Amar a Missa: A Espiritualidade do Mistério Eucarístico
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Book preview
Amar a Missa - Ferdinando Mancilio
1
ADENTRAR NO ESPÍRITO DE CRISTO
Deixar-se guiar pelo Mistério!
"Nós oferecemos o culto movidos
pelo Espírito de Deus e
baseamos nossa glória em Cristo Jesus, em vez de
colocarmos nossa confiança em nós mesmos."
(Fl 3,3)
1. Reunidos no Senhor
A Comunidade unida para celebrar realiza uma reunião festiva. Vimos de vários lugares e várias famílias, e ali nos encontramos em um só corpo para celebrarmos o mistério salvífico. Não é, portanto, por acaso que nos reunimos, pois há algo mais profundo que nos leva e conduz para dentro do mistério: é o espírito de Cristo.
Ao fazer o sinal da cruz, aquele que preside lembra-nos que a comunhão que realizamos é comunhão com a Trindade, em que reinam um só amor, um só coração. Essa comunhão de irmãos já se manifesta na procissão inicial, acompanhada pelo canto de abertura, trazendo o sentido para o ato que vamos realizar. Lembra-nos também o quanto Deus caminha com seu povo, adentra sua história. Ao passar pelo meio do povo, essa procissão significa unir para junto de si ou para dentro da celebração toda esperança, todas perspectivas e dificuldades do povo de Deus reunido no Cristo Senhor. Portanto essa procissão inicial não é jamais para receber, acolher o celebrante, concelebrantes e demais que a compõem. Não! Aliás, há animadores
destituídos desse sentido e dizem até coisas pouco confortáveis para o momento. Esse momento não é de imaginação, é de celebração do mistério presente de Cristo Redentor. Portanto procissão inicial é já liturgia propriamente dita, por isso mesmo o cântico inicial só poderá dizer sobre o que irá celebrar (é triste o músico usar seu critério e não o da liturgia para os cânticos da missa! Quanta dissonância e curto-circuito
litúrgico!).
Oração: Senhor, nós vos bendizemos por vossa bondade, que nos permite nos reunir em Comunidade e celebrar a certeza de vosso amor. Despertai-nos sempre e ainda mais, para que sejamos mais unidos, mais fraternos e dispostos a vosso serviço de amor. Amém.
2. Súplica da misericórdia (Pedir perdão!)
A Comunidade reunida é aberta, é plural, é heterogênea. Aqui já aparece com clareza o belo sentido celebrativo. O amor do Pai, dado a nós em seu Filho Jesus, não se restringe a um grupo distinto, mas àqueles que se reúnem em conformidade com o amor do Pai: somos uma família reunida no amor. É o foco da saudação inicial.
Esse amor não é algo platônico, mas real, por isso temos de perceber o irmão, a irmã que chegam para estar na mesma união, no mesmo amor. Quando contemplamos o rosto, a face de quem está junto de nós participando no mesmo ato, ali se manifesta o rosto de Cristo. Aquele que reza, canta e se encanta é a presença do próprio Cristo.
Por isso, quando rezamos o Ato Penitencial, estamos pedindo perdão pelo não reconhecimento da presença de Cristo no irmão, na irmã. O Ato Penitencial é momento sublime, pois, além de relembrarmos as muitas misericórdias do Senhor para conosco, na História da Salvação de outrora e de agora, pedimos essa mesma misericórdia divina por não contemplarmos a face de Cristo na face dos irmãos e das irmãs. Todo pecado é negação do amor, é recusa, é barreira, é imposição de nosso eu
, em vez da abertura que nos oferecem a fé, o amor, a misericórdia. Desconsiderar o outro é o maior pecado, é negacionismo do amor divino.
É bom recordar aqui que o Ato Penitencial não é para pedir perdão de coisas e fatos
, mas celebrar a certeza da misericórdia do Senhor para conosco. Isso é o essencial, por isso, quando feito com profundidade de fé, realiza-se de fato a misericórdia do Senhor. Não precisamos de invenções, mas sim de consciência do que celebramos.
Portanto reunir-se em um ato celebrativo, sem uma fé real, verdadeira, ou no sentido de quem quer buscar essa verdade e viver autenticamente o amor, não tem sentido celebrar. É o que Jesus nos diz sobre a necessidade de reconciliar-se primeiro com o irmão
ou consigo mesmo. Portanto a inércia, a passividade geram um clima letárgico e promotor de aborrecimentos. Se não nos esforçarmos para sairmos dessa inércia, será melhor não participarmos.
VIVIFICAR A FÉ
O encontro da Comunidade para a celebração é uma reunião festiva, pois somos ali a Família de Deus. Saímos de nossas casas, de lugares diversos, para nos encontrarmos como irmãos e irmãs. É o Senhor quem nos convoca para esse encontro. Ele é o mistério a ser celebrado, ou seja, ali percebemos seu imenso amor por nós. É necessário cuidar para que as palavras não venham contrapor o sentido do mistério que celebramos, pois, caso sejam usadas de forma inadequada, não ajudam no sentido festivo da fé, por exemplo, na procissão inicial para acolher celebrante e demais. Isso não existe, é distúrbio litúrgico.
Devemos, sim, sentirmo-nos na comunhão da Trindade expressa no sinal da cruz e na saudação presidencial, que vem carregada da manifestação amorosa de Deus por seu povo: A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco – Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!
É o amor de Cristo, amor da Trindade Santa que nos reúne em torno do altar, mistério de nossa salvação.
Assim confessamos nossa fé em Jesus Cristo, nosso Senhor, centro de nossa vida e da Igreja – estamos reunidos em seu Nome.
Podemos contar sempre com o amor misericordioso do Senhor para conosco, seu povo. Somos sempre necessitados da misericórdia divina. O prepotente ou autossuficiente renega essa verdade, tão necessária e que nos traz vida e liberdade.
Celebrar o Ato Penitencial, recordando as muitas misericórdias divinas, é alento para nós humanos, tão fracos e