Obras posthumas
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Obras posthumas - Nicolau Tolentino
Nicolau Tolentino
Obras posthumas
Publicado pela Editora Good Press, 2022
goodpress@okpublishing.info
EAN 4064066411770
Índice de conteúdo
Capa
Página do título
Texto
DE ALMEIDA.
Índice de conteúdo
LISBOA, 1828.
NA TYPOGRAFIA ROLLANDIANA.
Com Licença da Meza do Desembargo
do Paço.
A Sua Alteza.
SONETO I.
Tornai, tornai, Senhor, ao Tejo undoso,
Vinde honrar-lhe outra vez a clara enchente,
E deixai que ajoelhe entre a mais gente
Hum protegido humilde, e respeitoso.
Não leva a vossos pés rogo teimoso
De importuno cansado pertendente;
Vem beijar-vos a mão humildemente,
A mão augusta que o fará ditoso.
Pois foi por Vós benignamente ouvido,
Não vai fazer em pertenções estudo,
Vai só mostrar-vos que he agradecido.
Ante Vós ajoelha humilde, e mudo:
Mostrai-lhe que inda he Vosso protegido;
Que se isto lhe ficou, ficou-lhe tudo.
A Sua Alteza.
SONETO II.
Qual naufrago, Senhor, que foi alçado
Por mão piedosa d'entre as ondas frias,
Tal eu de antigas duras agonias
Por vossas Reaes mãos fui resgatado:
Pois vencestes as teimas do meu fado,
E já vejo raiar dourados dias,
Deixai que possa em minhas poesias
O vosso Augusto Nome ser cantado.
Não he digna de vós minha escriptura,
Nem harmonia, nem estilo a adoça;
Mas valha-lhe, Senhor, vontade pura.
Principe excelso, consentí que eu possa
Fazer inda maior minha ventura,
Contando ao mundo que foi obra Vossa.
Sahindo Conselheiro da Fazenda o Illustrissimo,
e Excellentissimo Senhor D. Diogo
de Noronha.
SONETO III.
Nem sempre em verdes annos a imprudencia
Produz irregular procedimento:
Nem sempre encontra o humano entendimento
Só perto do sepulcro a sã prudencia.
Em Vós não esperou a Providencia
Que longas cans vos dêm merecimento:
Em Vós mostrou que estudos, e talento
Valem mais do que a larga experiencia.
Os eruditos velhos Conselheiros,
Depois que o vosso voto alli for dado,
Serão de Vós eternos pregoeiros:
E dirão que deveis ser escutado
Onde os Ministros vossos companheiros
Não sejão da Fazenda, mas do Estado.
Aos leques mui pequenos, chamados Marotinhos.
SONETO IV.[1]
Fofo colchão, as plumas bem erguidas,
E sobre os hombros nas jucundas frentes
De enrolado cabello anneis pendentes,
Longos chorões, bellezas estendidas,
Era esta das matronas presumidas
A moda, que trazião bem contentes;
Rião-se dellas as modestas gentes
Vendo pequenas poupas esquecidas.
Nisto a gentil Madama aperaltada,
Grande auctora de trastes exquisitos,
Nova moda lhe inventa abandalhada.
Reprova-lhe aureos leques com mil ditos.
Eis senão quando (oh moda endiabrada!)
Abanão-se com azas de mosquitos.
O cruel disfarce.
SONETO V.
Sem murmurar padecerei callado
Cumprindo o teu preceito violento:
Faltava a envenenar o meu tormento
Dever ser por mim mesmo disfarçado.
De trazer o semblante socegado
Farei o inculpavel fingimento:
Nos olhos mostrarei contentamento,
Tendo hum punhal no coração cravado.
Este peito onde nunca engano viste,
Que não sabe a vil arte de affectar-se,
Onde a verdade, e a intacta fé existe,
Martyr do amor, e do infiel disfarce,
Nas tuas adoraveis mãos desiste
Té dos tristes direitos de queixar-se!
Ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor
Visconde de Ponte de Lima, Secretario
de Estado.
SONETO VI.
A longa cabelleira branquejando,
Encostado no braço de hum Tenente,
Cercado de infeliz chorosa gente
Hia passando o velho venerando.[2]
Geraes repostas para o lado dando:
«Sim Senhor; Bem me lembra; Brevemente;»
Na praguejada mão omnipotente
Nunca lidos papeis hia aceitando.
Mas eu que já esperava altas mudanças,
Melhor tempo aguardei, e