disponibilize aos mais necessitados os recursos necessários ao financiamento do seu próprio desenvolvimento socioeconômico.

    Sendo assim, a hipótese abordada no presente trabalho de pesquisa insere-se na discussão acerca da necessidade de uma reforma tributária cujo teor seja a redistribuição da riqueza nacional aperfeiçoada por meio de uma modelagem de sistema tributário que permita servir de como instrumento de financiamento do desenvolvimento da pessoa humana.

    Assim, o presente trabalho de pesquisa tem como objetivo discutir o direito ao desenvolvimento humano à luz da justa tributação, privilegiando a importância do estudo da justa distribuição dos encargos da tributação entre os agentes econômicos como mecanismo de fomento ao desenvolvimento econômico e social do ser humano.

    A metodologia utilizada no presente trabalho de pesquisa terá como método de estudo o modelo dedutivo, cujo estudo parte da premissa geral para a particular, ou seja, partindo-se dos contributos conceituais, históricos e principiológicos do direitos humanos, a análise da atual modelagem do sistema tributário nacional e a necessidade da redistribuição da riqueza nacional por meio de uma modelagem de carga tributária que possibilite aos mais necessitados a obtenção disponibilidade e poupança de recursos necessários ao financiamento do desenvolvimento socioeconômico da pessoa humana.

    As reflexões que apresentadas serão fundamentadas num procedimento metodológico pautado em pesquisa bibliográfica, tendo sido utilizados livros, artigos, teses e dissertações de mestrado, bem como pesquisas em sites, visando a captura de referenciais teóricos que permitam compreender a atual modelagem do sistema tributário do Brasil e a necessidade de redistribuição dos encargos tributários de maneira a possibilitar o desenvolvimento da pessoa humana.

    Nesse sentido, a dissertação analisará a atual composição e distribuição da carga tributária nacional, bem como privilegiará o estudo da redistribuição dos encargos tributários de forma que, tal política macroeconômica possa permitir àqueles que atualmente arcam preponderantemente com o ônus financeiro da tributação indireta, possam nessa reconfiguração do sistema tributário, obter os recursos necessários ao fomento do seu desenvolvimento pessoal.

    Desta forma, os capítulos buscam explicitar a importância da redistribuição dos encargos tributários, no Brasil, como mecanismo de política socioeconômica necessária a permitir o desenvolvimento da pessoa humana. Nesse intuito, o trabalho foi dividido em três capítulos, a saber:

    No capítulo referente aos fundamentos dos direitos humanos, serão estudados as características e gerações dos direitos humanos; os contributos das revoluções inglesa, americana e francesa, bem como a importância da carta das nações unidas e da declaração universal dos direitos humanos como pressupostos históricos para consolidação do direito ao desenvolvimento humano à luz da justa tributação. Serão estudadas, ainda, as disposições constitucionais que tratam dos tratados e convenções internacionais sobre direito ao desenvolvimento humano, bem como o respectivo tratamento constitucional para o processo de incorporação dos direitos humanos no ordenamento jurídico pátrio.

    Já no capítulo referente ao direito ao desenvolvimento à luz da justa tributação serão abordados os conceitos de crescimento versus desenvolvimento humano; o direito ao desenvolvimento como direito humano; os fundamentos democráticos do direito ao desenvolvimento humano; a pobreza como obstáculo ao desenvolvimento humano; o estudo dos tratados e convenções internacionais sobre direito ao desenvolvimento humano; o direito ao desenvolvimento como direito fundamental previsto na Constituição da República; a atividade e direito financeiro do estado à luz do direito ao desenvolvimento da pessoa humana; o sistema tributário à luz do direito ao desenvolvimento da pessoa humana, a justa tributação à luz do direito ao desenvolvimento da pessoa humana, bem como os tributos diretos e indiretos à luz da justa tributação.

    No capítulo referente à análise dos indicadores macroeconômicos serão realizadas análises macroeconômicas da atual composição da carga tributária brasileira em comparação à carga tributária adotada por outros países. Tal comparação permitirá aferir o quão é urgente e necessário repensar a atual modelagem do sistema tributário nacional, uma vez que, a implantação de uma modelagem de sistema tributário, que pautado nos pressupostos da justa tributação, permitirá aos mais necessitados, que atualmente, arcam preponderantemente com o ônus financeiro da tributação indireta, a obtenção de recursos necessários a possibilitar, através da liberalidade de escolhas, financiar o próprio desenvolvimento socioeconômico pessoal.

    2 FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS

    2.1 DIREITOS DO HOMEM VERSUS DIREITOS FUNDAMENTAIS VERSUS DIREITOS HUMANOS

    O estudo dos fundamentos de que tratam os direitos humanos requer que se estabeleça, preliminarmente, uma distinção doutrinária entre as expressões direitos do homem, direitos fundamentais e direitos humanos para que se possa enquadrar o estudo do direito ao desenvolvimento humano à luz da justa tributação como espécie de direito humano.

    Por direito do homem pode-se compreender uma expressão doutrinária de natureza natural e universal que garante a proteção global do homem em todos os tempos. Trata-se de direitos não previstos constitucionalmente ou em tratados e convenções internacionais, ou seja, são direitos que se justificam no plano jusnaturalista.

    Segundo Mazzuoli (2010, p. 750-751), a expressão direitos do homem diz respeito a uma série de direitos naturais aptos à proteção global do homem em todos os tempos. Trata-se de direitos que não estão previstos em textos constitucionais ou em tratados de proteção aos direitos humanos. A expressão é, assim, reservada aos direitos que se sabe ter, mas a existência se justifica apenas no plano Jusnaturalista.

    Em relação aos direitos fundamentais pode-se compreender aqueles constituídos sob a égide de uma dogmática histórica materializada no corpo constitucional. Ou seja, são direitos constitucionalmente previstos que fazem parte da ordem jurídica de um determinado Estado.

    Sabe-se que a inserção no corpo constitucional, de normas que tratam dos direitos fundamentais é um dos pressupostos do constitucionalismo material, sob pena de não ser entendida como Constituição. Tal necessidade está asseverada na declaração de direitos do homem e do cidadão de 1789, no qual dispõe: Artigo 16º - A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição (HUNT, 2012, p. 227).

    Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, verifica-se que os direitos e garantias fundamentais, que estão dispostos no Título II, representam, preliminarmente, o gênero no qual se inserem as seguintes espécies: I) Direitos Individuais e Coletivos; II) Direitos Sociais; III) Nacionalidade; IV) Direitos Políticos e V) Dos Partidos Políticos. Assim, pode-se concluir que o direito à nacionalidade é um direito fundamental assim como os direitos individuais e sociais previstos na Constituição da República.

    É importante frisar que o rol de direitos fundamentais previsto no Título II da Constituição da República não é um rol exaustivo. Há outros direitos fundamentais plasmados em outras partes da Constituição brasileira, tais como, o direito ao meio ambiente (art. 225) e o princípio da anterioridade tributária (art. 150, III, b), dentre outros.

    Já a expressão, direitos humanos, é decorrente de direitos positivados no âmbito do direito internacional. A proteção a esses direitos, se aperfeiçoam por meio de tratados e convenções globais e regionais de direitos humanos.

    Segundo Hunt (2012), a expressão Direitos Humanos passou a ser proferida em meados do século XVIII, como destaca in verbis:

    As pessoas do século XVIII não usavam frequentemente a expressão direitos humanos e, quando o faziam, em geral queriam dizer algo diferente do significado que hoje lhe atribuímos. Antes de 1789, Jefferson, por exemplo, falava com muita frequência de direitos naturais. Começou a usar o termo direitos do homem somente depois de 1789. Quando empregava direitos humanos, queria dizer algo mais passivo e menos político do que os direitos naturais ou direitos do homem. Em 1806, por exemplo, usou o termo ao se referir aos males do tráfico de escravos: "Eu lhes felicito, colegas cidadãos, por estar próximo o período em que poderão interpor constitucionalmente a sua autoridade para afastar os cidadãos dos Estados Unidos de toda participação ulterior naquelas violações dos direitos humanos que têm sido reiteradas por tanto tempo contra os habitantes inofensivos da África, e que a moralidade, a reputação e os melhores interesses do nosso país desejam há muito proscrever (HUNT, 2012, p. 20).

    O processo de formação e consolidação dos direitos humanos se aperfeiçoa por um intenso movimento de universalização de direitos abstratos naturais, transmutando-se em direitos previstos positivamente na ordem internacional, como escreve Bobbio (2004, p. 30):

    A Declaração Universal contém em germe a síntese de um movimento dialético, que começa pela universalidade abstrata dos direitos naturais, transfigura-se na particularidade dos direitos positivos, e termina na universalidade não mais abstrata, mas também concreta, dos direitos positivos internacionais.

    Dessa forma, pode-se compreender que o processo de consolidação dos direitos humanos representa um processo histórico contínuo, uma busca as vezes frustrante, outras vezes triunfante. Contudo, independentemente da nomenclatura a ser utilizada para designar os direitos conquistados e a conquistar pelo homem, ao longo de sua trajetória pelos tempos, a busca da efetividade de tais direitos deve pautar a agenda dos direitos humanos na atualidade, sob pena de se ter um conjunto de tratados e convenções internacionais dimensionados numa perspectiva meramente formal.

    A necessidade de tornar substantivo a aplicabilidade dos direitos humanos, sob pena de torná-los ineficazes é compartilhada por Santos e Chauí (2013), quando destacam:

    A hegemonia dos direitos humanos como linguagem de dignidade humana é hoje incontestável. No entanto, esta hegemonia convive com uma realidade perturbadora. A grande maioria da população mundial não é sujeito de direitos humanos. É objeto de discursos de direitos humanos. Deve, pois, começar por perguntar-se se os direitos humanos servem eficazmente a luta dos excluídos, dos explorados e dos discriminados ou se, pelo contrário, a tornam mais difícil. Por outras palavras, será a hegemonia de que goza hoje o discurso dos direitos humanos o resultado de uma vitória histórica ou, pelo contrário, de uma derrota histórica? (SANTOS; CHAUÍ, 2013, p. 42).

    Em suma, deve-se buscar priorizar esforços no sentido de tornar efetiva a aplicabilidade dos direitos humanos no mundo das pessoas, uma vez que, a mera disposição formal de direitos humanos, sem correspondência e aplicabilidade no mundo dos fatos, pode torná-los meras proposições políticas, desprovidos de substância material efetiva, letra morta de tratado ou convenção internacional.

    2.2 GERAÇÕES/DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS

    A origem e o árduo caminho percorrido para a consolidação do que ora se denomina como direitos humanos é fruto das injustiças sofridas pelo ser humano nos mais variados contextos históricos da humanidade. A importância da narrativa histórica para o entendimento das gerações ou dimensões dos direitos humanos é capitaneada por renomados autores tais como, Ribeiro (2011) que destaca tal importância ao escrever:

    O fundamento para a existência dos direitos humanos (ou direitos humanos) está, justamente, nesta historicidade, vez que seu reconhecimento não se deu através de doutrinas ou teorias, mas com conquistas sociais que se afirmaram através de lutas e revoluções no decorrer dos tempos, promovidas por diversas gerações de oprimidos e excluídos e, a cada momento, foi se reivindicando proteção de níveis mínimos de igualdade, democracia e existência digna, como condição para sobrevivência pacífica (RIBEIRO, 2011, p. 5).

    A despeito das discussões doutrinárias que se aperfeiçoam entre os termos gerações ou dimensões dos direitos humanos, o que se insere em grau de relevância é o fato de o processo de positivação e efetivação dos direitos humanos estar atrelado a um contexto histórico fruto, das injustiças que tem sofrido o ser humano, ao longo dos tempos.

    É importante frisar que a divisão metodológica dos direitos humanos em gerações e ou dimensões não afasta a ideia de que os direitos humanos representam um complexo integral, sistema dotado de integralidade, unidade e indivisibilidade que atuam de forma inter-relacionada e interdependentes entre si.

    A visão interdependente das gerações dos direitos humanos é corroborada por renomados autores como a professora Flávia Piosevan (2017), quando escreve, in verbis:

    Vale dizer, sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais, enquanto, sem a realização dos direitos civil e políticos, ou seja, sem a efetividade da liberdade entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos e sociais carecem de verdadeira significação. Não há mais como cogitar da liberdade divorciada da justiça social, como também é infrutífero pensar na justiça social divorciada da liberdade (PIOSEVAN, 2017, p. 65).

    As diversas doutrinas que se debruçam sobre o estudo das gerações ou dimensões dos direitos humanos computam as mais variadas quantidades de gerações ou dimensões representativas das fases dos direitos humanos. Contudo, neste trabalho de pesquisa, o estudo estará circunscrito as cinco gerações ou dimensões dos

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1