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Box Pinóquio – As aventuras de Pinóquio: Le avventure di Pinocchio
Box Pinóquio – As aventuras de Pinóquio: Le avventure di Pinocchio
Box Pinóquio – As aventuras de Pinóquio: Le avventure di Pinocchio
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Box Pinóquio – As aventuras de Pinóquio: Le avventure di Pinocchio

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About this ebook

Neste box bilíngue o leitor mergulhará na experiência de viver Pinóquio em suas origens, resgatando os elementos dos fascículos publicados entre 1881 e 1883 no Giornale per i Bambini com as consagradas ilustrações da edição de 1901 feitas pelo artista Carlo Chiostri. A atmosfera da história, apesar de divertida e engraçada — nariz que cresce a cada mentira, os conselhos do Grilo Falante e a vez que arranca a peruca de Gepeto — carrega uma aura de melancolia e beleza. A isso o famoso cineasta italiano, Federico Fellini disse: "Eu mergulhava em uma espécie de devaneio, contemplando a melancolia, as formas espectrais de Carlo Chiostri. Elas ressaltavam também o lado triste desse livro, o gosto de pesadelo que deixava no paladar, aquela espécie de tremor febril e delirante".
Além da versão original em italiano, o box conta com cartões, marcadores, pôster e curiosidades sobre a obra e seus autor.
LanguagePortuguês
Release dateMar 1, 2022
ISBN9786555791488
Box Pinóquio – As aventuras de Pinóquio: Le avventure di Pinocchio
Author

Carlo Collodi

Carlo Corenzini was both in Florence, Italy, in 1826 and worked as a writer and journalist under the pseudonym Carlo Collodi. In addition to being celebrated for his writing he was also known for his active interest in political life and ideas. He first began to engage with a young audience of readers when he published a translation of the French Fairy Tales of Charles Perrault in 1876, and then began work on his most celebrated book, Pinocchio, in 1881. His story of a puppet began life as a series of instalments published in The Children's Magazine before being published as a complete book - with a new ending - in 1883. Corenzini died some seven years later, in 1890, in his home city of Florence.

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    É um clássico que ensina mesmo o mais velhos dos ansiões. Toda criança deveria ouvir, e todo adulto ler e reler.

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Box Pinóquio – As aventuras de Pinóquio - Carlo Collodi

capa

Copyright © 2022 Pandorga

All rights reserved.

Todos os direitos reservados.

Editora Pandorga

1ª Edição | Janeiro 2022

Título original: Le Avventure di Pinocchio

Author: Carlo Collodi

Ilustrações originais: Carlo Chiostri

Diretora Editorial

Silvia Vasconcelos

Editora Assistente

Jéssica Gasparini Martins

Capa

Nicholas Lima

Projeto gráfico

Lilian Guimarães

Rafaela Villela

Diagramação

Danielle Fróes

Tradução

Letícia Maria Neves

Revisão

Caroline Bigaisky

Michael Sanches

eBook

Sergio Gzeschnik

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva – CRB-8/9410

Índice para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5

2. Literatura infantil 82-93

EDITORA PANDORGA

THE SQUARE GRANJA VIANNA

RODOVIA RAPOSO TAVARES, KM 22 – LAGEADINHO

COTIA – SÃO PAULO – BRASIL – 06709-015

TEL. (11) 4612-6404

www.editorapandorga.com.br

Sumário

PINÓQUIO

Apresentação

I – Como mestre Cereja, um carpinteiro, encontrou um pedaço de madeira que chorava e ria como um menino.

II – Mestre Cereja dá o pedaço de madeira de presente ao amigo Gepeto, que o pega para fabricar um boneco maravilhoso, que saiba dançar, pratique esgrima e dê saltos mortais

III – Gepeto, voltando para casa, começa imediatamente a fabricar o boneco e lhe dá o nome de Pinóquio.

IV – A história do Pinóquio com o Grilo Falante, na qual se vê como os meninos malvados se aborrecem ao serem corrigidos por quem sabe mais do que eles.

V – Pinóquio sente fome e procura um ovo para fazer uma omelete, mas na hora H a omelete voa pela janela.

VI – Pinóquio adormece com os pés no fogareiro e na manhã seguinte acorda com os pés queimados.

VII – Gepeto volta para casa e dá para o boneco o café da manhã que havia trazido para si.

VIII – Gepeto refaz os pés de Pinóquio e vende o próprio casaco para comprar o abecedário para ele.

IX – Pinóquio vende o abecedário para ir assistir ao teatro de marionetes.

X – Os bonecos reconhecem seu irmão Pinóquio e fazem uma grande festa para ele. Porém, no melhor momento, aparece o marionetista Come-fogo, e Pinóquio corre o risco de terminar mal.

XI – Come-fogo espirra e perdoa Pinóquio, que depois salva da morte seu amigo Arlequim.

XII – O marionetista Come-fogo presenteia Pinóquio com cinco moedas para dar ao papai Gepeto. Pinóquio, porém, se deixa enganar pela Raposa e pelo Gato e vai embora com eles.

XIII – A taverna do Camarão Vermelho.

XIV – Pinóquio, por não ter dado ouvidos aos bons conselhos do Grilo Falante, encontra os assassinos.

XV – Os assassinos perseguem Pinóquio e, depois de tê-lo alcançado, vão enforcá-lo em um galho do Carvalho Gigante.

XVI – A Bela Menina dos Cabelos Azuis recolhe o boneco, coloca-o na cama e chama três médicos para saber se está vivo ou morto.

XVII – Pinóquio come açúcar, mas não quer tomar o remédio; porém, quando vê os coveiros que vêm buscá-lo, aceita o medicamento. Depois conta uma mentira, e, como castigo, seu nariz cresce.

XVIII – Pinóquio reencontra a Raposa e o Gato e vai com eles semear as quatro moedas no Campo dos Milagres.

XIX – As moedas de ouro de Pinóquio são roubadas, e, como castigo, ele pega quatro meses de prisão.

XX – Livre da prisão, apressa-se em voltar à casa da Fada, mas no meio do caminho encontra uma Serpente horrível e, depois, fica preso na armadilha.

XXI – Pinóquio é pego por um camponês que o obriga a trabalhar como cão de guarda de um galinheiro.

XXII – Pinóquio descobre os ladrões e, em recompensa por ter sido fiel, é libertado.

XXIII – Pinóquio chora a morte da Menina de Cabelos Azuis, depois encontra uma pomba, que o leva à beira-mar, e ali mergulha na água para ajudar o papai Gepeto.

XXIV – Pinóquio chega à Ilha das Abelhas Trabalhadoras e reencontra a Fada.

XXV – Pinóquio promete à Fada que se comportará e estudará, porque está cansado de ser boneco e quer virar um bom menino.

XXVI – Pinóquio vai com os colegas de escola à beira-mar para ver o terrível tubarão.

XXVII – Grande combate entre Pinóquio e os colegas. Um deles fica ferido, e Pinóquio é preso por policiais.

XXVIII – Pinóquio corre perigo de ser frito na frigideira como um peixe.

XXIX – Pinóquio volta para a casa da Fada, que lhe promete que no dia seguinte não será mais um boneco, mas um menino. Farta refeição com leite para festejar esse grande acontecimento.

XXX – Pinóquio, em vez de virar um menino, parte escondido com o amigo Pavio para a Cidade dos Brinquedos.

XXXI – Depois de cinco meses de brincadeiras, para a grande surpresa de Pinóquio, cresce um belo par de orelhas de asno em sua cabeça, e ele vira um burrinho, com direito a rabo e tudo.

XXXII – Crescem em Pinóquio orelhas de burro. Depois, ele vira um burrinho de verdade e começa a zurrar.

XXXIII – Tendo virado um verdadeiro burrinho, Pinóquio é posto à venda e é comprado pelo diretor de uma companhia de palhaços, que quer ensiná-lo a dançar e a pular argolas. Mas uma noite fica manco, e outra pessoa o compra, para fazer um tambor com sua pele.

XXXIV – Pinóquio, jogado ao mar, é comido por peixes e volta a ser um boneco como antes. Mas, ao nadar para se salvar, é engolido pelo terrível tubarão.

XXXV – Pinóquio reencontra no corpo do Tubarão… quem ele reencontra? Leiam este capítulo e vocês saberão.

XXXVI – Finalmente Pinóquio deixa de ser um boneco e vira um menino.

Algumas coisinhas que você absolutamente deveria saber sobre Pinóquio.

E outras (poucas) que você deveria saber sobre Carlo Collodi.

PINOCCHIO

Le avventure di Pinocchio

I – Come andò che Maestro Ciliegia, falegname, trovò un pezzo di legno che piangeva e rideva come un bambino.

II – Maestro Ciliegia regala il pezzo di legno al suo amico Geppetto, il quale lo prende per fabbricarsi un burattino meraviglioso, che sappia ballare, tirar di scherma e fare i salti mortali.

III – Geppetto, tornato a casa, comincia subito a fabbricarsi il burattino e gli mette il nome di Pinocchio. Prime monellerie del burattino.

IV – La storia di Pinocchio col Grillo-parlante, dove si vede come i ragazzi cattivi hanno a noia di sentirsi correggere da chi ne sa più di loro.

V – Pinocchio ha fame e cerca un uovo per farsi una frittata; ma sul più bello, la frittata gli vola via dalla finestra.

VI – Pinocchio si addormenta coi piedi sul caldano, e la mattina dopo si sveglia coi piedi tutti bruciati.

VII – Geppetto torna a casa, e dà al burattino la colazione che il pover’uomo aveva portata per sé.

VIII – Geppetto rifà i piedi a Pinocchio, e vende la propria casacca per comprargli l’Abbecedario.

IX – Pinocchio vende l’Abbecedario per andare a vedere il teatro dei burattini.

X – I burattini riconoscono il loro fratello Pinocchio e gli fanno una grandissima festa; ma sul più bello esce fuori il burattinaio Mangiafoco, e Pinocchio corre pericolo di fare una brutta fine.

XI – Mangiafoco starnutisce e perdona a Pinocchio, il quale poi difende dalla morte il suo amico Arlecchino.

XII – Il burattinaio Mangiafoco regala cinque monete d’oro a Pinocchio perché le porti al suo babbo Geppetto: e Pinocchio, invece, si lascia abbindolare dalla Volpe e dal Gatto e se ne va con loro.

XIII – L’osteria del Gambero Rosso.

XIV – Pinocchio, per non aver dato retta ai buoni consigli del Grillo-parlante, s’imbatte negli assassini.

XV – Gli assassini inseguono Pinocchio; e dopo averlo raggiunto lo impiccano a un ramo della Quercia grande.

XVI – La bella Bambina dai capelli turchini fa raccogliere il burattino: lo mette a letto, e chiama tre medici per sapere se sia vivo o morto.

XVII – Pinocchio mangia lo zucchero, ma non vuol purgarsi; però quando vede i becchini che vengono a portarlo via, allora si purga. Poi dice una bugia e per castigo gli cresce il naso.

XVIII – Pinocchio ritrova la Volpe e il Gatto, e va con loro a seminare le quattro monete nel Campo dei miracoli.

XIX – Pinocchio è derubato delle sue monete d’oro, e per castigo si busca quattro mesi di prigione.

XX – Liberato dalla prigione, si avvia per tornare a casa della Fata; ma lungo la strada trova un serpente orribile, e poi rimane preso alla tagliola.

XXI – Pinocchio è preso da un contadino, il quale lo costringe a far da can di guardia a un pollaio.

XXII – Pinocchio scopre i ladri, e in ricompensa di essere stato fedele vien posto in libertà.

XXIII – Pinocchio piange la morte della bella Bambina dai capelli turchini: poi trova un Colombo, che lo porta sulla riva del mare, e lì si getta nell’acqua per andare in aiuto del suo babbo Geppetto.

XXIV – Pinocchio arriva all’isola delle Api industriose e ritrova la Fata.

XXV – Pinocchio promette alla Fata di esser buono e di studiare, perché è stufo di fare il burattino e vuol diventare un bravo ragazzo.

XXVI – Pinocchio va co’ suoi compagni di scuola in riva al mare, per vedere il terribile Pesce-cane.

XXVII – Gran combattimento fra Pinocchio e i suoi compagni: uno dei quali essendo rimasto ferito, Pinocchio viene arrestato dai carabinieri.

XXVIII – Pinocchio corre pericolo di esser fritto in padella, come un pesce.

XXIX – Ritorna a casa della Fata, la quale gli promette che il giorno dopo non sarà più un burattino, ma diventerà un ragazzo. Gran colazione di caffellatte per festeggiare questo grande avvenimento.

XXX – Pinocchio, invece di diventare un ragazzo, parte di nascosto col suo amico Lucignolo per il Paese dei balocchi.

XXXI – Dopo cinque mesi di cuccagna, Pinocchio con sua gran meraviglia sente spuntarsi un bel paio d’orecchie asinine, e diventa un ciuchino, con la coda e tutto.

XXXII – A Pinocchio gli vengono gli orecchi di ciuco, e poi diventa un ciuchino vero e comincia a ragliare.

XXXIII – Diventato un ciuchino vero è portato a vendere, e lo compra il Direttore di una compagnia di pagliacci, per insegnargli a ballare e saltare i cerchi: ma una sera azzoppisce e allora lo ricompra un altro, per far con la sua pelle un tamburo.

XXXIV – Pinocchio gettato in mare, è mangiato dai pesci, e ritorna ad essere un burattino come prima: ma mentre nuota per salvarsi, è ingoiato dal terribile Pesce-cane.

XXXV – Pinocchio ritrova in corpo al Pesce-cane.... chi ritrova? Leggete questo capitolo e lo saprete.

XXXVI – Finalmente Pinocchio cessa d’essere un burattino e diventa un ragazzo.

capa

Apresentação

Histórias como a de Pinóquio têm em si uma característica que as diferencia das demais, uma disjunção no gênero que as permitem ser eternas e fazer parte da identidade coletiva de gerações. São do tipo que se transformam e se adaptam continuamente, e não precisam de atualizações para nos dizer algo. No entanto, As Aventuras de Pinóquio, para citar o escritor italiano Ítalo Calvino, nunca termina de dizer o que tem a dizer. Isso explica as inúmeras adaptações, transposições e remakes da obra-prima de Carlo Collodi.

Essa história, por oferecer diversas chaves de leitura, criou uma parábola tão inesquecível sobre os perigos de mentir que se tornou única na cultura popular. Quando Collodi a escreveu, sua intenção era, de fato, escrever um alerta. Gerações de crianças cresceram com as palavras da Fada Azul: As mentiras, meu menino, se percebem logo, porque são de dois tipos: há mentiras que têm pernas curtas, e mentiras que têm o nariz comprido: a sua, por exemplo, é daquelas que têm o nariz comprido.

Pinóquio é bom, mas ingênuo, por isso, muitas vezes cai em tentação e se deixa levar por fantasias e más companhias, representadas por diferentes personagens, como o Gato e a Raposa, e lugares, como a Cidade dos Brinquedos. O boneco de madeira, atraído pela preguiça, impertinência e indiferença aos conselhos, precisa passar por uma série de aventuras, transformações e experiências dolorosas para tornar-se digno de ser um menino de verdade.

Além de conto de fadas, Pinóquio tem uma narrativa com profundas reverberações arquetípicas: de liberdade, pobreza (palavra que mais se repete no romance), verdade e amor. Sua simbologia e personagens, tão tipicamente italianos, se universalizaram e se tornaram alegorias da sociedade em que vivemos: Pinóquio nos ensina que para alcançarmos o essencial é preciso verdade, conhecimento e respeito, mas, sobretudo, é preciso passar pela desobediência, porque ela nos ajuda a nos tornarmos seres humanos autênticos. Com sua narração enxuta e objetiva, tem o poder de narrar e retratar a realidade das coisas com assertividade, mas, ao mesmo tempo, com uma intrínseca força que, depois de quase dois séculos, nunca se esvaiu.

I

Como mestre Cereja, um carpinteiro, encontrou um pedaço de madeira que chorava e ria como um menino.

Era uma vez...

– Um rei! – dirão imediatamente meus pequenos leitores.

Não, crianças, vocês erraram. Era uma vez um pedaço de madeira.

Não era uma madeira de luxo, mas um simples pedaço de lenha, daquelas que, no inverno, são colocadas no forno e na lareira para acender o fogo e aquecer os cômodos.

Não sei como aconteceu, mas o fato é que, em um belo dia, esse pedaço de madeira apareceu na oficina de um velho carpinteiro, cujo nome era mestre Antônio, mas todos o chamavam de mestre Cereja, por conta da ponta de seu nariz, que sempre brilhava, corada, como uma cereja madura.

Assim que mestre Cereja viu aquele pedaço de madeira, ficou todo feliz e, esfregando as mãos de felicidade, murmurou em voz baixa:

– Essa madeira apareceu no momento certo. Quero usá-la para fazer o pé de uma mesinha.

Dito e feito: pegou logo o machado para começar a tirar a casca da madeira e afiná-la. Porém, quando estava para dar a primeira machadada, ficou com o braço suspenso no ar, porque ouviu uma vozinha muito suave implorar:

– Não me bata com muita força!

Imaginem como não ficou o bom e velho mestre Cereja!

Passou os olhos desorientados ao redor do cômodo para ver de onde é que vinha aquela vozinha, mas não viu ninguém. Olhou embaixo do banco e nada; olhou dentro de um armário que ficava sempre fechado e nada; olhou no cesto de serragem e pó de madeira e nada; abriu a porta da oficina para dar uma olhada na rua e nada. Ou será que...?

– Entendi – falou, rindo e coçando a peruca. – Percebe-se que fui eu que imaginei aquela vozinha. Voltemos ao trabalho.

E pegando o machado em mãos, deu um golpe solene no pedaço de madeira.

– Ai! Você me machucou! – exclamou aquela mesma vozinha, lamentando-se.

Dessa vez mestre Cereja se espantou, ficando com os olhos esbugalhados de medo, a boca escancarada e a língua caída até o queixo, igualzinho a uma fonte de Mascherone.¹

Assim que retomou a capacidade de falar, começou a gaguejar, tremendo de espanto:

– Mas de onde será que saiu essa vozinha que disse ai...? Se aqui não tem uma alma viva. Será que esse pedaço de madeira aprendeu a chorar e a se lamentar como uma criança? Não posso acreditar. Essa madeira que está aqui é um pedaço de madeira para lareira, como todas as outras, e jogando-a no fogo, dá para cozinhar uma panela de feijão... Ou então? Tem alguém escondido dentro dela? Se tem alguém escondido, pior para ele. Agora sou eu quem vai pegá-lo!

E assim dizendo, agarrou com as duas mãos aquele pobre pedaço de madeira e se pôs a bater com ele, sem piedade, nas paredes do cômodo.

… ouviu uma vozinha suave, suave.

Depois se pôs a escutar, para ouvir se havia alguma vozinha se lamentando. Esperou dois minutos e nada; cinco minutos e nada; dez minutos e nada!

– Entendi – falou, esforçando-se para rir e esfregando a peruca. – Percebe-se que fui eu que imaginei aquela vozinha que disse ai! Voltemos ao trabalho.

E, por conta do grande medo que sentia, tentou cantarolar para criar um pouco de coragem.

Enquanto isso, deixando o machado de lado, pegou em mãos a plaina para aplainar e polir o pedaço de madeira. Então, enquanto o aplainava de cima para baixo, ouviu aquela mesma vozinha dizendo, aos risos:

– Pare! Você está fazendo cócegas no meu corpo!

Dessa vez o pobre mestre Cereja caiu como uma pedra. Quando reabriu os olhos, encontrou-se sentado no chão. Seu rosto parecia transfigurado, e até mesmo a ponta do nariz, que estava quase sempre corada, ficou azul por causa do pavor.

____________________

1. Fontana del Mascherone, em italiano, ou Fonte da Grande Máscara, são tipos de esculturas talhadas em fontes, muito populares em Roma. A fonte incorpora uma máscara tipicamente usada na Grécia Antiga para decorar portas e entradas, como um sinal de boas-vindas ou para espantar maus agouros. (N.E)

II

Mestre Cereja dá o pedaço de madeira de presente ao amigo Gepeto, que o pega para fabricar um boneco maravilhoso, que saiba dançar, pratique esgrima e dê saltos mortais

Naquele momento, bateram na porta.

– Pode entrar – disse o carpinteiro, sem ter força para ficar de pé.

Então, entrou na oficina um velhinho muito animado que se chamava Gepeto. As crianças da vizinhança, quando queriam vê-lo enfurecido, chamavam-no de Sabugo, por causa de sua peruca amarela que parecia muitíssimo um sabugo de milho.

Gepeto irritava-se muito facilmente. Ficava em apuros quem o chamava de Sabugo! O velhinho logo transformava-se numa fera, e não tinha como segurá-lo.

– Bom dia, mestre Antônio – cumprimentou Gepeto. – O que o senhor faz aí no chão?

– Estou ensinando o ábaco² para as formigas.

– Boa sorte com isso.

– O que trouxe o senhor aqui, compadre Gepeto?

Um velhinho muito animado que se chamava Gepeto.

– Minhas pernas. Sabe, mestre Antônio, eu vim até o senhor para lhe pedir um favor.

– Aqui estou eu, pronto para lhe servir – respondeu o carpinteiro, erguendo-se de joelhos.

– Hoje de manhã tive uma tempestade de ideias no cérebro.

– Vamos ouvi-las.

– Eu pensei em fabricar um belo boneco de madeira, mas um boneco maravilhoso, que saiba dançar, pratique esgrima e dê saltos mortais. Com esse boneco eu quero rodar o mundo, em busca de um pedaço de pão e de uma taça de vinho. O que o senhor acha?

– Ótimo, Sabugo! – gritou aquela mesma vozinha, que não se sabia de onde vinha.

Ao ser chamado de Sabugo, Gepeto ficou vermelho como um pimentão e, virando-se na direção do carpinteiro, falou enraivecido:

– Por que o senhor me ofendeu?

– Quem ofendeu o senhor?

– O senhor me chamou de Sabugo!

– Não fui eu.

– Vai me dizer que fui eu mesmo?! Eu digo que foi o senhor.

– Não!

– Sim!

– Não!

– Sim!

Os dois, fervendo de raiva cada vez mais, passaram das palavras aos atos e, engalfinhados, arranharam-se, morderam-se e esbofetearam-se.

Quando acabou o combate, mestre Antônio encontrou nas mãos a peruca amarela de Gepeto, e Gepeto percebeu que tinha na boca a peruca grisalha do carpinteiro.

– Devolva-me a minha peruca! – gritou mestre Antônio.

– Devolva a minha, e faremos as pazes.

Os dois velhinhos, depois que cada um pegou de volta a própria peruca, deram as mãos e juraram permanecer bons amigos pelo resto da vida.

– Então, compadre Gepeto – disse o carpinteiro em sinal de paz –, qual é o favor que o senhor quer me pedir?

– Eu gostaria de um pouco de madeira para fabricar meu boneco. O senhor teria para me dar?

Mestre Antônio, todo alegre, imediatamente pegou em cima do banco aquele pedaço de madeira que lhe fora motivo de grande medo. Mas quando foi entregá-lo ao amigo, o pedaço de madeira lhe deu uma sacudida e, escapando violentamente de suas mãos, bateu com força nas canelas finas do pobre Gepeto.

– Ah! É com todo esse cuidado, mestre Antônio, que o senhor dá as suas coisas? Quase me deixou aleijado!

– Juro que não fui eu!

– Então fui eu!

– A culpa é toda desta madeira...

– Eu sei que foi a madeira, mas foi o senhor que bateu com ela nas minhas pernas!

– Eu não bati no senhor!

– Mentiroso!

– Gepeto, não me ofenda, senão eu chamo o senhor de Sabugo!

– Asno!

– Sabugo!

– Mula!

– Sabugo!

– Grande idiota!

– Sabugo!

Ao ser chamado de Sabugo pela terceira vez, Gepeto perdeu o brilho dos olhos, atacou o carpinteiro e ali se encheram de sopapos.

Terminada a batalha, mestre Antônio encontrou dois arranhões a mais no nariz, e o outro, dois botões a menos no colete. Considerando um empate nas contas, apertaram as mãos e juraram permanecer amigos para o resto da vida.

Assim, Gepeto levou consigo seu ótimo pedaço de madeira, e agradecendo ao mestre Antônio, voltou mancando para casa.

____________________

2. O ábaco é um antigo instrumento de cálculo em sistema decimal, com provável origem na Mesopotâmia há mais de 5500 anos a.C., considerado como uma extensão do ato de se contar nos dedos. (N.E.)

Gepeto levou consigo seu ótimo pedaço de madeira e, agradecendo ao mestre Antônio, voltou mancando para casa.

III

Gepeto, voltando para casa, começa imediatamente a fabricar o boneco e lhe dá o nome de Pinóquio.

As primeiras molequices do boneco.

A casa de Gepeto era um quartinho térreo, que roubava luz por um vão de escada. A mobília não poderia ser mais simples: uma cadeira ruim, uma cama pouco confortável e uma mesinha toda destruída. Na parede do fundo via-se uma lareira com o fogo aceso, mas o fogo era pintado, e ao lado do fogo havia uma panela também pintada que fervia alegremente e emanava uma nuvem de fumaça que realmente parecia fumaça.

Assim que entrou em casa, Gepeto pegou imediatamente as ferramentas e pôs-se a esculpir e trabalhar no boneco.

– Que nome lhe dou? – disse para si mesmo. – Quero chamá-lo de Pinóquio. Esse nome lhe dará sorte. Eu conheci uma família inteira de Pinóquios: Pinóquio pai, Pinóquia mãe e Pinóquios filhos; e todos estavam bem. O mais rico deles pedia esmola.

Quando encontrou o nome do boneco, finalmente começou a trabalhar direito e imediatamente fez os cabelos, depois o rosto, depois os olhos.

Quanto mais o cortava e aparava, mais aquele nariz impertinente ficava comprido.

Feitos os olhos, imaginem sua admiração quando percebeu que eles se moviam e que o olhavam fixamente.

Gepeto, vendo que aqueles dois olhos de lenha o encaravam, quase tomou por mal e disse em tom ressentido:

– Olhinhos de madeira, por que me encaram?

Ninguém respondeu.

Então, depois dos olhos, fez o nariz; mas o nariz, que acabara de fazer, começou a crescer, a crescer, a crescer e tornou-se em poucos minutos um narigão quase sem fim.

O pobre Gepeto cansava de apará-lo, mas quanto mais o cortava e aparava, mais aquele nariz impertinente ficava comprido.

Depois do nariz, fez a boca.

Ainda não estava terminada quando começou a rir e a zombar.

– Pare de rir! – ordenou Gepeto ressentido.

Era como falar com as paredes, no entanto.

– Pare de rir, estou repetindo! – gritou com voz ameaçadora.

Então a boca parou de rir, mas pôs para fora a língua toda.

Gepeto, para não estragar seu negócio, fingiu não perceber e continuou a trabalhar. Depois da boca fez o queixo, depois o pescoço, depois os ombros, a barriga, os braços e as mãos.

Assim que acabou as mãos, Gepeto sentiu a peruca sendo arrancada da própria cabeça. Olhou para cima, e o que viu? Viu sua peruca amarela nas mãos do boneco.

– Pinóquio! Devolva agora a minha peruca!

E Pinóquio, em vez de devolver a peruca, colocou-a na própria cabeça, ficando meio coberto por ela.

Por conta daquela graça insolente e debochada, Gepeto ficou triste e melancólico como nunca ficara antes em sua vida e, virando-se na direção de Pinóquio, repreendeu-o:

– Que filho danado! Ainda não está terminado e já começou a desrespeitar o pai! Ruim, meu menino, ruim!

E Pinóquio, em vez de devolver a peruca, colocou-a na própria cabeça...

E enxugou uma lágrima.

Ainda faltava fazer as pernas e os pés.

Quando Gepeto terminou de fazer os pés, sentiu algo chutar a ponta de seu nariz.

– Eu mereço – lamentou consigo mesmo. – Deveria ter pensado antes! Agora é tarde!

Depois colocou o boneco por baixo dos braços e o pôs no chão, no piso do quarto, para que caminhasse.

Pinóquio estava com as pernas rígidas e não sabia se movimentar, e Gepeto o conduziu pelas mãos para ensiná-lo a dar um passo de cada vez.

Quando as pernas relaxaram, Pinóquio começou a caminhar sozinho e a correr pelo quarto, até que, abrindo a porta de casa, pulou para a rua e escapou.

– Peguem esse boneco! Peguem! – gritava Gepeto.

E o pobre Gepeto ia correndo atrás dele sem conseguir alcançá-lo, porque aquele pestinha do Pinóquio pulava como uma lebre e, batendo os pés de madeira no pavimento na rua, fazia um barulho como o de vinte pares de tamancos de camponeses.

– Peguem esse boneco! Peguem! – gritava Gepeto.

Mas as pessoas que estavam na rua, vendo aquele boneco de madeira que corria como um cavalo, paravam encantados para vê-lo e riam, riam e riam,

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