Pardos: A Visão das Pessoas Pardas pelo Estado Brasileiro
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Pardos - Denis Moura dos Santos
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Às pessoas pardas do Brasil e do Mundo, que foram a inspiração para a elaboração deste trabalho.
Sumário
Introdução
1
O termo pardo
e a miscigenação no Brasil
2
As pessoas pardas nos censos brasileiros e nas
discussões raciais
3
As conferências de Santiago e de Durban
4
Pessoas pardas e a legislação racial
5
As pessoas pardas e as cotas raciais
6
A visão das pessoas pardas pela imprensa brasileira
7
As pessoas pardas em outros países
7.1 África do Sul
7.2 Estados Unidos da América
7.3 América Latina e Caribe
7.4 Cabo Verde/São Tomé e Príncipe
7.5 Índia
Considerações finais
Referências
Introdução
Este livro procura discutir a questão das pessoas pardas, a partir do ponto de vista do Estado brasileiro, com a análise de seus acertos e erros em relação à forma de tratamento dispensada a essa parcela numerosa da população, que, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, compõe a maioria dos habitantes do Brasil, mas está sub-representada em diversos postos. Inicialmente, é feita a descrição das origens do termo pardo
, que possui registro na península Ibérica desde o século XI, e passou a ser usado para classificar as pessoas que têm tonalidade de pele entre a branca e a negra. No processo de miscigenação decorrente da chegada dos europeus e dos africanos ao continente americano, e do encontro destes com os indígenas que lá estavam, surgiu um povo que passou a ser descrito como brasileiro
, e um grande grupo de pessoas que passaram a ser consideradas pardas
. Com o fim da Guerra do Paraguai e, posteriormente, com o advento do regime republicano no Brasil, passou a ser importante a mensuração da população brasileira, inclusive nas questões raciais. As discussões raciais corriam em paralelo com a realização dos censos, e o tema era muito debatido pela elite econômica e acadêmica no final do século XIX e começo do século XX, a qual propagava conceitos pseudocientíficos relacionados às classificações raciais da população. A despeito de os dados censitários também serem alvo de interesse por teóricos da pseudociência, a mensuração racial da população tem sido importante para descrever a população brasileira, e, a partir das mudanças realizadas nos censos brasileiros, entre o primeiro e o atual, foram estabelecidos cinco grupos raciais pelo IBGE (branco
, amarelo
, indígena
, pardo
e preto
). Contudo, pardos e pretos, embora constituam dois grupos raciais diferentes, são classificados como população negra
pela legislação vigente no Brasil, o que desconsidera os pardos que possuem múltiplas ascendências e os pardos de ascendência indígena e europeia.
Destacamos que o conceito de raça a ser usado nesta publicação não está relacionado unicamente com questões biológicas, pois entendemos que estas influenciam nosso fenótipo, mas não são suficientes para falarmos em raças humanas
. O uso do termo raça
está relacionado às questões sociobiológicas, em que a biologia determina o fenótipo de uma pessoa, mas é a visão desta sobre si e de outras pessoas em relação a seu fenótipo que pode ser considerada como fator definitivo para a sua classificação racial em determinada sociedade, sem a vinculação racial de aptidões e inaptidões. Nessa linha, destacamos alguns países e regiões onde a presença da população parda é significativa, ainda que a nomenclatura usada para a definição das pessoas pardas seja diversa, pois cada país ou região apresenta um contexto histórico diferente entre si. No entanto, ressaltamos que podemos encontrar pessoas pardas na maioria dos países, e que os exemplos apresentados nesta publicação não podem ser vistos como terminativos.
O livro também faz um panorama sobre a situação das pessoas pardas em relação à legislação de cunho racial existente no Brasil, o que inclui, embora não se limite ao tema, a questão das cotas raciais. Ressaltamos que esta publicação não tem a intenção de fazer uma defesa ou ataque às cotas raciais, visto que as leis federais sobre as cotas raciais nos vestibulares de instituições de ensino superior público federal, e nos concursos públicos federais, estão vigentes, e já foram discutidas no momento em que elas foram aprovadas. Além disso, destacamos que a questão das cotas raciais para os vestibulares de instituições públicas de nível superior e concursos públicos, nos estados e municípios que ainda não as adotam, deve ser discutida de acordo com a realidade de cada ente federativo. A adoção de cotas raciais pela Prefeitura de São Paulo foi usada como exemplo explicativo sobre a aplicação dessa medida administrativa em nível municipal, e a descrição sobre a adoção de cotas raciais nos vestibulares das universidades estaduais fluminenses e na Universidade de Brasília visou explicar a situação de órgãos públicos que adotaram as cotas raciais antes da lei federal.
O número de pessoas que se declaram pardas está em processo de crescimento, e a nova visão dessas pessoas sobre si não está relacionada unicamente às cotas raciais, visto que nem todos os que se declaram pardos pretendem candidatar-se a vagas de nível superior em instituições públicas e/ou fazer concursos públicos, pois cada indivíduo possui a sua trajetória de vida, e muitas pessoas não querem, ou não podem, candidatar-se nesses processos seletivos, mas se declaram como pardas
por entenderem que estão na condição de pessoas pardas. Entretanto, ainda existem pessoas pardas que se declaram como brancas
ou negras
e muitas delas o fazem por desconhecimento. Esta publicação pretende contribuir para que as pessoas pardas, e as que se interessam pelo tema da miscigenação brasileira, possam compreender sobre o tema, pois existem poucas publicações que tratam, de forma específica, das pessoas pardas, mas, a despeito desse cenário, foi possível elaborar este livro, a partir das publicações existentes que abordam, de forma dispersa, sobre os pardos no Brasil e no mundo.
1
O termo pardo
e a miscigenação no Brasil
Não existe um acordo entre os historiadores sobre a localidade de origem do termo pardo
, mas a referência mais antiga de