Um Homo Sapiens Sapiens Pós-Moderno
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Book preview
Um Homo Sapiens Sapiens Pós-Moderno - Fabrício da Silva
Poema duro
Chegaste e decretas-te:
enterrá-la-ei modernidade!
Da pouca concretude do mundo,
suas estrias verticais,
levaste minha tola fé:
em Deus, enterrei-o mais.
Na ciência, que já capengava,
agora restam-me penosos ais.
Ai mundo sem Deus!
Ai mundo com vã ciência e tecnologia!
Ai mundo sem humanidade!
Sujeito, ora nada,
ora castrado.
Sujeito deixado na impossibilidade
de com o amanhã sonhar:
matéria não há!
Chegaste e anuncias-te:
um mundo sem borda,
eis o que habitarás!
Um mundo sem constância
tudo ânsia...
Preço que pagarás?
Por tua imediata satisfação,
por tua descomedida diversão.
Tu que a tudo te conectas
tu que em todo lugar desejas estar
tu que tudo devoras
que tudo consomes
até regurgitar.
Tu só a negar:
Estar: mera frivolidade
ser: ignóbil e vazio
ser, agora sem ar!
Quarentena
Hei de compor versos
tentar sonetos,
epopeias em versos decassílabos
nesse tempo,
nessa pausa forçada.
...
Nesses quinze dias,
nessas trezentas e sessenta horas
que não as sinto minhas,
nas quais normalmente não sou eu:
hei de visitar uma parte minha
que me desconhece,
um cômodo da casa
que não muito me acolhe,
e assim discutir nossa complexa relação.
Hei de treinar minha pareidolia
nesses azulejos tortos,
nesse teto manchado que nunca notara,
mas que insiste em me lançar um riso.
Hei de organizar e desorganizar
a bagunça daquele porão,
retirando móveis, retratos, entulhos,
toda sujeira que não mais me habita,
enfrentando fantasmas de outrora.
E hei de jogar fora coisas novas
e colocar vestígios debaixo do tapete.
Embora estes insistam em permanecer
ao desvelar os fantasmas do presente.
Hei de visitar os quartos:
quadrados tão íntimos
tão cheios de nós: