Gênero, Intersubjetividade e Performatividade
By Terezinha Richartz and Zionel Santana
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A constituição identitária de gênero, de certa forma, é uma pretensão dos sujeitos que precisam ser reconstituídos a partir da práxis comunicativa. Os autores apontam que não é mais possível uma constituição identitária no paradigma subjetivo, desprovido de um discurso que vise à reconstituição consensual na comunidade originária. A possível saída apresentada em seu texto é a partir do paradigma intersubjetivo. Portanto, não há indivíduos puros nas relações identitárias, toda constituição identitária pressupõe que ela seja transpassada pelas experiências coletivas e mediada pela linguagem.
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Gênero, Intersubjetividade e Performatividade - Terezinha Richartz
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedico este livro aos meus pais, Livina e Daniel, a quem devo toda a minha formação ética e que me ensinaram a perseverar e superar as dificuldades.
APRESENTAÇÃO
O conceito de intencionalidade e subjetividade é um problema da fundamentação fenomenológica da intersubjetividade. A fundamentação fenomenológica não garante pensar uma experiência intersubjetiva, pois nos obriga a lançar mão de um sentido compartilhado por diferentes sujeitos, que pensam o outro a partir de suas representações, ainda dentro dos limites do paradigma da consciência. Essa é a tese que os autores desta obra colocam em questão sobre Gênero, intersubjetividade e performatividade. A universalidade abre para uma teoria da constituição da sociedade, com normas e regras descritivas, e sujeitos intersubjetivantes socializados, que se produzem à medida que suas práticas cotidianas se orientam a objetos susceptíveis de experiências, em uma experiência intersubjetiva socializada que se expressa em sistemas simbólicos de linguagem natural, em que o saber acumulado está dado ao sujeito particular, como tradição cultural (HABERMAS, 2001).
De tal modo, a distinção entre experiência depende da formação da consciência e da exposição contextualizada, isto é, o mundo social objetivo. Mas o ato de consciência manifesta-se por meio do sentido do objeto pretendido e antecipa o fático desse objeto a que a intenção se dirige (HABERMAS, 2001). A formação da consciência se dá frente à experiência fenomenológica, da observação do eu transcendental, mas a compreensão desse fenômeno depende de uma construção, a priori, da linguagem e a sua socialização. Portanto, há um entrelaçamento entre o eu
, o fenômeno e a linguagem. Esse entrelaçamento acontece por causa do envolvimento de turbilhões de experiências, valores, símbolos mediados pela linguagem em uma comunidade socializada. Não seria possível conceber um sujeito puro desnudado de linguagem. Por exemplo, ao se referir ao sol em um ato de fala, o ouvinte só entenderia a intenção do falante se ele estivesse dentro de um contexto socializado, de estrutura simbólica da linguagem. Toda vez que o falante faz jus a esse discurso, o eu
, ele se dirige a um objeto de seu entorno e se ocupa dele dessa ou daquela maneira.
Esse processo da nossa consciência é universal, pois a vida tem que poder fazer-se derivar da execução de atos de uma subjetividade, cujas operações se explicitam nos entrelaçamentos de sentidos, que são os objetos possíveis, acessíveis à intuição.
Na relação entre consciência e verdade, podemos supor que a verdade se define por referência ao cumprimento intuitivo de uma intenção mediante a presença direta do objeto intencional. Se tal presença corresponde à violência de uma evidência? Eis a questão.
Portanto, essa situação obriga-nos a uma elaboração conceitual de uma teoria que explique como é possível estabelecer uma concepção de uma falsa consciência. Talvez se dê pela ausência de uma teoria crítica. Por outro lado, se o eu
, o que se constitui na relação com o outro, passa a ser um elemento de meu mundo, mas o outro não pode estar dado originariamente nas operações constituintes que ele exercita, como teria que ser em princípio se o outro fora na verdade algo constituído por mim? Retomaria o dilema da consciência monológica; o outro é uma construção do meu eu
, constituo o "alter em uma perspectiva subjetivista, pois estaria na ilusão dessa constituição do
alter. Dessa forma, não há como fugir da constituição do
alter" em bases monológicas, pois a objetividade do mundo está aí como ela mesma, o mundo para todos só me é dado como objetivo, a natureza que eu constituo nas formas de autorrepresentação idêntica para todos os demais. Portanto, neste mundo da vida, os sujeitos socializados se movem, já sempre no plano transcendental que é a intersubjetividade.
A minha corporeidade vivenciada como um corpo extraordinário em que eu constituo o meu mundo ordena e se estrutura a partir de subjetividades individuais. Encontramos nesses argumentos a possibilidade de algumas reflexões. Essa compreensão irá nos conduzir às reflexões presentes em Gênero, intersubjetividade e performatividade; a intersubjetividade presente aqui sob a perspectiva da relação entre corpo e corporeidade, objetividade, subjetividade e intersubjetividade.
A relação entre os corpos dessa natureza, propriamente reduzida só em um único corpo que vem caracterizado como meu corpo
; o eu
, a princípio, ainda é o primeiro a tomar consciência da experiência originária de sua corporeidade. O "alter se forma da percepção do mundo corpóreo consciente da primeira experiência do
eu. A corporeidade do
alter apresenta uma vida – ato estranho que em princípio não me é acessível de forma direta. Mas, a compreensão do
alter já está a priori transcendentalmente constituída de forma subjetiva no âmbito da consciência fenomenológica de um saber epistêmico. Contudo, o
alter" como objeto da minha consciência manifesta-se no contexto do mundo social e nas interações sociais mediada pela linguagem.
Os autores
PREFÁCIO
GÊNERO, INTERSUBJETIVIDADE E PERFORMATIVIDADE
A patologização de identidades de gênero e identidades sexuais, vistas como desviantes
, orientadas por julgamentos de ordem moral, causa preconceitos e discriminação e extrapola seu efeito discursivo, embasando diferentes formas de violências contra mulheres e pessoas da população LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, intersexo, assexuais e mais). Os esforços isolados, para a conquista de direitos legitimados junto às instituições estatais, não são suficientes para garantir justiça e, sobretudo, o reconhecimento dessas pessoas como seres humanos e não cidadãos de segunda categoria
em nossa sociedade. É preciso