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A Gravidade: Esta Grande Escultora, Como Usar A Gravidade Terrestre A Seu Favor
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A Gravidade: Esta Grande Escultora, Como Usar A Gravidade Terrestre A Seu Favor
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A Gravidade: Esta Grande Escultora, Como Usar A Gravidade Terrestre A Seu Favor

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About this ebook

Este livro pontua, através de uma linguagem simples, as descobertas da pesquisa espacial que podem ajudar a compreender como nós devemos constantemente usar a gravidade terrestre para melhorar a qualidade de nossas vidas.

Fazendo do uso da gravidade um hábito diário, você estará contribuindo para viver uma vida mais saudável, mais independente e mais ativa aqui mesmo, em pleno solo terrestre.

Ninguém pode parar a passagem do tempo. Mas alguns conseguem se manter independentes, energéticos e cheios de vida. Enxergam o mundo e agem como se fossem quinze anos mais jovens.

Adotando um estilo de vida que otimiza o uso da gravidade como uma aliada, você pode inverter ou atrasar as mudanças que vêm com o que se convencionou chamar de envelhecimento.

LanguagePortuguês
Release dateJan 26, 2022
ISBN9781838228323
A Gravidade: Esta Grande Escultora, Como Usar A Gravidade Terrestre A Seu Favor
Author

Thais Russomano

Prof. Thais Russomano graduated in medicine from the Federal University of Pelotas, Brazil (1985) and specialised in internal and emergency medicine. She has a Master’s Degree in Aerospace Medicine - Wright State University, USA (1991), and PhD in Space Physiology - King's College London (1998). She worked for 3 years as a Space Scientist at the Institute of Aerospace Medicine, German Aerospace Centre (DLR) in Cologne, Germany, before founding the Microgravity Centre, PUCRS, a unique international reference centre in the study of human space physiology and space biomedical engineering, which she coordinated for 18 years. Thais has been linked to King's College London in different academic positions since her PhD in 1994, having acted at CHAPS, Faculty of Life Sciences and Medicine, King’s College London, as the Deputy Course Director/ Senior Lecturer of the Space Physiology & Health MSc degree course (2009-2020). In addition, she is a visiting professor at Aalto University, Finland, in Space & Design, and Deggendorf Institute of Technology, European Campus, Germany, contributing to the MSc in Medical Informatics, UFCSPA in Porto Alegre, Brazil, in the areas of Human Physiology in Extreme Environments & Digital Health, and the Faculty of Medicine at the University of Lisbon in Space Physiology & Aviation Medicine (CEMA). Thais is also a Director of two space-related private companies, InnovaSpace Ltd (UK) and the International Space Medicine Consortium Inc. (USA).She has more than 30 years of experience teaching and researching in the fields of Aerospace Medicine, Space Physiology, Aerospace Biomedicine, Aerospace Biomedical Engineering and TeleHealth, including participation in 200+ scientific events with 300+ scientific papers presented. She has also authored books, book chapters and numerous papers in her areas of expertise.Thais is an Elected Academician of the International Academy of Aviation and Space Medicine (IAASM), and the International Academy of Astronautics (IAA), for which she serves on the Board of Trustees. She is also a member of international associations and societies in space, aviation and telehealth (ISfTeH), a Board Member of companies, and further holds patents related to Space Life Sciences and Aerospace Biomedical Engineering. Thais is currently acting as a voluntary Mentor for Space4Women, an initiative of the United Nations Office for Outer Space Affairs (UNOOSA).

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    Book preview

    A Gravidade - Thais Russomano

    Olhe ao redor e veja como está aumentando o número de cidadãos norte-americanos da terceira idade. Por volta de 2050, o contingente de indivíduos acima de 85 anos de idade terá crescido 600%, segundo as projeções dos organismos competentes. Minha experiência no espaço e no governo (Senate’s Special Committee on Aging) convenceu-me de que devemos capitalizar os ensinamentos dados pelos astronautas em suas missões e revertê-los para os idosos em solo terrestre, buscando com isso uma maior produtividade e uma vida mais saudável.

    Este livro, A Gravidade, esta grande escultora, explica de forma acessível e cativante aspectos relativos à exposição à microgravidade que pode ser de grande valia para o cidadão comum. A cada capítulo são apresentadas recomendações práticas de como manter uma boa saúde e uma vida independente com o revezar das décadas.

    A primeira vez que encontrei Joan Vernikos foi em 18 de junho de 1996, quando da visita que fiz ao então administrador geral da NASA, Dan Goldin. Comigo estava John Eisold, o representante médico no Congresso (attending physician). Nós estávamos discutindo a relação entre viagens espaciais e o processo de envelhecimento, um tema de interesse de Goldin, o qual, recentemente, tinha palestrado sobre o assunto para a associação norte-americana de aposentados (American Association for Retired Persons – AARP).

    Eu mesmo já havia lido extensivamente e discutido com médicos da NASA sobre esse tema, e estava curioso em conhecer o autor do livro Parallel Processes: The Study of Human Adaptation to Space Helps Us Understand Aging (Processos Paralelos: O estudo da adaptação humana ao espaço nos ajuda a entender o processo de envelhecimento), que tinha chamado a minha atenção.

    Estava claro para mim que eu e Joan Vernikos, então diretora da área de Ciências da Vida Espacial (Space Life Sciences) da NASA, pensávamos o mesmo em relação às similaridades entre as mudanças fisiológicas decorrentes de missões espaciais e àquelas associadas ao processo de envelhecimento. Especialmente, concordávamos que as contramedidas utilizadas pelos astronautas para combater os efeitos da microgravidade poderiam ser de grande utilidade para os idosos em pleno solo terrestre.

    Joan Vernikos desenvolveu, ao longo dos anos, uma ótima relação com o National Institutes of Health (Institutos Nacionais de Saúde), e eu estava bem aparado pelo National Institute on Aging (Instituto Nacional do Envelhecimento) na tentativa de conseguir voltar ao espaço, apesar de já estar com 77 anos de idade. Sim, eu sempre quis participar de outra missão espacial, além da de 1962, e, agora, uma razão ainda mais importante se apresentava: pesquisar e adquirir novas informações sobre a exposição de um indivíduo idoso à microgravidade.

    A missão STS-95 da Space Shuttle Discovery obteve uma grande publicidade, focando positivamente em diversos aspectos relevantes do processo de envelhecimento e em como podemos minimizá-lo. Quase todos os dias, artigos sobre o assunto atinge jornais e revistas, bem como novas teorias nascem aqui e ali.

    Joan Vernikos foi uma pioneira! Ela dedicou-se a estudar a fisiologia humana de homens e mulheres saudáveis postos em inversão postural parcial em repouso no leito (head-down bedrest), para investigar como o corpo humano se adapta à microgravidade. Nesse livro, a vasta experiência profissional de Joan em relação a características do estresse mental e físico é apresentada com maestria. Seu conhecimento sobre a função hormonal em indivíduos submetidos a situações adversas é também discutido com clareza e entusiasmo. Vernikos tem uma longa história profissional com a NASA, o que torna os capítulos deste livro ainda mais interessantes, especialmente para o leitor leigo que possua uma mente curiosa. Além do conhecimento teórico apresentado, há os conselhos práticos, úteis quando da busca de uma vida saudável.

    A Gravidade, esta grande escultora é um livro para todos, pois resume de modo transparente como podemos utilizar os conhecimentos médicos advindos do espaço a nosso favor.

    John Glenn e Joan Vernikos

    John Glenn

    Astronauta da NASA

    1

    OS ASTRONAUTAS FICAM MAIS VELHOS NO ESPAÇO?

    The advantage of living is not measured by length, but by use;

    some men have lived long and have lived little;

    attend to it while you are in it.

    It lies in your will, not in the number of years.

    Michel de Montaigne (1553-1592)

    É inevitável assumirmos que todos nós crescemos envoltos em preconceitos, sempre fazendo suposições sobre a maneira que as coisas são e se comportam. Assim, se aparece alguém com uma maneira nova de olhar o mundo, os nossos mitos são quebrados. Ou ameaçados! A Terra não é plana. As meninas são tão boas em matemática quanto os meninos. É agora possível deixar a Terra para trás em máquinas voadoras. Pessoas com lesões medulares podem, mais cedo ou mais tarde, voltar a andar. São todas teorias que foram, um dia, contrárias às crenças do momento. E, portanto, refutadas, temidas. Outra suposição que todos nós compartilhamos é que a velhice vem acompanhada de mudanças, quase sempre alterações irreversíveis no corpo, que acabam por limitar a independência física e emocional do idoso, diminuindo a alegria de viver e a qualidade de vida. Entretanto, isso poderá ser evitado ou, pelo menos, melhorado. E a evidência vem de uma das fontes mais improváveis: o espaço.

    O desafio final

    Uma das metas do final dos anos 1950 era a exploração do espaço cósmico. Esses foram anos agitados, confusos, envoltos em competição entre nações poderosas. Os russos deixaram o mundo perplexo quando, em outubro 1957, lançaram o Sputnik I, o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra. Esse triunfo foi seguido por outro, ainda mais espetacular. No dia 12 de abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin, na Vostok I, tornou-se o primeiro ser humano a viajar no espaço. Durante um voo que durou 108 minutos, ele orbitou a Terra. No seu regresso, Moscou entrou em festa: desfiles pelas ruas, medalhas distribuídas, multidões celebrando, fotos por todos os lados. Em Washington, porém, o reverso era verdadeiro. Havia uma consternação, um sentimento de intensa preocupação no ar. Em plena Guerra Fria, os soviéticos tinham a tecnologia para lançar um foguete poderoso o bastante para levar um homem ao espaço. Esse mesmo foguete, temiam os americanos, poderia também ser usado para uma carga mais sinistra e perigosa: uma arma nuclear. A América, então, sentiu-se obrigada a dar uma resposta. E uma resposta rápida. Começava assim a Corrida Espacial.

    Em maio de 1961, o presidente John F. Kennedy desafiou os EUA: Eu acredito que esta nação deve se comprometer a, antes que esta década termine, levar um homem à Lua e trazê-lo com segurança de volta à Terra. A NASA, que tinha ficado em segundo plano com as conquistas russas do final dos anos 1950, desafiou o mundo com uma solução tão rápida quanto dramática.

    Em 22 de fevereiro de 1962, John Glenn entrou em uma cápsula do Projeto Mercúrio, denominada de Friendship 7, para se tornar o primeiro astronauta dos Estados Unidos da América a orbitar a Terra. Naquele momento, Joan Vernikos trabalhava na Ohio State University, lecionando farmacologia aos estudantes de medicina. Envolvida pela excitação que tomava conta do país e do mundo, descobriu que esse seria o seu caminho. Em 1964, ela já estava trabalhando na NASA.

    A visão audaz do presidente Kennedy concretizou-se em 20 de julho de 1969, quando o piloto de caça Neil Armstrong, comandante da missão de Apollo 11, tornou-se o primeiro homem a colocar o pé sobre o solo lunar. E isso cinco meses antes de terminar a década de 1960, bem como tinha almejado o presidente Kennedy. A América realizara um feito sem igual: tomara a dianteira na Corrida Espacial.

    Muitas tecnologias novas foram desenvolvidas em consequência da Corrida Espacial: códigos de barra, relógios de quartzo, canetas capazes de escrever de cabeça para baixo, satélites de comunicação, computadores, técnicas de processamento de imagens, ferramentas cordless, revestimentos especiais para óculos de sombra e assim por diante. Mas, temos que convir, ninguém foi ao espaço para inventar essas coisas. Fomos lá porque esse era tido como o desafio final. E, embora esses produtos tenham mostrado, de forma indubitável, sua utilidade no dia a dia terrestre, o maior benefício da Corrida Espacial veio das pesquisas que deram um conhecimento mais pleno sobre o funcionamento do corpo humano. Essas descobertas, por exemplo, contribuem muito para ajudar o ser humano, em qualquer ponto do planeta Terra, a reverter ou retardar alguns dos sinais e sintomas associados ao envelhecimento.

    Gravidade: a ligação comum

    A gravidade é a força que nos mantém presos ao solo terrestre. Essa é a mesma força que faz com que as estrelas sigam seus cursos celestiais e os planetas fiquem em suas órbitas. A atração gravitacional da Lua sobre a Terra varia, sendo menor no seu distanciamento máximo de 240.000 milhas (384.000 quilômetros). Essa variação da órbita lunar em relação ao planeta Terra gera o ir e vir das marés.

    Como conta a história, em 1666, Isaac Newton reparou uma maçã cair de uma árvore, tal como os milhões de pessoas já tinham feito antes dele. A diferença era que Newton quis saber sobre o que fez com que a maçã caísse no chão. Isso lhe conduziu a desenvolver as leis da gravidade e do movimento, que nos ajudaram a compreender os movimentos dos planetas e a explorar a vastidão do Universo.

    No Espaço - a 25.000 milhas por hora

    A gravidade é medida nas unidades ditas G. A força que opera normalmente sobre a Terra é designada 1G. Assim, por exemplo, para um foguete vencer o campo gravitacional terrestre, ele tem que alcançar uma velocidade de mais de 25.000 milhas por hora (40.000 km/h). Para atingir essa velocidade, o foguete deve ser acelerado tremendamente no momento da decolagem, o que gera a dita hipergravidade de 5G ou mesmo 6G para seus tripulantes. Mesmo que essa aceleração se faça no sentido peito-costa do astronauta, no eixo X, o que reduz em muito os efeitos da hipergravidade sobre seus corpos, a força gravitacional aumentada é sentida durante a decolagem. Essa é uma das razões da necessidade de os astronautas terem boas condições físicas para participar de uma missão espacial.

    Na Terra, o efeito da força da gravidade pode ser aumentado ao se girar um indivíduo rapidamente num equipamento chamado centrífuga humana. Em 1795, Erasmus Darwin, médico e avô de Charles Darwin, propôs o uso da centrifugação para reduzir a febre, diminuir a frequência cardíaca e induzir o sono! No século XIX, as centrífugas foram usadas na Europa no tratamento de doenças mentais. Essas aplicações das centrífugas humanas, porém, não provaram ter validade com o passar do tempo. Entretanto, a hipergravidade, pelo método de centrifugação, tem outras aplicações médicas potenciais, que se tornarão mais aparentes no curso deste livro.

    As centrífugas humanas podem simular o aumento da força gravitacional até 30G, embora nenhum ser humano possa tolerar esse nível de força. Os estudos russos comprovaram que a maioria dos seres humanos expostos à hipergravidade em um quarto rotatório por diversos dias não tolerava mais do que 6G, mas poderia viver por períodos mais longos de tempo a 2G.

    Pilotos de prova podem experimentar rápidos incrementos da força G de 6G a 10G, por exemplo, no sentido cabeça-pé (eixo Z) por apenas alguns segundos. Atualmente, a hipergravidade e seus efeitos são explorados, principalmente, em parques de diversão, como em uma montanha russa. Por outro lado, a força gravitacional lunar, tendo a Lua uma massa menor do que a da Terra, é de 0.16G, ou seja, 1/6 de G terrestre, enquanto Marte é de 0.38G ou 1/3 de G terrestre. Assim, você pode facilmente saltar mais alto no solo lunar ou marciano do que no solo terrestre. Isso afeta postura corporal e atividades físicas, como andar, correr e saltar.

    Questões pessoais

    Joan Vernikos confessa que seu fascínio pela ciência espacial sempre lhe pareceu ser algo egoísta. Como cientista, sabia que a única maneira de melhor compreender como somos afetados por algo que pertence ao mundo em que vivemos é retirarmos esse algo e observar, de longe, como nosso organismo reage. Quando os cientistas questionaram sobre o efeito da luz sobre os seres humanos, por exemplo, foi preciso estudá-los enquanto viviam na escuridão. Assim, para compreendermos qual o papel da gravidade terrestre sobre o ser humano, foi preciso nos valer das pesquisas espaciais. Tivemos, portanto, que ir para o espaço. O objetivo primordial de suas pesquisas foi o de fornecer conhecimento e ferramentas necessárias para que os astronautas pudessem viver e trabalhar no espaço.

    Você pode se perguntar: o que é que tem de tão especial com a gravidade?. Sabemos que nós vivemos sob a ação da força gravitacional terrestre. Nós somos cercados por ela. Nossa vida é determinada por ela. Não é do conhecimento de todos que a Terra orbita o Sol e que uma maçã pode cair de uma árvore, como observou Newton séculos atrás? Estamos todos cientes de que o que pesamos tem a ver com a gravidade a qual estamos submetidos. No entanto, muitos não percebem como a gravidade afeta a maneira como somos, sentimos ou funcionamos.

    A Corrida Espacial tornou possível, pela primeira vez na história da humanidade, que se explorasse o assunto em profundidade e através de um ponto de vista antes nunca pensado. As respostas conduziram a uma realidade assustadora para nós que vivemos presos ao solo terrestre: a fascinante ligação entre a gravidade e o processo de envelhecimento!

    As repercussões dos voos espaciais sobre o organismo humano

    Não existe nada mais antinatural do que viver sem a ação da força gravitacional. Qualquer ser vivo terrestre evoluiu e se desenvolveu sob o efeito da gravidade inerente ao planeta Terra. A maneira que nós usamos essa força determina quão forte nós nos tornaremos, quão bem nós funcionaremos durante nossas vidas e quão envelhecidos tornar-se-ão os nossos órgãos ao longo dos anos.

    No espaço, graças ao efeito de queda livre na órbita terrestre, a força da gravidade sentida pelo astronauta é reduzida praticamente a zero, dita microgravidade. E, sabe-se, existe, inquestionavelmente, um efeito negativo sobre o organismo de um ser humano.

    Entretanto, no início dos voos espaciais tripulados, muitas das consequências previstas pelos peritos da National Academy of Sciences não aconteceram. Até fatos, hoje anedóticos, eram motivo de preocupação. Sabe-se, por exemplo, que os astronautas podem engolir no espaço e que seus olhos não saem da órbita ocular. Mas isso era puro mistério décadas atrás.

    No início dos anos 1960, os cosmonautas soviéticos Titov e o Nikolayev, que foram os primeiros a permanecer mais por mais de 24h em microgravidade, tiveram dificuldades em manter a pressão arterial no retorno à gravidade terrestre. Mais tarde, porque os voos espaciais tornaram-se mais longos, os cosmonautas passaram a ser carregados em cadeiras do local de aterrissagem da espaçonave ao centro espacial.

    A falta de regulação apropriada da pressão arterial secundária à exposição à microgravidade acabou por se tornar somente um dos inúmeros sinais e sintomas sentidos pelos astronautas no após suas missões. E isso será considerado mais detalhadamente ao em capítulos subsequentes.

    Os astronautas, que fizeram parte dos projetos Gemini e Apollo dos 1960s, mostraram sinais claros de redução da capacidade aeróbica e perderam cálcio de seus ossos. Um tipo de anemia, causada por uma redução no número de células vermelhas do sangue, foi diagnosticada nos astronautas que retornaram das missões de Skylab nos anos 1970.

    Hoje, temos uma visão mais completa do que se passa com o ser humano em uma missão espacial. Sabemos, por exemplo, que todos os músculos, especialmente os que suportam a postura ereta, atrofiam durante uma missão espacial. Mudanças similares ocorrem com os ossos dos membros inferiores e da coluna vertebral, que perdem força e se tornam mais frágeis, devido a uma importante redução da massa óssea. O sistema digestivo é afetado de diversas maneiras. A motilidade intestinal fica lentificada e a absorção de cálcio, reduzida. O sistema imunológico é deprimido durante as missões espaciais. Os astronautas tornam-se mais sensíveis ao calor e ao frio e apresentam, frequentemente, dificuldades em conciliar o sono.

    Quando os astronautas retornam à Terra, a acuidade visual está diminuída. Eles relatam ser muito difícil manter o balanço correto do corpo. Para permanecer na posição ereta, aumentam o triângulo de sustentação dos membros inferiores, caminhando com as pernas afastadas. Após voos espaciais de longa duração, eles tendem a embaralhar as próprias passadas, tornando instável o caminhar, especialmente no momento de contornar um obstáculo ou fazer uma curva, como virar uma esquina.

    Assim no Espaço como na Terra

    Se lhe fosse apresentada os problemas citados, você, muito certamente, não pensaria em astronautas voando em naves espaciais, mas em pessoas idosas que você conhece. Para muitos, as mesmas mudanças corporais experimentadas pelos astronautas ocorrem aqui mesmo na Terra, durante o processo de envelhecimento.

    Em 1984, Vernikos escreveu um panfleto que indicava essas similaridades. E ela não estava sozinha em suas conclusões. Pela metade da década de 1980, John Glenn – que faz o prefácio deste livro –, e que atuou como Senador dos EUA, era presidente do Comitê do Sendo para o Envelhecimento. Como esse Comitê se dedicava a ouvir as queixas descritas pelos idosos sobre sua condição física, John Glenn percebeu que elas se assemelhavam muito a algumas das alterações que ele havia vivenciado durante sua exposição à microgravidade. Ele convenceu-se de que os sintomas comuns aos voos espaciais e ao envelhecimento em terra eram mais do que apenas uma simples coincidência.

    Dez anos mais tarde, quando Joan Vernikos era diretora da área de Space Life Sciences da NASA, em Washington, D.C., ela presenciou uma discussão no Senado norte-americano, no qual Glenn incitava seus colegas a apoiar a construção da Estação Espacial Internacional. Ele mostrava a todos um panfleto referente ao paralelo entre o envelhecimento em terra e os efeitos sofridos pelos astronautas durante as missões espaciais. Meu panfleto!, pensou Vernikos. E eu mal podia acreditar no que meus olhos estavam vendo.

    John Glenn usou mais tarde sua influência para incentivar o Instituto Nacional sobre o Envelhecimento a trabalhar em cooperação com a NASA nesse assunto. O restante já passou às páginas da História. E todo mundo sabe. O retorno de John Glenn ao espaço por 9 dias aos 77 anos de idade na missão STS-95, em outubro 1998, acabou por produzir um impacto maior na opinião pública do que qualquer estudo ou relatório científico da história das viagens espaciais tripuladas.

    Você envelhece mais rapidamente no espaço?

    Ao longo de sua carreira, muitas vezes, Joan Vernikos foi interrogada se os astronautas ficavam mais velhos depois de realizar missões espaciais. Ou seja, a exposição à microgravidade pode envelhecer mais rapidamente uma pessoa? A resposta a essa pergunta é, sem dúvida alguma, não. As mudanças que acontecem no organismo dos astronautas no espaço são apropriadas para a vida no espaço. É apenas um processo adaptativo. São tidas ou ditas alterações anormais, se comparadas à sua condição antes do voo espacial.

    O problema só se torna aparente quando a espaçonave regressa à Terra e a força gravitacional terrestre volta a atuar sobre o organismo do astronauta. E todos os astronautas, independentemente de sua idade cronológica, sentirão a volta ao planeta Terra como algo estranho, desconfortável, incômodo, graças à deterioração física imposta pelo ambiente de microgravidade. Essas alterações anátomo-fisiológicas, porém, em revertem em solo terrestre.

    Estudos demonstram que os astronautas se recuperam rapidamente após os voos, especialmente depois de missões de curta duração. Observações clínicas e exames anuais mostraram que a recuperação física é permanente.

    Isso já está claro para comunidade científica. Então, afinal, qual é a conexão exata entre voos espaciais, gravidade e envelhecimento? A resposta veio das pesquisas realizadas em terra para ajudar os astronautas a viverem saudáveis no espaço.

    Do ato de se deitar

    Os seres humanos são afetados mais pela gravidade do que a maioria dos outros animais por causa de nossa postura ereta. Os efeitos máximos da gravidade ocorrem quando nós estamos em pé e a força gravitacional age no sentido cabeça-pé ou eixo Z. Tudo que se tem a fazer para reduzir seu impacto é sentar-se ou, melhor ainda, deitar-se. Na posição deitada, a gravidade está atuando em um sentido corporal diferente, ou seja, no eixo X. Esse simples fato é de enorme importância para explicar o relacionamento entre o voo espacial e o envelhecimento.

    A Corrida Espacial forneceu motivação e recursos suficientes para se estudar maneiras de se proteger a saúde dos astronautas em suas missões. Tudo que nós necessitávamos era de um método de pesquisa, uma maneira de reproduzir em terra os efeitos da gravidade zero encontrados nos voos espaciais (e, naturalmente, voluntários suficientes que quisessem se sujeitar à pesquisa!).

    O número dos seres humanos que podem ser enviados ao espaço é limitado. E eles têm muito a fazer durante uma missão, o que prejudica e desmotiva a participação em experiências médicas. Para dar uma ideia, o número total de astronautas e cosmonautas que voaram até hoje chega ao redor de algumas centenas. Para se obter conclusões científicas adequadas, precisamos estudar um número muito maior de astronautas e cosmonautas, pois, somente assim, entenderemos bem as ligações entre a gravidade e a saúde, o que nos ajudará a desenvolver maneiras de impedir as mudanças corporais desagradáveis sofridas pelos astronautas no espaço.

    Uma epidemia que serviu de inspiração

    Primeiramente, é importante entender-se o método. No começo, testou-se a imersão de corpo inteiro em água morna, mantendo somente a cabeça acima da superfície. Isso reduz certamente o efeito gravitacional sobre o corpo, mas apresenta vários inconvenientes. Após várias horas de imersão, a pele torna-se macerada, respirar é mais difícil e a privação sensorial pode desencadear problemas psicológicos. O método da imersão foi abandonado, portanto, por ser pouco prático.

    Surgiu, então, a ideia de se simular a exposição à microgravidade deitando indivíduos em camas especiais por horas, dias, semanas ou meses, dependendo do protocolo do estudo. Esse método foi inspirado em uma observação médica. Até a vacina Salk tornar-se disponível nos anos 1950, cada verão trouxe consigo, em algum lugar do mundo, uma epidemia de poliomielite. Franklin D. Roosevelt foi uma vítima conhecida dessa infecção viral, a qual resulta em paralisia de músculos e perda óssea importante.

    No final da década de 1940, Don Whedon, do Instituto Nacional de Saúde, em Maryland, EUA, questionou se a perda do osso poderia ser devida não à doença propriamente dita, a poliomielite, mas ao fato de que suas vítimas ficavam imobilizadas ou com uma redução importante da atividade osteomuscular dos membros inferiores. Ele decidiu, então, conduzir um estudo, no qual foram recrutados estudantes de medicina que ficavam acamados com os membros inferiores engessados por um mês. Whedon verificou que a inatividade destes estudantes, que eram indivíduos saudáveis, causou perda importante de massa óssea dos membros inferiores.

    No início da Corrida Espacial, Whedon previu que os astronautas perderiam também o cálcio dos ossoa, porque, na ausência da gravidade, eles não necessitariam usar seus membros inferiores como na Terra. Ele estava certo. E foi além. Whedon propôs o uso do bedrest como método de simulação da microgravidade em terra, para avaliação dos efeitos fisiológicos de voos espaciais sobre o organismo de astronautas.

    A busca por voluntários

    Precisava-se, então, de voluntários entre 25 e 55 anos de idade, grupo etário que corresponde à maioria dos astronautas, para participar das pesquisas em terra. Uma vez concordando em se tornar um voluntário de uma simulação terrestre do ambiente de microgravidade espacial, eles não poderiam receber visitas, tomar banho em chuveiros convencionais ou deixar o leito para ir ao banheiro. Ainda pior, seus corpos sofreriam algumas alterações, que, acreditava-se, reverteriam no momento em que eles voltassem a andar e a exercer atividades diárias normais.

    As características pessoais e profissionais dos voluntários variavam muito de estudo para estudo. Podem-se citar, por exemplo: um piloto do helicóptero do CIA, um controlador do tráfico aéreo, um comediante, um milionário, um advogado, uma enfermeira e um excêntrico rebelde.

    Ao longo dos anos, muitos homens e mulheres foram estudados em situação de bedrest nos programas norte-americano, japonês, europeu e

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