O processo para uma cultura híbrida: a construção da concepção de gênero nos Boletins de Educação do MST e nas Memórias de Militantes
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O processo para uma cultura híbrida - José Mário de Oliveira Britto
CAPÍTULO 1 – O MST, EDUCAÇÃO, PROCESSO DE HIBRIDAÇÃO E CURRÍCULO
Diante da problemática realidade da educação pública em nosso país, já há muitas décadas, alguns movimentos sociais foram construindo um novo cenário, engajando-se na luta pelo direito à educação pública, gratuita e de qualidade, que contemple os desafios dos seus projetos históricos. A escola possível que se gesta destes movimentos sociais é uma escola fundada na cultura da mudança e, ao mesmo tempo, na recuperação de valores históricos da humanidade, que o modelo social atual insiste em deixar para trás
. (CALDART, 1996, p.101). Desta forma, a ocupação
da escola pelos movimentos sociais trouxeram como consequência, o emergir de uma nova proposta pedagógica escolar, que nada mais é do que o fruto de suas práticas e exigências diante do ideal de construção de um modelo diferente de construir e gerir a escola pública.
Os movimentos sociais, entendidos como fenômeno educativo, tornam-se espaços de produção e difusão de saberes construídos em todo o processo de organização, luta e conquista dos espaços almejados pelos diferentes grupos. Dessa forma, trata-se de saberes construídos e difundidos como consequência das necessidades do processo de luta de uma coletividade num determinado contexto de conflito. Para CALDART (1996, p.110), a produção de saberes pelos movimentos sociais também se diversifica em níveis e tipos, à medida que os processos de luta travados por estes, vão se complexificando
. Na educação do campo, esses movimentos sociais vêm desenvolvendo iniciativas que têm produzido novos saberes e têm buscado construir uma identidade própria das escolas do campo.
Dentre estas várias iniciativas apresentadas, destacam-se as propostas e as práticas educativas do MST, um movimento social que com sua luta pelas escolas de assentamentos e acampamentos e suas experiências na área de formação de educadores e de técnicos na área de produção, vem mudando a face da educação rural e, consequentemente, da educação pública brasileira.
Olhando para o novo cenário brasileiro que começa a se configurar com o golpe que retira a Presidenta Dilma do poder e tem agora a sua continuidade com o governo do atual presidente Jair Bolsonaro, a militante Kelli Mafort da direção nacional do MST, em entrevista concedida em dezembro de 2018, considera a educação o maior destaque dentre as conquistas do MST.
Em janeiro o MST completa 35 anos de existência, diante disso, nós podemos dizer que ao longo dessa trajetória de histórica luta pela terra, a educação foi uma de nossas principais bandeiras. Nós sempre acreditamos na educação como forma de romper as cercas do saber. Em 2018 nós tivemos o prazer de formar sete turmas de graduação nos cursos de direito, história, serviço social veterinária, agronomia e pedagogia, além disso, 61 turmas estão andamento. Também em 2018, 25 mil pessoas foram alfabetizadas através do programa ‘Sim, eu posso!’, comemoramos 20 anos do Pronera (Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária). Foram 187 mil pessoas atendidas diretamente por essa importante política educacional nessas duas décadas. A formação política é sem dúvida a grande conquista do MST, uma conquista que se multiplica cada vez mais. (Disponível em: http://www.mst.org.br/2018/12/30/2019-sera-ser-sinonimo-de-luta-e-resistencia.html. Acesso em 02 de maio de